Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

segunda-feira, fevereiro 12, 2024

O IMPACTO DAS ENCHENTES EM CIDADES, CAMPOS E NA NATUREZA

 Com o aquecimento global, inundações são cada vez mais frequentes e podem devastar cidades e campos. Elas são um fenômeno natural com um lado benéfico, mas cujo efeito destrutivo é potencializado pela ação humana.

As imagens de casas e plantações alagadas, cada vez mais frequentes, tornam difícil acreditar que haja algo benéfico em enchentes. De fato, na União Europeia, entre os anos de 1980 e 2022, os maiores prejuízos, entre os eventos climáticos extremos, foram causados por inundações. Ainda assim, as consequências delas para o meio ambiente nem sempre são negativas.

Na verdade, muitos ecossistemas dependem da elevação sazonal das águas para a ocorrência de processos ecológicos naturais, como a distribuição de nutrientes pelo solo, explica o diretor do Programa Global para a Água da União Internacional para Conservação da Natureza, James Dalton.

"Os sistemas fluviais são úteis para um suprimento constante no fluxo de nutrientes que enriquece os ecossistemas mais abaixo no sistema fluvial, mas também flui para estuários e deltas, que são as partes biologicamente mais produtivas do mundo. Precisamos de enchentes, porque elas liberam sedimentos e nutrientes e também certas espécies, que são extremamente importantes."

Ao recuar, as águas das enchentes deixam para trás sedimentos e nutrientes que fornecem um fertilizante rico e natural, melhorando a qualidade do solo e estimulando o crescimento vegetal.

O solo fértil é, aliás, um dos motivos por que muitas cidades surgiram e cresceram ao redor de rios. Além de fornecer a tão necessária água e de ser um meio de transporte de mercadorias, os rios, quando transbordam, também fornecem nutrientes que enriquecem o solo para a agricultura. 

ENCHENTES

Foto - Enchente em Encantado, no Rio Grande do Sul, em novembro de 2023. Planícies aluviais são locais potencialmente perigosos para a construção de casas

As enchentes também são úteis para reabastecer os reservatórios de água subterrânea. Embora o processo ocorra naturalmente em algumas regiões, na Califórnia, por exemplo, os órgãos reguladores estão planejando desviar o excesso de águas das enchentes para ajudar a reabastecer os reservatórios subterrâneos naturais e assim armazenar água para os períodos de seca.

ENCHENTES DESTRUTIVAS

Mas, para além da ordem natural das coisas, num mundo onde as temperaturas globais continuam subindo, causando padrões pluviais mais intensos e chuvas muitas vezes imprevisíveis em algumas regiões do mundo, os impactos não são tão benéficos.

"Estamos vendo as enchentes se tornarem mais destrutivas, durarem mais e terem um impacto mais rápido devido às mudanças nas chuvas", explica Dalton. "E isso está tendo um impacto sobre a biodiversidade."

Um dos impactos mais óbvios das enchentes sobre a vida selvagem é que algumas espécies não conseguem fugir da elevação das águas com a rapidez necessária. Em 2012, por exemplo, centenas de animais, incluindo rinocerontes-indianos, uma espécie ameaçada de extinção, morreram quando o Parque Nacional de Kaziranga, na Índia, foi atingido por graves inundações.

E mesmo quando os animais conseguem escapar, as enchentes podem destruir seus habitats e locais de reprodução. As plantas também podem ser afetadas pelas águas das enchentes quando estas contêm pesticidas agrícolas, produtos químicos industriais ou esgoto. Se os animais comem plantas contaminadas, ingerem toxinas e impurezas que também entrarão na cadeia alimentar.

QUANDO A ENCHENTE CAUSA EROSÃO

E nem sempre as enchentes são benéficas para o solo. Correntezas fortes costumam deixar um rastro de destruição, podendo levar consigo uma camada de 5 a 10 centímetros de espessura de terra rica em nutrientes.

"Numa inundação, o solo pode simplesmente ser levado embora, e nada sobra, a camada mais preciosa se foi. Ele não pode ser reconstituído por humanos e é a base da produção de alimentos", diz o consultor de agricultura sustentável Michael Berger, do WWF da Alemanha.

A erosão do solo também destrói habitats e paisagens. Na condição de habitat mais rico em espécies do mundo, o solo é essencial para preservar a biodiversidade. De acordo com um relatório publicado pela Fundação Heinrich Böll, ligada ao Partido Verde da Alemanha, a terra saudável pode armazenar mais dióxido de carbono do que as florestas.

Além disso, a erosão do solo também impede que a terra absorva água quando há grandes inundações, agravando o problema. "Precisamos de solos saudáveis para nos adaptarmos à crise climática. Eles podem armazenar até 3.750 toneladas de água por hectare e liberá-la novamente conforme necessário", explica a diretora da Fundação Heinrich Böll, Imme Scholz.

LIMITAR OS IMPACTOS

Mas há como limitar os impactos das inundações, que costumam ser piores do que deveriam devido à presença de construções no caminho das torrentes ou nas planícies de inundação.

A falta de moradias a preços acessíveis em cidades de todo o mundo resulta em cada vez mais construções, autorizadas ou não, em planícies aluviais. Ou seja: residências estão sendo erguidas em locais potencialmente perigosos.

"Reconstituir como os rios funcionam, retornar à forma como deveriam estar serpenteando e se conectando, direcioná-los às suas planícies aluviais, ligar as águas subterrâneas às águas superficiais: tudo isso é importante porque essa é a rede que permite o fluxo de água", observa Dalton.

A diversificação da agricultura, deixando de lado os métodos industriais para passar a usar práticas como a agrofloresta, que integra árvores à agricultura, também pode minimizar os impactos das enchentes. "Isso pode diminuir a velocidade da água quando houver uma inundação. E quanto mais lenta for a água, menor será a erosão", explica Berger.

"Nós, como seres humanos diante das mudanças climáticas, com todos os seus eventos de inundação ou seca, deveríamos definitivamente optar por soluções baseadas na natureza em vez de aplicar concreto por toda parte e acreditar que podemos resolver tudo com nossa tecnologia", adverte o consultor da WWF. Fonte: Deutsche Welle - 09/01/2024  

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domingo, maio 28, 2023

COMO AS CHUVAS SE TRANSFORMAM EM ENCHENTES

Não há dúvida de que a água pode causar uma enorme destruição, como mostraram as recentes chuvas na Itália. Mas como um elemento tão pacífico consegue desenvolver uma força tão destruidora?

Como se fossem castelos de cartas, casas inteiras desabaram ou foram arrastadas por um enorme volume de água marrom nos últimos dias. Numa questão de minutos, as enchentes na Itália varreram carros como se fossem de brinquedo e transformaram porões em armadilhas mortais. Repetidas vezes, a natureza demonstra sua força avassaladora e nada nos resta a fazer.

Mas como a água pode exercer uma força tão poderosa? É exatamente esta pergunta que reponde Michael Dietze, da Seção de Geomorfologia do Helmholtz Center Potsdam, no site do Centro Alemão de Pesquisa em Geociências (GFZ).

UM METRO CÚBICO DE ÁGUA PESA UMA TONELADA

O primeiro a se ter em mente, diz Dietze, é que um metro cúbico de água pesa uma tonelada - um peso e tanto! Isso significa que "a água pode exercer uma pressão enorme sobre um objeto em seu caminho. E quando em movimento, a água é imensamente poderosa - tão poderosa que é capaz de varrer carros ou até mesmo contêineres que não estiverem ancorados no chão".

Mas outros fatores também entram em jogo, incluindo a erosão. Superfícies degradadas, ainda que aparentemente estáveis, podem ser facilmente varridas pelas cheias.

No GFZ de Potsdam, os pesquisadores estudam exatamente como a água mobiliza sedimentos, como as ondas de inundação viajam e como as poderosas enchentes varrem as paisagens.

Chuvas fortes estão entre os perigos mais subestimados, adverte o Serviço Meteorológico Alemão (DWD), pois são difíceis de prever e raramente estão associadas a uma localização específica. Embora possam prever a região, os meteorologistas não são capazes de antecipar exatamente quando ou quanto choverá num determinado local.

Como resultado, fortes chuvas podem causar mais danos do que o esperado, mesmo em lugares que não estão situados em vales estreitos ou perto de grandes rios. "As fortes precipitações despejam uma quantidade tão grande de água no solo, muitas vezes já saturado pelas chuvas anteriores, que ele não é capaz de escoar mais nada", explica o geomorfólogo Dietze.

DIFERENTES TIPOS DE SOLO ABSORVEM A ÁGUA DE MANEIRA DIFERENTE


O volume de água não é o único fator. A composição do solo, ou melhor, sua capacidade de absorver, armazenar e escoar água, também desempenha um papel importante.

É aqui que entra em jogo o tamanho dos poros das partículas do solo. "Colóides" são partículas minúsculas medindo menos de 2 micrômetros de largura - pequenas demais para serem visíveis a olho nu. Mas em grandes quantidades, justamente por terem dimensões minúsculas, elas fornecem uma imensa área de superfície onde as moléculas de água podem se ligar.

Os solos argilosos e arenosos contêm muitos desses colóides, nos quais a chamada "água intersticial" é retida e não consegue escorrer. Tais solos contêm poucos poros e, portanto, uma vez devidamente saturados, podem reter mais água do que areia.

Os grãos de areia, por sua vez, são maiores, com bem mais poros grandes e cheios de ar e apenas um pequeno número de colóides. No solo arenoso, a água mal pode ser retida e acaba escoando rapidamente.

Outra questão crucial é a condição do solo antes da chuva. No caso de uma chuva repentina e forte após um período prolongado de seca, o solo não consegue absorver a água de uma só vez. O solo seco tem o que é chamado de "repelência à água", o que significa que, em vez de escoar, a água flui pela superfície. Resíduos vegetais também são um fator, pois liberam gorduras e substâncias cerosas durante condições secas.

A ÁGUA FORJA SEU PRÓPRIO CAMINHO

Quando o solo fica saturado após longos períodos de chuva, a água não tem outra escolha a não ser escorrer pela superfície até desaguar nos córregos e rios.

"Uma vez chegando lá, ela pode atingir velocidades muito altas", disse Dietze. Na estação de pesquisa ecológica da Universidade de Colônia, que fica às margens do rio Reno, por exemplo, a água flui normalmente a uma velocidade de 1 a 2 metros por segundo.

"Quanto maior a velocidade e a inclinação - especialmente em taludes e cumes - e quanto mais profundo o rio, mais força a água poderá captar no leito fluvial. Sua força é equivalente a vários quilos, o que é suficiente para varrer areia, pedras e até detritos", explicou Dietze.

ÁGUA E PARTÍCULAS: UMA COMBINAÇÃO FATAL

Mas isso, por si só, não é suficiente para arrasar casas e ruas. Por trás disso estão também as partículas que são carregadas junto com a água. Elas penetram no solo, nas ruas e nas paredes das casas, desenvolvendo um enorme poder de erosão.

"Uma vez que partes desses objetos começam a ser atacadas, o material por baixo é carregado mais facilmente", explicou Dietze, acrescentando que ruas e prédios em terreno não consolidado também podem ser danificados, facilitando a quebra de mais material.

"Essa combinação de material sendo arrastado com o poder de simplesmente carregar ainda mais material solto dá à água em rápido movimento o poder de causar danos enormes num curto espaço de tempo", acrescentou.

Ele enfatizou ainda que tais inundações podem se desenvolver em qualquer lugar onde ocorram chuvas fortes. Segundo Dietze, a precipitação extrema é especialmente perigosa em áreas altas e montanhosas, onde o eventual rompimento repentino de barragens pode causar o transbordamento de lagos inteiros, ou onde grandes quantidades de gelo derretido podem desencadear deslizamentos de terra e ondas de inundação nos vales logo abaixo.

AS INUNDAÇÕES PODEM SER PREVISTAS?

"Avisos meteorológicos podem ser derivados de previsões", disse Dietze. "Por exemplo, as previsões meteorológicas podem ser alimentadas em modelos hidrológicos, para poder fazer previsões sobre a probabilidade e o desenvolvimento de inundações."

Por outro lado, o processo de erosão é mais difícil de prever. Como tais eventos acontecem muito rapidamente, sua intensidade é difícil de medir com precisão.

Com a ajuda de imagens de satélite e, principalmente, de sismômetros, os pesquisadores passaram os últimos anos tentando acompanhar as ondas de inundação em tempo real e calcular sua intensidade. As pesquisas ainda se encontram nos estágios iniciais, enfatizou Dietze, mas têm um imenso potencial quando se trata de sistemas de alerta precoce de inundações. Fonte: Deutsche Welle – 22.05.2023  

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domingo, janeiro 30, 2022

INUNDAÇÕES EM MINAS GERAIS

As fortes chuvas que há semanas atingem MG continuam afetando a população e causando prejuízos. Rios transbordando, alagamento, inundações se espalham por várias regiões do estado. Os números de desabrigados e desalojados não param de aumentar. Desde o início da  estação  chuvosa, que este ano começou em outubro, um mês antes que o habitual.




Início da chuva – 01/10/2021

Danos humanos; (acumulado de 01out/2021  até  16/01/2022)

Mortos - 25

Desabrigados- 7.336

Desalojados - 47.911

Município em emergência – 374, dos 845 municípios

Fonte: Defesa Civil Estadual de Minas Gerais


ESTAÇÃO CHUVOSA EM MINAS GERAIS

A estação chuvosa em Minas Gerais, assim como, em toda a Região Sudeste, ocorre entre os meses de outubro a março, porém as primeiras pancadas de chuva, normalmente ocorrem na segunda quinzena de setembro, evidenciando o declínio da estação seca. Historicamente, no decorrer do mês de outubro, as pancadas de chuvas se tornam mais frequentes, estabelecendo na segunda quinzena do mês o início do período chuvoso no Centro-Sul e Oeste mineiro.

O aumento na frequência das chuvas se propaga gradativamente para o Centro-Norte e Leste, de forma que no início de novembro, todo o Estado já se encontra com a estação chuvosa estabelecida. O trimestre novembro a janeiro é frequentemente o mais chuvoso do ano. Normalmente, as chuvas deste trimestre é que favorecem para a recuperação dos reservatórios hídricos na Região Sudeste.

O transporte de umidade da Amazônia para o Brasil Central e Sudeste se estabelece entre a primavera e o verão, favorecendo a ocorrência diurna de pancadas de chuva, assim como, a configuração da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). A ZCAS decorre da conexão deste canal de umidade com um sistema frontal que permanece estacionário sob o oceano, nas imediações do litoral da Região Sudeste, configurando uma banda de nebulosidade que se estende da Amazônia, passando pelas regiões brasileiras mencionadas, se estendendo para o Atlântico Sul. As regiões sob este sistema apresentam chuva praticamente contínua por dias consecutivos. Por outo lado, períodos consecutivos de dias sem chuva durante a estação chuvosa, denominados veranicos, são comuns principalmente em fevereiro. Fonte: Instituto Nacional  de Meteorologia – Inmet - 5º Distrito de Meteorologia / Minas Gerais / Belo Horizonte

AS INUNDAÇÕES SÃO FENÔMENOS NATURAIS

As inundações são fenômenos naturais que possuem como causas mais comuns eventos de pluviosidade intensa e de pouca duração ou períodos de chuvas contínuas.

Todavia, apesar de naturais, as inundações têm tido sua frequência e magnitude alteradas pelas modificações do uso e ocupação do solo, bem como suas consequências têm sido mais impactantes em termos socioeconômicos, devido, principalmente, à ocupação de áreas marginais inundáveis (planícies fluviais) nas zonas urbanas.

A urbanização ao longo das planícies fluviais é um processo histórico, fruto das facilidades geradas para a implantação de atividades agrícolas e para a utilização dos cursos fluviais como meio de transporte. Como resultado, desde cerca de quatro mil anos a humanidade convive com os riscos associados à localização de suas atividades e moradias no entorno de corpos hídricos. Estes riscos, muitas vezes, se refletem em significativas perdas humanas e materiais em diferentes áreas do mundo.  Fonte: Joana Maria Drumond Cajazeiro, geógrafa

Comentário: As principais causas de inundação seriam:

■ A morfologia da cidade a região tem relevo altamente acidentado, formado por serras, morros, fundo de vale, e encostas íngremes.

■ O clima: chove torrencialmente na época de verão

■ Uso e ocupação do solo de maneira desordenada

■ Não há mapeamento das áreas inundáveis quanto a:

1-Conhecimento da relação cota x risco de inundação

2- Definições dos riscos de inundação de cada superfície

3- Incorporação a Legislação Municipal de uso e ocupação do solo em zona de risco

4- Uso de Sistema de Informações Geográficas na análise de projetos de edificações e equipamentos urbanos.

5- Controle público da ocupação regular e irregular

■ a prática legalizada da construção ilegal e construção de obras públicas que não respeita o ecossistema.

■ O aumento da vulnerabilidade é atribuível ao uso do solo e da água que é muitas vezes ainda não considera as limitações impostas pela hidrogeologia. É comum no país como padrão, canalizar córrego, retificar e construção de avenidas ao logo das margens dos córregos e rios. Em conseqüência disso há uma ocupação desordenada do solo, principalmente construções, aumentando ainda mais a impermeabilização do solo.

Infelizmente a historia de desastre natural demonstra que tais acidentes se repetem após um ciclo de poucos anos. Não aprendemos ou as pessoas mudam e as lições são esquecidas, com os erros dos que nos antecederam. Infelizmente, muita gente não consegue enxergar nem tirar proveito dos fatos que já aconteceram , imagine a cegueira diante dos fatos portadores de futuro que repetirão os mesmos erros. A natureza tem suas próprias leis para provocar desastres.


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segunda-feira, janeiro 24, 2022

INUNDAÇÕES DEVASTAM A BAHIA

As chuvas começaram a cair na região leste e sul da Bahia entre os dias 6 e 7 de dezembro de 2021.  Pelo menos 24 cidades estão em situação de emergência.  Em alguns municípios, foram registradas inundações e as pessoas tiveram que deixar suas casas


As cidades afetadas, estão necessitando de assistência aérea para o resgate e suprimento de itens básicos Barcos, botes, caminhonetes e aeronaves foram destacados para prestar socorro e transportar os moradores das comunidades alagadas. Cestas básicas, cobertores, lonas e medicamentos também estão sendo distribuídos.

As autoridades orientam que os moradores dos locais afetados se abriguem em áreas mais altas e solicitem ajuda.

"Faço um apelo para que as pessoas que estão próximas de rios e riachos saiam de suas casas e vão para regiões mais altas. Esses rios e algumas barragens vão soltar mais água", alertou o governador.

Na quinta-feira (9/12), o Governo do Estado da Bahia decretou situação de emergência para 24 cidades. O objetivo é mobilizar todo o aparato público para apoiar as ações de socorro à população.

O decreto vale para as cidades de Anagé, Baixa Grande, Boa Vista do Tupim, Camacã, Canavieiras, Encruzilhada, Eunápolis, Guaratinga, Ibicuí, Itabela, Itacaré, Itamaraju, Itambé, Itapetinga, Itarantim, Jiquiriçá, Jucuruçu, Marcionílio de Souza, Mascote, Medeiros Neto, Mundo Novo, Santanópolis, Teixeira de Freitas e Vereda. Outros municípios também decretaram estado de calamidade.

Em  25/12/2021, na região de Itambé, sul da Bahia, houve rompimento da barragem de Iguá.

CIDADES DURAMENTE ATINGIDAS: Jurucuçu  e Itamamaraju, os municípios estão praticamente submersos.

O QUE CAUSOU O EVENTO EXTREMO

De acordo com especialistas, a tempestade atípica ocorreu pela combinação de dois fenômenos climáticos distintos: um corredor de umidade que vem da Amazônia e a formação de uma depressão subtropical (rajadas de ventos e nuvens em formato circular que giram em sentido horário).

O climatologista Francisco Eliseu Aquino, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que as tempestades na Bahia têm a ver com a combinação de dois fenômenos distintos.

O primeiro deles é a formação da chamada Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) a partir do dia 5 de dezembro.

"Trata-se de um corredor de umidade que surge na Amazônia e vai em direção à Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Por isso, chove na região desde o dia 6 de dezembro", diz.

Segundo, é possível observar a partir do dia 7/12 a formação de uma área de baixa pressão no Oceano Atlântico, próximo à região costeira do Brasil, que irá evoluir para um sistema denominado depressão subtropical.

A depressão subtropical é um evento meteorológico que gira no sentido horário e é marcado pela formação de nuvens, ventos, tempestades e agitação marítima.

Nos mapas disponíveis no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é possível ver a Zona de Convergência do Atlântico Sul (traços verdes, da Amazônia à Bahia) e a formação da depressão subtropical na região costeira do Brasil (à direita)

"E a combinação desses dois acontecimentos, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a área de baixa pressão, é o que intensificou a chuva nas regiões leste e sul da Bahia ao longo dos últimos quatro ou cinco dias", continua o pesquisador.

Aquino conta que a ZCAS é um fenômeno característico e esperado nesta época do ano, causando as "chuvas de verão" no corredor entre o norte da Amazônia e os Estados de Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Já a depressão subtropical é algo atípico e ainda possui condições de evoluir para uma tempestade tropical.

"As mudanças na circulação geral da atmosfera sugerem para nós que o oceano mais quente na costa do Brasil poderia formar com mais frequência áreas de baixa pressão como essa, levando à depressão subtropical", contextualiza.

E essa depressão subtropical, por sua vez, pode se combinar com a ZCAS e impulsionar outros eventos extremos.

Mas o climatologista entende que é preciso analisar mais a fundo para entender o que essas tempestades na Bahia podem sinalizar.

"Neste momento, não conecto diretamente as mudanças climáticas com esse evento extremo", pondera.

"Mas, num planeta mais quente, eventos extremos tornam-se mais frequentes, com a formação de depressões subtropicais como esta [vista na Bahia]", finaliza.

DANOS HUMANOS: De acordo com os dados da Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec/BA) a situação dos Municípios atingidos:

Pessoas afetadas - 715.634,  

Pessoas desabrigadas - 30.915,

Desalojadas - 62.731,  

Vítimas fatais – 26

MUNICÍPIOS AFETADOS: Desde o início de dezembro de 2021, 154 Municípios da região decretaram situação de emergência e 127 cidades obtiveram reconhecimento federal.

PREJUÍZOS ECONÔMICOS: De acordo com dados coletados pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), os prejuízos desde dezembro passado, já causaram de R$ 1.667.621.103,00. Os valores foram consultados no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), onde os Municípios cadastram informações.

PREJUIZOS POR SETORES

Agricultura – 591,8 milhões

Habitação – 495,3 milhões

Infraestrutura – 351,6 milhões

Pecuária – 46,5 milhões

Comércio – 35 milhões

Fontes: Agência CNM de Notícias-04/01/2022; Sudec - Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado da Bahia; BBC News Brasil em São Paulo - 10 dezembro 2021


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quinta-feira, abril 30, 2020

8,2 MILHÕES DE PESSOAS VIVEM EM ÁREAS COM RISCO DE ENCHENTE OU DESLIZAMENTOS DE TERRA

O país tinha cerca de 8,2 milhões de pessoas vivendo em áreas com risco de enchente ou deslizamentos de terra em 2010. É o que mostra estudo inédito feito pelo IBGE e pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), divulgado.

O IBGE cruzou os dados do Censo com o das áreas de risco monitoradas pelo Cemaden para quantificar a população brasileira nessas regiões. Ao todo, 871 municípios brasileiros tinham cidadãos vivendo nessas condições. A ideia é atualizar os dados no Censo de 2020.
Segundo o coordenador da área de Geografia do IBGE, Cláudio Stenner, apesar de os dados serem de oito anos atrás, as características gerais do território persistem e os resultados poderão ser utilizados para o desenvolvimento de políticas públicas futuras para essas regiões.

Um mapa interativo com os locais de risco será divulgado na página do IBGE. A pesquisa identificou 8.309 bairros, ou polígonos, no termo técnico, com casas em áreas com risco de desastres provocados pelas chuvas.
Um dado que preocupa, segundo Stenner, é que 9,2% dos brasileiros que vivem em áreas de risco de desastres naturais são crianças menores de 5 anos de idade. Já os idosos com mais de 60 anos respondem por 8,5% da população nessas condições. O técnico lembra que esses grupos costumam ser os mais vulneráveis durante desastres naturais.

"É importante saber a característica de cada local, até para a criação de políticas públicas adequadas. Evacuar uma população de crianças ou idosos requer um planejamento maior do que em locais com características diferentes", disse.

REGIÕES  DE RISCOS
§ Sudeste é a região com maior contingente de moradores em áreas de risco, com 4,2 milhões de pessoas,
§Nordeste (2,9 milhões),
§Sul (703 mil),
§Norte (340 mil) e
§Centro-oeste (7,6 mil).

Na ranking das 20 cidades com as maiores populações em área de risco, as capitais de Bahia, São Paulo, Rio e Minas Gerais ocupam as quatro primeiras posições, respectivamente. Na capital baiana, quase metade da população (45,5% ou 1,2 milhão de pessoas) se encontra em regiões com riscos de desabamentos ou enchentes.
Em São Paulo, a segunda colocada, a população [e de 674 mil pessoas, com 6% da população nessas condições. Já no Rio, o contingente de 444 mil representa 7% do total da cidade. Em Belo Horizonte, os 389 mil respondem por 16,4% do total da população da capital mineira.

Stenner explica que em geral as populações que vivem em áreas de risco têm renda mais baixa e menor acesso a serviços públicos básicos como água encanada, rede coletora de esgoto e coleta de lixo. Isso não significa, no entanto, que não existam pessoas de padrão de vida mais elevado que vivam em locais de risco.

Essa questão ficou evidente durante a tragédia da região serrana do Rio, em janeiro de 2011, quando cerca de mil pessoas morreram nos municípios de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Tanto moradores de casebres humildes nas encostas quanto moradores de condomínios de alto padrão tiveram suas casas devastadas pela avalanche de barro e pedras que desceu nas encostas.

Ainda que o Sudeste seja o que numericamente tem maior contingente de pessoas nessa situação.

REGIÃO NORTE
Análise regional mostra que as pessoas em condição mais fragilizada estão no Norte do país. Lá, a população menor de 5 anos em área de risco representa 13% do total, enquanto no Sudeste, o percentual é de 9%.
Do total de casas em áreas de risco no Norte, 26% não têm água encanada, enquanto no Sudeste esse percentual é de 4,5%. A diferença se mantém, por exemplo, quando analisada a presença da rede de esgoto no comparativo regional. No Norte, 70% das casas em área de risco não têm esgotamento sanitário, enquanto no Sudeste o percentual é de 17,7%.

Stenner explica que a falta de serviços básicos pode ser um elemento que agrave ou precipite desastres naturais. A destinação incorreta do esgoto pode infiltrar o solo e deixar o local mais suscetível a deslizamentos, por exemplo. O acúmulo de lixo em encostas também pode estar relacionado ao aumento do risco de quedas de barreiras.

"A vida em áreas de risco está ligada quase sempre à precarização socioeconômica que um grupo de indivíduos é submetido. No processo geral de urbanização do país, sobrou para as classes menos favorecidas viver em encostas, em locais distantes dos grandes centros. Conseguimos agora mapear onde estão essas pessoas para que sejam definidas políticas públicas para esses locais", disse Stenner.
Os desastres naturais são também uma das maiores causas de deslocamentos de pessoas dentro de seus próprios países no mundo, superando guerras, civis, conflitos violentos e epidemias de doenças.

Segundo estudo do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC, na sigla em inglês), somente em 2017 foram registrados 30,6 milhões de novos deslocamentos internos no mundo. Desse total, 18,8 milhões tiveram que deixar suas casas por causa de desastres naturais.
No Brasil, o número de pessoas nessa situação em 2017 foi de 71 mil pessoas, cinco vezes o registrado um ano antes. Fonte: Folha de São Paulo - 28.jun.2018



Comentário:
Áreas de risco são regiões onde é recomendada a não construção de casas ou instalações, pois são muito expostas a desastres naturais, como desabamentos e inundações. Essas regiões vem crescendo constantemente nos últimos anos, principalmente devido à própria ação humana.  
Dentre os processos naturais mais comuns no Brasil estão os escorregamentos, as enchentes, as erosões e as secas, e destes o escorregamento é aquele que mais preocupa pelo número de vítimas fatais que gerou nas últimas décadas. Não há porém, nenhuma perspectiva de que essa situação se modifique, a curto prazo, uma vez que devido à crescente desigualdade sócio-econômica associada ao desemprego, à falta de moradia, à deseducação, etc., a ocupação de encostas sem os cuidados necessários tende a aumentar, levando a um conseqüente aumento do número de acidentes dessa natureza.

AS PRINCIPAIS CAUSAS DE INUNDAÇÃO:
■ A morfologia da cidade a região tem relevo altamente acidentado, formado por serras, morros, fundo de vale, e encostas íngremes.
■ O clima: chove torrencialmente na época do inverno
■ Uso e ocupação do solo de maneira desordenada
■ Não há mapeamento das áreas inundáveis quanto a:
1-Conhecimento da relação cota x risco de inundação
2- Definições dos riscos de inundação de cada superfície
3- Incorporação a Legislação Municipal de uso e ocupação do solo em zona de risco
4- Falta de uso de Sistema de Informações Geográficas na análise de projetos de edificações e equipamentos urbanos. Os riscos devem ser avaliados por meio de perspectivas técnicas capazes de antecipar possíveis danos à saúde humana e ao meio ambiente. O uso de um Sistema de Informações Geográficas contribuiria nas atividades de prevenção e preparação para riscos, possibilitando a diminuição dos desastres, e, em caso de ocorrências, tendo um caráter logístico, determinando como uma população atingida por tais eventos poderia ser evacuada e protegida. Seria a ferramenta ideal para que as autoridades públicas possam efetuar o gerenciamento do desastre a fim de alocar os recursos necessários para minimizar os efeitos do desastre.
5- Controle público da ocupação regular e irregular
■ a prática legalizada da construção ilegal e construção de obras públicas que não respeita o ecossistema.
■ O aumento da vulnerabilidade é atribuível ao uso do solo e da água que é muitas vezes ainda não considera as limitações impostas pela hidrogeologia. Em conseqüência disso há uma ocupação desordenada do solo, principalmente construções, desmatamento, etc
Infelizmente a historia de desastre natural demonstra que tais acidentes se repetem após um ciclo de poucos anos. Não aprendemos ou as pessoas mudam e as lições são esquecidas, com os erros dos que nos antecederam. 

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quinta-feira, fevereiro 13, 2020

LEMBRANÇA: 170 ANOS DE PROJETOS CONTRA ENCHENTES EM SP

Enchentes provocadas pelo Tietê, em 1962
Em 1963, a Câmara Municipal montou uma CPI para apontar as falhas das obras contra as inundações, que remontam a 1841. A leitura do trabalho joga luz em um problema histórico - as causas das cheias, os danos e as promessas são sempre os mesmos

Com seus óculos de aros bem grossos e feições um tanto rechonchudas, Francisco Prestes Maia foi interrogado às 10 horas do dia 19 de fevereiro de 1963 para explicar o inexplicável. Por que, depois de tantas promessas, projetos e obras, São Paulo continuava alagando pelas margens do Rio Tietê? A resposta do prefeito faz parte de um relatório de 145 páginas da CPI das Enchentes da Câmara Municipal, que mesmo com seus papéis amarelados ainda hoje pode ser considerado um dos mais extensos trabalhos para entender a ineficácia de muitas políticas públicas frente às inundações paulistanas.
 
AS ENCHENTES SÃO HISTÓRICAS
"As enchentes são históricas, verificadas desde os primeiros tempos de colônia. Anualmente, o espetáculo se repetia em toda a extensão da grande várzea; deixando em seu leito normal, o rio ocupava a planície ribeirinha, transformando essa porção da cidade em vasta e malcheirosa lagoa." A frase, que poderia muito bem ter sido publicada nas páginas deste jornal nas últimas semanas, foi escrita no relatório de 1963 pelo então presidente da Comissão Especial da Câmara, o vereador Figueiredo Ferraz.

O trabalho de Ferraz e de outros seis vereadores no relatório de 1963 foi tentar descobrir os motivos de as obras de retificação dos Rios Tamanduateí e Tietê não surtirem os efeitos esperados. Não há respostas satisfatórias, diga-se. Mas a leitura hoje da reuniões da comissão serve para jogar luz em um problema secular, como pode ser visto abaixo - seja na década de 60 ou em 2011, as causas são as mesmas, os danos iguais e as soluções ironicamente idênticas.
Outros relatos também denunciaram, década após década, a precariedade dos rios e governos. E assim como relatos, também outros problemas foram se empilhando e aumentando os efeitos das inundações, transformando as "águas mansas" que encantaram os fundadores de São Paulo em um dos maiores flagelos dos paulistanos.

OCUPAÇÃO.
Enchentes provocadas pelo Tietê, em 1965
A retificação do Tietê encolheu o rio - de 46 quilômetros de extensão entre Osasco, na Grande SP, e a Penha, ele passou a ter 26 km. Assim, uma área de 33 milhões de metros quadrados que eram inundáveis puderam ser urbanizadas. "É uma grande área a ser aproveitada", diziam os vereadores, queriam incentivar a ocupação das margens do Tietê. "Não é questão apenas de hidráulica e de valorização das terras, deve ser motivo, também, para o aformoseamento da cidade." A história, no entanto, mostrou que a várzea tem a função de transbordamento; a ocupação dela resulta numa piora nas inundações. Se os vereadores da Câmara de 1963 pudessem ver a São Paulo de hoje, talvez não tivessem a mesma opinião - a saúde do rio foi deixada de lado e a retificação causou problemas de degradação urbana e ambiental cujas soluções são cada vez mais difíceis.

PROBLEMA RECORRENTE.
Desde 1841, ou há 170 anos, o governo municipal investe em obras para tentar remediar as inundações da região central - o primeiro planejamento de canalização do Tamanduateí deve-se ao engenheiro Carlos Abraão Bresser. Em 1921, foi a vez do prefeito Firminiano Pinto defender a necessidade da canalização do Tietê, desde Guarulhos até a Lapa.

AS INUNDAÇÕES CONTINUAM A CASTIGAR A CIDADE
"Com 85% das obras concluídas, as inundações continuam a castigar a cidade e sua população, acarretando prejuízos imensuráveis", escreveu o vereador Figueire do Ferraz em seu relatório. "E parece que as inundações aumentam de ano a ano, motivando um justo e revoltado clamor popular."
Autoridade metropolitana. Já em 1963, discutia-se a importância de uma "organização supermunicipal" para lidar com os problemas crescentes da região metropolitana. "Consideraremos melhor a conjugação de esforços, reunidos em uma organização", afirmou Prestes Maia. "Seria uma organização para operar livremente nos municípios e, de maneira imparcial, determinar as obras necessárias.". Até hoje a discussão continua, sem que a autoridade metropolitana tenha sido criada na Grande São Paulo.

ASSOREAMENTO.
Atualmente, os 70 grandes rios, córregos e galerias que deságuam no Rio Tietê contêm, juntos, pelo menos 364,7 mil toneladas de areia e lixo acumulados nos leitos . Com as últimas chuvas, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) definiu como medida urgente a retirada desses 4,2 milhões de metros cúbicos em detritos do Tietê neste ano.

Segundo o governo, no ano passado foram retirados apenas 1 milhão de metros cúbicos. Em 1963, de acordo com dados da CPI das Enchentes, o assoreamento era calculado em 120 mil metros cúbicos por ano. "Chegamos à situação de precisar manter uma drenagem permanente de 1,5 milhão de metros cúbicos por ano, tanto quanto é feito pelo Porto de Santos", disse o prefeito Prestes Maia. "Vamos manter cinco dragas e seis escavadeiras para o trabalho. Além dos problemas dos rios, há o dos córregos, bueiros e galerias pluviais, a limpeza foi desleixada durante várias administrações."

PROBLEMA SEM FIM.
Durante o seu depoimento na CPI das Enchentes, o prefeito Francisco Prestes Maia já chamava a atenção para a urbanização desenfreada da Grande São Paulo. "Há um fator de inundações quase irremediável, a urbanização crescente do alto Tietê e do ABC", disse. "São feitos arruamentos, terraplenagens, cortes de matas, aterro das várzeas e, por consequência, desaparecem aqueles bolsões que retinham as águas. Isso cria situações trágicas para a capital", afirmou o prefeito.

O próprio Prestes Maia define perfeitamente a relação dos paulistanos com os rios da cidade. "É o próprio homem que provoca e que age contra o rio, é o homem que lhe faz violência, que lhe estreita o leito e retira os reservatórios que ele naturalmente fizera", disse ele aos vereadores da CPI. "Estamos a dançar o minueto: dois passos para frente e dois passos para trás", disse Prestes Maia.  Fonte: Estadão - 07 de fevereiro de 2011 

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terça-feira, setembro 13, 2016

A Grande cheia: O tsunami que arrasou Recife em 1975

CENÁRIO: RIO CAPIBARIBE
O rio Capibaribe nasce na divisa dos municípios de Jataúba e Poção, percolando por vários centros urbanos e servindo de corpo receptor de resíduos industriais e domésticos.
Apresenta direção inicial sudeste-nordeste, até as proximidades de Santa Cruz do Capibaribe, quando seu curso toma a direção oeste-leste, percorrendo uma extensão total de cerca de 280 km até sua foz, na cidade do Recife. Em vários trechos, serve como divisa entre municípios pernambucanos, como entre Santa Cruz do Capibaribe e Brejo da Madre de Deus.
O rio Capibaribe apresenta regime fluvial intermitente nos seus alto e médio cursos, tornando-se perene somente a partir do município de Limoeiro, no seu baixo curso.
A bacia do rio Capibaribe apresenta uma área de 7.454,88 km² (7,58% da área do estado), abrangendo 42 municípios pernambucanos.

A GRANDE CHEIA DE 1975
A grande cheia de 1975 começou numa quinta-feira, em 17 de julho, devastando os principais bairros da cidade. O Rio Capibaribe e diversos canais transbordaram, alagando áreas inteiras de bairros com Casa Forte, Madalena, Torre, Cordeiro, Derby, Graças, Iputinga e tantos outros. As ruas ficaram intransitáveis, milhares de pessoas ficaram desalojadas por conta de desabamentos e perda total de suas residências. A água também devastou outras cidades, como São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana. Segundo a Fundação Joaquim Nabuco, 25 municípios banhados pelo Rio Capibaribe foram atingidos.

DANOS
Na capital e interior, 1.000 km de ferrovias ficaram sem condições de tráfego, pontes desabaram, casas foram arrastadas pelas águas. Em Recife, 31 bairros, 370 ruas e praças ficaram submersos; 40% dos postos de gasolina da cidade foram inundados; o sistema de energia elétrica foi cortado em 70% da área do município; quase todos os hospitais ficaram inundados. Por terra, a cidade ficou isolada do resto do país durante dois dias.
O prejuízo estimado, à época,  foi de 1,5 bilhão de cruzeiros (2,8 bilhões de reais)

VÍTIMAS
A enchente matou 104 pessoas, deixando 350 mil desabrigados.

TESTEMUNHAS
"Ficou tudo inundado. A água só começou a baixar no outro dia, mas a cidade ficou destruída", lembra a aposentada Maria Helena das Neves, 83 anos. "Não estava chovendo, era um dia de sol lindo. Mas o Rio Capibaribe foi subindo e atingiu seu pico máximo. A população ficou incrédula. Ninguém acreditava que a água chegaria àquela altura", conta o historiador Leonardo Dantas.  
"De fato, foi a maior enchente que Recife enfrentou. Dois terços da cidade ficaram inundados. Tivemos que começar tudo de novo", diz o historiador  Leonardo Dantas, que analisou as cheias do Rio Capibaribe desde o século 19. Segundo ele, a construção de barragens ao longo do curso de água evitou novas cheias como esta. As obras ainda teriam permitido o crescimento de áreas que ficavam inundadas com frequência até a década de 1970, como Apipucos e Casa Forte. "Ninguém construía nada ali, porque alagava até com a maré alta. Era considerada uma terra maldita", afirma. Fonte: Jornal do Commercio – 18 e 25 /04/2015, G1-17/07/2015

Comentário: 

DADOS HISTÓRICOS
O período das grandes enchentes em Pernambuco tem sido historicamente de junho a agosto. Entre os meses de janeiro e fevereiro só há registros, em toda a História, de duas pequenas inundações, assim mesmo restritas a algumas áreas de Recife. Uma breve linha do tempo das enchentes ocorridas no estado de Pernambuco, obtida dos arquivos de jornais da cidade, é apresentada a seguir.

1632 - A 28 de janeiro, ocorre a primeira enchente de que se tem notícia em Recife, "causando perdas de muitas casas e vivandeiros estabelecidos às margens do Rio Capibaribe".

1638 - Maurício de Nassau manda construir a primeira barragem no leito do Rio Capibaribe para proteger Recife das enchentes: foi o Dique de Afogados, que tinha mais de 2 km e hoje é uma rua do Recife, a Imperial.

1824 - Entre fevereiro e abril, nova enchente atinge Recife.

1842 - Junho. Enchente atinge Recife, derrubando várias casas. Pontes desabaram; trens saíram dos trilhos; milhares de pessoas ficaram desabrigadas. Foi a primeira enchente de grandes proporções do Rio Capibaribe.

1854 – Ocorre a maior enchente do século XIX. Durou 72 horas, atingindo todos os bairros de Recife. Derrubou a muralha que guarnecia a Rua da Aurora; parte do cais da Casa de Detenção veio abaixo; a cidade ficou sem comunicações com o interior; no porto de Recife, os navios foram atirados uns contra os outros.

1862 - Nova enchente castiga Recife.

1869 - Grande enchente destrói as pontes da Torre, Remédios e Barbalho, e rompe os aterros da via férrea de Recife. Foi a maior enchente até então, tendo o imperador Pedro II determinado que o engenheiro Rafael Arcanjo Galvão viesse a Pernambuco "estudar o problema".

1870 - A 16 de Julho, o bacharel em matemática e ciências físicas José Tibúrcio Pereira de Magalhães, diretor de Obras e Fiscalização do Serviço Público do Estado, sugere ao governo imperial a construção de uma série de barragens nos principais afluentes do rio Capibaribe, para evitar cheias em Recife.

1884 - Outra enchente atinge Recife.

1894 - Em junho, enchente atinge todos os subúrbios recifenses situados às margens do rio Capibaribe.

1899 - 01 de Julho. Vários bairros de Recife foram inundados por cheia do rio Capibaribe. No município de Vitória de Santo Antão, desaba o segundo encontro da ponte sobre o rio Itapicuru.

1914 - Outra enchente desaba sobre Recife, deixando vários mortos.

1920 - A 14 de Abril, grande enchente deixa Recife isolada do resto do Estado, durante três dias. Postes foram derrubados; linhas telegráficas interrompidas; trens paralisados; pontes vieram abaixo, entre elas a da Torre. Os bairros de Caxangá, Cordeiro, Várzea e Iputinga ficaram totalmente isolados do resto da cidade.

1924 - Nova enchente deixa os bairros da Ilha do Leite, Santo Amaro, Afogados, Dois Irmãos, Apipucos, Torre, Zumbi e Cordeiro complemente submersos. O prédio do Serviço de Saúde e Assistência desabou e as obras do Quartel do Derby sofreram grandes prejuízos.

1960 - Nova enchente do rio Capibaribe castiga Recife.

1961 - Enchente deixa 2 mil pessoas desabrigadas em Recife.

1965 - Outra enchente castiga Recife. Os bairros de Caxangá, Iputinga, Zumbi e Bongi ficaram complemente inundados. Nas áreas mais próximas ao Rio Capibaribe, a água cobriu o telhado das casas.

1966 - Enchente catastrófica provocada pelo rio Capibaribe, com a água atingindo mais de 2 metros de altura, nas áreas mais baixas do Recife. Em poucas horas, toda a extensão da Av. Caxangá foi transformada num grande rio. Na capital e interior, mais de 10 mil casas (a maioria mocambos) foram destruídas e outras 30 mil sofreram danos, como paredes derrubadas. Morreram 175 pessoas e mais de 10 mil ficaram desabrigadas. O nível do rio Capibaribe subiu 9,20 metros além do nível.

1967 - A Sudene apresenta relatório de uma comissão de técnicos, constituída logo após a enchente, buscando encontrar soluções para o problema. O relatório sugere a construção de barragens nos seus principais afluentes e no próprio rio Capibaribe, que é a mesma sugestão apresentada quase um século antes pelo engenheiro José Tibúrcio.

1970 - Ano atípico, quando duas enchentes ocorreram, a primeira nos dias 21 e 22 de julho, havendo coincidência entre picos de descarga do rio e maré alta. Vinte dias após esse evento, no dia 10 de agosto, a cidade ficou totalmente inundada por chuvas locais. A chuva, que se concentrou em Recife e em Olinda, atingiu em 16 horas,   uma precipitação de 336 mm, com intensidade que alcançou até 65mm/hora.
Em Julho, as águas atingem a zona da Mata Sul e o Agreste do Estado, por conta do transbordamento dos rios Una, Ipojuca, Formoso, Tapacurá, Pirapama,Gurjaú, Amaraji e outros. A cidade que mais sofreu foi a cidade de Cabo, que teve quatro dos hospitais inundados e várias indústrias pararam suas atividades. Em Recife, as águas da Capibaribe causaram grande destruição. Na capital e interior, 500 mil pessoas foram atingidas e 150 morreram; 1.266 casas foram destruídas em 28 cidades. Em Recife, 50 mil pessoas ficaram desabrigadas. Em Agosto, a nova cheia que atingiu Recife e Olinda, foi provocada pelo rio Beberibe. Em Olinda, 5 mil pessoas ficaram desabrigadas e foi decretado estado de calamidade pública.

1971 – Iniciadas as obras da barragem de Tapacurá, no rio de mesmo nome,sendo a primeira providência tomada com relação ao controle das cheias.

1973 – Concluída as obras da construção da barragem de Tapacurá, em 25/07/1973. A Barragem de Tapacurá era a solução definitiva para dois graves problemas que afetavam Recife: abastecimento de água da população e "o fim" das enchentes.

1974 - Outra enchente atinge Recife. A Comissão de Defesa Civil, que tinha previsão do avanço das águas, retirou a tempo a população das áreas ribeirinhas. Em São Lourenço da Mata, uma ponte ficou parcialmente destruída e a população isolada. No município de Macaparana, 20 pessoas morreram, por conta do transbordamento do riacho Tiúma.

1975 - Considerada a maior calamidade do século, esta enchente ocorreu entre os dias 17 e 18 de Julho. Recife foi mais uma vez vítima de inundações, que alcançou níveis nunca antes verificados, atingindo mais de 50% de toda a área urbana da cidade. Outros 25 municípios da bacia do Capibaribe também foram atingidos. Morreram 107 pessoas e outras 350 mil ficaram desabrigadas.

1977 - A 01 de Maio, nova enchente do Rio Capibaribe deixa 16 bairros de  Recife embaixo d'água. Olinda e outras 15 cidades do interior do Estado também foram atingidas. Mais de 15 mil pessoas ficaram desabrigadas e só não foram registradas mortes porque a população das áreas ribeirinhas foram retiradas antes. São Lourenço da Mata foi o município mais atingido. Em Limoeiro, houve desabamento de ponte.

1978 – E m 29 de Maio é inaugurada a Barragem de Carpina, construída para conter as enchentes do rio Capibaribe. Com 950 metros de comprimento, 42 metros de altura, a barragem tem capacidade para armazenar 295 milhões de m3 de água.

2000 - Entre os dias 30 de julho e 01 de agosto, fortes chuvas castigaram o Estado, inclusive a Região Metropolitana do Recife, deixando um total de 22 mortos, 100 feridos e mais de 60 mil pessoas desabrigadas. Cidades foram parcialmente destruídas, tendo ás águas que transbordaram dos rios levado pontes e casas. As chuvas foram anunciadas com 40 dias de antecedência pelos serviços de meteorologia, mas as autoridades governamentais deram pouca importância à previsão. As chuvas atingiram 300 milímetros em apenas três dias e só na RMR aconteceram 102 deslizamentos de barreiras.

2004 - Fortes chuvas entre 08 de janeiro 02 de fevereiro de 2004 castigam todas as regiões do Estado, deixando 36 mortos e cerca de 20 mil pessoas desabrigadas. As chuvas (jamais registradas entre os dois primeiros meses do ano) foram provocadas por fenômenos meteorológicos atípicos (frente fria e outros) e destruíram pontes e estradas, açudes romperam, casas desabaram, populações inteiras ficaram ilhadas.

2005 – Entre os dias 30 de maio e 02 de junho, fortes chuvas provocaram enchentes em 25  cidades do Agreste, Zona da Mata e Litoral pernambucanos, deixando 36 mortos e mais de 30 mil pessoas desabrigadas. Cerca de sete mil casas foram parcial ou totalmente destruídas; 40 pontes foram danificadas; 11 rodovias estaduais foram atingidas, sendo que sete delas ficaram interditadas; a água inundou ruas centrais, hospitais, escolas e casas comerciais de várias cidades, provocando enormes prejuízos materiais.

2010 – Entre os dias 17 e 19 de junho, uma enchente atingiu 67 cidades pernambucanas, principalmente da Zona da Mata e Agreste do Estado, deixando um rastro de destruição. Foi a maior tragédia da década: 21 pessoas morreram, enquanto 26.970 ficaram desabrigadas e 55.650 pessoas ficaram desalojadas; 14.136 casas foram destruídas; 142 pontes ficaram danificadas, sendo que muitas delas foram totalmente levadas pela água; 5.000 km de estradas foram danificadas; 12 municípios decretaram estado de calamidade pública e 27 ficaram em situação de emergência. Fonte: Riachos Urbanos do Recife - 13 de julho de 2015

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quarta-feira, agosto 17, 2016

Cidade de São Paulo tem mais de 200 rios

A grande enchente de 1929
Muita água passa por baixo das pontes do Tietê e do Pinheiros, principais rios da cidade de São Paulo. Mas também tem muita água passando por baixo do asfalto, do cimento e do concreto. O município possui nada menos que 186 bacias hidrográficas catalogadas pela prefeitura, o que representa mais de 200 cursos de água.

Há os casos do rio Verde e do Água Preta, que serpenteiam por baixo de bairros da zona oeste. E há muitos tampados por avenidas, como o Saracura (que nasce próximo ao Museu de Arte de São Paulo e à avenida Paulista), o Itororó e o Pacaembu, na região central. "Os rios continuam vivos apesar de estarem tampados e misturados com esgoto", diz o geógrafo Luiz de Campos Jr., um dos criadores da iniciativa Rios e Ruas, que busca os cursos d'água esquecidos pela cidade.

Há também os que sumiram completamente do mapa, soterrados pela urbanização, como o ribeirão do Bixiga, na região central da cidade. Por cima de um trecho dele, construiu-se o prédio da Câmara Municipal de São Paulo, lembra o arquiteto e urbanista Vladimir Bartalini, professor da USP (Universidade de São Paulo).

A grande enchente de 1929
A grande maioria dos rios, ribeirões e riachos corre para o Tietê -- a cidade se situa, por sinal, na bacia do Alto Tietê. Não se sabe, porém, o número exato deles nem a extensão da rede hídrica porque boa parte flui por baixo da metrópole e ninguém vê. A quantidade de nascentes é outra incógnita. No centro expandido, é quase impossível avistar um córrego ou ribeirão. A cidade sufocou os rios e cresceu por cima deles. "Na região mais urbanizada, praticamente tudo está coberto", afirma Campos Jr..



RIOS FAVORECERAM O CRESCIMENTO E APANHARAM DELE
Os rios tiveram grande importância no surgimento e no crescimento da cidade. Aos pés da colina onde ela foi fundada, houve um porto às margens do Tamanduateí que serviu a região comercial em torno da rua 25 de Março. A única lembrança que restou dele é a ladeira batizada de Porto Geral.

Foi perto das margens do Tamanduateí que se construiu a ferrovia Santos-Jundiaí no século 19. As terras baixas nas proximidades do rio eram baratas. Por isso, receberam os trilhos que ligaram o porto de Santos ao interior do Estado.

Como eram baratas e passaram a contar com a ferrovia, também atraíram indústrias e favoreceram o surgimento de bairros operários. Processo similar aconteceu nas terras baixas à beira do Tietê.

Alguns paradoxos foram surgindo. Ao mesmo tempo em que precisavam dos rios como fonte de água, as fábricas escoavam para eles seus dejetos. Aos poucos, rios e córregos viraram sinônimos de esgoto. E os bairros erguidos nas áreas próximas aos rios sofriam com o mau cheio destes e com as inundações.

O medo da água deu força à ideia de que era necessário domá-las. Não há, no entanto, volume de obras capaz de fazer a cidade livrar-se totalmente das enchentes em períodos de chuva, quando os rios voltam a dar as caras e a reocupar temporariamente áreas que correspondiam a seus leitos e várzeas. As águas sobrevivem -- inclusive no nome de bairros: Água Branca, Água Fria, Água Funda, Água Rasa, Ponte Rasa, Interlagos, Rio Pequeno, Vila Nova Cachoeirinha.

Por outro lado, a região metropolitana também enfrenta períodos de seca, e a cidade que pulsa sobre a água, volta e meia, sofre com a falta dela.

Era uma vez um rio com sete voltas
Perto da colina onde a vila de São Paulo de Piratininga foi fundada no século 16, o rio Tamanduateí, afluente do Tietê, era tão sinuoso que ganhou um nome a mais: Sete Voltas. Piratininga, aliás, significa peixe seco em tupi-guarani, uma referência aos peixes que morriam na várzea depois da cheia.

A paisagem começou a mudar no século 19. Segundo Janes Jorge, professor de história na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), São Paulo passou a mexer nos rios e a retificá-los por uma questão sanitária – para combater enchentes e a estagnação das águas -, mas logo o mercado imobiliário colocou sua força no processo.

"Os rios retificados produziriam mais salubridade. Além disso, a retificação liberava espaço para o mercado de terras. No século 20, esses dois motivos permaneceram. Uma parte do espaço retirado dos rios pelas retificações foi parar no mercado de terras, outra parte foi ocupada pelas avenidas", afirma o pesquisador.

"A proposta de tapar córregos também tinha relação com a salubridade e cada vez mais com a criação de espaço para uso urbano. Nesse caso, as grandes avenidas passaram a correr sobre os córregos sepultados."

O primeiro tamponamento, comenta Janes Jorge, aconteceu já no século 20, em 1906, quando o Anhangabaú passou a correr oculto no vale a oeste da colina central onde São Paulo foi fundada.

RIOS PARA CARROS
1963 - Túnel do Anhangabaú
De acordo com o professor da Unifesp, o processo de domar e esconder os rios ganhou na década de 1940 um "ritmo avassalador que perdurou por todo o século 20". Um grande impulso para a aceleração do processo foi a atuação do engenheiro Prestes Maia, prefeito nomeado da cidade de 1938 a 1945, durante a ditadura do Estado Novo.

Em 1930, Maia havia publicado o "Plano de Avenidas", um estudo para nortear o crescimento da cidade que influenciou a administração municipal mesmo depois da gestão do engenheiro.

Obras de retificação do Tietê em abril de 1941; seus meandros também desapareceram
Segundo Bartalini, o auge das canalizações e transformação de fundos de vale em avenidas aconteceu nos anos 70 e 80. Era, segundo o pesquisador da USP, uma política deliberada da prefeitura. "A principal causa da retificação e do tamponamento foi a estrutura viária, a construção de avenidas", diz o urbanista.

"Num terreno acidentado como o nosso, qual o melhor caminho para passar os carros? É ao longo das linhas de água, que são eixos de maior fluidez possível. Tráfego é um fluído tanto quanto a água. Os carros buscam a mesma lógica dos caminhos da água", frisa o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, a respeito do processo histórico.

1958 - Rua da Cantareira
Na maioria dos casos, as avenidas não guardam sequer resquícios de que por baixo delas correm rios. Para Bartalini, os projetos das vias ignoraram completamente o potencial dos cursos d'água. "Seria possível termos parques associados a avenidas em fundos de vale. É questão de desenho. O rio faz parte do imaginário e da memória. É equipamento e referência urbana, pode usado para o lazer. Se os planos tivessem atentado para isso, os rios ocupariam um lugar de afetividade, e os moradores ajudariam a mantê-los." Fonte: @ZR, UOL - 25/02/2016

Comentário:
A cidade surgiu como Colégio de São Paulo de Piratininga em 25 de janeiro de 1554 no alto de uma colina escarpada, entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí.
Sua fundação marca o início histórico da futura metrópole. Entretanto, a fundação do Colégio não representou a fundação da Cidade de São Paulo, o que aconteceu somente em 1711.

A cidade de São Paulo começou a se transformar radicalmente a partir de fins do século XIX. Ponto de articulação do território paulista, integrou-se ao complexo agroexportador cafeeiro como centro financeiro, mercantil e ferroviário, o que desencadeou um intenso crescimento demográfico: a cidade, que em 1872 possuía 31 mil habitantes, passou a contar 239 mil em 1900. No ano de 1920, quando São Paulo já se consolidara como importante polo industrial do país, eram 579 mil os moradores da capital paulista, número que em 1940 atingiria a marca de 1.326.261 pessoas. Hoje com população de 11,32 milhões

São Paulo sempre conheceu os transbordamentos dos seus rios e córregos na época das chuvas desde a época de sua fundação. Até fins do século XIX, o núcleo central paulistano, no alto de uma colina, ficava em meio às várzeas alagadas dos rios Tietê e Tamanduateí. As cheias causavam alguns inconvenientes, como bloquear caminhos mais curtos para certas localidades, mas, esperadas como as estações do ano, não provocavam grandes tragédias na cidade que evitava ocupar baixadas e várzeas.

A explosão demográfica, a especulação imobiliária e o desejo de segregação por parte das camadas privilegiadas locais deram início à incontrolável expansão da mancha urbana, que ao mesmo tempo em que engolia as áreas rurais paulistanas, mantinha em seu interior enormes vazios e terrenos ociosos à espera de valorização imobiliária. Surgiram bairros burgueses exclusivos, regiões predominantemente industriais ou comerciais, e, ao povo, relegou-se a periferia distante ou as terras baixas junto aos rios e córregos, numerosos na cidade.

A partir da década de 1920, as enchentes ampliaram seu efeito perturbador sobre o espaço urbano.

Em 1926, o renomado engenheiro-sanitarista Saturnino de Brito lembrava em sua obra Melhoramentos do Rio Tietê em São Paulo que as cheias nem sempre eram prejudicais aos humanos, sendo bastante conhecidos “seus efeitos benefícios para a lavoura, devido à fertilização natural que em certas condições pode ocorrer, como ilustra o famoso caso do Nilo, mas também o da Normandia e outras localidades, inclusive no Brasil, com destaque para Amazonas e Mato Grosso.” Para que as inundações fossem tidas como nocivas, era preciso “que o homem insista em querer ocupar as várzeas inundáveis, ou que as enchentes diluvianas invadam localidades habitadas e nunca dantes inundadas.”  Fonte: Revista Histórica - Artigo publicado na edição nº 47 de Abril de 2011.

Fatores que contribuem para inundação:
■ A interferência humana sobre os cursos d'água, provocando enchentes e inundações, ocorre das mais diversas formas, mas quase sempre, essa questão está ligada ao mau uso do espaço urbano.
■ Ocupação irregular ou desordenada do espaço geográfico

■ Impermeabilização do solo. Com a pavimentação das ruas e a impermeabilização de quintais e calçadas, a maior parte da água, que deveria infiltrar no solo, escorre na superfície, provocando o aumento das enxurradas e a elevação dos rios. Além disso, a impermeabilização contribui para a elevação da velocidade desse escoamento, provocando erosões e causando outros tipos de desastres ambientais urbanos.

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