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sexta-feira, julho 29, 2016

Anvisa proíbe venda de extrato de tomate encontrado com pelo de roedor

■ Em 18 de julho a  Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a retirada do mercado do lote L06 do extrato de tomate da marca Heinz após detecção de "matéria estranha indicativa de risco à saúde humana, pelo de roedor, acima do limite máximo de tolerância pela legislação vigente".
Esse foi o resultado de uma análise de contraprova feita pela Fundação Ezequiel Dias que levou a Anvisa a proibir a distribuição e comercialização deste lote específico em todo o País e recolhimento do estoque existente no mercado.
A Kraft Heinz Brasil, responsável pela marca, informou que já havia sido notificada do problema pela Gerência Colegiada da Superintendência de Vigilância Sanitária de Minas Gerais em julho do ano passado e que este lote estava circulando apenas naquele Estado.
"Na ocasião a empresa recolheu as embalagens disponíveis no comércio do lote 06, validade 4/2017, de extrato de tomate da marca, não havendo qualquer contraindicação ao consumo dos lotes presentes nos mercados hoje", disse a companhia por meio de nota.
A Kraft Heinz Brasil afirmou também "que adota rigoroso controle de qualidade em todas as etapas da produção, desde a escolha de fornecedores, processo produtivo e distribuição final dos seus produtos."

HISTÓRICO
Não é a primeira vez que a empresa enfrenta esse tipo de problema. Em 2013, três lotes de ketchup, importados do México também foram retirados de circulação pela Anvisa por apresentar fragmentos de pelo de roedor. Fonte: EM - 18/07/2016 13:07

■ Em 28 de julho,  a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda e distribuição em todo o país de quatro lotes de extrato de tomate das marcas Amorita, Aro, Elefante e Predilecta e de um lote de molho de tomate tradicional da marca Pomarola após um laudo detectar pelo de roedor acima do limite máximo de tolerância pela legislação vigente.

Lista de extratos e molho de tomate proibidos
Nome do Produto
Marca
Lote
Validade no Rótulo
Fabricante
Laudo
Extrato de tomate
Amorita
L076 M2P
01/04/2017
Stella D’Oro Ltda
236.CP.0/2016
Extrato de tomate
Aro
002 M2P
05/2017
05/2017
197.CP.0/2016
Extrato de tomate
Elefante
032502
18/08/2017
Cargill Agrícola Sa 
234.CP.0/2016
Extrato de tomate
Predilecta
213 23IE
03/2017
Predilecta Alimentos Ltda
195.CP.0/2016
Molho de tomate tradicional
Pomarola
030903
31/08/2017
Cargill Agrícola Sa
233.CP.0/2016

A decisão foi publicada no "Diário Oficial da União" de quinta-feira (28). As fabricantes terão que recolher os produtos do mercado.

As empresas
A Cargill informou que tomou conhecimento da determinação da Anvisa com relação aos lotes citados e está trabalhando na adoção das medidas necessárias em decorrência de tal determinação. "A empresa reitera o compromisso com o cumprimento de todas as normas de segurança dos alimentos e padrões de higiene. Assegura ainda que os produtos dos referidos lotes não oferecem qualquer risco à saúde de seus consumidores.

A Predilecta Alimentos informou que "o caso se trata de notificação realizada pela Diretoria de Vigilância Sanitária de Santa Catarina, acerca de lotes encontrado somente nessa região. A empresa mesmo não reconhece o defeito apontado, recolheu todos os produtos dos referidos lotes e tomou as providências que a legislação determina. O processo publicado no Diário da União está em fase de julgamento de recurso apresentado".

A empresa ressaltou que opera dentro dos padrões nacionais e internacionais de acordo com a legislação vigente e é auditada periodicamente por empresas e órgãos reconhecidos mundialmente. "O controle de qualidade está presente em todas as etapas, desde o cultivo da lavoura até a saída do produto pronto. Toda embalagem possui um código que permite rastrear todas as informações referentes ao produto, desde o cultivo, até o processamento na indústria. O alto grau de automação de todas as linhas de fabricação, associada ao emprego de práticas de fabricação certificadas internacionalmente, eliminam as possibilidades de contaminação dos produtos", informou a Predilecta Alimentos.

Segundo a decisão, o Laboratório de Saúde Pública de Santa Catarina (LA-CEN-SC) foi o responsável pelas análises e detectou matéria estranha indicativa de risco à saúde humana. Fonte: @ZR, Folha de São Paulo-30 de Março de 2014, G1 -28 de Julho de 2016  

Comentário: A Anvisa permite limites de tolerâncias máximos de matérias estranhas macroscópicas e microscópicas, como fragmentos de inseto, ácaros,  pelos de roedores, em produtos vendidos no Brasil (bebidas e alimentos). Em resumo a Anvisa permite qualquer objeto estranho no produto desde que esteja no limite de tolerância e excluindo do regulamento (RDC N° 14, DE 28 DE MARÇO DE 2014  ) os aspectos de fraude, impurezas e defeitos que já estejam previstos nos regulamentos técnicos específicos ou ainda aqueles alimentos e bebidas adicionados de ingredientes previstos nos padrões de identidade e qualidade, exceto aqueles que podem representar risco à saúde.

Algumas "sujeiras" que a Anvisa tolera  nos alimentos e bebidas

PRODUTOS DE TOMATE
- 1 fragmento de pelo de roedor em 100g 
- 10 fragmentos de insetos (como baratas e moscas) em 100g

CHÁ DE MENTA OU HORTELÃ
- 300 fragmentos de insetos em 25g
- 5 insetos inteiros mortos em 25g
- 2 fragmentos de pelos de roedor em 25g

ÓREGANO
- 20 fragmentos de insetos em 10g
- 3% de areia ou cinzas insolúveis em ácido

CAFÉ TORRADO E MOÍDO
- 60 fragmentos de insetos para cada 25g

MASSAS E BISCOITOS
- 225 fragmentos de insetos para cada 225g

CANELA EM PÓ
- 100 fragmentos de insetos a cada 50g
- 1 fragmento de pelo de roedor em 50g

ALIMENTOS EM GERAL
- 1,5% de areia ou cinzas insolúveis em ácido

Comemos ou bebemos algumas partículas microscópicas  de insetos, pelos de roedores e ácaros nos produtos sem conhecimento. O consumidor é contemplado com a sorte com ou sem pelo de roedor.
Mas, se eu encontrar um pelo no purê ou extrato de tomate é um indicativo que existem falhas na aplicação das boas práticas na cadeia produtiva de alimentos e bebidas.
O regulamento permite a tolerância máxima de partículas estranhas no produto, mas qual seria o limite de tolerância do organismo humano? Comemos ou bebemos por resto da vida as impurezas nos produtos?
Como dizia a minha mãe descendente de italiana; comprar tomates maduros na feira, cozinhar, tirar as peles e passar na peneira, depois usar ervas aromáticas frescas e um pouco de azeite extra-virgem e cozinhar. Reaprender a fazer quitutes e rezar para que os insumos básicos não estejam contaminados. É o ciclo da vida humana com produtos contaminados.

Click Regulamento-RDC0014

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quarta-feira, julho 27, 2016

Lembrança: Explosão da plataforma P-36 na bacia de Campos

Três explosões, em cerca de 20 minutos, ocorridas na madrugada do dia 15 de março de 2001 na plataforma P-36 da Petrobrás, na bacia de Campos (norte fluminense), deixaram pelo menos um morto, um ferido grave e nove desaparecidos. No momento do acidente, 175 pessoas trabalhavam na plataforma, no campo de Roncador, a cerca de 125 quilômetros da costa, no litoral de Macaé. 

CRONOLOGIA DO INCIDENTE DA PLATAFORMA P-36
■ 15.03.2001 – 0 h 20 min - A primeira explosão
Por volta da 0h20, acontece uma explosão numa das colunas de sustentação da P-36 As operações são  suspensas, e a brigada de emergência da plataforma, com 25 funcionários, corre para o local e foram surpreendidos por uma segunda explosão.
■ 0 h 24 min - A segunda explosão
A 0h24, ocorre uma segunda explosão, mais forte do que a primeira, que atinge 11 integrantes da brigada
■ 0 h 40 min - A terceira explosão
Dez a quinze minutos depois, acontece a terceira explosão

A EXPLOSÃO: PASSO A PASSO
■ Rompe-se o tanque de drenagem de emergência na coluna
■ Entram gases e água no tanque
■ Aumenta a pressão interna e o tanque se rompe
■ Os técnicos sentem um impacto aos 22 minutos do dia 15 de março
■ No 4º piso, tubos, equipamentos e dispositivos eletrônicos já estão danificados
■ No 4º piso já está alagado com água e óleo e há excesso de gás
■ A P-36 inclina 2 graus em apenas 5 minutos
■ Rede de incêndio perde pressão
■ Brigada de emergência vai ao local

EXPLOSÃO ATINGE OS INTEGRANTES DA BRIGADA
■ No 4º piso, nível do gás aumenta muito e a mistura se torna explosiva
■ Violenta explosão na área da coluna
■ Explosão atinge, em cheio, 11 integrantes da Brigada
■ Explosão avaria estrutura e equipamentos nos níveis superiores da coluna
■ Começa a tentativa de resgatar os feridos
■ A P-36 perde mais estabilidade, inclinando-se vertiginosamente
■ Ordem para abandonar a P-36 dada às 1h45
■ A P-36 abandonada às 6h

FIM: AFUNDAMENTO
■ No 4º piso totalmente alagado por conta do rompimento completo do tubo de drenagem de emergência (TDE)
■ Salas de bombas, propulsores e injeção completamente alagados
■ Tanques e válvulas, por não se ter conseguido fechá-las, deram passagem à água
■ A P-36 se inclina progressivamente, fica em ângulo irrecuperável e afunda

EVACUAÇÃO DA PLATAFORMA
Os empregados foram retirados e levados em embarcações para uma outra plataforma (a P-47, um navio-cisterna que recebe a produção da P-36), distante 12 km do local do acidente.
A retirada do pessoal foi lenta. Começou por volta das 3h30 e só terminou pela manhã, segundo relatou o superintendente da bacia de Campos, Eduardo Bellot. Da P-47, foram levados de helicópteros para Macaé, centro terrestre da produção de petróleo da bacia de Campos.

SEQÜÊNCIA DO RESGATE:
■ 12 navios são deslocados até a P-36. Um deles, "Fire Fighter",joga água na plataforma para esfriá-la e acabar com focos de incêndio
■ A P-36 inclina, num ângulo de 30 graus. Com o risco de novas explosões, os navios se afastam e a tripulação não  consegue subir à  plataforma
■ Todos os sobreviventes e o funcionário ferido -165 pessoas - são levados de barco para a plataforma P-47, a 12 km dali. São  retirados inclusive os integrantes da brigada de emergência, quando se constata que a P-36 está inclinado.
■ Da P-47,eles são  levados para Macaé em 15 vôos  de helicóptero
O resgate durou cerca de nove horas

O gerente de Exploração e Pesquisa Sul-Sudeste da Petrobrás, Carlos Tadeu, informou que 20 embarcações (10 de apoio, 5 especiais e 5 de combate ao incêndio) e 10 helicópteros estavam trabalhando no local.

CONSEQÜÊNCIAS DA EXPLOSÃO NA P-36
Com uma das quatro colunas de sustentação danificada, a plataforma começou a adernar, com focos de incêndio persistindo por toda a manhã do dia 15.03.01. Por volta do meio-dia, a plataforma havia atingido inclinação de 30 graus, com grande de risco de afundar. A Petrobrás avalia que só poderá retornar ao local se a P-36 permanecer estável ao menos por 18 horas.
Havendo estabilidade, técnicos que estão próximos do local tentarão entrar na plataforma para verificar se há sobreviventes.
A empresa admite que há risco de vazamento de combustível. Existem 1,2 milhão de litros de óleo diesel na plataforma, que é o combustível usado para seu funcionamento. Além disso, há 300 mil litros de petróleo bruto nos dutos entre os poços no fundo do mar e a P-36. Se vazar 1,5 milhão de litros de diesel e petróleo, ambientalistas acham que é reduzido o risco de dano ecológico.
Embora considere praticamente impossível a existência de sobreviventes, a Petrobrás só reconhece um morto, oficialmente, porque foi essa a constatação dos últimos integrantes da brigada de incêndio a deixar a plataforma.

TESTEMUNHAS
De acordo com um dos sobreviventes, que não quis revelar seu nome, após as explosões havia pedaços de corpos pendurados na P-36. Ele disse também não ter dúvidas de que os colegas desaparecidos estão todos mortos..

ENGENHEIRO INGLÊS DIZ COMO ESCAPOU
"Nós fomos acordados com um estrondo enorme. Pensei que um navio tinha batido na plataforma", disse o engenheiro elétrico inglês Paul Raine, 44, que estava a bordo da P-36 na hora do acidente, com outro inglês, também engenheiro, Andy Stayman, 42.
"Foi terrível, todo mundo correndo e gritando e ainda tivemos de deixar para trás pessoas feridas", afirmou Raine. Os dois, que trabalham para uma companhia inglesa, ficariam na plataforma até  sábado (17.03.01) .
Raine afirmou que só teve tempo de vestir a roupa e sair correndo. Ele e Stayman deixaram, cada um, US$ 300, além de roupas e os passaportes na P-36.

Raine, que há 11 anos trabalha em plataformas, disse saber que exerce uma profissão de alto risco e que acidentes fazem parte da vida daqueles que trabalham com extração e processamento de petróleo. "Mas também ganhamos muito dinheiro e é por isso que estamos lá todos os dias."
Ele disse ter vivenciado uma situação muito difícil logo após a explosão, ao perceber que haveria feridos na P-36. "Estava apavorado, queria sair logo dali, mas foi muito difícil deixar outras pessoas para trás", afirmou.

Os dois voltariam para o Rio de Janeiro para providenciar novos passaportes e poder voltar para a Inglaterra. "O que aconteceu foi horrível, mas não vou deixar de trabalhar em plataformas por causa disso", disse Raine.

VÍTIMAS
 Um funcionário da Petrobrás morreu, outro está em estado gravíssimo e nove estão desaparecidos, mas são poucas as chances de encontrá-los com vida. 
O corpo de um dos dez desaparecidos no acidente da Plataforma P-36, da Bacia de Campos, foi resgatado no sábado. Trata-se do mecânico Sérgio dos Santos Souza, de 34 anos, que fazia parte da brigada de incêndio.
Um engenheiro e dois mergulhadores participaram da operação que durou três horas, entre 10 e 13 horas. O corpo foi levado em helicóptero para o Instituto Médico Legal (IML) de Macaé, onde foi identificado.
De acordo com o médico legista Ricardo Goulart Simões, a morte foi causada por um impacto. Provavelmente ocorreu no momento da explosão e não quando a água invadiu a coluna. “O corpo está mutilado e deformado”, disse o delegado titular do distrito de Macaé, Antônio de Carvalho.
A chance de sobrevivência do operador de produção Sérgio Santos Barbosa, 41, é mínima, segundo o chefe do CTQ (Centro de Tratamento de Queimados) do Hospital da Força Aérea do Galeão, Marcos Aurélio Leiros.

Barbosa teve 98% do corpo queimado no acidente na P-36. "Por nossa experiência clínica e conhecimento de literatura médica, a chance de sobrevida do paciente com 98% da área corporal queimada é mínima", disse Leiros. Segundo ele, só o pé esquerdo do operador não tem queimadura de 2º e 3º graus.
Segundo Leiros, o recorde em recuperação de queimados no mundo é de pacientes que tiveram até 90% da área corporal queimada.
O presidente da Petrobrás,  disse que, caso o equipamento afunde com os corpos, a Petrobrás vai se empenhar para que as famílias não tenham de esperar os cinco anos exigidos por lei para obter os atestados de óbito.

MORRE 11ª VÍTIMA DO ACIDENTE
Morreu na manhã de quinta-feira (22.03.01), às 11h13, o operário da Petrobrás Sérgio Santos Barbosa, 41, que estava internado desde quinta-feira da semana passada (15.03.01)  com queimaduras em 98% do corpo.
Com a morte, sobe para 11 o número de vítimas fatais das explosões na plataforma P-36.

TENTATIVA DE RESGATE DE FUNCIONÁRIOS
Devido ao mau tempo (quinta-feira e sexta-feira), a direção da Petrobrás continua a afirmar que são muito remotas as chances de encontrar com vida algum dos nove desaparecidos na tragédia. O coordenador do Departamento de Apoio Comunitário da Defesa Civil do Estado, coronel Jorge Lopes, foi além: segundo ele, não há mais esperanças de haver sobreviventes entre os desaparecidos, todos pertencentes à brigada de incêndio da P-36. "Essa esperança havia até quinta-feira", afirmou. O corpo do funcionário não identificado continua dentro da plataforma.

TENTATIVA DE RESGATE DA P-36
A decisão de enviar mergulhadores para verificar a dimensão dos estragos da explosão na estrutura da plataforma foi tomada de madrugada (sexta-feira). Pela manhã, a operação foi tentada, sem sucesso, por causa de movimentos bruscos e repentinos da P-36.
Os trancos fizeram com que os barcos da operação tivessem de recuar. Contando com a torre de prospecção de petróleo, a plataforma alcança uma altura de mais de 80 metros e, em caso de afundamento, criará um vácuo que arrastará para o fundo todas as embarcações que estiverem à volta.

17.03.01 - Sábado
À tarde, os técnicos da empresa começaram a bombear nitrogênio para dentro dos flutuadores da plataforma, na tentativa de expulsar a água que invadiu aquelas áreas. O objetivo é fazer com que a plataforma continue flutuando. No domingo será iniciada uma outra operação, de sucção dos compartimentos alagados.
Equipes de três a cinco técnicos da Petrobrás estão se revezando na plataforma P-36, examinando a forma de resgatar os corpos dos nove trabalhadores que continuam desaparecidos.

Essas equipes também têm a função de preparar a área para o trabalho de retirada da água e isolar os compartimentos da plataforma.
A plataforma mantinha até o final da tarde de sábado uma inclinação de 24 graus, após afundar quatro metros. O processo de afundamento continuava, porém em ritmo mais lento, o que animou os especialistas da Petrobrás. Nas últimas 12 horas, afundou apenas 50 centímetros. Nas 12 horas anteriores ela havia afundado dois metros e, antes, no mesmo espaço de tempo, 1,5 metro.

Esta mudança levou a direção da Petrobrás a determinar o desembarque de técnicos na plataforma. No total, são trinta pessoas – entre técnicos, engenheiros e mergulhadores – que se movimentam em barcos ao redor da P-36. Divididos em grupos de três a cinco, eles se revezam no interior do equipamento.
O presidente da Petrobrás, explicou que as primeiras pessoas a entrar na plataforma depois do acidente, na quinta-feira, foram voluntários: três engenheiros. “Eles insistiram, insistiram, e a Petrobrás autorizou. Era uma ação de alto risco e, por isso, não daríamos esta ordem”, afirmou.

RISCOS
Os funcionários, acompanhados por dois mergulhadores, tamparam alguns buracos no casco com rolhas de madeira, dando mais estabilidade à plataforma. Graças a essa providência, os riscos a que estão expostos os engenheiros que agora trabalham na plataforma são menores. Mas ainda assim são enormes.
De acordo com explicações do gerente geral para a Bacia de Campos, Carlos Eduardo Bellot, o maior risco é o de tombamento da plataforma, devido à grande inclinação em que se encontra. Também existe a possibilidade ocorrer um incêndio, por causa do óleo e do gás que ainda estão no equipamento. Para ele, a hipótese mais remota é a de um naufrágio repentino. “Já há mais estabilidade, depois que alguns buracos do casco foram tampados”, ressaltou.
A partir de domingo, os técnicos realizarão duas ações não simultâneas para tentar fazer a plataforma flutuar: injetar nitrogênio para expulsar a água e utilizar bombas para sugar o líquido. “Primeiro, temos que recorrer ao nitrogênio, porque isso pode ser feito do lado de fora da plataforma. Quando o equipamento estiver menos inclinado, poderemos embarcar as bombas para tirar a água”, explicou Bellot.

SEM PREVISÕES
As bombas de sucção foram encomendadas à empresa holandesa Smit e trazidas para o Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, em aviões cargueiros russos. Pesam 50 toneladas e devem chegar a Macaé em carretas, na manhã de domingo(18.03.01). A Smit também cedeu oito mergulhadores para o trabalho. “A gerência da Bacia de Campos tem um cheque em branco da Petrobrás para gastar o que for necessário para salvar a plataforma e recuperar os corpos”, afirmou Reichstul.
De acordo com a explicação de Bellot, as bombas sugadoras podem retirar até mil metros cúbicos de água por hora, se atuarem com capacidade plena. “Se tirarmos cinco mil metros cúbicos, a plataforma volta à posição normal”, disse. “Mas é muito difícil precisar em quanto tempo isso poderia acontecer.”
O bombeamento de nitrogênio para a plataforma começou às 16h40 de sábado e a previsão era de que não pararia durante a noite.

18.03.01 - A P-36 PAROU DE AFUNDAR NO DOMINGO
A plataforma P-36, parou de afundar no domingo (18.03.01) e ficou estabilizada em 22 graus de inclinação. Com isso, aumentam as possibilidades de resgatá-lo. Uma das maiores preocupações da Petrobrás, agora, são as condições do tempo, uma vez que está prevista a chegada de uma frente fria para hoje, que pode agitar o mar e dificultar o trabalho dos mergulhadores.

Em nota oficial distribuída a estatal admitiu que os resultados obtidos com as primeiras tentativas de salvar a plataforma P-36 são animadores. “As chances cresceram”, confirmou o gerente geral da Bacia de Campos, Carlos Eduardo Bellot. Ele ressaltou que não há prazo para o término da operação. “É impossível prever porque dependemos das condições do mar.”
Por volta das 14 horas de domingo, o bombeamento de nitrogênio foi interrompido e, até o fim da tarde, não havia sido retomado. O objetivo da operação é expulsar a água que está dentro dos flutuadores para manter a plataforma estabilizada, eliminando o risco de naufrágio. “Paramos porque muito nitrogênio estava sendo perdido devido a furos nos flutuadores. Tivemos de fechar esses orifícios e reiniciar o processo com mais eficiência”, adiantou Bellot. Ele acredita que a operação será retomada hoje.
Para que a plataforma volte a sua posição normal, segundo explicações do gerente geral, é necessária a retirada de pelo menos 7 mil toneladas de água. Até domingo haviam sido extraídas 700 toneladas.

Bellot confirmou que a empresa utilizará ar comprimido, mas não nesse momento. A plataforma ainda precisa de um grau maior de estabilidade para esse tipo de operação. “As bombas de ar comprimido são mais eficientes para escoar a água, mas precisam ser colocadas dentro das colunas. Já o bombeamento de nitrogênio pode ser feito de fora da embarcação”, explicou.
O trabalho mobiliza 41 técnicos, entre os quais 11 mergulhados estrangeiros, distribuídos em 18 barcos. Eles trabalham em volta da plataforma, nas operações de vedação e bombeamento de nitrogênio.
A Marítima Engenharia, responsável pelo projeto de construção da plataforma, mandou três mergulhadores para o local. Segundo previsões do coordenador dessa equipe, Jeovah Lima, eles deverão ficar lá, no máximo, durante 15 dias. Lima explicou que trabalham em etapas de uma hora, três vezes ao dia.
“Os melhores profissionais do Brasil estão na P-36. O que tem menos experiência já mergulha há mais de 15 anos”, comentou Lima.

A Petrobrás também deslocou a plataforma P-23 para próximo da P-36, com o objetivo de utilizá-la como base de apoio para a operação de salvamento. No fim de semana, haviam sido bombeadas 4.100 toneladas de nitrogênio para expulsar água de dois dos compartimentos que estavam inundados.
Bellot, explicou se a plataforma não afundar, o objetivo seria repará-la para que volte a operar no Campo do Roncador. “A maioria dos equipamentos eletrônicos está danificada, mas a estrutura ainda pode ser reaproveitada. É claro que ficará mais barato para a empresa reparar o equipamento do que construir um novo”, afirmou.

19.03.01 - SEGUNDA-FEIRA
A plataforma P-36 adernou mais 4, aumentando para 27 o seu nível de inclinação, o que para a Petrobrás significa que ela passa por "seu pior momento"..
No domingo, a estatal havia anunciado que o trabalho de recuperação da unidade estava tendo bons resultados, uma vez que a estrutura tinha parado de afundar e recuperado dois graus na inclinação -de 25 para 23.
A medição, feita na segunda-feira, por volta das 6h por técnicos que participam da recuperação da plataforma, também indica que ela afundou mais 40 centímetros em relação ao dia anterior. A notícia não é muito boa.

Foram apontadas duas causas para a piora do estado da estrutura: a frente fria que atinge a bacia de Campos, provocando ondas, e a existência de aberturas, que se comunicam com os vários compartimentos da plataforma, permitindo a entrada de água.
As ondas estavam ontem (18.03.01) com um tamanho médio de 1,5 m, com picos de até 1,8 m. Segundo a Petrobrás, o tempo deve começar a melhorar hoje à tarde. A partir de amanhã, as ondas poderão estar com altura máxima de 1,2 m.
"O tempo não está favorável, mas não está impedindo a operação, apenas tornando-a mais difícil", disse o gerente-geral.
Apesar da piora da situação da plataforma, continuam os trabalhos de injeção de nitrogênio e de ar comprimido -este último feito pela empresa holandesa Smit, especialista na operação- nos tanques 41 e 43, situados abaixo do convés inferior da estrutura.
O segundo tanque foi completamente esvaziado com a retirada de 400 toneladas de água. De manhã, começou a injeção no primeiro tanque, mas, até o início da noite, ainda não havia dados sobre o resultado da operação.

20.03.01 - TERÇA-FEIRA - PLATAFORMA AFUNDA EM 40 MINUTOS
Às 2h30 de terça-feira (20.03.01), um movimento brusco na plataforma P-36 alertou toda a equipe de resgate. As horas que se seguiram foram de agonia e tensão. A estrutura de mais de 30 mil toneladas estava afundando. Às 10h35, a plataforma tombou.

Técnicos ainda fizeram um esforço desesperado para mantê-la flutuando. Quarenta minutos depois, ela estava completamente submersa na Bacia de Campos. Cinco dias depois das explosões que danificaram uma coluna de sustentação.

CAUSAS PROVÁVEIS: CONTROVÉRSIAS CONVERGENTES

1.No primeiro instante: A Petrobrás informou que ainda não era possível saber as causas das explosões. A coluna que explodiu não armazena óleo ou gás. Há suspeitas, levantadas por empregados da estatal que fizeram contato com o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, de que o gás vazou em outra área e se armazenou na coluna.

2. O queimador de gás teria sido construído muito perto do deck; especialista diz que local era seguro
A Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás) afirma que a plataforma P-36, que estava em operação desde o dia 16 de maio de 2000, tinha um erro fundamental em seu projeto.
De acordo com Argemiro Pertence, diretor de comunicação da associação, o queimador de gás natural, que, pelas normas de segurança, tem que ficar longe do deck principal da plataforma, foi instalado muito próximo ao local.
"Por causa do queimador, a temperatura no deck chegava, às vezes, a quase 80o C, o que contraria todas as normas de segurança", disse Pertence, que é engenheiro de petróleo e trabalhou durante 25 anos em áreas de prospecção da Petrobrás.
As altas temperaturas, na avaliação do engenheiro, podem ter alterado o funcionamento de equipamentos sensíveis e prejudicado a detecção de irregularidades. Pertence diz que, se houve explosão, é porque havia vazamento de gás.
"Sem vazamento de gás, não há explosão. Não houve vazamento de óleo, por exemplo, porque isso causaria um incêndio."
Segundo o engenheiro, empregados que estavam na P-36 informaram a representantes da Aepet em Macaé que já haviam reclamado na quarta-feira (14.03.01) de um vazamento de gás. "Eles disseram que nada foi feito naquele momento, para não paralisar a produção."
A possibilidade de um vazamento de gás na plataforma foi confirmada pelo engenheiro Tiago Lopes, da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), que estava na plataforma no momento da explosão.

3. Pernas ocas
As explosões ocorreram em uma das "pernas" de sustentação da P-36. Um técnico que participou da construção da plataforma explicou que, como essas "pernas" são colunas ocas, em seu interior são normalmente instaladas bombas e vasos utilizados em drenagem. "Pode ter ocorrido um retorno de gás, ou seja, uma quantidade do gás extraído da bacia entrou por uma tubulação errada e explodiu no interior do tubo", disse o técnico, que preferiu não se identificar. 

4. Óleo
A coluna da P-36 onde houve as explosões abrigava um tanque de resíduo de óleo. A borra da limpeza de outros tanques era depositado nesse compartimento e formava um gás. Segundo o diretor do Sindicato dos Petroleiros, Mozart Queiroz, isso pode ter contribuído para o acidente. O gerente de estrutura de superfície de Roncador, Sílvio Vicente, confirmou a existência do tanque, mas disse não acreditar que essa seja a causa das explosões.

5. Origem de explosões na P-36 pode ter sido em local que recebe resíduos
A Petrobrás decidiu examinar as plantas de suas 94 plataformas marítimas de produção e de exploração de petróleo para reposicionar o tanque de dreno (ou de resíduos) de todas as que tenham o equipamento, localizado em uma coluna de sustentação, como ocorria com a P-36, unidade que foi a pique.
Embora o relatório sobre as causas do acidente só deva ficar pronto em 30 dias, a equipe técnica da empresa já está praticamente segura de que a série de três explosões que resultou em dez mortos e um ferido, além da perda total da plataforma, teve origem no tanque de resíduos.
O tanque recebe todos os resíduos líquidos resultantes dos trabalhos na plataforma. Esses resíduos não podem ser atirados ao mar porque causariam danos ambientais.

NOVIDADE
A localização do tanque de resíduos em uma coluna de sustentação é uma concepção relativamente nova que gerou debates no corpo técnico da empresa e acabou prevalecendo.
Foram tomados cuidados para evitar riscos, até mesmo com a instalação de um suspiro de ventilação. Também houve a preocupação de colocar o tanque de dreno na parte mais alta da coluna, até para evitar que ele jogasse resíduos no mar.
Agora, depois do desastre, os técnicos da Petrobrás estão convencidos de que essa concepção tem que ser revista.

ORIGEM
Os técnicos ainda não podem afirmar com absoluta segurança que a origem das explosões foi no tanque de resíduos porque falta um levantamento mais preciso sobre alguns fatos ocorridos na plataforma na madrugada de quinta-feira passada.
Um dos fatos que precisam ser mais bem estudados pelos técnicos é a forma como foram geradas as duas explosões que se seguiram à primeira.

De acordo com a hipótese que está sendo considerada quase certa pelos especialistas da estatal;
■ A primeira explosão na plataforma teria sido causada por gases que se acumularam dentro do tanque. Esses gases se originaram do próprio óleo drenado para o reservatório.
■ O calor e as chamas gerados por essa explosão, em contato com um bolsão de gás ainda não identificado pelos técnicos, provocaram a segunda e principal explosão e, minutos depois, a terceira, de pequena intensidade.

Outra teoria dos técnicos da Petrobrás é que a inundação da coluna danificada, que acabou levando ao afundamento da plataforma, foi provocada pelo acionamento automático das bombas que captam água do mar para uso na plataforma -até mesmo para combater incêndios- em caso de defeito no sistema primário de captação.

6. Alarme indicou vazamento em explosão
Um alarme de emergência foi acionado na sala de controle da plataforma P-36, indicando vazamento de gás, antes da segunda das três explosões que a danificaram, causando a morte de dez petroleiros e seu afundamento.
A presença de gás foi detectada por sensores automáticos em local próximo da coluna onde ocorreram as explosões, segundo relatou o operador da sala de controle da plataforma Carlos Alberto Sampaio, 35, que trabalhava no momento do acidente.
Segundo o supervisor da P-36, Sebastião Filho, 38, esse vazamento teria ocorrido em salas próximas à coluna, onde não passam dutos de gás.
"Foi observado gás. É possível que esse tenha sido o motivo (das explosões)", disse o também supervisor Luiz Mário Linhares de Azevedo, 44. Ambos estavam na P-36 quando ela explodiu.
Na coluna existia um tanque de resíduos onde eram armazenados os líquidos restantes do trabalho da plataforma, cuja finalidade era separar o petróleo do gás extraídos de poços submarinos.
Carlos Eduardo Bellot, gerente-geral da Petrobrás na bacia de Campos,  disse que a presença de gás na coluna e a possibilidade de que ele tenha sido gerado a partir do tanque de resíduos são fatores que serão investigados pela comissão de sindicância constituída pela estatal.
O supervisor Sebastião Filho afirmou que o tanque de resíduos estava inoperante e isolado. Ele não acredita que a explosão tenha se originado nesse equipamento.

INUNDAÇÃO E AFUNDAMENTO
De acordo com essa teoria, a explosão teria rompido o tubo pelo qual entra a água que dá pressão aos equipamentos de combate a incêndios na plataforma, fazendo com que fosse acionado automaticamente o sistema de bombas sobressalentes, que ficava dentro da coluna danificada.
Como a água bombeada não podia ser usada, pois a plataforma havia sido abandonada, ela acabou provocando o início da inundação e, posteriormente, o afundamento.
O quadro foi se agravando progressivamente por causa da entrada de água por outros pontos da plataforma.
Essa tese é baseada nos resultados dos primeiros exames, feitos com o auxílio dos mergulhadores, que não constataram nenhum rombo na estrutura da coluna da plataforma.
Os técnicos acreditavam que as explosões poderiam ter aberto buracos na coluna.

7. Três dias antes da explosão, boletins diziam que era preciso suspender produção para consertar defeito
A Petrobrás admitiu três dias antes das explosões que provocaram o afundamento da P-36 e a morte de 11 funcionários, foi registrada nos boletins de produção da plataforma uma falha no sistema de ventilação, provavelmente causada "pelo entupimento do abafador de chamas".
Os boletins diziam que era necessário parar a produção para consertar o defeito, mas isso não foi feito.
Segundo a empresa, o superintendente de produção da P-36, Hélio Menezes Galvão, registrou nos boletins dos dias 12, 13 e 14 aumento da pressão no chamado "sistema de vent", responsável pela entrada e saída de ar dos tanques que armazenam óleo, gás, água e resíduos da produção.
"Estamos tendo pressurização no sistema de vent da plataforma. Provável causa é o entupimento do abafador de chamas. Estamos especificando-o para compra. Será necessária parada de produção para substituição do mesmo, visto estar bem próximo dos queimadores de gás na torre de flare", diziam os boletins, segundo nota divulgada pela empresa.
Até as 19 h de sexta-feira (23.03.01), a Petrobrás não havia especificado se o equipamento atingido pelo problema estaria na coluna de sustentação onde ocorreram as três explosões, há oito dias.
O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, José Coutinho Barbosa, disse que ainda é cedo para saber se o defeito provocou as explosões. "Pode ser determinante, contribuinte ou não ter nenhuma relação", afirmou.
Coutinho reconheceu que os registros em três boletins consecutivos "são fatos que chamam a atenção", mas não soube explicar por que as operações na plataforma não foram interrompidas.
"Se não pararam a produção é porque a falha não deve ter sido considerada um fator importante", argumentou. Ele afirmou que o superintendente da P-36, Hélio Galvão, tinha "total autonomia" para interromper a produção.

8. Equipamento, que só deveria permitir passagem de óleo e água, teria injetado gás no tanque de resíduos
O defeito em uma válvula pode ter sido responsável pela pressurização do sistema de ventilação do tanque de resíduos e pelo entupimento do abafador de chamas, principais problemas apontados três dias antes do acidente na P-36 pelos boletins diários da unidade da Petrobrás.

Essa válvula fica no duto que liga um dos vasos de separação de gás, óleo e água ao tanque de resíduos, localizado na coluna da plataforma que explodiu.
O equipamento, que deveria apenas dar passagem ao óleo e à água que sobram do processo de separação, permaneceu aberto e permitiu a liberação de gás para o tanque de resíduos.
A entrada de gás teria pressurizado o sistema de ventilação e causado três explosões no último dia 15, que acabaram provocando o afundamento da P-36.
O sistema de separação é composto por quatro ou cinco vasos -grandes compartimentos que armazenam o óleo bruto que vem diretamente do poço. E separa, por diferença de densidades, o óleo, o gás e a água, que sobem misturados por dutos do fundo do mar.
Esse processo é gradativo, separando no primeiro vaso "o grosso", depois retirando o resto dos resíduos e armazenando no tanque. É semelhante ao tratamento de filtragem da água encanada.
Com a válvula aberta, o gás foi se concentrando a pressões cada vez maiores no tanque e depois no sistema de ventilação. Qualquer faísca seria suficiente para provocar as explosões.

BOMBA EM MANUTENÇÃO
Outro problema que teria influenciado o acidente é que a bomba do equipamento de armazenar resíduos havia sido retirada para manutenção. Com isso, o tanque não era esvaziado de óleo e água. Segundo informações de um ex-supervisor de produção de plataformas da Petrobrás que ainda trabalha como operador, não é contraditória com o relato do supervisor da P-36
Sebastião Filho, que afirmou, em entrevista, que "o tanque estava inoperante e isolado".
O ex-supervisor afirma que, mesmo com compartimento de resíduos parado, só isso não seria causa de uma explosão. Isso porque o óleo armazenado libera gás, "mas em pequena quantidade, insuficiente para causar acidente".
Segundo ele, o que ocorreu, certamente, foi à falha na válvula, que deixou acumular muito gás em alta pressão no sistema, agravada pela manutenção na bomba do tanque.

CORTA-CHAMAS
Para o ex-supervisor, que disse ter ouvido esses problemas de vários funcionários da produção embarcados na P-36, o entupimento do corta-chamas se deve também ao vazamento de gás pela válvula. Isso porque, mesmo tendo passado por um processo de separação, o produto ainda não havia sido totalmente filtrado e carregava partículas de óleo.
Essas partículas foram se impregnando no corta-chamas, que entupiu e piorou a situação, uma vez que o gás contido no tanque e no sistema de ventilação tinha menos espaço para sair.
O duto de ventilação opera com pressão atmosférica, menor do que a do gás comprimido nos vasos. E serve, justamente, para ventilar e dar passagem para o gás que eventualmente se aglomere no tanque de resíduos.
O corta-chamas é um equipamento de segurança usado para evitar que, em caso de incêndio causado pelo gás contido no duto de ventilação, o fogo volte para o tanque, o que poderia causar uma explosão. É feito com uma malha fina de aço, que impede o retorno das chamas.

LOCAL ERRADO
Segundo o ex-supervisor, o local onde estava o tanque de resíduos (em coluna de sustentação da plataforma) é, no mínimo, inadequado. "Qual a recomendação do corpo de bombeiros no caso de um bujão explodir? Não é colocar em lugar arejado e aberto? A Petrobrás não seguiu a orientação."
Para ele, o fato de o tanque estar lá se deve à adaptação da P-36, inicialmente projetada como plataforma de perfuração e modificada para de produção para atender à Petrobrás.
O ex-supervisor afirmou que teve a informação de que o tanque, no projeto original, era usado para acumular lama, retirada do fundo do mar durante a perfuração dos poços.

PLANO DE CONTINGÊNCIA 
O coordenador regional do Ibama, no Rio, Carlos Henrique Mendes, que também foi a Macaé, disse que as plataformas da Petrobrás não têm plano de emergência contra vazamento de óleo em caso de colapso e afundamento.

PLATAFORMA P-36 É A MAIOR EM CAPACIDADE DE PRODUÇÃO
A plataforma P-36, localizada na bacia de Campos, a 120 km de distância da costa brasileira, em alto-mar, é considerada o "coração" do campo do Roncador, o mais novo e maior campo dessa área de exploração.
A P-36 tem a altura de um prédio de 40 andares e pesa 60 mil toneladas e foi construída em 1994 por encomenda da ENI (Ente Nazionale Idrocarburi, a estatal italiana de petróleo), para prospectar petróleo a uma profundidade de até 500 metros. No final de 1996, a plataforma foi arrendada pela Petrobrás para ser utilizada na bacia de Campos.
As obras de reconversão para que a plataforma pudesse operar em uma profundidade de até 1.360 metros foram feitas no Canadá. A P-36 chegou ao Brasil em novembro de 1999 e começou a operar em maio de 2000.
Os pilares de sustentação têm 30 metros de altura e são verdadeiros edifícios, inclusive com elevadores. A plataforma toda é do tamanho de um quarteirão, com cem metros de comprimento.
A P-36 interliga 21 poços de produção de petróleo e cinco poços de injeção de água. A água é utilizada para facilitar a retirada do petróleo.
Antes da reforma, ela tinha capacidade para acomodar 115 pessoas, o que foi ampliado para 195, de acordo com informações da Petrobrás.

CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DA P-36
Em operação desde 16 de maio de 2000, a P-36 é a maior do mundo em capacidade final de produção.
De acordo com a Petrobrás, são:
■ 180 mil barris de petróleo (aproximadamente 15% de toda a produção nacional) e
■ 7,2 milhões de metros cúbicos de gás por dia (o triplo da quantidade consumida diariamente no Estado do Rio de Janeiro).
As reservas do campo do Roncador, situado em águas profundas (de 1.500 a 2.000 metros de profundidade) e descoberto em outubro de 1996, estão estimadas em 3 bilhões de barris de óleo e gás natural.
No entanto, como o campo do Roncador estava em início de exploração, a produção diária era de 80 mil barris.
A plataforma é responsável por 6% da produção atual de petróleo do país, estimada em 1,33 mil barris diários pela Petrobrás, com meta de 1,42 mil barris para o final do ano, o que deve ser revisto. A capacidade final de produção da P-36, de 180 mil barris diários, só seria atingida em 2003.

PRODUÇÃO  NA BACIA DE CAMPOS
1. No campo do Roncador existem 21 poços de petróleo em produção . O produto retirado dos poços sobre por tubos flexíveis que convergem para a plataforma P-36.
2. A P-36 é uma plataforma de processamento, que separa o óleo do gás e da água .
3. Depois de separado, o óleo é enviado para a P-47, onde é armazenado.
4. Depois de armazenado, o produto é enviado, por meio de dutos, aos terminais em terra. Em Cabiúnas, há um parque de armazenamento de petróleo e gás.
5. 120 km  é a distancia do continente ate a P-36.

DADOS DA PETROBRÁS

Reservas: 8,4 bilhões   de óleo e 1,4 bilhão de gás
Poços ativos: 8.813 (996 marítimos)
Plataformas de produção: 94 (69 fixas e 25 flutuantes)
Produção diária: 1.324 milhões de barris de petróleo; 39,9 milhões de metros cúbicos de gás natural
Refinarias: 13 (11 integrais no Brasil; 2 na Bolívia)
Rendimento de refinarias:  1.626 milhões de barris de petróleo por dia
Dutos: 15.330 km próprios / operados no Brasil
Frota de petroleiros: 119 embarcações (63 de propriedade da Petrobrás)

PREJUÍZO
O acidente com a plataforma causará um prejuízo de cerca de US$ 50 milhões mensais à Petrobrás, segundo o diretor financeiro da empresa, Ronnie Vaz Moreira.
O gerente geral da Bacia de Campos, Carlos Eduardo Bellot  ressaltou que a Petrobrás estuda alternativas para manter a exploração de petróleo no Campo de Roncador, caso a P-36 naufrague. “Entre as possibilidades há o remanejamento de outras plataformas da Petrobrás ou fretamento de outro equipamento”, disse.
Embora não cite valores, Bellot admitiu que os prejuízos da Petrobrás com a interrupção da produção são grandes. “Estávamos tirando 80 mil barris por dia de um óleo de boa qualidade, que custa cerca de US$ 30 por unidade no mercado internacional”, afirmou. 
O Brasil pode ter de arcar com gastos adicionais de importação de petróleo no valor de US$ 60 milhões por mês. Somente neste ano, o impacto na balança comercial seria de US$ 600 milhões, segundo os cálculos feitos por analistas financeiros. Eles consideraram, para fazer a conta, que o preço médio do barril de petróleo fique em US$ 25 e que a plataforma produziria, em média, 80 mil barris diários.

ABASTECIMENTO NO PAÍS
O presidente da Petrobrás, Henri Philippe Reichstul, enfatizou que não haverá problemas de abastecimento. A Petrobrás já está preparando uma operação de importação suplementar de petróleo, para que não haja reflexos da quebra de produção.

RISCO AO MEIO AMBIENTE
O risco de contaminação do ambiente em conseqüência do acidente na plataforma 36 da Petrobrás é pequeno, mas não está descartado pelos ambientalistas.
A P-36 não armazena óleo, nem faz transporte do material por meio de dutos -como acontece numa refinaria, por exemplo. Praticamente tudo que é retirado do fundo do mar (80 mil barris diários de petróleo, ou cerca de 13,5 milhões de litros) é logo transportado para longe do local.
O maior problema, segundo ambientalistas estaria num possível rompimento na tubulação de exploração -que extrai o petróleo diretamente do poço.
A possibilidade, entretanto, é descartada pela Petrobrás e pelo especialista em segurança Moacyr Duarte, da Coppe-UFRJ.
De acordo com Duarte, a extração é paralisada assim que se tem notícia de qualquer problema na plataforma. "Uma válvula suspende a drenagem de petróleo", afirma ele, que considera "remota" a probabilidade de um acidente ambiental.
Caso a plataforma afunde, o vazamento será de cerca de 1,5 milhão de litros, afirma a Petrobrás. "Só isso já seria muito significativo", alega Délcio Rodrigues, diretor de campanhas do Greenpeace.
O óleo que eventualmente seja despejado pode ser levado pelas correntes marítimas para a região das praias e mangues de Campos, onde causará grande impacto na avaliação da ONG.
Se for levado para alto-mar, as conseqüências são imprevisíveis.
O fluxo de óleo e gás do Campo de Roncador, que tem reservas de petróleo estimadas em 3 bilhões de barris (cada barril tem mais de 158 litros, o que representa, portanto, pelo menos, 474 bilhões de litros), foi interrompido com o fechamento dos seis poços do campo. Com isso está afastado o risco de um vazamento superior a 1,5 milhão de litros, que é a quantidade acumulada em tanques e na estrutura dos poços até o início da jazida.

AFUNDAMENTO DA PLATAFORMA E CONTAMINAÇÃO
Mesmo o Greenpeace admite, porém, que o risco de uma contaminação é pequeno.
"Há tempo de conter o problema, mas, como a primeira preocupação é salvar as pessoas, esse tempo pode se esgotar", diz Rodrigues.
O problema no caso do afundamento da plataforma não seria só o óleo, afirma, mas também produtos tóxicos, tintas e até material radioativo que são usados na operação das plataformas.
Os ambientalistas estão de prontidão, aguardando o que será feito pela Petrobrás. "Não há muito o que fazer agora. Existem recursos de engenharia que podem evitar um desastre que já é previsível", afirma Rodrigues.


MEIO AMBIENTE - AFUNDAMENTO DA P-36  E SURGIMENTO DE ÓLEO
O mau tempo está dificultando as operações para conter o óleo da plataforma P-36. Inicialmente, a Petrobrás pretendia formar uma barreira usando três navios para conter o produto. O mar agitado, contudo, obrigou os técnicos a optarem pela utilização de dois barcos formando uma barreira em linha reta.
Na terça-feira, 15 minutos depois que a base afundou, surgiu o primeiro vazamento, com cerca de 6 mil litros de óleo diesel. No fim da tarde, era confirmado o segundo acidente. As bóias de contenção só foram colocadas no local do primeiro vazamento no fim da tarde, quando a mancha já alcançava oito quilômetros de extensão.
O engenheiro de equipamentos da Petrobrás Eduardo Secchin afirma que a mancha está sob controle. "Temos navios com um produto dispersante para o óleo, que está sendo usado quando a mancha sai da barreira de contenção ou não pode ser recolhida pelos barcos", explicou. Há dois barcos atuando na contenção da mancha de óleo e dois fazendo a dispersão do produto. Há dois de reserva. Outros seis barcos estão de prontidão.
O vazamento de 1,5 milhão de litros de óleo no mar é inevitável. "Estes equipamentos não foram projetados para resistir a pressões tão grandes", explicou o gerente-geral da Petrobrás na Bacia de Campos, Carlos Eduardo Bellot. A plataforma está afundada numa profundidade de 1.360 metros.

DANO
O desastre ecológico só não será maior porque o fluxo dos seis poços ligados à plataforma foi interrompido logo após as explosões de quinta-feira. No local, há 32 mil metros de barreiras, com capacidade para conter até 5 milhões de litros de óleo. A P-36 apenas extrai o produto e faz um primeiro processamento, antes de enviá-lo, por uma rede de dutos, para a P-47, esta sim uma plataforma de armazenagem.
O fato de não estocar petróleo, minimiza os danos que o afundamento da P-36 podem causar ao meio ambiente. A maior parte do vazamento é de óleo diesel usado como combustível na plataforma.

CONTROLE
Segundo o gerente-executivo de Segurança Meio Ambiente da Petrobrás, Irany Varella, um acidente em alto-mar é de mais fácil contenção, se comparados com os vazamentos do ano passado que ocorreram em janeiro, na Baía de Guanabara, quando foram derramados 1,3 milhão de litros de óleo, ou em julho, quando vazaram 4 milhões de litros de óleo, no Rio Iguaçu, Paraná. "Temos mais tempo e melhores condições para controlar a mancha", explicou.
O secretário de Estado de Meio Ambiente, André Corrêa, defendeu que a Petrobrás seja multada, mas não falou em valores, assim como o superintendente regional do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Carlos Eduardo Abreu Mendes.

ÓLEO SE DISPERSA, AFIRMAM TÉCNICOS DO IBAMA
A mancha de óleo diesel e petróleo bruto resultante do vazamento da plataforma P-36 está contida e se dispersando rapidamente, segundo técnicos da Petrobrás e do Ibama que sobrevoaram a área do acidente na quarta-feira (21.03.01).
De acordo com a estatal, dos 350 mil litros que já vazaram da P-36, só restavam 11 mil na manhã de quarta-feira, formando uma mancha de 48 quilômetros quadrados de extensão. Os outros 339 mil litros, segundo os técnicos, evaporaram.
A técnica que estava sendo utilizada para a retirada do óleo era o uso de dispersantes -suspenso na tarde de ontem (20.03.01), por não haver mais necessidade- e de embarcações que passam sobre as manchas, espalhando-as.
Não está sendo necessário, conforme explicou o gerente-executivo de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Petrobrás, Irani Varella, o uso de barreiras.
"A mancha é muito fina, muito superficial. Então, a utilização de barreiras não é a melhor solução."
Segundo Varella, o óleo, na quarta-feira à tarde, encontrava-se a cerca de 122 km da costa e movimentando-se em direção a mar aberto. "Não há mais o risco de o vazamento atingir as praias", afirmou.
Robôs equipados com câmeras filmadoras estão ajudando a monitorar possíveis vazamentos.
Especialistas afirmam que o dano causado ao ambiente será pequeno.
"Além de ser uma pequena quantidade, a fauna e a flora daquela área são muito pobres", explicou Mário Sérgio Ximenes, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

MONITORAMENTO DAS INSTALAÇÕES NO FUNDO DO MAR
A Petrobrás está usando robôs guiados remotamente por navios para obter imagens da P-36 e dos seis dutos de petróleo que a abasteciam no fundo do mar, a cerca de 1.350 metros de profundidade.
As primeiras informações da empresa indicam que não houve rompimento dos dutos ou das válvulas que fecham os poços submarinos. Hoje, a empresa deverá ter a posição exata da plataforma no fundo do mar.
Segundo Carlos Eduardo Bellot, gerente-geral da Petrobrás na bacia de Campos, não há condições para que os robôs possam ser usados dentro da estrutura da P-36, rejeitando a possibilidade de recuperar os nove corpos não resgatados da plataforma. "Isso é virtualmente impossível", disse.

IBAMA MULTA PETROBRÁS EM R$ 17  MILHÕES POR CAUSA DE ACIDENTE COM A P-36
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) aplicou  multas à Petrobrás por causa do acidente nas plataformas P-36 na bacia de Campos, no dia 15 de março. As multas somam R$ 17 milhões.
Uma das multas, de R$ 5 milhões, é devido ao vazamento de 1,4 milhão de litros de óleo no mar. E a outra, de R$ 2 milhões, é por causa do uso de dispersantes químicos no dia do afundamento da plataforma, 20 de março.
No entanto, como a Petrobrás é reincidente em derramamentos em prazo inferior a três anos, a P 36 foi triplicado, atingindo R$ 15 milhões. Somada a multa por uso de dispersante, chega-se aos R$ 17 milhões. O gerente de Meio Ambiente da Petrobrás, Rui Fonseca, afirmou que não está descartada a hipótese de recorrer.

SEGURO
A plataforma P-36 está segurada em US$ 500 milhões, para perda total para equipamentos e estrutura, por um consórcio de companhias de seguro capitaneado pelo Bradesco.
Não há cobertura para lucros cessantes. O gerente de relacionamento com investidores da Petrobrás, Luiz Fernando Nogueira., disse que a Petrobrás tem plena capacidade de absorver os prejuízos, sem afetar o seu desempenho financeiro.
A plataforma de US$ 500 milhões que afunda na bacia de Campos, no Rio, está agitando o mercado internacional de seguros.
No Brasil, o impacto do acidente não provocará um desembolso maior do que US$ 5 milhões pelo consórcio de seguradoras liderado pela Bradesco Seguros, que responde por apenas 0,98% do valor total de US$ 500 milhões pelo qual a plataforma P-36 foi assegurada no ano 2000.
O Bradesco tem 40%; o Itaú, 30%; Unibanco, 12%; AGF, 9%; e Tokyo Marine, 9%. O consórcio brasileiro tomou a precaução de fazer resseguro do contrato com a Petrobrás, o que significa que também será ressarcido pelo pagamento de sua parte na indenização.
O mercado internacional arca com 99% do seguro de US$ 500 milhões, dividido entre 10 companhias coordenadas pela AON Re, uma das três maiores do mundo.
A AON Re fez o resseguro da plataforma da empresa com outras corretoras no mercado internacional. Ou seja, o pagamento do prejuízo da Petrobrás será feito por uma série de companhias que "dividiram" o risco do seguro. Um sinistro desse porte depende de especialistas do mercado exterior em plataformas e não se pode precisar o tempo que será definitivamente encerrado, uma vez que as variáveis para esse tipo de ocorrência são inúmeras.
Apesar das grandes proporções, o acidente não deve levar mais companhias à bancarrota do que a Plataforma Piper Alpha, cuja explosão, no Mar do Norte, custou às seguradoras, em 1988, mais de US$ 2,9 bilhões.

FALTA DE INVESTIMENTO EM SEGURANÇA
O especialista em estruturas oceânicas e diretor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Segen Estefen, afirmou que os últimos acidentes envolvendo a Petrobrás estariam associados ao aumento da produção de petróleo e à busca de auto-suficiência do País no setor.
 “O investimento em treinamento dos funcionários não acompanhou o aumento da produção nos últimos anos”, analisa Estefen, que foi procurado pela estatal para indicar um técnico da Coppe para integrar a comissão de sindicância que apura as causas do acidente.
Segundo ele, a estatal deveria “redobrar” os investimentos em segurança, principalmente no trabalho em plataformas, uma atividade de “alto risco”.
 “Está sendo muito debatida a questão da terceirização do trabalho, mas acho que esse não deveria ser o foco principal. O que importa é a criação de um padrão único de treinamento dos funcionários, porque o número de acidentes tem sido muito elevado.”
Pela primeira vez, a Petrobrás decidiu chamar um representante de um órgão independente para participar de uma investigação. O professor de engenharia oceânica da Coppe Tiago Alberto Lopes será um dos membros da comissão.

POÇOS
Para Estefen, o impacto da estrutura da plataforma no solo será grande, mas considera remota a possibilidade de os poços, a 1.360 metros de profundidade, serem afetados.
Segundo ele, embora os dutos estejam danificados, os poços já estão fechados e ficam longe do raio de queda da P-36.

INVESTIGAÇÃO
A Petrobrás anunciou que começou a funcionar na segunda-feira (19.03.01), a comissão de investigação das causas do acidente.

INQUÉRITO POLICIAL
A polícia só deverá começar a investigar o acidente na terça-feira (20.03.01). O inquérito será presidido pelo delegado Antônio Carlos de Carvalho, de Macaé. "O delegado vai requisitar à Petrobrás mapas com a localização exata de onde ocorreram as explosões e uma relação dos trabalhadores que estavam na P-36. Até agora, a perícia técnica da Polícia Civil não participou das investigações", disse o delegado adjunto Hernani Helvas.

ANP E MARINHA INVESTIGARÃO ACIDENTE
A ANP (Agência Nacional do Petróleo) anunciou na quarta-feira (21.03.01) que vai formar uma comissão conjunta com a Diretoria de Portos e Costas da Marinha para apurar responsabilidades pelo acidente na plataforma P-36, ocorrido há sete dias. A Petrobrás se declarou "solidária" à investigação externa e informou que fornecerá toda a documentação pedida.

RELATÓRIO FINAL

23.06.01 - Relatório interno da Petrobrás fatores convergentes que causou o acidente da P-36

Uma conjunção de fatores foi responsável pelo acidente ocorrido com a plataforma P-36, em 15 de março. Essa foi uma das conclusões do relatório elaborado pela Comissão de Sindicância instaurada pela Petrobras para apurar as causas do acidente.
De acordo com Carlos Heleno Barbosa, presidente da Comissão, um acidente desse porte não há uma única causa.
A Comissão de Sindicância instituída pela Petrobras para investigar o acidente - assessorada pela empresa norueguesa Det Norske Veritas - enumerou uma série de fatores que contribuíram para o acidente, mas não apontou nenhum responsável - pessoa ou entidade - pela tragédia. "Não era o escopo desta comissão apontar responsabilidades. O inquérito foi entregue à diretoria da Petrobras que poderá apontar se houve um responsável ou não", disse o presidente da Comissão de Investigação, Carlos Heleno Barbosa.

Uma falha em uma válvula que deveria isolar um tanque de drenagem de óleo na coluna da plataforma da Petrobras P-36, na Bacia de Campos, no Norte Fluminense, foi a principal causa da explosão que provocou o naufrágio do equipamento e a morte de onze funcionários, em 20 de março.
Esta válvula - de fabricante desconhecido - não impediu, como deveria, a entrada de petróleo, gás e água no tanque, que devido ao defeito, acabou enchendo até estourar e espalhar gás por toda a coluna da P-36.
O tanque que recebeu indevidamente petróleo e gás estava localizado na coluna à popa boreste (atrás, à direita) da plataforma. O equipamento estava desativado porque a bomba de drenagem ligada a ele estava em manutenção. Nesta condição, o equipamento foi, teoricamente, completamente isolado: seu respiro foi tamponado e a válvula de acesso a ele fechada.

O problema é que esta válvula não funcionou convenientemente e permitiu que o tanque começasse a encher, ficando cada vez mais pressurizado até o rompimento. "Temos certeza, por duas testemunhas, de que a válvula foi fechada. Como agora o equipamento está no fundo do mar fica impossível saber porque ela permitiu passagem de fluído", informou Barbosa.
"Não sabemos quem é o fabricante do equipamento. Era uma válvula nova, que foi instalada quando a plataforma foi convertida no Canadá, mas no projeto não constava o nome da empresa que a fez", disse.
O tanque - que já estava originalmente cheio parcialmente com água do mar - recebeu primeiro grandes quantidades de petróleo e gás, aumentando sua pressão interna. Depois, uma operação de drenagem de água de outro tanque semelhante acabou provocando também o despejo de água no equipamento.

QUANDO O TANQUE SE ROMPEU, OUTRAS DUAS FALHAS AGRAVARAM O PROBLEMA.
A primeira foi o rompimento dos tubos que transportavam água do mar - por dentro da coluna - para o sistema de combate a incêndio. "Este rompimento fez com que a coluna começasse a ser inundada e não permitiu o funcionamento do sistema de combate a incêndios", disse.
A segunda falha- certamente mecânica, segundo a comissão - foi nas escotilhas que deveriam isolar os diferentes compartimentos da coluna em caso de acidente. "Estas escotilhas não se fecharam e o gás se espalhou por toda a coluna. Neste momento ocorreu a explosão de fato, provocada por alguma fonte de ignição (uma faísca, por exemplo)", explicou Barbosa.
Segundo ele, ainda não é possível determinar se o vazamento de gás ocorreu por falha técnica, falha humana ou erro de projeto.

As outras hipóteses levantadas são:
■ vazamento de gás no sistema de ventilação da coluna,
■ tubulações de gás rompidas, retorno do produto ao sistema de escoamento do flutuador, aumento da pressão do sistema de "vent atmosférico" e vazamento de diesel.
Apesar dos boletins de produção dos três dias anteriores às explosões terem apontado pressão acima do normal no "vent atmosférico" (sistema de ventilação dos tanques de resíduos), Barbosa acha pouco provável que essa seja a causa do acidente. "A pressão do gás" lá é baixíssima", disse.

BRIGADA DE INCÊNDIO
O engenheiro observou que os funcionários da Brigada de Incêndio que foram combater o acidente não sabiam de nada disso. "Como eles ouviram barulho de água e o sistema de incêndio não estava funcionando provavelmente, imaginaram que havia ocorrido apenas um estouro nas tubulações de água. O gás naquelas condições era praticamente inodoro, principalmente para uma equipe que estava usando máscaras", disse.

RECOMENDAÇÕES
Barbosa destacou que como o tanque que explodiu estava inativo, os operadores da plataforma não prestaram atenção aos medidores e sensores ligados a ele. "A sala de operações tem 17 mil luzes de indicação e durante os 54 minutos de emergência soaram 1720 alarmes. Seria impossível atentar para todos estes alarmes", disse Barbosa.
O engenheiro observou que uma das recomendações feitas pela comissão à Petrobras é exatamente o aprimoramento dos sistemas de alarme. "(É necessária a) priorização de alarmes a fim de se evitar excessiva informação na sala de controle, especialmente nas situações de emergência", escreveram os membros da comissão.
Outra recomendação feita pelo grupo foi o fim da colocação de tanques com material combustível dentro de espaços fechados, como uma coluna. A comissão também recomenda que os funcionários sejam melhor preparados para lidar com as emergências.

AFUNDAMENTO
A comissão concluiu que a P-36 afundou porque dutos internos da coluna onde aconteceram as explosões se romperam e permitiram o alagamento do flutuador.
Logo após a primeira explosão, a tubulação de refrigeração a água se partiu, o que permitiu a entrada de água no sistema de estabilidade da coluna. Também se romperam, depois, os dutos de ar.

17.07.01 - RELATÓRIO DA ANP E MARINHA CHEGA ÀS MESMAS CONCLUSÕES DA PETROBRAS SOBRE P-36

O relatório elaborado pela Agência Nacional do Petróleo, em conjunto com a Marinha, sobre o acidente com a plataforma P-36, chegou às mesmas conclusões que a Petrobras: a causa para o acidente foi um conjunto de fatores.

"A lei de Murphy funcionou nesse caso: tudo que poderia dar errado deu", disse o diretor-geral da ANP, David Zylbersztajn.
Segundo o relatório, uma série de procedimentos errados teria levado ao acidente e o naufrágio, como:
■ problemas mecânicos, falta de treinamento, uso indevido de equipamentos,
■ falta de sistema de controle e deficiências no projeto, apesar de todas as retificações internacionais.
■ A falta de treinamento adequado da equipe de emergência e
■ o fato de o tanque de drenagem não constar no projeto da plataforma entre as áreas de risco de vazamento de gás foram outros fatores indicados pela comissão, que recomendou mudanças para as outras plataformas da Petrobras.

As conclusões do relatório apontam que a principal causa do acidente foi a falha em uma válvula que permitiu que água e óleo entrassem em um tanque que estava desativado.
A drenagem do tanque de bombordo - de onde viriam água e óleo - começou na noite anterior ao acidente e não foi supervisionada. A bomba que faria esse trabalho demorou 54 minutos para funcionar. Nesse meio tempo, um fluxo de óleo e gás foi parar no tanque a boreste.
Quando a pressão tornou-se muita alta, o tanque rompeu-se, espalhando gás por toda a coluna da plataforma. Com a coluna tomada pelo gás, ocorreu a explosão.
O relatório não aponta culpados, mas indica erros no gerenciamento da P-36 por parte do coordenador ou do supervisor de produção.
A Petrobras disse em nota que os dois relatórios são convergentes em relação às causas que levaram às explosões e ao naufrágio da P-36. Para a estatal, eles divergem apenas quanto ao grau de importância atribuído a cada um dos fatores que contribuíram para o acidente e que, isoladamente, não teriam conseqüências significativas. "Os relatórios coincidem em suas conclusões: se qualquer um dos fatores contribuintes não tivesse ocorrido, não aconteceria o naufrágio", diz a nota.

SEGURANÇA DOS TRABALHADORES NA INGLATERRA
A Health & Safety Executive (HSE), órgão do governo britânico que responde pela segurança dos trabalhadores, registra por ano dois acidentes fatais. O último ocorreu em fevereiro, no Mar do Norte, quando um trabalhador caiu no mar. Em 1991, 13 pessoas morreram, onze delas num acidente com um helicóptero. Foram registrados em 2000,  144 acidentes, sendo que 52 foram considerados graves. Os mais comuns envolvem manejo de equipamentos.

Uma das grandes preocupações da HSE é o grande número de vazamentos de gás registrado nas operações offshore na Grã-Bretanha, que podem causar explosões e acidentes gravíssimos.
"Estamos tentando diminuir esse tipo de ocorrência com uma forte fiscalização." No ano passado, por exemplo, uma empresa foi multada em cerca de R$ 1 milhão por um vazamento. "Não houve explosão nem feridos, mas o simples fato de os funcionários terem sido expostos a uma situação de risco justifica a multa." A HSE verifica as conseqüências de eventuais cortes de pessoal. "Se constatarmos que houve uma redução de pessoal que coloque em risco a segurança, a empresa pode ser multada ou a plataforma em questão pode ser interditada."

PETROBRÁS RECEBE SEGURO DA P-36
O pagamento da indenização de US$ 496,75 milhões referente ao seguro da plataforma P-36 da Petrobrás, que naufragou em março , foi concluído em 18.07.01. A perda da plataforma da estatal representou o maior sinistro já ocorrido no Brasil e um dos maiores no mundo.

O processo de liquidação do seguro, coordenado pela corretora americana AON, envolveu a transferência de US$ 491.881.850,00 de 20 resseguradoras mundiais para a petroleira no exterior e ainda a quitação de outros US$ 4.868.150,00 das seguradoras brasileiras que assinam a apólice. Segurada em US$ 500 milhões, a P-36 tinha franquia de US$ 6,5 milhões.
Do total dos recursos que envolvem o resseguro internacional, cerca de US$ 325 milhões ficam no exterior para pagamento do financiamento da plataforma, conforme Ronnie Vaz Moreira, diretor financeiro da Petrobrás, quando do fechamento do acordo sobre o valor da indenização no final de julho.
A P-36 era financiada em parcelas trimestrais com vencimento final do empréstimo em 2008. O executivo havia declarado ainda que o restante dos recursos seria mantido no exterior para quitação de importações da empresa ou  para financiamento de construção de nova plataforma.
O acordo para o pagamento da indenização foi fechado pela Petrobrás com o consórcio de resseguradores internacionais, entre eles Ace Global Markets, Brock Bank, Huston Casualty e Store Brand - detentores de 99,02% do risco -, e pelo grupo de seguradoras nacionais que ficaram com 0,98% restantes da apólice, que inclui a Bradesco Seguros, Unibanco Seguros, AGF, Itaú Seguros, além do IRB Brasil Resseguros .
A AON coordenou o processo, além da coleta da indenização, porque foi a responsável pela colocação do risco da Petrobrás no exterior quando da contratação do seguro.

PREJUÍZOS FINANCEIROS
O naufrágio da P-36 afetou o nível de produção da companhia estatal e causou prejuízos financeiros.
Em fato relevante divulgado em maio/2001, a Petrobrás anunciou que o naufrágio da P-36 provocaria a redução de US$100 milhões em seu resultado antes do imposto de renda em 2001.
A empresa declarou ainda que, além deste impacto, no primei¬ro trimestre, o resultado contábil ficaria reduzido em US$ 90 milhões.
A nova unidade de produção para o campo de Roncador, que era explorado pela P-36, deve entrar em, operação em janeiro de 2004.
A empresa ainda está concluindo estudos sobre a modelagem do sistema definitivo, que poderá ser uma plataforma semi-submersível, como a P-36, ou um navio plataforma.
Antes disso, a Petrobrás deve utilizar um navio-plataforma fretado da norte americana SBM, com capacidade para produzir 90 mil barris por dia. Este sistema provisório entra em operação em setembro de 2002.

O acidente da P-36 também influenciou negativamente a renova¬cão do seguro da companhia feita no mesmo mês  final do naufrágio. A Petrobrás teve de pagar US$ 48,8 milhões para cobertura de US$ 20,9 bilhões de valor em risco em uma apólice com prazo de 14 meses. No exercício anterior, a companhia desembolsou apenas US$ 7,5, milhões pela mesma cobertura com prazo de 12 meses.

15.03.2002 - TRAGÉDIA DA P-36: MUDANÇAS, UM ANO DEPOIS, A PETROBRÁS APROVEITA DATA PARA ANUNCIAR INSTALAÇÃO DE CAIXA-PRETA EM PLATAFORMAS

A Petrobrás vai instalar uma caixa-preta em cada plataforma de produção de petróleo em atividade no País. A medida faz parte de um processo de mudanças operacionais iniciado após o acidente que provocou o naufrágio da plataforma P-36, há exatamente um ano, e provocou a morte de 11 pessoas. "O acidente nos trouxe ensinamentos", diz o diretor-gerente de exploração e produção do Sul/Sudeste da estatal, Carlos Tadeu Fraga.
O executivo coordena o comitê diretor do Programa de Excelência Operacional, implementado depois do acidente para identificar falhas e melhorar o processo operacional nas plataformas. O programa tem um orçamento de US$ 100 milhões e deverá estar implantado no fim deste ano.
A instalação de caixas-pretas evitará a perda de informações em caso de afundamento da unidade, como ocorreu com a P-36, que hoje está a cerca de 1,7 mil metros de profundidade. "Conseguimos recuperar algumas informações lá por atitude do chefe da plataforma, que pegou arquivos antes de abandoná-la", contou o executivo. "Mas não podemos mais correr riscos."

Algumas mudanças propostas pela comissão já estão sendo postas em prática na construção e no projeto de novas plataformas. As duas unidades em construção para os campos de Barracuda e Caratinga, na Bacia de Campos, já terão uma nova definição de áreas de risco.
Além disso, a empresa não vai mais usar bombas com múltiplas funções. No acidente da P 36, o uso de uma bomba de múltipla função permitiu a entrada de mais água na coluna onde ocorreram as explosões. A Petrobrás também suprimiu dos projetos de plataforma a utilização de tanques de resíduos confinados em colunas de sustentação - as "pernas" da plataforma, uma das principais causas do afundamento da P-36.

PRODUÇÃO
O acidente da plataforma provocou um prejuízo de US$ 450 milhões com a perda de receita da venda do óleo do campo de Roncador, segundo a empresa informou na época. A unidade tinha capacidade para produzir 180 mil barris por dia, mas estava extraindo 84 mil barris de petróleo por dia, na hora das explosões. Só no fim do segundo semestre, a estatal começou a complementar a produção com a entrada em operação do campo de Marlim Sul, também em Campos.
A Petrobrás está alugando um sistema de produção provisório para o campo, com capacidade de 80 mil barris por dia, que entra em operação em outubro/2002.

MINISTÉRIO PÚBLICO RESPONSABILIZA 2 FUNCIONÁRIOS POR EXPLOSÃO DA P-36
O Ministério Público Federal no município de Campos (a 278 km do Rio) denunciou no dia 07 de março de 2002 à Justiça Federal, como suspeitos de terem cometido homicídio culposo (não intencional), os funcionários da Petrobras Hélio Galvão de Menezes e Paulo Roberto Viana. A pena por homicídio culposo é de um ano a três anos de prisão.

Eles foram responsabilizados pelo procurador da República Yordan Moreira Delgado pela explosão, em 15 de março do ano passado, da plataforma de produção de petróleo P-36, na bacia petrolífera de Campos (RJ). No acidente morreram 11 operários. A plataforma, da Petrobras, afundou cinco dias depois.

Menezes era supervisor de produção da plataforma. Viana, o coordenador. O procurador baseia a denúncia no relatório da ANP (Agência Nacional do Petróleo) e da DPC (Diretoria de Portos e Costas da Marinha), que apontou como causa mais provável do acidente uma operação de esgotamento de água de um tanque de drenagem de emergência, no dia anterior.
Ainda segundo a denúncia, a operação não era rotineira e exigia uma senha, que seria do conhecimento apenas de Menezes e de Viana. O procurador diz que "embora tenham sido várias as causas" do acidente, "o fator último e crítico" foi "a desastrosa operação de esgotamento de água do tanque de drenagem". Para ele, os dois denunciados foram "negligentes" no exercício das funções.
Delgado relaciona dez pessoas como testemunhas, incluindo entre elas três outros funcionários da Petrobras considerados suspeitos de ter também responsabilidade no acidente, segundo relatório da Capitania dos Portos do Rio.

VIÚVAS QUEREM INDENIZAÇÃO DE FABRICANTE
Um ano após o acidente da P-36, as viúvas dos 11 mortos na plataforma e o Sindicato dos Petroleiros querem entrar com ação de indenização na Justiça internacional contra o fabricante da válvula defeituosa que teria causado a explosão.
Os advogados aguardam que o nome do fabricante seja revelado para irem aos tribunais internacionais, a P-36 foi montada no exterior. Eles já têm acordo com o Icen (federação internacional de trabalhadores do setor de energia) para representá-los na ação.
O diretor-gerente de Exploração e Produção da Petrobras, Carlos Thadeu Fraga, diz que é possível identificar o fabricante. Só não decidiu se o tornará público ou se só o dirá a pedido da Justiça. "Seria como no caso da queda de um avião. O fabricante da peça defeituosa também paga indenização", disse o advogado das viúvas, Mário Sérgio Pinheiro.
Uma válvula teria ficado aberta, e o tanque que explodiu recebeu óleo e gás de uma unidade de produção. O relatório da Petrobras não indica que houve defeito na válvula. Fraga disse que, isoladamente, a válvula nunca causaria o acidente.
Fonte: @ZR, Folha de S.Paulo, Folha Online, O Globo, O Estado de São Paulo, A Tribuna de Imprensa-RJ, Gazeta Mercantil, no período de 15/03/2001 a 15/03/2002, Petroquímica (13/11/2001),  O Globo, Clube de Petróleo e Gás (março/2001)

 Comentário:
“Umas das tarefas mais importantes na análise de riscos de processo é transmitir as equipes de projeto e de operação os detalhes dos acidentes ocorridos e os ensinamentos que deles poderiam ser tomados. O propósito dessa análise é mostrar o que houve de errado no passado e sugerir como os acidentes similares podem ser prevenidos no futuro. Infelizmente a historia das indústrias de processo químico demonstra que tais acidentes se repetem após um período de poucos anos. As pessoas mudam e as lições são esquecidas”.  Trevor A. Kletz – O que houve de errado.

No incidente da P-36 podemos analisar alguns fatores que convergiram para o acidente
■ Em geral os projetistas procuram maximizar as instalações em um único local ou área, esquecendo de analisar os riscos associados a cada uma das instalações ou o efeito dominó.
■  A brigada de incêndio estaria ciente do problema (explosão), pois a maioria dos acidentes em plataforma é provocada por vazamento de gás?
■ A sala de operações tem 17 mil luzes de indicação e durante os 54 minutos de emergência soaram 1720 alarmes. Seria impossível atentar para todos estes alarmes.
As máquinas são adequadas para fazer cálculos ou detectar problemas. Afirma-se que as pessoas são imbuídas de algo mais elevado: a capacidade de julgamento. A palavra "julgamento" encerra muitas coisas:
1. a capacidade de avaliar cuidadosamente informações conflitantes, com base em sua experiência acumulada;
2.de aprender com os próprios erros; de temperar a análise fria com valores morais, altruísmo e
3. um saudável instinto de sobrevivência”.
“Mas, quanto mais complexo o sistema, maiores são as probabilidades de algo sair errado. É popular a idéia de que nós só usamos 10% da capacidade de nosso cérebro, quando na verdade parece que necessitamos de 110% dessa capacidade, só para executar as tarefas diárias. Em vista disso, suplementamos nossas mentes com máquinas, e depois nos angustiamos perguntando-nos intimamente se elas estão nos dizendo a verdade”. George Johnson – Errar é humano
■ Quando um dos operadores detectou um problema nas instalações, o que a empresa deveria fazer? Continuar com a operação  ou paralisar a produção para verificar o problema ou o problema seria insignificante?
O que faltou a empresa foi considerar a gestão de segurança (a atividade é de altíssimo risco)   como uma área estratégica, avançada, de uma visão estática, que a identifica com um custo, para uma outra que a conceba como um elemento decisivo na obtenção de melhores resultados (rentabilidade, crescimento controlado, etc) significando "vantagens competitiva" perante a concorrência, isto é, a integração da gestão de riscos à gestão dos negócios da empresa.
Finalmente, quando há concentração de riscos no mesmo local,  estamos potencializando a  tragédia. A tragédia é sempre resultante de uma série de eventos não previstos (projeto) e da convergência de fatores adversos e independentes (concentração de riscos no mesmo local)  que, num determinado momento, se somam para provocá-la. Nunca devemos esquecer uma das leis de Murphy: A natureza está sempre a favor da falha.

Vídeo


Vídeo – parte 1 - Causa do acidente

 Vídeo – parte 2 - Causa do acidente

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posted by ACCA@5:18 PM

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