Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

quarta-feira, junho 21, 2023

PREVENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS PROFISSIONAIS DOS TRABALHADORES DO SETOR DA LIMPEZA

Todos os locais de trabalho exigem limpeza. A indústria da  limpeza é um setor em grande expansão, uma vez que se trata  de um serviço cada vez mais solicitado. Apesar de algumas

empresas de limpeza atingirem grandes dimensões, o setor é  dominado por pequenas empresas.

A limpeza constitui uma tarefa essencial que, quando é bem  executada, pode reduzir não só os riscos para a segurança e saúde  dos trabalhadores como também os custos para a empresa, por

exemplo, prolongando a vida do equipamento e mobiliário do  local de trabalho e mantendo o pavimento em boas condições.  

Em algumas indústrias, como nas indústrias alimentícias, uma limpeza deficiente pode resultar no insucesso  da empresa.

PERIGOS COMUNS, RISCOS E REPERCUSSÕES PARA A SAÚDE

■ Risco de escorregar, tropeçar ou cair, em particular durante a  execução de trabalhos com água.

■ Risco de doenças músculo esquelético provocadas, por  exemplo, por movimentação manual ou tarefas repetitivas.

■ Exposição a substâncias perigosas contidas nos produtos de  limpeza.

■ Exposição a substâncias perigosas presentes no local de  limpeza, incluindo perigos biológicos, tais como bolores ou  resíduos biológicos humanos.

■ Riscos psicossociais como o estresse profissional, a violência e  a agressão psicológica conhecida por bullying.

■ Riscos provocados pelo equipamento de trabalho, tais como  choques eléctricos.

AS DOENÇAS PROFISSIONAIS MAIS COMUNS DETECTADAS NOS  TRABALHADORES DO SETOR DA LIMPEZA INCLUEM:

■ ferimentos provocados por escorregamento, tropeções e  quedas;

■ lesões músculo esqueléticos;

■ estresse profissional, ansiedade e alterações do sono;

■ doenças de pele, tais como dermatite de contacto e  eczema;

■ problemas respiratórios, nomeadamente asma; e

■ doenças cardiovasculares

AVALIAÇÃO DE RISCOS

O trabalho de limpeza raramente é considerado uma atividade  essencial no mundo empresarial. Este fato pode conduzir à falta  de consciência dos perigos e riscos associados ao processo e, por  conseguinte, à incapacidade de realizar uma avaliação de riscos  adequada e de adotar medidas preventivas.

A avaliação de riscos é a chave para uma boa segurança e saúde no trabalho. A prevenção eficaz pode ser alcançada através da seguinte abordagem em cinco etapas:

■ identificação dos perigos e das pessoas em risco;

■ avaliação e priorização dos riscos;

■ definição das medidas preventivas a adotar;

■ adoção das medidas;

■ acompanhamento e revisão, para garantir a eficácia das  medidas preventivas

.Nos casos em que os trabalhos de limpeza são realizados por  uma empresa externa, podem surgir dificuldades adicionais, uma  vez que o cliente e a empresa de limpeza necessitam de cooperar,  a fim de garantir que os riscos são identificados, eliminados ou  controlados.

 CONCLUSÕES

■ selecione o seu serviço de limpeza com base na qualidade  do serviço, e não no preço;

■ opte pela limpeza em horário diurno;

■ valorize os trabalhadores de limpeza e o seu trabalho — se  este for mal executado, poderá custar-lhe o negócio;

■ considere a limpeza como uma tarefa essencial, que pode  expor os trabalhadores a perigos e riscos específicos;

■ avalie os riscos para os trabalhadores de limpeza e adote  medidas preventivas;

■ partilhe informações sobre saúde e segurança com todas as  partes interessadas, que podem incluir o cliente, a empresa de limpeza, o proprietário do edifício e os próprios  trabalhadores.  Fonte: Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho

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domingo, junho 18, 2023

ESTUDO MOSTRA CONTAMINAÇÃO DE PEIXES AMAZÔNICOS POR MERCÚRIO

Na Amazônia, um em cada cinco peixes consumidos pela população têm níveis de mercúrio perigosos para saúde. Metal é utilizado pelo garimpo.

Análise realizada em peixes adquiridos em mercados e feiras livres de cidades da região amazônica demonstra que mais de 20% dos animais ali comercializados têm contaminação de mercúrio acima do considerado seguro para a alimentação humana.

O estudo foi realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Federal de Lavras, do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, do Instituto Socioambiental e das organizações WWF-Brasil e Greenpeace Brasil e divulgado no final de maio.

Os pescados foram obtidos entre março de 2021 e setembro de 2022 em 17 pontos diferentes de seis estados amazônicos: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Em todas as localidades foram registrados peixes com níveis de contaminação acima do limite aceitável — o nível máximo considerado seguro para a ingestão, conforme estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é de 0,5 micrograma de metal por grama do alimento.

PIORES ÍNDICES

O pior cenário encontrado foi em Roraima, onde 40% dos peixes analisados tinham índice de contaminação maior do que o tolerável. No Acre, o índice foi de 35,9%. Os estados com menores indicadores foram Amapá, com 11,4%, e Pará, com 15,8%. Na média, 21,3% que chegam às mesas das famílias amazônicas têm níveis considerados altos de mercúrio.

A amostragem concluiu que em Rio Branco o potencial de ingestão de mercúrio da população pode chegar a 31,5 vezes o limite aceitável.

DANOS À SAÚDE

Uma das autoras do trabalho, a bióloga e sanitarista Ana Claudia Vasconcellos, pesquisadora da Fiocruz, ressalta a preocupação com a saúde da população da região. "Existem milhares de estudos que indicam que o consumo de pescado contaminado por mercúrio provoca inúmeros danos ao sistema nervoso central e cardiovascular de humanos, que podem ser identificados por uma variedade de sinais e sintomas. Essas pessoas podem desenvolver problemas de visão, de audição, de coordenação motora e de equilíbrio. Além de hipertensão arterial. Gestantes precisam redobrar os cuidados. É importante destacar que a exposição humana durante o período pré-natal pode provocar danos ainda mais graves do que em adultos, como atraso cognitivo, alterações no neurodesenvolvimento e até paralisia cerebral", afirma a pesquisadora.

O químico Rogério Machado, que estudou os efeitos do mercúrio durante seu mestrado, foi procurado pela reportagem para comentar os resultados da pesquisa. Ele afirmou que a contaminação de mercúrio pode acarretar uma abreviação de 5 a 25 anos de vida de uma pessoa.

Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie e na Faculdade São Bernardo do Campo, Machado explica que o mercúrio líquido, em si, se ingerido praticamente não seria absorvido pelo ser humano — menos de 0,1%.

METILMERCÚRIO

"O problema é que, uma vez nos rios, o mercúrio se converte em metilmercúrio, uma substância organometálica que o organismo humano absorve em mais de 95%", explica ele. Essa transformação, feita por bactérias, pode ocorrer nas plantas ou mesmo no organismo dos peixes. "Ou seja: aí o ser humano se contamina completamente e o mercúrio vai acabar nos rins, no fígado, no sistema nervoso central, nos lugares muito irrigados por sangue. E vai apodrecer as pessoas, aos poucos."

BIOMAGNIFICAÇÃO

Por conta de um fenômeno tecnicamente chamado de biomagnificação, o mercúrio presente na carne do peixe gradualmente se acumula ao longo da cadeia alimentar. Isso significa que peixes carnívoros podem ter mais material tóxico acumulado do que os herbívoros. "Por isso a piranha, a piraíba, o filhote, o pirarucu e o tucunaré têm níveis mercuriais mais elevados do que espécies não-carnívoras, como o matrinchã, o pacu, o aracu e o tambaqui", exemplifica a bióloga Vasconcellos.

Do ponto de vista da saúde pública, essa é uma estratégia que precisa ser adotada, como forma de mitigação a partir de um ajuste na dieta. "Principalmente para gestantes ou mulheres que pretendem engravidar", enfatiza a pesquisadora Ana Claudia Vasconcellos. "Nesses casos, é importante restringir o consumo de peixes carnívoros e priorizar o consumo de peixes herbívoros."

MEIO AMBIENTE

De acordo com a bióloga, é muito difícil zerar o problema, mas "para diminuir o impacto da contaminação" seria necessário "interromper a atividade garimpeira na Amazônia o quanto antes". Tóxico, o metal pesado é utilizado no processo do garimpo.

Vasconcellos frisa que, uma vez lançado na natureza, o mercúrio "pode permanecer até 100 anos no ambiental e não existem estratégias eficazes para a remoção" do mesmo em áreas "tão extensas quanto a Bacia Hidrográfica da Amazônia".

"Não vou dizer que é irreversível, mas é muito difícil reverter essa contaminação", concorda o químico Machado. Ele explica que até hoje não foram desenvolvidos métodos eficazes para retirar esse mercúrio de rios. Fonte: Deutsche Welle - 07/06/2023  

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quinta-feira, junho 15, 2023

AÇOUGUEIRO MORRE APÓS DERRUBAR FACA NA PERNA ENQUANTO FATIAVA CARNE EM MG

Um açougueiro de 23 anos morreu após sofrer um corte na perna durante o trabalho em Monte Sião, no sul de Minas Gerais. A vítima, identificada como MLP, estava fatiando um pedaço de carne quando a faca caiu, atingindo a artéria femoral. Ele foi atendido em um pronto-socorro da cidade e depois transferido para Pouso Alegre, onde acabou morrendo.

Pereira deu entrada no pronto-socorro de Monte Sião às 11h30. "Ele já chegou desfalecido, teve uma parada cardíaca e ficou cerca de 15 minutos desacordado, mas conseguiram reanimá-lo", conta o diretor de saúde do município.

Três horas depois, a vítima foi transferida de helicóptero para o Hospital Samuel Libânio, em Pouso Alegre, a 90 quilômetros de distância, onde passou por uma cirurgia. A morte foi constatada durante a madrugada. Fonte: UOL, em Pouso Alegre-10/09/2019  

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quarta-feira, junho 14, 2023

COLISÃO DE TRENS NA GRÉCIA DEIXA DEZENAS DE MORTOS

A colisão entre um trem de passageiros e um de carga na noite de terça-feira (28/02) deixou ao menos 57 mortos e dezenas de feridos na Grécia, num dos acidentes ferroviários mais mortais em décadas no país.

O trem levava cerca de 350 passageiros. De acordo com a operadora ferroviária Hellenic Train, o trem partiu de Atenas com destino à cidade de Tessalônica, no norte. Já o trem de carga partiu de Tessalônica para Lárissa, na região central do país.

O trem levava cerca de 350 passageiros. De acordo com a operadora ferroviária Hellenic Train, o trem partiu de Atenas com destino à cidade de Tessalônica, no norte. Já o trem de carga partiu de Tessalônica para Lárissa, na região central do país.

COLISÃO FRONTAL

A colisão ocorreu pouco antes da meia-noite (horário local) perto de Tempe, a poucos quilômetros de Lárissa, quando o trem de passageiros saiu de um túnel. Vários vagões descarrilaram, e quatro deles pegaram fogo. Diversas janelas foram quebradas, e densas nuvens de fumaça se formaram no local. 



Os trens estavam no mesmo trilho no momento do acidente e a alta velocidade. Segundo testemunhas, houve um estrondo seguido de fogo. "Viramos no vagão até cairmos no lado. Houve pânico. O incêndio começou de imediato. O fogo vinha de todos os lados", contou Stergios Minenis, de 28 anos, que conseguiu sair do meio dos destroços. Outro passageiro contou que escapou após quebrar a janela do trem com sua mala.

"Foi uma colisão muito forte. Esta é uma noite terrível. É difícil descrever o cenário", disse à televisão estatal o governador da região de Tessália. "A parte da frente do trem ficou destruída. Estamos recebendo guindastes e equipamento de elevação especial para remover os escombros e levantar os vagões. Há destroços espalhados por todo o local do acidente", acrescentou.

CORPO DE BOMBEIROS

Cerca de 150 bombeiros e 40 ambulâncias foram mobilizados para o local, de acordo com os serviços de emergência gregos.

VÍTIMAS

Deixou ao menos 57 mortos Cerca de 250 passageiros, que saíram ilesos ou com ferimentos leves, foram levados de ônibus até Tessalônica, localizada a 130 quilômetros do local da colisão.

INVESTIGAÇÕES EM ANDAMENTO

As causas da colisão ainda são desconhecidas. Uma investigação está em andamento. A polícia deteve temporariamente o chefe da estação de Lárissa e convocou testemunhas para um interrogatório. Segundo a imprensa grega, análises iniciais apontam para falha humana.

Em comunicado, a Hellenic Train expressou "profunda tristeza" pelo trágico acidente. O governo grego disse que esse é "o pior acidente ferroviário" que já aconteceu na Grécia. Em 1972, uma colisão de dois trens próximo a Lárissa deixou 19 mortos.  

O envelhecido sistema ferroviário grego necessita de modernização, com muitos trens viajando em ferrovias de via única e falta de sistemas de controle automático de sinalização em muitas regiões. Fonte: Deutsche Welle - 1 de março de 2023



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segunda-feira, junho 05, 2023

SENSO DE VULNERABILIDADE – UM COMPONENTE DE SEGURANÇA MUITO IMPORTANTE

Uma pessoa que manipulava ácido sulfúrico,  caminhando pela área de processo, observou um operador que se preparava para desconectar uma mangueira de nitrogênio. 

O operador não estava usando Equipamento de Proteção Individual (EPI)  completo, requerido para a área, que incluía um  protetor facial. A pessoa parou, alertou para a  situação e o operador corrigiu a situação de boa  vontade. 

A primeira pessoa tinha apenas caminhado mais alguns passos quando ouviu um  “estouro” e um “silvo”, vindos da área de ácido sulfúrico. O operador estava encharcado de ácido sulfúrico e foi ajudado a ir para o chuveiro de  emergência mais próximo. Sem o operador saber, o ácido sulfúrico retornou através da mangueira de nitrogênio.

Quando ela foi desconectada, a pressão projetou ácido para a face e corpo do operador. O operador sofreu apenas pequenas queimaduras químicas no  pescoço, porque estava usando o EPI adequado.

Durante a investigação, verificou-se que a viseira do operador foi severamente corroída e tinha uma mancha no centro, no local atingido pelo ácido.

Sem a viseira colocada, o operador podia ter sofrido queimaduras graves e podia ter perdido a

visão de forma permanente.

Por que a primeira pessoa parou e relembrou ao operador sobre o uso do EPI completo? Foi o senso  de vulnerabilidade. O observador viu o potencial de  poder ter ácido na mangueira, mesmo sabendo que  ela DEVERIA conter apenas nitrogênio.

VOCÊ SABIA?

 O que significa um “senso de vulnerabilidade”? Significa que  todos na sua instalação:

• Entendem os perigos associados aos materiais e às condições de processo (pressão, temperatura, etc.) na área.

• Estão constantemente vigilantes aos sintomas de fraqueza que poderiam provocar um evento mais grave, mais tarde,  tal como um pequeno vazamento que poderia se tornar uma falha grave na tubulação.

• Permanecem vigilantes mesmo que a instalação tenha um bom desempenho em segurança

 Na nossa vida pessoal, o senso de vulnerabilidade é o que nos faz reduzir a velocidade do carro quando há mau tempo, ou ter mais cuidado quando usamos uma escada.

 Nós podemos perder nosso senso de vulnerabilidade quando estamos com pressa. Isso faz com que pulemos certos passos ou esqueçamos de usar os EPIs adequados.

 Novos empregados podem trazer o seu senso de vulnerabilidade de um trabalho ou empresa anteriores. Isso significa que talvez seja necessário ajudá-los a perceber os perigos do seu novo

trabalho.

 Manter um senso de vulnerabilidade é uma característica essencial de uma boa cultura de segurança de processo.

O QUE VOCÊ PODE FAZER?

 Se observar um comportamento de risco, pare e pergunte à pessoa se ela está seguindo o procedimento correto. Você pode evitar que alguém se machuque com gravidade – ou pior.

 Se alguém o parar e perguntar como é que você está executando  uma determinada tarefa, não fique na defensiva. Apenas estão tentando mantê-lo seguro. Responda às perguntas com calma,

esteja aberto às sugestões de como executar a tarefa e agradeça pela preocupação com a sua segurança.

 Se a sua área tiver novos empregados, treine os sobre os perigos e procedimentos da unidade. Ajude a mantê-los seguros!

 Nunca pense, “Não pode acontecer aqui.” Porque pode!

 Fonte: Process Safety Beacon - Junho de 2023


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sexta-feira, junho 02, 2023

MEMÓRIA: O DIA EM QUE O BRASIL ASSISTIU AO PIOR INCÊNDIO DE SUA HISTÓRIA


O Gran Circo chegou a Niterói no dia 8 de dezembro de 1961 e foi montado na Praça do Expedicionário, em frente à Estação Leopoldina. O mastro principal media 17 metros de altura e a lona, feita de algodão e revestida de parafina, pesava seis toneladas.

Para ajudar na montagem, o dono do circo, o gaúcho Danilo Stevanovich, contratou 50 operários. Depois de armado, o Gran Circo ocupou um diâmetro de 50 metros em um terreno baldio que, aos sábados e domingos, servia de campo de futebol improvisado para a garotada da vizinhança. O circo estreou em Niterói na noite de 15 de dezembro, uma sexta-feira, com lotação esgotada.

O Gran Circo era formado por 40 artistas, como palhaços, trapezistas e domadores, e 150 animais, como leões, girafas e elefantes. O circo tinha capacidade para 3,4 mil espectadores, divididos por nove arquibancadas, 800 cadeiras e 25 camarotes. O circo era dividido em nove arquibancadas de madeira, 800 cadeiras de ferro e 25 camarotes

Cada uma das 10 sessões do Gran Circo em Niterói começava com um número de domadores de leões e terminava com outro de trapézio.

Foi um dos integrantes dos Flying Santiago, aliás, a primeira pessoa a gritar “Fogo!” naquela tarde calorenta de 17 de dezembro.

A trapezista Nena, nome artístico de Antonietta Stevanovich, irmã de Danilo, tinha acabado de fazer seu número quando avistou, por volta das quatro e vinte da tarde, as primeiras labaredas, a cerca de 20 metros da entrada principal. O fogo começou na parte de baixo da lona. Ela e os outros dois trapezistas, Santiago Grotto e Vicente Sanches, conseguiram escapar ilesos pela porta dos fundos. Na fuga, centenas de sapatos, sandálias e chinelos foram deixados para trás


'CORREDOR DA MORTE'

A maioria tentou sair por onde entrou. Para chegar sãos e salvos do lado de fora, tinham que atravessar um túnel de treze metros de comprimento por quase quatro de largura. No caminho, dois gradis de ferro usados para facilitar a entrada do público dificultavam sua fuga. Perto do fim da sessão, seriam retirados. Mas, com o incêndio, ninguém se lembrou disso. Conclusão: o tal túnel ganhou o macabro apelido de “corredor da morte”.

O incêndio do Gran Circo durou apenas 10 minutos. Mas deixou, segundo estimativas oficiais, 503 mortos — sete em cada dez eram crianças.

“Jamais tantos brasileiros morreram em tão pouco tempo e no mesmo lugar”, afirma Ventura.

O incêndio da Boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013, registrou 242 vítimas fatais e do edifício Joelma, em 1º de fevereiro de 1974, 188.

Parentes e amigos tinham dificuldade para reconhecer seus mortos e feridos, de tão   carbonizados que estavam,

Quando todos imaginavam que aquele pesadelo não poderia piorar, o que restava da lona de algodão parafinado despencou, em chamas, sobre a multidão. Na ânsia de proteger o rosto, muitos sofreram queimaduras de terceiro grau nas mãos e nos braços.


QUEIMADURAS EM TODO O CORPO

O número de mortos no incêndio foi tão grande que o então governador do Rio, convocou todos os marceneiros de Niterói para fabricarem quatrocentos caixões.

O estádio Caio Martins, com capacidade para 12 mil torcedores, foi transformado em uma imensa oficina de carpintaria. Se faltavam caixões para inúmeros cadáveres, também faltavam sepulturas para incontáveis enterros.

Do lado de fora do circo, também faltavam ambulâncias para tantos feridos. Muitos foram socorridos em táxis, ônibus e caminhões.  

Nas unidades superlotadas, as vítimas esperavam por atendimento médico em todo e qualquer canto: deitadas nos corredores, sentadas no chão, estiradas nas macas... “Perdi mais de 60 crianças. Não conseguia socorrer a todas ao mesmo tempo”, lamenta o cirurgião plástico Ronaldo Pontes, que dava plantão no Hospital Pediátrico Getúlio Vargas Filho.

'MONSTRO INCENDIÁRIO' OU BODE EXPIATÓRIO?

A suspeita da polícia recaiu sobre Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, um dos 50 operários contratados por Stevanovich para ajudar na montagem do circo.

Denunciado por um funcionário, Maciel Felizardo, foi preso e interrogado. Em seu depoimento à polícia, confessou ter ateado fogo à lona. “Se eu soubesse que ia morrer tanta gente, não teria feito o que fiz”, declarou o rapaz.

Foi condenado a 16 anos de prisão. Seus cúmplices, Walter Rosa dos Santos, o Bigode, e José dos Santos, o Pardal, também cumpriram penas — de 16 e 14 anos, respectivamente.  

AINDA HOJE, A CAUSA DO INCÊNDIO DIVIDE OPINIÕES.

“Para uns, Dequinha era um ‘monstro incendiário’. Para outros, um bode expiatório. Afinal, interessava às autoridades encontrar logo o culpado”, explica Ventura.

Há quem acredite na hipótese de acidente. Neste caso, a versão mais provável é a de curto-circuito.

“O que mais me chamou a atenção foi a ausência de fiscalização”, observa a historiadora Ana Maria Mauad, do Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI) da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Deixaram instalar um circo para mais de 500 pessoas com lona altamente inflamável e sem controle de segurança das instalações elétricas”. Fonte: BBC Brasil - 4 abril 2023

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