A Grande cheia: O tsunami que arrasou Recife em 1975
O rio Capibaribe nasce na divisa dos municípios de Jataúba e
Poção, percolando por vários centros urbanos e servindo de corpo receptor de
resíduos industriais e domésticos.
Apresenta direção inicial sudeste-nordeste, até as
proximidades de Santa Cruz do Capibaribe, quando seu curso toma a direção
oeste-leste, percorrendo uma extensão total de cerca de 280 km até sua foz, na
cidade do Recife. Em vários trechos, serve como divisa entre municípios
pernambucanos, como entre Santa Cruz do Capibaribe e Brejo da Madre de Deus.
O rio Capibaribe apresenta regime fluvial intermitente nos
seus alto e médio cursos, tornando-se perene somente a partir do município de
Limoeiro, no seu baixo curso.
A bacia do rio Capibaribe apresenta uma área de 7.454,88 km²
(7,58% da área do estado), abrangendo 42 municípios pernambucanos.
A GRANDE CHEIA DE 1975
A grande cheia de 1975 começou numa quinta-feira, em 17 de
julho, devastando os principais bairros da cidade. O Rio Capibaribe e diversos
canais transbordaram, alagando áreas inteiras de bairros com Casa Forte,
Madalena, Torre, Cordeiro, Derby, Graças, Iputinga e tantos outros. As ruas
ficaram intransitáveis, milhares de pessoas ficaram desalojadas por conta de
desabamentos e perda total de suas residências. A água também devastou outras
cidades, como São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana. Segundo a Fundação
Joaquim Nabuco, 25 municípios banhados pelo Rio Capibaribe foram atingidos.
DANOS
Na capital e interior, 1.000 km de ferrovias ficaram sem
condições de tráfego, pontes desabaram, casas foram arrastadas pelas águas. Em Recife,
31 bairros, 370 ruas e praças ficaram submersos; 40% dos postos de gasolina da
cidade foram inundados; o sistema de energia elétrica foi cortado em 70% da
área do município; quase todos os hospitais ficaram inundados. Por terra, a
cidade ficou isolada do resto do país durante dois dias.
O prejuízo estimado, à época, foi de 1,5 bilhão de cruzeiros (2,8 bilhões
de reais)
VÍTIMAS
A enchente matou 104 pessoas, deixando 350 mil desabrigados.
TESTEMUNHAS
"Ficou tudo inundado. A água só começou a baixar no
outro dia, mas a cidade ficou destruída", lembra a aposentada Maria Helena
das Neves, 83 anos. "Não estava chovendo, era um dia de sol lindo. Mas o
Rio Capibaribe foi subindo e atingiu seu pico máximo. A população ficou
incrédula. Ninguém acreditava que a água chegaria àquela altura", conta o
historiador Leonardo Dantas.
"De fato, foi a maior enchente que Recife enfrentou. Dois
terços da cidade ficaram inundados. Tivemos que começar tudo de novo", diz
o historiador Leonardo Dantas, que
analisou as cheias do Rio Capibaribe desde o século 19. Segundo ele, a
construção de barragens ao longo do curso de água evitou novas cheias como
esta. As obras ainda teriam permitido o crescimento de áreas que ficavam
inundadas com frequência até a década de 1970, como Apipucos e Casa Forte.
"Ninguém construía nada ali, porque alagava até com a maré alta. Era
considerada uma terra maldita", afirma. Fonte: Jornal do Commercio – 18 e
25 /04/2015, G1-17/07/2015
Comentário:
DADOS HISTÓRICOS
O período das grandes enchentes em Pernambuco tem sido
historicamente de junho a agosto. Entre os meses de janeiro e fevereiro só há
registros, em toda a História, de duas pequenas inundações, assim mesmo
restritas a algumas áreas de Recife. Uma breve linha do tempo das enchentes
ocorridas no estado de Pernambuco, obtida dos arquivos de jornais da cidade, é
apresentada a seguir.
1632 - A 28 de janeiro, ocorre a primeira enchente de que se
tem notícia em Recife, "causando perdas de muitas casas e vivandeiros
estabelecidos às margens do Rio Capibaribe".
1638 - Maurício de Nassau manda construir a primeira
barragem no leito do Rio Capibaribe para proteger Recife das enchentes: foi o
Dique de Afogados, que tinha mais de 2 km e hoje é uma rua do Recife, a
Imperial.
1824 - Entre fevereiro e abril, nova enchente atinge Recife.
1842 - Junho. Enchente atinge Recife, derrubando várias
casas. Pontes desabaram; trens saíram dos trilhos; milhares de pessoas ficaram
desabrigadas. Foi a primeira enchente de grandes proporções do Rio Capibaribe.
1854 – Ocorre a maior enchente do século XIX. Durou 72
horas, atingindo todos os bairros de Recife. Derrubou a muralha que guarnecia a
Rua da Aurora; parte do cais da Casa de Detenção veio abaixo; a cidade ficou
sem comunicações com o interior; no porto de Recife, os navios foram atirados
uns contra os outros.
1862 - Nova enchente castiga Recife.
1869 - Grande enchente destrói as pontes da Torre, Remédios e
Barbalho, e rompe os aterros da via férrea de Recife. Foi a maior enchente até
então, tendo o imperador Pedro II determinado que o engenheiro Rafael Arcanjo
Galvão viesse a Pernambuco "estudar o problema".
1870 - A 16 de Julho, o bacharel em matemática e ciências
físicas José Tibúrcio Pereira de Magalhães, diretor de Obras e Fiscalização do
Serviço Público do Estado, sugere ao governo imperial a construção de uma série
de barragens nos principais afluentes do rio Capibaribe, para evitar cheias em
Recife.
1884 - Outra enchente atinge Recife.
1894 - Em junho, enchente atinge todos os subúrbios
recifenses situados às margens do rio Capibaribe.
1899 - 01 de Julho. Vários bairros de Recife foram inundados
por cheia do rio Capibaribe. No município de Vitória de Santo Antão, desaba o
segundo encontro da ponte sobre o rio Itapicuru.
1914 - Outra enchente desaba sobre Recife, deixando vários
mortos.
1920 - A 14 de Abril, grande enchente deixa Recife isolada
do resto do Estado, durante três dias. Postes foram derrubados; linhas
telegráficas interrompidas; trens paralisados; pontes vieram abaixo, entre elas
a da Torre. Os bairros de Caxangá, Cordeiro, Várzea e Iputinga ficaram
totalmente isolados do resto da cidade.
1924 - Nova enchente deixa os bairros da Ilha do Leite,
Santo Amaro, Afogados, Dois Irmãos, Apipucos, Torre, Zumbi e Cordeiro
complemente submersos. O prédio do Serviço de Saúde e Assistência desabou e as
obras do Quartel do Derby sofreram grandes prejuízos.
1960 - Nova enchente do rio Capibaribe castiga Recife.
1961 - Enchente deixa 2 mil pessoas desabrigadas em Recife.
1965 - Outra enchente castiga Recife. Os bairros de Caxangá,
Iputinga, Zumbi e Bongi ficaram complemente inundados. Nas áreas mais próximas
ao Rio Capibaribe, a água cobriu o telhado das casas.
1966 - Enchente catastrófica provocada pelo rio Capibaribe,
com a água atingindo mais de 2 metros de altura, nas áreas mais baixas do
Recife. Em poucas horas, toda a extensão da Av. Caxangá foi transformada num
grande rio. Na capital e interior, mais de 10 mil casas (a maioria mocambos)
foram destruídas e outras 30 mil sofreram danos, como paredes derrubadas.
Morreram 175 pessoas e mais de 10 mil ficaram desabrigadas. O nível do rio
Capibaribe subiu 9,20 metros além do nível.
1967 - A Sudene apresenta relatório de uma comissão de
técnicos, constituída logo após a enchente, buscando encontrar soluções para o
problema. O relatório sugere a construção de barragens nos seus principais
afluentes e no próprio rio Capibaribe, que é a mesma sugestão apresentada quase
um século antes pelo engenheiro José Tibúrcio.
1970 - Ano atípico, quando duas enchentes ocorreram, a
primeira nos dias 21 e 22 de julho, havendo coincidência entre picos de
descarga do rio e maré alta. Vinte dias após esse evento, no dia 10 de agosto,
a cidade ficou totalmente inundada por chuvas locais. A
chuva, que se concentrou em Recife e em Olinda, atingiu em 16 horas, uma precipitação de 336 mm, com intensidade
que alcançou até 65mm/hora.
Em Julho, as águas atingem a zona da Mata Sul e o Agreste do
Estado, por conta do transbordamento dos rios Una, Ipojuca, Formoso, Tapacurá,
Pirapama,Gurjaú, Amaraji e outros. A cidade que mais sofreu foi a cidade de Cabo,
que teve quatro dos hospitais inundados e várias indústrias pararam suas atividades.
Em Recife, as águas da Capibaribe causaram grande destruição. Na capital e
interior, 500 mil pessoas foram atingidas e 150 morreram; 1.266 casas foram
destruídas em 28 cidades. Em Recife, 50 mil pessoas ficaram desabrigadas. Em
Agosto, a nova cheia que atingiu Recife e Olinda, foi provocada pelo rio
Beberibe. Em Olinda, 5 mil pessoas ficaram desabrigadas e foi decretado estado
de calamidade pública.
1971 – Iniciadas as obras da barragem de Tapacurá, no rio de
mesmo nome,sendo a primeira providência tomada com relação ao controle das
cheias.
1973 – Concluída as obras da construção da barragem de
Tapacurá, em 25/07/1973. A Barragem de Tapacurá era a solução definitiva para
dois graves problemas que afetavam Recife: abastecimento de água da população e
"o fim" das enchentes.
1974 - Outra enchente atinge Recife. A Comissão de Defesa
Civil, que tinha previsão do avanço das águas, retirou a tempo a população das
áreas ribeirinhas. Em São Lourenço da Mata, uma ponte ficou parcialmente
destruída e a população isolada. No município de Macaparana, 20 pessoas
morreram, por conta do transbordamento do riacho Tiúma.
1975 - Considerada a maior calamidade do século, esta
enchente ocorreu entre os dias 17 e 18 de Julho. Recife foi mais uma vez vítima
de inundações, que alcançou níveis nunca antes verificados, atingindo mais de
50% de toda a área urbana da cidade. Outros 25 municípios da bacia do
Capibaribe também foram atingidos. Morreram 107 pessoas e outras 350 mil
ficaram desabrigadas.
1977 - A 01 de Maio, nova enchente do Rio Capibaribe deixa
16 bairros de Recife embaixo d'água.
Olinda e outras 15 cidades do interior do Estado também foram atingidas. Mais
de 15 mil pessoas ficaram desabrigadas e só não foram registradas mortes porque
a população das áreas ribeirinhas foram retiradas antes. São Lourenço da Mata
foi o município mais atingido. Em Limoeiro, houve desabamento de ponte.
1978 – E m 29 de Maio é inaugurada a Barragem de Carpina,
construída para conter as enchentes do rio Capibaribe. Com 950 metros de
comprimento, 42 metros de altura, a barragem tem capacidade para armazenar 295
milhões de m3 de água.
2000 - Entre os dias 30 de julho e 01 de agosto, fortes
chuvas castigaram o Estado, inclusive a Região Metropolitana do Recife,
deixando um total de 22 mortos, 100 feridos e mais de 60 mil pessoas
desabrigadas. Cidades foram parcialmente destruídas, tendo ás águas que
transbordaram dos rios levado pontes e casas. As chuvas foram anunciadas com 40
dias de antecedência pelos serviços de meteorologia, mas as autoridades
governamentais deram pouca importância à previsão. As chuvas atingiram 300
milímetros em apenas três dias e só na RMR aconteceram 102 deslizamentos de
barreiras.
2004 - Fortes chuvas entre 08 de janeiro 02 de fevereiro de
2004 castigam todas as regiões do Estado, deixando 36 mortos e cerca de 20 mil
pessoas desabrigadas. As chuvas (jamais registradas entre os dois primeiros
meses do ano) foram provocadas por fenômenos meteorológicos atípicos (frente
fria e outros) e destruíram pontes e estradas, açudes romperam, casas
desabaram, populações inteiras ficaram ilhadas.
2005 – Entre os dias 30 de maio e 02 de junho, fortes chuvas
provocaram enchentes em 25 cidades do
Agreste, Zona da Mata e Litoral pernambucanos, deixando 36 mortos e mais de 30
mil pessoas desabrigadas. Cerca de sete mil casas foram parcial ou totalmente
destruídas; 40 pontes foram danificadas; 11 rodovias estaduais foram atingidas,
sendo que sete delas ficaram interditadas; a água inundou ruas centrais,
hospitais, escolas e casas comerciais de várias cidades, provocando enormes
prejuízos materiais.
2010 – Entre os dias 17 e 19 de junho, uma enchente atingiu
67 cidades pernambucanas, principalmente da Zona da Mata e Agreste do Estado,
deixando um rastro de destruição. Foi a maior tragédia da década: 21 pessoas
morreram, enquanto 26.970 ficaram desabrigadas e 55.650 pessoas ficaram
desalojadas; 14.136 casas foram destruídas; 142 pontes ficaram danificadas,
sendo que muitas delas foram totalmente levadas pela água; 5.000 km de estradas
foram danificadas; 12 municípios decretaram estado de calamidade pública e 27
ficaram em situação de emergência. Fonte: Riachos Urbanos do Recife - 13 de
julho de 2015
Marcadores: água, enchente, Meio Ambiente
3 Comments:
Excelente"!
Só esqueceu da barragem de jucazinho que começou a ser construída em 1998 e terminou em 2000 com capacidade de armazenamento de 327.037.000 metros cúbicos de água
Lembro da enchente de 1975
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