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quinta-feira, janeiro 29, 2015

Crise de água: Deve afetar as indústrias no Estado de São Paulo

O vice-presidente da Fiesp e diretor-titular do Departamento de Meio Ambiente (DMA), Nelson Pereira dos Reis, disse que 60 mil estabelecimentos do setor, da Grande São Paulo e da região de Campinas devem ser afetados pela falta de água. Eles representam quase 60% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do Estado. “Não é difícil imaginar o que a escassez de água pode representar para a atividade econômica da indústria na região” disse.

Além disso, as duas regiões representam metade do emprego industrial de São Paulo. São cerca de 1,5 milhão de empregos. Para Reis, demissões não estão nos planos a curto prazo. A última coisa que a indústria quer fazer é reduzir os postos de trabalho. Esperamos que  a crise de água seja temporária, mas se a crise se aprofundar e a empresa for obrigada a reduzir sua atividade, por exemplo, ficar um dia sem água, aí começará a impactar e as empresas terão que fazer contas. O diretor explica que, com a crise hídrica, as indústrias precisarão alterar hábitos e procedimentos e que isso afetará competitividade, produtividade e lucro.

A Fiesp relembra que há 42 projetos de reuso e conservação da água em São Paulo, com os quais 10 milhões de litros são economizados por ano. A entidade diz estar trabalhando “com orientações” para melhorar os procedimentos de reuso e reaproveitamento da água. Contudo, a federação afirma ainda  depender dos órgãos reguladores e das concessionárias de água  para otimizar tais processos. Até março, a Fiesp espera ainda ter pronto um estudo com a identificação de áreas onde seja possível buscar água subterrânea no Estado.

DEVE REDUZIR PIB INDUSTRIAL DE SÃO PAULO
O vice-presidente da Fiesp ressalta que o impacto econômico ficou claro a partir da última quinta-feira, 22 de janeiro, quando a Agência Nacional de águas (ANA) e o Departamento águas e Energia Elétrica (DAEE) publicaram uma resolução conjunta que determina que as indústrias que captam água diretamente da bacias dos Rios Jaguari, Camanducaia e Atibaia reduzam em 30% o consumo diário quando o volume útil dos reservatórios do Sistema Cantareira estiver abaixo de 5%, sob pena de multa. Hoje esse limite foi ultrapassado, isto é, já está sendo usada a reserva estratégica de água ou o chamado "volume morto".
 Isso vai significar uma freada muito grande na economia da região no primeiro trimestre, diz o vice-presidente da Fiesp, explicando que ainda não é possível quantificar o impacto. Ele observa que a situação é muito preocupante porque hoje, em plena estação das águas, o quadro de abastecimento é crítico. E a perspectiva é piorar com o início do período da seca, que começa em abril. Fontes: Economia Terra - 27 Jan 2015, Zero Hora - 27/01/2015  

Comentário:  A crise que está ocorrendo em alguns Estados devido a falta de chuva,  observa-se a total falta de planejamento em emergência.
Não estamos acostumados a planejar cenários críticos. Acreditamos que nunca irão acontecer. A estação de chuva está chegando, começou em outubro, até agora, apenas chuvisco, irá até março de 2015. Estamos torcendo, a chuva irá garantir o abastecimento até março de 2015?
Não simulamos cenários extremos, escassez de água. O que devemos fazer? Daqui a pouco esqueceremos tudo, o ciclo de chuva volta a sua normalidade.  A seca só acontece a cada 100 anos? As indústrias estão preparadas para eventual racionamento de água?
Há outros fatores que não são discutidos e agravam a escassez de água; desperdício, desmatamento, consumo excessivo de água; agricultura (68%), indústria (14%), crescimento populacional (14%).
Nos EUA os órgãos federais e estaduais simulam a vulnerabilidade do sistema em eventos extremos, contaminação, etc. Elaboram guias de planejamento de emergência. Aqui planejamos durante a crise.
“O desastre conota chance de risco. A própria palavra é derivada  da palavra latina, estrela do mal. Entretanto, reunir evidências suporta o fato de que as empresas podem tomar medidas que melhorarão a probabilidade de recuperação plena após um desastre. As empresas que planejam possibilidades de um desastre, que formulam estratégias para recuperação de funções críticas e que treinam os empregados para implementarem essas estratégias geralmente sobrevivem a desastres”. Fonte: Disaster Recovery Planning – Toigo, J.William

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terça-feira, janeiro 27, 2015

Poluição e calor transformam São Paulo em um caldeirão químico

Nas últimas semanas, estamos com a impressão de que o Brasil foi colocado em uma panela quente. Andar pelas ruas é um exercício de sudorese, os ônibus lotados fazem as vezes de sauna e dormir passou a ser uma experiência desafiadora.

Além do desconforto pessoal, a presente situação climática introduziu em nosso cotidiano importantes temas ambientais. O aspecto ambiental mais facilmente percebido é a imagem de reservatórios de água quase vazios. O nível diário do sistema Cantareira passou a ocupar as primeiras páginas dos jornais e a frequentar conversas de rodas de amigos.

DETERIORAÇÃO DA QUALIDADE DO AR
Há, no entanto, outras consequências menos evidentes desse período de clima bicudo: os frutos da combinação das emissões de poluentes (usinas térmicas e emissões veiculares) aliada às altas temperaturas e radiação solar, que resultam na deterioração da qualidade do ar.
A mistura complexa desses diversos poluentes liberados para a atmosfera faz da nossa cidade um verdadeiro caldeirão químico que, sob o efeito da radiação solar, forma outros poluentes, sendo o ozônio seu integrante mais ilustre.
Vale ressaltar que o ozônio é formado naturalmente nas camadas mais altas da atmosfera, onde ajuda a proteger a vida na terra filtrando raios ultravioleta. Entretanto, na superfície terrestre o ozônio é altamente danoso à saúde humana.
Muitas pessoas se surpreenderam recentemente com a indicação de qualidade do ar da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), exposta nos relógios digitais espalhados por São Paulo, indicando nível ruim ou péssimo, seu pior nível.

CAMADA DE OZÔNIO
No gráfico abaixo, dados diários de ozônio e temperatura estão correlacionados. Em São Paulo, de janeiro de 2008 até a metade de janeiro de 2015, é evidente o aumento deste poluente fotoquímico nos dias mais quentes como os que vivemos atualmente (círculo em vermelho).

Hoje, sabemos que a exposição a níveis moderados e elevados de ozônio está associada a uma grande variedade de efeitos negativos sobre a saúde, desde uma simples irritação na garganta até a redução de expectativa de vida. Crianças, idosos e pessoas que tenham alguma doença pulmonar pré-existente, como asma, bronquite crônica e enfisema, são as que mais sofrem.

TEMPERATURA-CONFORTO TÉRMICO
Além do acúmulo dos poluentes produzidos pelas reações químicas na atmosfera, há o efeito direto da temperatura em nossa saúde. Importante ressaltar que a faixa de conforto térmico varia de região para região do planeta, não sendo a mesma, por exemplo, para Teresina ou Copenhague.
Em particular, para a cidade de São Paulo, a média da zona de conforto térmico é de 22 a 25ºC. A faixa de conforto térmico é definida tanto pelo padrão construtivo de nossas casas, como também pelos sistemas que regulam a nossa temperatura corpórea.
Nós, seres humanos, temos que manter nossa temperatura corporal em uma faixa muito estreita, entre 36,5 e 37,2°C, e para isso temos um sistema que funciona como um "termostato", mas que possui um limite de tolerância. Indivíduos mais idosos e crianças são aqueles que têm a saúde mais comprometida quando a temperatura ambiente fica fora da zona de conforto térmico, pois seu intervalo de tolerância é geralmente menor.

Pessoas portadoras de doenças como diabetes, desordens cerebrovasculares ou cardiovasculares também devem tomar mais cuidado com as altas temperaturas, pois o risco nessas condições é maior. No calor nossos vasos dilatam e perdemos muita água corporal para mantermos nossa temperatura estável, por isso, ficamos desidratados mais rapidamente.

Isso pode provocar um aumento da viscosidade sanguínea e outras mudanças fisiológicas que, quando agravadas, podem levar a morte. Alterações de mecanismos de regulação endócrina, de arquitetura do sono, de pressão arterial e do nível de estresse também podem ser relacionadas com esses dias mais quentes.
A atual condição climática tem feito com que nós sejamos frequentemente compelidos a conviver com temperaturas muito acima da nossa faixa de conforto térmico, com potencial prejuízo à nossa saúde.
Portanto, nestes dias mais quentes e muito ensolarados, associados a uma qualidade do ar ruim, alguns cuidados podem ser tomados para proteger sua saúde. Por exemplo, evite exposições ao ar livre nos períodos mais quentes do dia, concentre as atividades físicas no período da manhã e ao anoitecer. Beba muita água ao longo do dia para manter-se hidratado.

Uma dica simples para verificar o nível de hidratação é olhar a cor da urina. Uma urina mais escura do que o habitual deve acender uma luz dizendo beba mais água, se ainda este raro fluido for disponível em nossos anêmicos reservatórios. UOL Noticias - 23/01/20150 - Paulo Saldiva (médico especialista em poluição atmosférica); Mariana Veras (bióloga , especialista em poluição atmosférica);  Nilmara de Oliveira Alves (bioquímica, especialista em poluentes atmosféricos e efeitos na saúde)

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sexta-feira, janeiro 23, 2015

Proibido usar celular em obras da construção civil no Distrito Federal

A partir de 30 de agosto de 2014, celulares, tablets, smartphones e dispositivos semelhantes não podem ser usados nos canteiros de obras do Distrito Federal (DF), durante o horário de trabalho.

MAIOR SEGURANÇA
A norma consta em um termo aditivo à Convenção Coletiva de Trabalho 2014/2015 dos empregados na construção civil e objetiva garantir mais segurança e saúde no ambiente de trabalho. Com isso, os operários não poderão usar os aparelhos para ter acesso a redes sociais, aplicativos de mensagens, jogos eletrônicos e músicas.

USO EM EMERGÊNCIA EM ÁREA DELIMITADA
Já ligações de caráter emergencial poderão ser atendidas durante a jornada, mas, para isso, o trabalhador “deverá interromper a atividade que estiver desenvolvendo e se posicionar de forma segura, em área que será delimitada pelo empregador, para utilização do dispositivo”, estabelece o termo aditivo.
Durante o intervalo para descanso intrajornada, o uso dessas funções fica liberado.

ACORDO ENTRE OS SINDICATOS
A norma foi pactuada entre o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brasília e o Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF).

INFRAÇÕES
Caso não seja cumprida, o empregado será advertido. Em caso de reincidência, ficará sujeito às punições estabelecidas para quem não usar equipamento de proteção individual (EPI), dentre as quais a rescisão do contrato de trabalho pelo empregador por justa causa.

SINALIZAÇÃO
Os empregadores são obrigados  afixar, em local visível, aviso de proibição de uso de telefone celular, smartphone, tablet ou dispositivo similar, assim como informar os horários permitidos e as áreas consideradas seguras. Fonte: EBC Agência Brasil -30/08/2014

O QUE É  CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO
Convenção Coletiva de Trabalho são regras acordadas entre sindicatos de empregadores e de empregados para o estabelecimento de regras nas relações de trabalho. Devem ocorrer uma vez por ano, na data-base. Nela estão listadas todos os direitos e deveres para ambas as partes, que devem ser respeitadas durante sua vigência, como por exemplo, reajustes, pisos salariais e benefícios que serão objeto de negociações.
As convenções abrangem as categorias de profissionais inseridos nas indústrias de construções, edificações, reformas e manutenção ou cedentes de mão-de-obra, sob qualquer forma, observadas as condições estabelecidas pela legislação em vigor, com abrangência territorial no DF. Há a possibilidade de celebração de termos aditivos sempre houver a necessidade de inclusão/exclusão ou alteração das cláusulas da convenção.

CLÁUSULA OITAVA - UTILIZAÇÃO DE APARELHO CELULAR E ACESSÓRIOS
Não é permitido o uso de telefone celular, smartphone, tablet e dispositivos similares, durante o horário de trabalho realizado em obra, para o acesso à internet, redes sociais, aplicativos de mensagens, jogos eletrônicos, músicas, ou qualquer outro uso que não seja ligação de voz.
PARÁGRAFO PRIMEIRO – O uso de telefone celular, smartphone, tablet e dispositivos similares, para o acesso à internet, redes sociais, aplicativos de mensagens, jogos eletrônicos, músicas, ou qualquer outro uso, será permitido apenas no intervalo para descanso intrajornada.
PARÁGRAFO SEGUNDO – No caso de o empregado precisar atender ou realizar uma ligação particular de caráter emergencial durante o horário de trabalho, deverá interromper a atividade que estiver desenvolvendo e se posicionar de forma segura, em área que será delimitada pelo empregador, para utilização do dispositivo.
PARÁGRAFO TERCEIRO – O uso inadequado de telefone celular, smartphone, tablet ou dispositivo similar, assim considerado o que não observar as cláusulas anteriores, constituirá atitude passível de advertência e, em caso de reincidência, considerando tratar-se de questão relacionada à segurança do trabalho é aplicável as punições disciplinares previstas no parágrafo único, da Cláusula Quadragésima Terceira da CCT 2013/2015.
CLÁUSULA NONA - CAMPANHAS EDUCATIVAS SOBRE USO RESPONSÁVEL DO CELULAR
Os empregadores irão realizar campanhas educativas de uso responsável do celular, durante um prazo de 90 (noventa) dias, a partir daí dar-se-á vigência às restrições do uso dos aplicativos mencionados na Cláusula Sexagésima Nona.
CLÁUSULA DÉCIMA - FIXAÇÃO DE AVISOS QUANTO AO USO DO CELULAR E OUTROS DISPOSITIVOS
Os empregadores devem afixar, em local visível, aviso de proibição de uso de telefone celular, smartphone, tablet ou dispositivo similar, assim como informar os horários permitidos e as áreas consideradas seguras.

Artigos publicados
Posso proibir o uso de celulares na empresa?
Acidente de trabalho causado pelo celular

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domingo, janeiro 18, 2015

Inundação arrasa Itaóca, no Vale do Ribeira

Um evento de chuva extrema registrado entre a noite de domingo, 12 de Janeiro de 2014 e madrugada de  segunda-feira arrasou o município de Itaóca, no sul de São Paulo.

INUNDAÇÃO RELÂMPAGO
Uma enxurrada fez com que as águas do rio Palmital, que corta a cidade, descessem como uma avalanche, arrancando árvores, pedras, pontes e arrastando pontes, casas, carros e gente.  
A passagem do satélite Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM) da Agência Espacial Americana (NASA) indicou precipitação acumulada até às 7 horas acima de 70 mm na região entre Apiaí, Itaóca e Ribeira.

As avaliações técnicas do Instituto Geológico da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, realizadas após a enchente, mostraram que o nível do Rio Palmital subiu entre 4 e 5 metros e acabou transbordando. No mesmo local e período, estima-se que, em 6 horas, choveu 150 milímetros. Para se ter uma ideia, uma chuva normal nos dias de verão pode chegar a 30 milímetros em média.

GEOGRAFIA
Topografia: caracterizada por relevo ondulado de alta declividade.
Relevo: ondulado com densidade de drenagem moderada, constituído por morros com encostas convexas e curtas, e topos também convexos e curtos. 
A seção do rio onde se localiza a cidade corresponde a uma área de drenagem do rio Palmital igual a 65 km2. Logo, em termos de macrodrenagem, a área urbana fica sujeita às consequências dos fenômenos que acontecem na porção montante da bacia hidrográfica.
Eventualmente, também recebe as águas de cheias excepcionais do Rio Ribeira de Iguape, já que se situa em planície aluvial e próxima a este.
A população urbana se espalha por uma área de 37,32 ha, com um perímetro de 3,8 km.
Inserido nesse perímetro a planície aluvial possui uma extensão de 1,0 km e largura média de 200 m, perfazendo área de 20 ha. Assim, a área urbana é formada por terrenos naturalmente submetidos à inundação, mesmo que ainda hoje estejam em parte ocupados.
A rede hídrica que influencia a área urbana de Itaóca é formada pelo rio Palmital, sendo este o principal responsável pela enchente na área urbana do município, provavelmente pelo remanso das suas águas em função do Rio Ribeira de Iguape. Um dos afluentes pela margem esquerda do rio Palmital é o córrego da Laje e mais para jusante, há outro pequeno curso d’água. Estes últimos são de domínio Estadual, enquanto que o Rio Ribeira de Iguape é federal, como visto.

INFRAESTRUTURA
O município  de 3.200 habitantes  teve pontes e outras ligações viárias destruídas pelas cheias. O rio Palmital (cujo nível subiu até cinco metros, conforme a prefeitura) e outros cursos d'água que cortam a cidade transbordaram devido à chuva.

DANOS MATERIAIS
A cidade ficou parcialmente destruída após fortes chuvas e inundações causada pelo transbordamento do rio Palmital. Dezenas de casas e pontes foram destruídas no município.

POPULAÇÃO AFETADA
Cerca de cem residências foram afetadas.  A maior parte das famílias desabrigadas, um total de 83, foi para a casa de parentes e amigos. Apenas três famílias estão em escolas da prefeitura.
Cerca de 80% da cidade já tiveram a energia restabelecida em 14 de Janeiro, mas o fornecimento de água ainda está sendo feito, em sua maior parte, por meio de caminhões-pipa.

CIDADE PARADA
As ruas do centro de Itaóca ainda estão tomadas pela lama, dois dias depois da tragédia. Todas as atividades na cidade, tanto comerciais quanto o serviço público, foram suspensas.

BALANÇO PARCIAL DE VÍTIMAS E DESAPARECIDOS
Em 13 de Janeiro, a  Defesa Civil do Estado de São Paulo divulgou, por volta das 20h,  que foram encontrados oito corpos e pelo menos 1 pessoas permanece desaparecida.
Em 15 de Janeiro, conforme dados atualizados pela Defesa Civil e Polícia Civil da cidade, subiu para 27 o número de possíveis vítimas  além dos 12 corpos já encontrados, outras 15 pessoas estão desaparecidas.  De acordo com a Defesa Civil, a atualização no número de desaparecidos é feita depois que as equipes conseguem confrontar informações dadas por vizinhos e moradores, já que em alguns casos famílias inteiras desapareceram. Os bombeiros e equipes da Defesa Civil, com o apoio de voluntários, trabalham nas buscas dos desaparecidos.
Em 18 de Janeiro, a Defesa Civil  e a Polícia Civil confirmaram, que o número de mortos subiu para 22. Um dos corpos ainda permanece sem identificação. Ainda segundo a Defesa Civil, pelo menos cinco pessoas permanecem desaparecidas e uma hospitalizada.  Trinta e quatro pessoas continuam abrigadas na Escola Municipal Elias Lages de Magalhães e 180 pessoas estão desalojadas.

BALANÇO DEFINITIVO DE VÍTIMA
Em 27 de Janeiro, equipe do Corpo de Bombeiros encontrou o corpo da 25ª vítima. A identificação do corpo que estava na lista dos desaparecidos, foi feita por familiares. Restam ainda duas pessoas desaparecidas

MEDIDAS EMERGENCIAIS
1-Força tarefa
Uma força-tarefa do Corpo de Bombeiros está em Itaóca para auxiliar a população. Compõe a equipe 15 bombeiros, quatro cães farejadores e cinco carros.
Municípios vizinhos (Apiaí e Ribeira) e o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) disponibilizaram caminhões e uma retroescavadeira para auxiliar nos trabalhos de limpeza e desobstrução das vias. A Sabesp fornece ainda água potável e caminhão pipa para limpeza das ruas.
2-Desobstrução do rio Palmital
O curso do Rio Palmital foi desobstruído por volta das 18 horas de terça-feira, 14 de janeiro, permitindo a vazão da água que ficou represada na ponte no centro da cidade. Nosso objetivo era liberar o fluxo de água porque, caso venha a chover novamente, a água vai passar de maneira tranquila. Era uma preocupação com o que ainda poderia acontecer e, no entanto, o entulho acumulado no rio deverá demorar, ao menos, uma semana para ser retirado, explicou o coordenador da Defesa Civil estadual, coronel Aurélio Alves Pinto.
3-Defesa Civil
A CEDEC-SP (Coordenadoria Estadual de Defesa Civil) já disponibilizou materiais de ajuda humanitária (produtos de higiene e limpeza e colchões) e está enviando mais material, saindo do município de Registro para o depósito de Apiaí, para, que, se necessário, seja utilizado em Itaóca.
Foram disponibilizados também pela CEDEC-SP, 10 banheiros químicos e 2 chuveiros para apoio a população da cidade.
O DER (Departamento de Estrada de Rodagem) a CODASP (Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo) e municípios vizinhos (Apiaí e Ribeira) disponibilizaram maquinários (caminhões e retroescavadeira), para auxiliar nos trabalhos de limpeza e desobstrução das vias, e a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) fornece ainda água potável e caminhão pipa para limpeza das ruas.

TESTEMUNHAS
■ Graças a Deus, estamos todos bem. As perdas foram só materiais, mas ficamos sem móveis, eletrodomésticos, colchões... Em 12 anos que moro aqui, nunca vi isso. O relato é do farmacêutico Victor Rafael Martins Borges, um dos 332 desalojados. A casa onde mora com os pais e o irmão, no centro da cidade, foi uma das cerca de 100 moradias atingidas pela enxurrada. A 50 metros dali, na mesma avenida, fica a farmácia da qual é proprietário   onde nada se estragou,  porque a porta de aço impediu a entrada de barro no estabelecimento.
Eram umas 22h30, 23h de domingo quando a chuva começou. A água subiu muito rápido, em uns 15 minutos. Começamos a pôr no carro as coisas que pudemos e saímos. Estamos na casa de uma irmã, também no centro, diz Borges.
■ Ouvi barulho de pedras batendo, árvores quebrando e a luz apagou. Quando saí para ver meu carro, vi só o capô brilhar no escuro, no meio do redemoinho, contou Jean Carlos dos Santos,  morador de Sumaré que passava uns dias com a família na cidade. Quando amanheceu, ele achou o carro a trezentos metros, sobre uma pilha de troncos. "Graças a Deus a casa não foi atingida."
■Já a lavadeira Maria Aparecida Mota, acordou com uma onda invadindo o quarto e levantando a cama. "Gritei para as minhas filhas, vamos pra fora." Ela se lembra que saiu com água quase no pescoço e viu o sobrinho Fernando ser atingido no peito por um tronco como um aríete. Ele puxava o pai, Diocleciano, e a irmã Valquíria, pelos braços para fora da correnteza quando foi atingido. O pau bateu no peito e ele afundou, mas conseguiu se recuperar, só que não alcançou mais os dois.
■Pior cheia em 20 anos, diz morador, Ivan Edson, residente em Itaóca há 20 anos. Afirma que nunca ter visto situação semelhante na cidade. Essa enchente foi incomum. Foi uma chuva torrencial na serra (do Mar), entre Apiaí e Itaóca, e a chuva veio toda para cá. Parte do comércio foi embora; açougue, farmácia, loja de roupas, loja de móveis... Não tive prejuízo porque estou na parte alta da cidade", comenta ele.

PREJUIZOS
De acordo com a secretaria municipal de Finanças, o valor alcançado pelos prejuízos causados pelas chuvas é de R$ 13,5 milhões, o mesmo de um ano de arrecadação da prefeitura de Itaóca, no Vale do Ribeira. Desse valor, R$ 4,5 milhões são danos na área pública, englobando pontes, ruas e casas. Já R$ 9 milhões provêm da área privada, agrupando patrimônio de moradores, comerciantes e agricultores.
A estimativa dos prejuízos leva em conta os danos já levantados na rede urbana, em propriedades particulares e na zona rural, incluindo as seis pontes que foram levadas pelas águas. Conforme os dados da prefeitura, pelo menos 19 casas foram completamente destruídas, cerca de 80 foram danificadas e mais de uma centena precisam de algum tipo de reparo. O sistema viário foi afetado parcialmente na área urbana e, na zona rural, algumas estradas sumiram do mapa.

ESTADO DE EMERGÊNCIA
O Estado de Calamidade Pública decretado pelo município de Itaóca foi homologado por decreto pelo governador e  reconhecido também pela União  em 15 de janeiro. .A situação de anormalidade é em decorrência das perdas humanas e materiais.

BAIRRO MAIS ATINGIDO, GUARDA-MOR
Temporal varreu casas e mudou geografia de Guarda-Mão, bairro mais atingido de Itaóca.
Onde antes passava um córrego estreito --o mesmo que dá nome ao bairro-- há agora uma fenda enorme. As pedras desceram montanha abaixo pelo leito. "Onde tinha morro não tem mais; o córrego virou rio e essas pedras também não são daqui", conta Cleuzires Ribas.
Pelo caminho, água e pedras destruíram 9 casas e levaram 21 pessoas. Algumas casas estão embaixo das pedras, outras foram completamente levadas.
Centenas de metros adiante há roupas, tijolos, restos de eletrodomésticos, além de cães e peixes mortos enroscados em galhos e troncos. O pessoal tinha criação de porco, de boi aqui e tudo se perdeu, explica Cleuzires.

CONSEQUÊNCIAS AO MEIO AMBIENTE
A enxurrada d´água  provocou desastre ambiental no Rio Ribeira, um dos principais cursos d'água paulistas. Milhares de peixes morreram ao longo de 80 quilômetros do rio, entre as cidades de Iporanga, Eldorado e Sete Barras.
A avalanche de água, paus, pedras e todo tipo de detritos que varreu os bairros Guarda Mão e Lageado e parte da área urbana de Itaóca foi carreada pelo Rio Palmital até o Ribeira, do qual é afluente, formando uma mancha de dezenas de quilômetros. Troncos e detritos ainda eram lançados no mar, na foz do Ribeira, em Iguape.

Animais e peixes mortos
 Moradores ribeirinhos constataram a morte dos peixes por asfixia. Bagres, tilápias, traíras e até cascudos foram encontrados boiando. Também foram parar no rio animais domésticos, como vacas, porcos, cães e até um cavalo, além de muitos animais silvestres, entre eles capivaras, porcos-do-mato e jacarés, abatidos pela força do aguaceiro.

Qualidade da água
A qualidade do rio piorou e levou à suspensão da captação para abastecimento nas cidades cortadas pelo Ribeira. Morador de Eldorado, o professor José Milton Galindo relaciona a poluição aos depósitos abandonados de chumbo e produtos químicos deixados por mineradoras que exploram a região. "Esses materiais devem ter sido levados pelas águas e contaminado o rio."
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que as análises não indicaram a presença de chumbo e outros produtos químicos na água. A mortandade dos peixes ocorreu devido à alta concentração de partículas orgânicas - algas, folhas e nutrientes - e inorgânicas - silte e argila -, carreadas pelo temporal do dia 13. "Esse material em suspensão foi lançado no Ribeira através do Rio Palmital, que passa por Itaóca", informou a Cetesb.
Segundo os técnicos da companhia, o material era tão denso que chegou a ser confundido com uma mancha oleosa. Além de provocar a obstrução das brânquias, levando os peixes à morte por asfixia, a turbidez acabou por limitar a quantidade de alimento disponível no meio, ao reduzir a penetração da luz, afetando a cadeia alimentar. A Defesa Civil alertou a população para não consumir peixes mortos. Não foram notificados caso de intoxicação.

ESPECIALISTAS EXPLICAM COMO OCORREU A TRAGÉDIA  
A enxurrada que atingiu a cidade de Itaóca, no Alto Ribeira, no interior de São Paulo, foi o resultado de uma forte chuva localizada em uma região cercada por rios, serras e montanhas. A cidade de Itaóca acabou sendo o alvo, já que fica em meio a essa paisagem.  
As avaliações técnicas do Instituto Geológico da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, realizadas após a enchente, mostraram que o nível do rio Palmital subiu entre 4 e 5 metros e acabou transbordando. No mesmo local e período, estima-se que, em 6 horas, choveu 150 milímetros em Itaóca. Para se ter uma idéia, uma chuva normal nos dias de verão pode chegar a 30 milímetros em média.

Segundo o Tenente Marcelo Kamada, diretor do Núcleo de Gerenciamento de Emergência da Defesa Civil do Estado de São Paulo aconteceu deslizamentos na serra, que acabaram movendo árvores e as levando para o rio, que também transbordou devido a grande quantidade de chuva. De acordo com Kamada, a chuva causou um fenômeno conhecido como corrida de detritos que acabou invadindo a cidade. “Acabou acontecendo o escorregamento que movimentou terra. A água levou todos os sedimentos para o rio Palmital. Isso atinge uma grande velocidade, uma grande força que entrou na cidade. A corrida de detritos é que tem o maior poder de destruição”, explica ele.

O geólogo Ney Ikeda, Diretor da Bacia do Ribeira e Litoral Sul do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) mora há anos na região do Vale do Ribeira. Ele disse que, além do grande volume de chuvas, a cidade de Itaóca, é rodeada de rios e montanhas, onde há mais tendência de acontecer desastres naturais. “O rio está em um vale encaixado. Ocorrem deslizamentos nas laterais, trazendo blocos de rochas e vem tudo para baixo”, diz Ikeda. Ele também acredita que, além do rio transbordar, ele mudou o seu curso. “O rio não deu vazão. Isso ocasionou um desvio do rio, que procurou o lado direito e destruiu casas”, afirma ele.

De acordo com a Defesa Civil, 19 moradias foram completamente destruídas e arrastadas pela água. Ikeda esteve nos bairros que foram mais atingidos pela enxurrada, para acompanhar os trabalhos de resgate na cidade. De acordo com o geólogo, no lugar das casas, só havia lama. “Parece-me que foi muito rápido. Várias casas foram invadidas, outras ficaram  apenas com o alicerce. Não se vê quase nada, nem parece que tinham casas ali”, diz o geólogo.
Ikeda, que mora há anos no Vale do Ribeira, presenciou uma situação semelhante em 1997. A cidade de Apiaí, vizinha a Itaóca, foi atingida por uma grande enchente, uma das maiores do Vale do Ribeira, quando, segundo ele, 540 milímetros de chuva caíram em quatro dias. Mas, de acordo com Ikeda, Itaóca nunca tinha registrado uma situação semelhante. Por isso, não havia prevenção a enchentes na cidade. “Não temos um histórico de uma ocorrência como essa. Em 70 anos, nunca se viu isso. Esse foi um fato excepcional”, diz. Uma equipe do DAEE junto a Defesa Civil irá definir as áreas de risco e ações preventivas as fortes chuvas.
Marcelo Shinader, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), enfatiza que a chuva foi bem localizada, um dos motivos do temporal ter sido tão forte. “Não é apenas uma nuvem, é um aglomerado de nuvens que fica localizada na região e provoca isso”, afirma. Ele comenta também que a região do Alto Ribeira foi alvo de outros pequenos períodos de chuva nos dias anteriores à enxurrada, o que pode ter ajudado a deixar o solo mais úmido.
Alguns moradores disseram que a força da água na enxurrada parecia um tsunami. Para o geólogo Ikeda, a associação é cabível, tamanha a força da água e seu poder de destruição. “É até possível comparar porque o efeito é o mesmo”, diz.

UM ANO DEPOIS ITAÓCA AINDA AGUARDA VERBA PARA RECONSTRUÇÃO
 O governo federal liberou recursos para a limpeza da cidade; então todo aquele entulho, madeira e lama, foram removidos. Mas a parte de reconstrução do município ficou a desejar, explicou Erli Rodrigues Fortes, secretário de Agropecuária de Itaóca. A prefeitura  utilizou R$ 1,9 dos R$ 2,6 milhões disponibilizados pelo Ministério da Integração Nacional. O restante, vamos devolver. Conseguimos contratar as máquinas por um menor preço. Esse dinheiro era só para limpeza, justificou o secretário. O  município entregou um plano de reconstrução para aquele ministério em fevereiro de 2014, mas os recursos ainda não foram liberados. Lá está prevista reconstrução de pontes e calçamento, explicou Fortes.

Ao todo, dez pontes foram destruídas pela enxurrada d'água, deixando comunidades ilhadas nos dias que se seguiram ao desastre. As pontes foram refeitas de forma provisória e, segundo a prefeitura, continuam dessa forma. No bairro do Lajeado, por exemplo, os próprios moradores refizeram o caminho para atravessar o rio com os pedaços de árvores que foram derrubadas pela chuva. A destruição do calçamento é o que mais atrapalha quem mora no bairro Vila Ribas.

Localizado na margem direita do rio, próximo à ponte principal, algumas ruas continuam intransitáveis. Também permanecem complicados alguns trechos da estrada entre Apiaí, cidade vizinha, e Itaóca.
As moradias e a reconstrução da ponte principal ficaram a cargo do governo estadual. Foram prometidas 90 casas e o município desapropriou um terreno e entregou à CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), mas até o momento não foram iniciadas as obras, informou Fortes. A ponte, de acordo com ele, foi a única obra iniciada depois da tragédia. O canteiro de obras foi feito em junho. "A previsão de conclusão é março", informou o secretário.
A prefeitura calcula um prejuízo total no município em torno de R$ 23 milhões.
Fontes: G1 Santos-13/01/2014 a 18/01/2014; UOL-14/01/2014 a12/01/2015, Defesa Civil do Estado de São Paulo, 17-01-2014, O  Estado de São Paulo, 21/01/2014

Comentário
Enxurrada é a inundação brusca ou  relâmpago  (flash flood) que ocorre devido a chuvas intensas e concentradas. A elevação das vazões é súbita e seu escoamento é violento. Ocorre em um tempo próximo ao evento da chuva que a causa.
O nome Itaóca é de origem indígena, que no tupi-guarani significa “Casa de Pedra”.  A região contem veios e bolsões de rochas graníticas, fraturadas e com alta densidade de afloramentos rochosos sob forma de blocos e grandes matacões.
O potencial de erosão hídrica e de movimentos naturais de massas são bastante altos, principalmente nas áreas montanhosas, correspondentes às encostas, onde formam-se enxurradas altamente erosivas e é grande a possibilidade de ocorrerem grandes movimentos naturais de massas, inclusive com rolamentos de grandes matacões. O  potencial de movimentos de massas é maior nas partes côncavas das encostas e em  toda sua extensão o escoamento superficial é bastante rápido.

Esse tipo de desastre obedece a um padrão semelhante em todos os países.  
As principais causas de inundação seriam:
■ A morfologia da cidade a região tem relevo altamente acidentado, formado por serras, morros, fundo de vale, e encostas íngremes.
■ O clima: chove torrencialmente na época de verão
■ Uso e ocupação do solo de maneira desordenada
■ Não há mapeamento das áreas inundáveis quanto a:
1-Conhecimento da relação cota x risco de inundação
2- Definições dos riscos de inundação de cada superfície
3- Incorporação a Legislação Municipal de uso e  ocupação do solo em zona de risco
4- Uso de Sistema de Informações Geográficas na análise de projetos de edificações e equipamentos urbanos.
5- Controle público da ocupação regular e irregular
■ a prática legalizada da construção ilegal e construção de obras públicas que não respeita o ecossistema. 
■ O aumento da vulnerabilidade é atribuível ao uso do solo e da água que é muitas vezes ainda não considera as limitações impostas pela hidrogeologia. É comum no país como padrão, canalizar córrego, retificar e construção de avenidas ao logo das margens dos córregos e rios. Em conseqüência disso há uma ocupação desordenada do solo, principalmente construções, aumentando ainda mais a impermeabilização do solo.

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terça-feira, janeiro 13, 2015

Lembrança: Incêndio nas Lojas Renner

O prédio de oito andares da  Renner, na esquina da Alberto Bins com a Dr. Flores, em Porto Alegre, foi atingido por um incêndio, que começou por volta 13 h 30 min, em 27 de abril de 1976.

INÍCIO DO FOGO
De acordo com informações do gerente da Renner, o fogo começou no 1º  andar, onde estavam instaladas as seções de eletrodomésticos e tintas, alastrando-se rapidamente por todo o prédio com área construída  de 10.000 m2.

PROPAGAÇÃO DO FOGO
O fogo alastrou-se rapidamente para os demais andares e quem estava nos andares acima, não puderam sair. Para piorar a situação, havia apenas janelas basculantes. O fogo subiu vários metros de altura provocando uma nuvem negra que poderia ser vista a 10 km de distância.

POPULAÇÃO DO EDIFÍCIO
No momento em que começou o fogo, havia cerca de 800 pessoas entre funcionários e pessoas no prédio, mas a existência de escadas de incêndios possibilitou que muitos alcançassem a rua rapidamente.

ATENDIMENTOS NOS HOSPITAIS
Os feridos foram atendidos nos hospitais Pronto‑Socorro, Getúlio Vargas e Cristo Redentor. Cerca de 200 pessoas foram atendidas, sendo a maioria com queimaduras, traumatismos diversos e intoxicações. Apenas 58 chegaram a ser identificadas.
Os atendidos no pronto-socorro contaram que o pânico tomou conta das pessoas que estavam no prédio e foi o mais responsável pelos ferimentos.

RESGATE
A maior parte dos que não conseguiram escapar pelas escadas de emergência tratou de subir para o ultimo andar.
A intervenção do Corpo de Bombeiros com escadas Magiruz, que chegavam até o 8º andar, possibilitou a retirada de 80 pessoas.
A fumaça impossibilitou o uso de helicópteros na operação de salvamento.

CORPO DE BOMBEIROS
Um total de 15 viaturas interveio no combate as chamas, com 200 bombeiros.

FALTA DE HIDRANTES
A falta de hidrantes prejudicou os trabalhos, a água era tirada do rio Guaiba, a 1 km de distância. A lancha da Estação Fluvial, a beira do rio Guaíba, supriu a falta de água. Devido a distância e demora outros prédios foram atingidos pelo fogo, como o do Armazém Riograndense (três andares) e das Lojas Incosul.

VÍTIMAS
No total foram 30 pessoas, sendo 24 corpos carbonizados foram encontrados no 7º andar, onde funcionava o restaurante,

CONTROVÉRSIAS NO NÚMERO DE VÍTIMAS FATAIS
As autoridades de Porto Alegre, admitiram 30 mortes, inclusive 3 pessoas que se atiraram do alto do edifício.  
No jornal Zero Hora de 1976,  informou que morreram 40 pessoas , mas somente foram identificados 29.
Diário de Canoas publicou em 6 de julho de 2014, que morreram no incêndio 29 pessoas.

PRÉDIO
O edifício foi implodido e foi reconstruído, continuando a pertencer às Lojas Renner.

PRÉDIOS VIZINHOS
Cinco prédios vizinhos foram afetados superficialmente quando escombros caíram, provocando princípios de incêndios.
Dois prédios contíguos ao da Renner,  da Incosul e o do Armazém RioGrandense, também atingidos por fogo e escombros, foram condenados pelos Peritos do Instituto de Policia Técnica.
Fontes: Folha de São Paulo, 28 e 29 de abril de 1976, Zero Hora- abril de 1976, No 67

Comentário:  Em qualquer situação de incêndio, o Corpo de Bombeiros parte de seu posto para o atendimento à ocorrência de incêndio com unidades móveis munidas de homens, equipamentos e de água para o combate. A sua principal fonte de suprimento de água ainda são os seus próprios auto-tanques, que constituem uma fonte limitada de suprimento.
Os hidrantes públicos instalados estrategicamente nas vias públicas tornam-se importante no combate aos incêndios, porque supre a necessidade de água para combater as chamas, principalmente, quando acaba a água do caminhão tanque, ou seja, os hidrantes servem para abastecer o caminhão de maneira mais rápida e em pouco tempo, além de poder combater fogo diretamente, se o incêndio for próximo ao hidrante.
Os problemas encontrados pelos bombeiros continuam a persistir;
■faltam  hidrantes públicos  ou
■quando tem, mas não tem água ou a pressão é insuficiente.

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sexta-feira, janeiro 09, 2015

Robô submarino: GhostSwimmer

O robô submarino, GhostSwimmer é uma resposta às necessidades atuais para enfrentar os problemas dos veículos submarinos não-tripulados (UUVs, Unmanned Undersea Vehicles)  quanto às missões litorâneas e ribeirinhas.
Há um interesse crescente no uso de longo alcance / longa duração de veículos submarinos não tripulados para observação no litoral, vigilância militar e missões de busca em  rios.  Os UUVs existentes são geralmente em forma de torpedo e apresentar uma baixa capacidade de manobra, especialmente em áreas rasas. Pequenas hélices rotativas acionadas por motores elétricos universais alimentam esses UUVs; a energia é armazenada em baterias recarregáveis ou não,  dependendo do veículo e da missão. As hélices de pequeno diâmetro geralmente operam relativamente com baixa eficiência (na faixa 45% por propulsores comerciais) e sofre graves atrasos na resposta a transiente (perturbações elétricas).
O espaço necessário para armazenar as baterias para tempos significativos para missão, frequentemente aproxima-se  70% do volume do casco.

A baixa eficiência das hélices e sua resposta lenta juntamente com grande volume do casco dedicado a baterias levam a missões de curta duração, cargas restritas e problemas de controle. Em um ambiente aquático ( litoral ou rio), a falta de confiabilidade de controle causada por um único sistema baseado na hélice poderia impedir a execução de uma missão crítica. Para superar esses problemas e para explorar a possibilidade de ganhos substanciais, a Boston Engenharia desenvolveu GhostSwimmer, o Veículo Submarino Autônomo (Autónomous Undersea Vehicles, (AUV) com base na concepção de sistemas biológicos de grande porte  (peixes e cetáceos) para inspiração. Há uma grande quantidade de dados experimentais que sugerem sistemas biológicos oceânicos  que atingem alta eficiência de propulsão ( 87%), e têm habilidades extraordinárias para manobrar em velocidades altas e baixas, muito antes de qualquer veículo  projetado pelo homem. Eles fazem isso usando um corpo flexível e aerodinâmico impulsionado por uma cauda simples e delgada oscilante, um conjunto peitoral (auxiliares) adequadamente colocado, barbatanas e um sistema de controle  sensível  muscular e  sensorial.

APRESENTAÇÃO DO PROJETO
GhostSwimmer tem como objetivo de realizar missões de espionagem sob a água, como parte de um projeto chamado “Silent Nemo”. O robô foi apresentado na Base Naval de Little Creek, em Norfolk, Virginia,  em 11 de dezembro de 2014.
O “GhostSwimmer” mede 1,5 metros de comprimento, pesa 45 Kg e pode operar em profundidade que vai desde  25 cm até 91 metros.
O robô é igual ao peixe (atum)  e é capaz de fazer manobras fechadas e mover-se discretamente na água, características que o convertem em ideal para missões de vigilância e reconhecimento.
O ‘GhostSwimmer’ permitirá à Marinha usar em vários tipos de missões, mantendo mergulhadores e marinheiros a salvos. O robô é capaz de operar de forma autônoma durante longos períodos de tempo devido a sua baterista de longa duração, mas também pode ser controlado através de um computador, explicou Michael Rufo, diretor do Boston Engineering’s Advanced Systems Group.

Comentário: A tecnologia já domina os drones terrestres e aéreos. Apenas estava faltando o drone submarino

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segunda-feira, janeiro 05, 2015

Lembrança:Incêndio na fábrica de brinquedos Trol

Embora este incêndio é da década de 70, mas as dificuldades encontradas pelo Corpo de Bombeiros para combatê-lo são ainda atuais. As dificuldades encontradas na época, tais como; falta de ventilação, empilhamento excessivo de materiais inflamáveis, corredores estreitos, falta de acesso adequado, falta d’água; ainda persistem nas indústrias e servem de alerta.   

INTRODUÇÃO
As dificuldades de um incêndio nem sempre estão relacionadas somente com a sua extensão e o tipo de material que queima. Muitas vezes, pequenos incêndios são mais difíceis de se combater devido a outros aspectos que envolvem a questão, como por exemplo, pouco pessoal   para os trabalhos, equipamentos deficientes etc. Foi mais ou menos o que ocorreu neste incêndio que passamos a descrever, onde ao invés das dez horas gastas para combatê-lo, poder-se-ia controlá-lo em duas horas, se o tipo de construção e de armazenamento fossem outros.
No decorrer do artigo o leitor poderá ver quais as dificuldades encontradas e obter algumas informações que, talvez, possam ser úteis. Devemos lembrar que os nossos conhecimentos resultam do acúmulo de experiências adquiridas e, também, pelas informações relatadas por terceiros.

LOCALIZAÇÃO
São Bernardo do Campo, cidade industrial da região do ABC (SP), distante 14 km da cidade de São Paulo, apresentava no dia 14 de dezembro de 1979 um movimento maior do que o normal, que é alto. Formavam-se nos postos de gasolina imensas filas, provocadas pela possibilidade de se faltar o combustível, além  do que boa parte de sua população de mais de 250 mil habitantes entrava no período de férias escolares e outro tanto percorria o comércio fazendo as compras de fim de ano.
O tempo, na manhã daquele dia estava encoberto sem estar fechado (havia sol), prenunciando chuvas para o final da tarde ou início da noite. A temperatura estava em torno de 20º C e um leve vento soprava de NE para SO. O bairro de Rudge Ramos, uma miscelânea de indústrias, estabelecimentos bancários, prédios escolares etc, uma espécie de cartão de visitas da cidade, viria, naquele dia, a conhecer um movimento diferente do que estava habituado.
E bem verdade que, pelo fato de ser ao mesmo tempo divisa do município com Santo André, São Caetano do Sul e São Paulo, além do seu acesso através da Via Anchieta, é habitualmente movimentado. É em Rudge Ramos que se localiza, também, o prédio sinistrado e objeto desta análise.

CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS
O prédio ocupado pela fábrica 2 da Trol S/A., localiza-se a rua Anchieta, dando frente, ainda, para a rua Maurício   Jacquei e Rua Londrina. A construção é de alvenaria, a área total é de 6.500 m2
Em termos de disposição de pavimentos apresentam, conjuntamente, áreas de um só pavimento, áreas de 2 pavimentos e áreas de 3 pavimentos. A parte atingida pelo incêndio foi o armazém, em seu pavimento superior.
O pavimento térreo do armazém comunica-se com todos os demais setores da indústria, porém o acesso ao pavimento superior é feito ou por uma escada que liga ao pavimento inferior ou por uma rampa que o liga a uma ala de fabricação.
Em termos de aberturas, tinha vitrôs na ala sul, somente, sendo que, na frente para a rua  Mauricio Jacquei (ala norte) existiam pequenas janelas de esquadria de alumínio. Estas janelas estavam trancadas e algumas dispunham de telas chumbadas para evitar roubo de materiais. As que não possuíam telas apresentavam, no interior do prédio, material empilhado. O piso era de concreto, o teto uma laje de concreto, com coberturas de cimento amianto.

ARMAZÉM: CONTEÚDO E EQUIPAMENTOS CONTRA INCÊNDIO   
Toda a área sinistrada e as demais da indústria eram protegidas por hidrante e extintores. O material era armazenado em prateleiras de madeira que iam quase até o teto. Nas prateleiras  eram colocados recipientes de alumínio ou plástico, nos quais eram guardados os brinquedos de plásticos, embalados em papelão ondulado. A saída do material para a expedição se fazia por um deslizador e um montacargas, dependendo de seu volume. O empilhamento era feito manualmente.

O INCÊNDIO
Relatam os funcionários que o incêndio foi detectado por ocasião do término do horário do almoço  ou muito próximo dele (há controvérsias), ocasião em que ninguém se encontrava no local. Isto provavelmente determinou uma demora em se descobrir o fogo e, mesmo depois de descoberto, não houve qualquer tentativa de combate por parte dos funcionários. Relatam  também que o calor e a fumaça já dificultavam estes serviços.
Não restam dúvidas, no entanto, de que o incêndio, quando descoberto, já estava em fase adiantada de desenvolvimento. Todos são unânimes em afirmar.

OS BOMBEIROS
As 12 h 11 min. o Centro de Comunicação do 8o Grupamento de Incêndio recebeu um chamado feito por Joana Goltara, relatando que estava ocorrendo um incêndio de grandes proporções no prédio da Trol S/A. De imediato, foram despachadas para o local 4 viaturas, com horário de saída impresso às 12h 12min  (8o GI controla suas ocorrências com relógio datador).
As viaturas, 2 auto bombas, uma jamanta de transporte de água e um auto Oficial de Área apresentam as seguintes características:
■ auto bomba de 1250 GPM (4.730 litros por minuto), com tanque de 5000 l;
■ auto bomba de 500 GPM (1.890 litros por minuto) com tanque de 1.700 l,
■ jamanta, com tanque de 15.000 l e bomba auxiliar de 500 GPM (1.890 litros por min);
■ auto oficial de Área, com bomba de alta pressão (700 psi, 40 GPM, 150 litros por min) e tanque de 1.500 l.
As 12 h 18 min. o Auto Oficial de Área e as duas bombas chegaram ao local; dois minutos depois (12h 20min) chegou a jamanta. As 12 h 21min, chegava ao local outros três oficiais. Eram, no conjunto, 4 oficiais e 17 homens.

DE INICIO OS OFICIAIS CONSTATARAM:
■ grande  quantidade  de  fumaça tomava todo o andar superior, inclusive difundindo-se para todo o quarteirão e envolvendo as residências vizinhas;
■ não havia  chama visível;
■ a situação era normal no pavimento térreo;
■ presumia-se um processo de combustão incompleta, devido a grande quantidade de fumaça negra;
■ não existiam acessos ao prédio pelo exterior, uma vez que as janelas localizadas na frente da rua Mauricio Jacquei estavam gradeadas e os vitrôs, nos fundos do prédio eram inatingíveis, pois situavam-se acima do telhado (de cimento amianto) da área de manufatura;
■ os possíveis ataques poderiam ser feitos somente pelos dois acessos internos ou pelo telhado, com plataforma aérea, pois ainda não sabiam ser o forro de laje;
■ no reconhecimento pelo interior, através dos dois acessos, munidos de aparelhos autônomos,
■ constatou-se. que o foco principal localizava-se aproximadamente entre um triangulo imaginário cujos vértices seriam o deslizador de mercadorias, a escada e o centro do pavimento; havia outro foco, aparentemente, entre a área central e o acesso pela rampa. (a avaliação foi prejudicada pelo intenso calor, grande quantidade de fumaça, disposição e altura das prateleiras); e,
■ constatou-se, finalmente, que o combate através de jatos d'água dificilmente atingiria o foco de incêndio.

LINA DE ATAQUE
■ iniciar um ataque pelo interior utilizando-se o acesso 2, com uma linha adutora de 2 ½” (63 mm) e 2 linhas de ataque de 1 ½” (38 mm); e,
■ pelo acesso 1, fazer a projeção da água no teto do prédio com mangueira de 63 mm da própria rede do prédio, visando fazer com que a água refletisse e caísse sobre a área de fogo, até que se armassem linhas de 38 mm, de maior  flexibilidade.

O PLANO DE AÇÃO ADOTADO:
■ no primeiro tipo de ataque pretendia-se extinguir o foco principal do fogo, com certo grau de risco, pois os homens precisariam caminhar entre as prateleiras e,
■ no segundo, visava-se reduzir o calor ambiente a níveis mais suportáveis.

REFORÇO DE PESSOAL
Contudo, vislumbraram  também a necessidade de reforço de pessoal para que trabalhassem na remoção do estoque não inflamado e que impedia o acesso ao fogo e reforço de água, para que os trabalhos não sofressem, em algum momento,  solução de continuidade.
A partir dessa decisão começaram a chegar, gradativamente, viaturas dos destacamentos de São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul e de São Paulo No final, havia, a todo, 22 viaturas e 71 homens. Compareceram, ainda, 4 carros pipa da Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo.

CENÁRIO DA OPERAÇÃO
Enquanto era executado o plano de ação, uma equipe de bombeiros, com escadas prolongáveis, malhos e corta a frio, procurava abrir as janelas gradeadas da Rua Mauricio Jacquei. A finalidade era ventilar o ambiente e usar essas janelas como ponto de entrada para o interior do prédio, já que as equipes que se encontravam atacando pelos acessos 1 e 2 não conseguiram evoluir mais do que 4 ou 5 metros.
Surgiram outras dificuldades; as prateleiras de madeira começavam a desabar, na medida em que eram atingidas pelas chamas. Contudo, as grades colocadas para se evitar roubos impediram o intento dos bombeiros. Não foi possível cortá-las.
Essas dificuldades sugeriam apenas um recurso extremo, que ainda não se pretendia adotar: arrombar as paredes do prédio. Nesta fase estavam sendo realizadas as atividades táticas seguintes:
■ mantinham-se  o ataque pelo acesso 2, acrescido agora de mais 2 linhas de 38 mm;
■ a linha de 63 mm que estava no acesso 1 tinha sido substituída por duas linhas de 38 mm;
■ dois canhões monitores resfriavam as paredes da rua Maurício Jacquei e dos fundos da indústria (ala oeste), que apresentavam rachaduras;
■ o canhão monitor da plataforma aérea resfriava as colunas da caixa d' água, pois elas atravessavam a área em queima, suspeitando-se que pudesse vir a desabar;
■ duas linhas de 38 mm isolavam a ala sul do pavimento (e que possui vitrôs abertos) das áreas restantes; e,
■ uma linha de 38 mm estava situada no final do deslizador de mercadorias, para extinguir pequenos focos de fogo existentes nos blocos de material que por ele deslizavam.

DIFICULDADE NA PENETRAÇÃO
Enquanto isso, os bombeiros não estavam alcançando progressos, pois as linhas que procuravam atacar pelo interior não conseguiam avançar. O calor intenso, a fumaça negra e tóxica, os aparelhos autônomos cujos visores se impregnavam rapidamente da fuligem e as prateleiras que continuavam a ruir, determinavam tal impossibilidade.
Pelo mesmo motivo, a linha de homens  que trabalhava na remoção do material teve que ser desativada. Era uma luta desigual, pois a água não conseguia atingir os focos de chamas e brasas, contida que era pelas pilhas de mercadorias, e o calor aumentava cada vez mais; não havia ventilação e a fumaça mais se acumulava; mais e mais gases tóxicos estavam sendo liberados.

DECISÃO: VENTILAR A EDIFICAÇÃO
Finalmente, por volta das 16h 15 min., o comandante reuniu-se com seus oficiais e deliberou considerar o conteúdo do pavimento como perdido, bem como parte de sua construção, pelas rachaduras que apresentava. Essa decisão permitia evoluir as operações para o desenlace, além do que garantiria segurança para o restante da edificação. Foram escolhidos dois pontos de parede (ver figura) para aberturas de ventilação e entrada. Tomou-se o cuidado de se¬lecionar pontos já comprometidos por rachaduras e opostos um ao outro, para que o vento tivesse um canal de circulação. Com a plataforma aérea, dois bombeiros fizeram a primeira abertura.
O volume de fumaça negra que começou a sair confirmou o acerto da decisão, pois, nessa altura dos acontecimentos, a combustão ainda continuava incompleta, com calor acumulado de forma assustadora, pondo em risco a estrutura do prédio.
Partiu-se para a segunda abertura, a que asseguraria a entrada de ar fresco; esperava-se que o ponto selecionado na parede ruiria de um momento para outro. Com isso foram tomados maiores cuidados de segurança, e, por volta de 17h 15 min., a abertura foi obtida, com desabamento parcial da parede (confirmando as previsões) de cerca de 12 m2. Estava decidida a ocorrência.
Labaredas surgiram-se, bem localizadas, fazendo com que a extinção se consumasse em curto espaço de tempo. Depois, foi possível a entrada de linhas manuais para atingir os focos remanescentes. As 22h, o incêndio foi dado como extinto e iniciavam-se as operações de rescaldo.

ABASTECIMENTO
Esse aspecto delicado para as operações  de combate a incêndios não chegou a preocupar. Na primeira fase dos trabalhos foram utilizados, como fonte de abastecimento, os tanques das próprias viaturas, a jamanta de água, dois hidrantes da rede urbana (com cerca de 0,5 kg de pressão), a reserva da indústria vizinha.
Com a chegada de mais duas jamantas dos bombeiros e dos carros pipa da Prefeitura, montou-se um sistema de abastecimento conhecido como pêndulo. Os bombeiros instalaram dois tanques plásticos de 5 mil litros, tipo Sansuy, que passaram a funcionar como pulmão de abastecimento.
Duas bombas, uma de 1250 GPM (4.730 l/min.) e outra de 1000 GPM (3.750 l/min.), trabalhavam em sucção alimentando as linhas dispostas e os carros d'água abasteciam aqueles tanques. Foi um sistema que resolveu o problema e garantiu o trânsito fácil dos veículos. Calcula-se que foram gastos nos trabalhos de isolamento, resfriamento e extinção cerca de 6 mil m3 de água.

DISCUSSÃO: PERGUNTAS E RESPOSTAS
A causa do incêndio não é de fácil identificação, contudo, com grande possibilidade de erro, podemos sugerir que esse incêndio, pelo volume de fumaça existente e pelo grande acúmulo de calor gerado, não pode ter iniciado no intervalo de almoço e provocado por uma ponta de cigarro ou um  pequeno curto circuito (a propagação do incêndio é lenta).
Devemos nos inclinar para a hipótese de que o incêndio se originou muito antes. Considerando que o armazém estava com empilhamento excessivo, entende-se que havia pouco ou nenhum trânsito de pessoas, determinando, então que o alarme fosse dado somente depois de muito tempo de queima.

EMPILHAMENTO EXCESSIVO
O prédio tinha boas condições estruturais. Porém seu conteúdo estava mal distribuído. As prateleiras de madeira atingiam uma altura muito próxima do teto.

CORREDORES ESTREITOS
Os corredores entre as prateleiras eram muito apertados (60 a 80 cm) e em numero insuficientes; considerando os dois acessos, a disposição linear das prateleiras e dos corredores estavam errados; não haviam corredores entre as prateleiras e as paredes.

ARRANJO FÍSICO DO DEPÓSITO
Notou-se, claramente, que não havia qualquer preocupação em se dimensionar o estoque para a área que o armazenava. Qualquer depósito de produto acabado e que contenha material facilmente combustível (no caso, madeira, plástico, papelão) deve ser organizado a partir de um conceito de segurança, tais como;
■ limitação de altura do empilhamento
■ corredores amplos e desobstruídos
■ afastamento das paredes

EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA
Há necessidade de se respeitar às normas de segurança, tais como;
■ instalar alarmes automáticos,
■ iluminação de emergência,
■ sistema de ventilação exaustão etc.
Estas duas últimas, particularmente, teriam sido de extrema validade para os bombeiros.

AÇÃO DO CORPO DE BOMBEIROS
Quanto à ação dos bombeiros vale destacar uma contradição nas opções de ataque que acabou refletindo em todo curso das operações.
Deveria ter ocorrido de imediato, uma escolha sobre o método adotar:
■ ataque indireto, desprezando-se a necessidade da ventilação ou,
■ ataque direto

ATAQUE INDIRETO
A ação mais indicada era a utilização de um dos acessos para projetar água bem fragmentada no interior do prédio, reservando o outro para a saída de fumaça, gases quentes e vapor d'água.

ATAQUE DIRETO
Optando se pelo ataque direto, existiam duas formas de atuação:
■ a primeira seria a instalação de exaustores, que contribuiriam para reduzir o nível de fumaça e gases quentes (e, em consequência, do calor);
■ a segunda seria a execução de aberturas nas paredes logo de inicio.
Não se pode, no entanto, em razão da contradição apontada, afirmar que os trabalhos foram errados. Apenas foram mais demorados. No final, quando se optou pelo ataque direto, o saldo de desgaste emocional, físico e de água poderia ter sido menor se o fato ocorresse duas ou três horas antes. As demais operações foram boas e, nem sempre, observadas em outras ocorrências.

FLEXIBILIDADE NO ABASTECIMENTO DE ÁGUA
O abastecimento, com a utilização de tanques pulmões, é uma lição que não pode ser desprezada por bombeiros que lutam com a falta d'água.

SELEÇÃO DE ABERTURAS E DE ISOLAMENTO DE ÁREAS
A seleção de pontos de abertura, de forma a não por em risco as exposições, foi correto; e, o isolamento das demais dependências superou as necessidades.

REFORÇO: PESSOAL E VIATURA
Um erro, até certo ponto frequente e desculpável, está no excessivo número de viaturas deslocadas para o teatro de operações. A rigor, duas bombas de 1000 GPM (que atenderiam as necessidades de água, se houvesse abastecimento conveniente pela rede pública) seriam os equipamentos imprescindíveis nessa ocorrência.
Mas, a falta de pessoal suficiente exigiu o deslocamento de grande número de viaturas que, na verdade, serviram apenas como transporte de pessoal; a falta de água e de hidrantes exigiu o deslocamento, também, de várias viaturas, tudo resultando no seu elevado número.
Essa conduta, errada conforme já foi mencionada, é desculpável  porque é provocada por fatores sobre os quais os bombeiros não têm controle. O fato de possuírem  uma média de 3,2 homens por viatura (média  extraída dos números desta ocorrência) é quase crônico e também a falta de água na rede de hidrantes.

CONCLUSÃO:
O relato desta ocorrência visou tão somente, mostrar uma experiência vivida por um grupo de bombeiros e que pode contribuir para enriquecer o acervo de todos os profissionais que, na indústria ou na área governamental, podem vir a enfrentar ocorrência semelhante.  As citações sobre as condições de segurança do edifício onde se deu o incêndio, sobre a rede de hidrantes e sobre o efetivo dos bombeiros, bem como sobre as contradições na opção dos bombeiros, são meras constatações, para demonstrar as dificuldades que foram encontradas durante o combate contra o incêndio.
Fonte: Os autores desta análise foram Capitão Alfonso Antonio Gill e Armando de Albuquerque, que na época eram oficiais do 8o Grupamento de Incêndio, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, que participaram das operações   do combate ao incêndio ocorrido na Trol S/A. Indústria e Comercio, em São  Bernardo do Campo.

Comentário: Dados complementares obtidos no jornal da época, Folha de São Paulo.
O incêndio começou por volta das 12 horas, quando quase todos 600 funcionários já haviam saído para o almoço.
O incêndio teve inicio no pavimento superior da unidade 2 e cerca 10 min. depois os bombeiros chegaram ao local. O fogo no interior do prédio atingiu 800º C e uma fumaça altamente tóxica  dificultou a entrada dos bombeiros no prédio.
Uma área de cerca de 600 m2 foi toda tomada pelo fogo e a ausência de janelas laterais e entradas prejudicou o trabalho dos bombeiros. O incêndio destruiu toda área de montagem e depósito de produtos acabados.
Foram encaminhados ao local,  três ambulâncias, um médico e um enfermeiro. No início do incêndio, algumas pessoas, ainda se encontravam no prédio e os funcionários da segurança tentaram apagar o fogo, que se alastrou por todo o prédio, com extintores. Alguns desses funcionários acabaram se intoxicando e foram levados para o pronto-socorro Municipal de Rudge Ramos.
Foram medicados 44 pessoas com intoxicação, com alguns bombeiros. Um bombeiro ficou ferido no rosto e no braço.

Problemas que continuam ocorrer nas fábricas atualmente:
■ empilhamento excessivo
■ corredores estreitos com obstáculos
■ uso de prateleiras até as paredes (falta de corredores entre as prateleiras e paredes)
■ carga de incêndio elevada ( concentração excessiva de mercadorias, principalmente  combustíveis)
■ falta de alarme automático,
■ falta de iluminação de emergência,
■ falta de ventilação de exaustão  

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