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quarta-feira, agosto 17, 2016

Cidade de São Paulo tem mais de 200 rios

A grande enchente de 1929
Muita água passa por baixo das pontes do Tietê e do Pinheiros, principais rios da cidade de São Paulo. Mas também tem muita água passando por baixo do asfalto, do cimento e do concreto. O município possui nada menos que 186 bacias hidrográficas catalogadas pela prefeitura, o que representa mais de 200 cursos de água.

Há os casos do rio Verde e do Água Preta, que serpenteiam por baixo de bairros da zona oeste. E há muitos tampados por avenidas, como o Saracura (que nasce próximo ao Museu de Arte de São Paulo e à avenida Paulista), o Itororó e o Pacaembu, na região central. "Os rios continuam vivos apesar de estarem tampados e misturados com esgoto", diz o geógrafo Luiz de Campos Jr., um dos criadores da iniciativa Rios e Ruas, que busca os cursos d'água esquecidos pela cidade.

Há também os que sumiram completamente do mapa, soterrados pela urbanização, como o ribeirão do Bixiga, na região central da cidade. Por cima de um trecho dele, construiu-se o prédio da Câmara Municipal de São Paulo, lembra o arquiteto e urbanista Vladimir Bartalini, professor da USP (Universidade de São Paulo).

A grande enchente de 1929
A grande maioria dos rios, ribeirões e riachos corre para o Tietê -- a cidade se situa, por sinal, na bacia do Alto Tietê. Não se sabe, porém, o número exato deles nem a extensão da rede hídrica porque boa parte flui por baixo da metrópole e ninguém vê. A quantidade de nascentes é outra incógnita. No centro expandido, é quase impossível avistar um córrego ou ribeirão. A cidade sufocou os rios e cresceu por cima deles. "Na região mais urbanizada, praticamente tudo está coberto", afirma Campos Jr..



RIOS FAVORECERAM O CRESCIMENTO E APANHARAM DELE
Os rios tiveram grande importância no surgimento e no crescimento da cidade. Aos pés da colina onde ela foi fundada, houve um porto às margens do Tamanduateí que serviu a região comercial em torno da rua 25 de Março. A única lembrança que restou dele é a ladeira batizada de Porto Geral.

Foi perto das margens do Tamanduateí que se construiu a ferrovia Santos-Jundiaí no século 19. As terras baixas nas proximidades do rio eram baratas. Por isso, receberam os trilhos que ligaram o porto de Santos ao interior do Estado.

Como eram baratas e passaram a contar com a ferrovia, também atraíram indústrias e favoreceram o surgimento de bairros operários. Processo similar aconteceu nas terras baixas à beira do Tietê.

Alguns paradoxos foram surgindo. Ao mesmo tempo em que precisavam dos rios como fonte de água, as fábricas escoavam para eles seus dejetos. Aos poucos, rios e córregos viraram sinônimos de esgoto. E os bairros erguidos nas áreas próximas aos rios sofriam com o mau cheio destes e com as inundações.

O medo da água deu força à ideia de que era necessário domá-las. Não há, no entanto, volume de obras capaz de fazer a cidade livrar-se totalmente das enchentes em períodos de chuva, quando os rios voltam a dar as caras e a reocupar temporariamente áreas que correspondiam a seus leitos e várzeas. As águas sobrevivem -- inclusive no nome de bairros: Água Branca, Água Fria, Água Funda, Água Rasa, Ponte Rasa, Interlagos, Rio Pequeno, Vila Nova Cachoeirinha.

Por outro lado, a região metropolitana também enfrenta períodos de seca, e a cidade que pulsa sobre a água, volta e meia, sofre com a falta dela.

Era uma vez um rio com sete voltas
Perto da colina onde a vila de São Paulo de Piratininga foi fundada no século 16, o rio Tamanduateí, afluente do Tietê, era tão sinuoso que ganhou um nome a mais: Sete Voltas. Piratininga, aliás, significa peixe seco em tupi-guarani, uma referência aos peixes que morriam na várzea depois da cheia.

A paisagem começou a mudar no século 19. Segundo Janes Jorge, professor de história na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), São Paulo passou a mexer nos rios e a retificá-los por uma questão sanitária – para combater enchentes e a estagnação das águas -, mas logo o mercado imobiliário colocou sua força no processo.

"Os rios retificados produziriam mais salubridade. Além disso, a retificação liberava espaço para o mercado de terras. No século 20, esses dois motivos permaneceram. Uma parte do espaço retirado dos rios pelas retificações foi parar no mercado de terras, outra parte foi ocupada pelas avenidas", afirma o pesquisador.

"A proposta de tapar córregos também tinha relação com a salubridade e cada vez mais com a criação de espaço para uso urbano. Nesse caso, as grandes avenidas passaram a correr sobre os córregos sepultados."

O primeiro tamponamento, comenta Janes Jorge, aconteceu já no século 20, em 1906, quando o Anhangabaú passou a correr oculto no vale a oeste da colina central onde São Paulo foi fundada.

RIOS PARA CARROS
1963 - Túnel do Anhangabaú
De acordo com o professor da Unifesp, o processo de domar e esconder os rios ganhou na década de 1940 um "ritmo avassalador que perdurou por todo o século 20". Um grande impulso para a aceleração do processo foi a atuação do engenheiro Prestes Maia, prefeito nomeado da cidade de 1938 a 1945, durante a ditadura do Estado Novo.

Em 1930, Maia havia publicado o "Plano de Avenidas", um estudo para nortear o crescimento da cidade que influenciou a administração municipal mesmo depois da gestão do engenheiro.

Obras de retificação do Tietê em abril de 1941; seus meandros também desapareceram
Segundo Bartalini, o auge das canalizações e transformação de fundos de vale em avenidas aconteceu nos anos 70 e 80. Era, segundo o pesquisador da USP, uma política deliberada da prefeitura. "A principal causa da retificação e do tamponamento foi a estrutura viária, a construção de avenidas", diz o urbanista.

"Num terreno acidentado como o nosso, qual o melhor caminho para passar os carros? É ao longo das linhas de água, que são eixos de maior fluidez possível. Tráfego é um fluído tanto quanto a água. Os carros buscam a mesma lógica dos caminhos da água", frisa o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, a respeito do processo histórico.

1958 - Rua da Cantareira
Na maioria dos casos, as avenidas não guardam sequer resquícios de que por baixo delas correm rios. Para Bartalini, os projetos das vias ignoraram completamente o potencial dos cursos d'água. "Seria possível termos parques associados a avenidas em fundos de vale. É questão de desenho. O rio faz parte do imaginário e da memória. É equipamento e referência urbana, pode usado para o lazer. Se os planos tivessem atentado para isso, os rios ocupariam um lugar de afetividade, e os moradores ajudariam a mantê-los." Fonte: @ZR, UOL - 25/02/2016

Comentário:
A cidade surgiu como Colégio de São Paulo de Piratininga em 25 de janeiro de 1554 no alto de uma colina escarpada, entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí.
Sua fundação marca o início histórico da futura metrópole. Entretanto, a fundação do Colégio não representou a fundação da Cidade de São Paulo, o que aconteceu somente em 1711.

A cidade de São Paulo começou a se transformar radicalmente a partir de fins do século XIX. Ponto de articulação do território paulista, integrou-se ao complexo agroexportador cafeeiro como centro financeiro, mercantil e ferroviário, o que desencadeou um intenso crescimento demográfico: a cidade, que em 1872 possuía 31 mil habitantes, passou a contar 239 mil em 1900. No ano de 1920, quando São Paulo já se consolidara como importante polo industrial do país, eram 579 mil os moradores da capital paulista, número que em 1940 atingiria a marca de 1.326.261 pessoas. Hoje com população de 11,32 milhões

São Paulo sempre conheceu os transbordamentos dos seus rios e córregos na época das chuvas desde a época de sua fundação. Até fins do século XIX, o núcleo central paulistano, no alto de uma colina, ficava em meio às várzeas alagadas dos rios Tietê e Tamanduateí. As cheias causavam alguns inconvenientes, como bloquear caminhos mais curtos para certas localidades, mas, esperadas como as estações do ano, não provocavam grandes tragédias na cidade que evitava ocupar baixadas e várzeas.

A explosão demográfica, a especulação imobiliária e o desejo de segregação por parte das camadas privilegiadas locais deram início à incontrolável expansão da mancha urbana, que ao mesmo tempo em que engolia as áreas rurais paulistanas, mantinha em seu interior enormes vazios e terrenos ociosos à espera de valorização imobiliária. Surgiram bairros burgueses exclusivos, regiões predominantemente industriais ou comerciais, e, ao povo, relegou-se a periferia distante ou as terras baixas junto aos rios e córregos, numerosos na cidade.

A partir da década de 1920, as enchentes ampliaram seu efeito perturbador sobre o espaço urbano.

Em 1926, o renomado engenheiro-sanitarista Saturnino de Brito lembrava em sua obra Melhoramentos do Rio Tietê em São Paulo que as cheias nem sempre eram prejudicais aos humanos, sendo bastante conhecidos “seus efeitos benefícios para a lavoura, devido à fertilização natural que em certas condições pode ocorrer, como ilustra o famoso caso do Nilo, mas também o da Normandia e outras localidades, inclusive no Brasil, com destaque para Amazonas e Mato Grosso.” Para que as inundações fossem tidas como nocivas, era preciso “que o homem insista em querer ocupar as várzeas inundáveis, ou que as enchentes diluvianas invadam localidades habitadas e nunca dantes inundadas.”  Fonte: Revista Histórica - Artigo publicado na edição nº 47 de Abril de 2011.

Fatores que contribuem para inundação:
■ A interferência humana sobre os cursos d'água, provocando enchentes e inundações, ocorre das mais diversas formas, mas quase sempre, essa questão está ligada ao mau uso do espaço urbano.
■ Ocupação irregular ou desordenada do espaço geográfico

■ Impermeabilização do solo. Com a pavimentação das ruas e a impermeabilização de quintais e calçadas, a maior parte da água, que deveria infiltrar no solo, escorre na superfície, provocando o aumento das enxurradas e a elevação dos rios. Além disso, a impermeabilização contribui para a elevação da velocidade desse escoamento, provocando erosões e causando outros tipos de desastres ambientais urbanos.

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posted by ACCA@7:00 AM