Cidade de São Paulo tem mais de 200 rios
A grande enchente de 1929
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Há os casos do rio Verde e do Água Preta, que serpenteiam
por baixo de bairros da zona oeste. E há muitos tampados por avenidas, como o
Saracura (que nasce próximo ao Museu de Arte de São Paulo e à avenida
Paulista), o Itororó e o Pacaembu, na região central. "Os rios continuam
vivos apesar de estarem tampados e misturados com esgoto", diz o geógrafo
Luiz de Campos Jr., um dos criadores da iniciativa Rios e Ruas, que busca os
cursos d'água esquecidos pela cidade.
Há também os que sumiram completamente do mapa, soterrados
pela urbanização, como o ribeirão do Bixiga, na região central da cidade. Por
cima de um trecho dele, construiu-se o prédio da Câmara Municipal de São Paulo,
lembra o arquiteto e urbanista Vladimir Bartalini, professor da USP
(Universidade de São Paulo).
A grande enchente de 1929
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RIOS FAVORECERAM O CRESCIMENTO E APANHARAM DELE
Os rios tiveram grande importância no surgimento e no
crescimento da cidade. Aos pés da colina onde ela foi fundada, houve um porto
às margens do Tamanduateí que serviu a região comercial em torno da rua 25 de
Março. A única lembrança que restou dele é a ladeira batizada de Porto Geral.
Foi perto das margens do Tamanduateí que se construiu a
ferrovia Santos-Jundiaí no século 19. As terras baixas nas proximidades do rio
eram baratas. Por isso, receberam os trilhos que ligaram o porto de Santos ao
interior do Estado.
Como eram baratas e passaram a contar com a ferrovia, também
atraíram indústrias e favoreceram o surgimento de bairros operários. Processo
similar aconteceu nas terras baixas à beira do Tietê.
Alguns paradoxos foram surgindo. Ao mesmo tempo em que
precisavam dos rios como fonte de água, as fábricas escoavam para eles seus
dejetos. Aos poucos, rios e córregos viraram sinônimos de esgoto. E os bairros
erguidos nas áreas próximas aos rios sofriam com o mau cheio destes e com as
inundações.
O medo da água deu força à ideia de que era necessário
domá-las. Não há, no entanto, volume de obras capaz de fazer a cidade livrar-se
totalmente das enchentes em períodos de chuva, quando os rios voltam a dar as
caras e a reocupar temporariamente áreas que correspondiam a seus leitos e
várzeas. As águas sobrevivem -- inclusive no nome de bairros: Água Branca, Água
Fria, Água Funda, Água Rasa, Ponte Rasa, Interlagos, Rio Pequeno, Vila Nova
Cachoeirinha.
Por outro lado, a região metropolitana também enfrenta
períodos de seca, e a cidade que pulsa sobre a água, volta e meia, sofre com a
falta dela.
Era uma vez um rio com sete voltas
Perto da colina onde a vila de São Paulo de Piratininga foi
fundada no século 16, o rio Tamanduateí, afluente do Tietê, era tão sinuoso que
ganhou um nome a mais: Sete Voltas. Piratininga, aliás, significa peixe seco em
tupi-guarani, uma referência aos peixes que morriam na várzea depois da cheia.
A paisagem começou a mudar no século 19. Segundo Janes
Jorge, professor de história na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
São Paulo passou a mexer nos rios e a retificá-los por uma questão sanitária –
para combater enchentes e a estagnação das águas -, mas logo o mercado
imobiliário colocou sua força no processo.
"Os rios retificados produziriam mais salubridade. Além
disso, a retificação liberava espaço para o mercado de terras. No século 20,
esses dois motivos permaneceram. Uma parte do espaço retirado dos rios pelas
retificações foi parar no mercado de terras, outra parte foi ocupada pelas
avenidas", afirma o pesquisador.
"A proposta de tapar córregos também tinha relação com
a salubridade e cada vez mais com a criação de espaço para uso urbano. Nesse
caso, as grandes avenidas passaram a correr sobre os córregos sepultados."
O primeiro tamponamento, comenta Janes Jorge, aconteceu já
no século 20, em 1906, quando o Anhangabaú passou a correr oculto no vale a
oeste da colina central onde São Paulo foi fundada.
RIOS PARA CARROS
1963 - Túnel do Anhangabaú |
Em 1930, Maia havia publicado o "Plano de
Avenidas", um estudo para nortear o crescimento da cidade que influenciou
a administração municipal mesmo depois da gestão do engenheiro.
Obras de retificação do Tietê em abril de 1941; seus
meandros também desapareceram
Segundo Bartalini, o auge das canalizações e transformação
de fundos de vale em avenidas aconteceu nos anos 70 e 80. Era, segundo o
pesquisador da USP, uma política deliberada da prefeitura. "A principal
causa da retificação e do tamponamento foi a estrutura viária, a construção de
avenidas", diz o urbanista.
"Num terreno acidentado como o nosso, qual o melhor
caminho para passar os carros? É ao longo das linhas de água, que são eixos de
maior fluidez possível. Tráfego é um fluído tanto quanto a água. Os carros
buscam a mesma lógica dos caminhos da água", frisa o secretário municipal
de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, a respeito do processo
histórico.
1958 - Rua da Cantareira |
Comentário:
A cidade surgiu como Colégio de São Paulo de Piratininga em
25 de janeiro de 1554 no alto de uma colina escarpada, entre os rios Anhangabaú
e Tamanduateí.
Sua fundação marca o início histórico da futura metrópole.
Entretanto, a fundação do Colégio não representou a fundação da Cidade de São
Paulo, o que aconteceu somente em 1711.
A cidade de São Paulo começou a se transformar radicalmente
a partir de fins do século XIX. Ponto de articulação do território paulista,
integrou-se ao complexo agroexportador cafeeiro como centro financeiro,
mercantil e ferroviário, o que desencadeou um intenso crescimento demográfico:
a cidade, que em 1872 possuía 31 mil habitantes, passou a contar 239 mil em
1900. No ano de 1920, quando São Paulo já se consolidara como importante polo
industrial do país, eram 579 mil os moradores da capital paulista, número que
em 1940 atingiria a marca de 1.326.261 pessoas. Hoje com população de 11,32
milhões
São Paulo sempre conheceu os transbordamentos dos seus rios
e córregos na época das chuvas desde a época de sua fundação. Até fins do
século XIX, o núcleo central paulistano, no alto de uma colina, ficava em meio
às várzeas alagadas dos rios Tietê e Tamanduateí. As cheias causavam alguns
inconvenientes, como bloquear caminhos mais curtos para certas localidades,
mas, esperadas como as estações do ano, não provocavam grandes tragédias na
cidade que evitava ocupar baixadas e várzeas.
A explosão demográfica, a especulação imobiliária e o desejo
de segregação por parte das camadas privilegiadas locais deram início à
incontrolável expansão da mancha urbana, que ao mesmo tempo em que engolia as
áreas rurais paulistanas, mantinha em seu interior enormes vazios e terrenos
ociosos à espera de valorização imobiliária. Surgiram bairros burgueses
exclusivos, regiões predominantemente industriais ou comerciais, e, ao povo,
relegou-se a periferia distante ou as terras baixas junto aos rios e córregos,
numerosos na cidade.
A partir da década de 1920, as enchentes ampliaram seu
efeito perturbador sobre o espaço urbano.
Em 1926, o renomado engenheiro-sanitarista Saturnino de
Brito lembrava em sua obra Melhoramentos do Rio Tietê em São Paulo que as
cheias nem sempre eram prejudicais aos humanos, sendo bastante conhecidos “seus
efeitos benefícios para a lavoura, devido à fertilização natural que em certas
condições pode ocorrer, como ilustra o famoso caso do Nilo, mas também o da
Normandia e outras localidades, inclusive no Brasil, com destaque para Amazonas
e Mato Grosso.” Para que as inundações
fossem tidas como nocivas, era preciso “que o homem insista em querer ocupar as
várzeas inundáveis, ou que as enchentes diluvianas invadam localidades
habitadas e nunca dantes inundadas.” Fonte: Revista Histórica - Artigo publicado na
edição nº 47 de Abril de 2011.
Fatores que contribuem para inundação:
■ A interferência humana sobre os cursos d'água, provocando
enchentes e inundações, ocorre das mais diversas formas, mas quase sempre, essa
questão está ligada ao mau uso do espaço urbano.
■ Ocupação irregular ou desordenada do espaço geográfico
■ Impermeabilização do solo. Com a pavimentação das ruas e a
impermeabilização de quintais e calçadas, a maior parte da água, que deveria
infiltrar no solo, escorre na superfície, provocando o aumento das enxurradas e
a elevação dos rios. Além disso, a impermeabilização contribui para a elevação
da velocidade desse escoamento, provocando erosões e causando outros tipos de
desastres ambientais urbanos.
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Marcadores: alagamento, enchente, inundação
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