Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Caminhão destrói passarela na Turquia

Um caminhão com a caçamba levantada destruiu uma passarela para pedestres em Istambul, Turquia. As imagens foram gravadas por uma câmera de segurança e liberadas pela polícia. No momento do acidente várias pessoas passavam na passarela, nota-se no vídeo. Algumas ficaram feridas. Segundo o motorista, a caçamba levantou sozinha e ele não percebeu.
Nota-se que no vídeo que alguns carros continuavam a passar sob a passarela que ainda caía escombros e a pista quase totalmente obstruída.

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sábado, janeiro 23, 2010

EUA alertam para risco da substância bisfenol A

O bisfenol-A está presente em latas de refrigerante, embalagens plásticas de alimentos e em brinquedos - e, agora, voltou à mira do governo americano. A Administração de Remédios e Alimentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) se arrependeu da decisão tomada em 2008 de considerar o bisfenol A livre de riscos. E vai gastar US$ 30 milhões para descobrir se o bisfenol A (BPA), muito usado pela indústria, pode causar câncer, doenças cardíacas e alterações hormonais, como já indicaram estudos.

EUA e Brasil não impõem restrições
Enquanto a suspeita não é comprovada, a FDA tenta apertar o controle sobre o seu uso pela indústria, inclusive classificando-a como "substância em contato com alimentos". como nos EUA, o Brasil não impõe restrições ao uso do bisfenol.

O bisfenol A é;
■ um desregulador endócrino, tendo participação em problemas de tireóide e obesidade.
■ é muito perigoso à fertilidade humana, e sua ingestão pode, a longo prazo, alterar os cromossomos.

Nos EUA, o Instituto Nacional de Ciências para a Saúde e Meio Ambiente aumenta a lista de alertas sobre a substância, vinculando sua presença a mudanças de comportamento, diabetes, câncer, asma e doenças cardíacas. E os efeitos do BPA ainda seriam transmitidos aos filhos de pessoas contaminadas.

Fonte: Globo Online – 19 de janeiro de 2010

Artigos já publicados sobre o assunto
http://zonaderisco.blogspot.com/2008/07/canad-probe-bisfenol-em-mamadeiras-e.html
http://zonaderisco.blogspot.com/2007/02/bisfenol-estudo-liga-plstico-doenas.html
http://zonaderisco.blogspot.com/2007/02/especialistas-avaliaro-os-possveis.html

Comentário:
Tudo o que comemos ou bebemos está coberto em plástico. O plástico embala comidas rápidas, guarda a água e alimenta bebês. Mas ele é um problema para a nossa saúde?

O bisfenol é usado há quase 50 anos na fabricação de garrafas de plástico rígida, revestimento de embalagens alimentícias e latas de bebida. Até recentemente a substância era encontrada em mamadeiras. Segundo especialistas, recipientes com BPA na sua composição devem ser jogados fora se estiverem riscados, pois a substância pode escapar por esses arranhões, e não devem receber líquidos muito quentes. Deve-se também verificar no rótulo se elas podem ser levadas ao microondas. Eles também recomendam que as mães amamentem seus filhos por um ano, porque as fórmulas infantis têm contato com a substância.

Plástico e o bisfenol
Três fatores importantes devem ser verdadeiros para que um plástico possa causar problemas. Primeiramente, ele precisa ter algum ingrediente prejudicial em sua composição. Em segundo, a substância prejudicial precisa se desprender do plástico para entrar no seu organismo. E em terceiro, é necessária quantidade suficiente desta substância para causar danos em você.
Policarbonato, um tipo de plástico, possui pelo menos dois destes três critérios danosos. Ele contém um biosfenol A, (BPA, na sigla em inglês) e estudos mostraram que o BPA pode migrar do plástico para os alimentos e bebidas e, em seguida, para o seu corpo.
BPA é a molécula que mantém os ingredientes do plástico juntos. Mas em parte do policarbonato, nem todo o BPA se liga ao plástico. É esse BPA solto que se liga aos alimentos e bebidas que estão embalados em policarbonato e penetra no seu corpo.

O BPA migra para os alimentos vindos de garrafas de plástico de policarbonato ou de camadas de resina epóxi que forram as comidas enlatadas. Um adulto típico ingere aproximadamente 1 micrograma de BPA para cada quilo de massa corporal. Bebês que usam garrafas de policarbonato ou consomem leite industrializado ingerem mais, aproximadamente 10 microgramas por quilo de massa corporal. .
Praticamente qualquer produto enlatado, até mesmo os rotulados como orgânicos, têm uma cobertura de BPA.
A substância não é usada em alimentos, mas pode contaminá-los, por exemplo, quando se bebe café em um copo de plástico, ou quando uma criança encosta um brinquedo (o bisfenol é usado para fabricá-los) na boca. Os efeitos do BPA podem ser transmitidos aos filhos de pessoas contaminadas. A FDA ainda está pesquisando o potencial do contágio, mas um estudo, dentre os muitos sobre o assunto, feito com 2 mil pessoas, mostrou que 90% delas tinham BPA na urina. Também foram encontrados resquícios no leite materno e no sangue do cordão umbilical. É realmente preocupante. Enquanto isso, as empresas fabricantes do BPA defendem, a segurança da substância. Fonte: HypeScience e The New York Times

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terça-feira, janeiro 19, 2010

Incêndio no Centro de Distribuição da Gradiente

Em 19 de março de 2002, por volta das 17 horas, começou um incêndio no Centro de Distribuição da Gradiente, na avenida Tamboré, em Barueri.

Propagação do fogo
As chamas se espalharam rapidamente em razão do vento forte. Os trabalhos dos bombeiros se concentraram, principalmente, em isolar o fogo, já que havia o risco de ele se espalhar para outras empresas vizinhas.


Causa do incêndio
As causas do incêndio ainda são desconhecidas. Segundo informações, de um funcionário da empresa teria visto as primeiras chamas saírem do bocal de uma lâmpada. A hipótese de curto‑circuito, porém, ainda não foi confirmada.


Testemunhas
Testemunhas disseram que os cerca de 30 funcionários que trabalham no local saíram rapidamente assim que avistaram a fumaça.
Perda total do depósito
O depósito de 13 mil metros quadrados, foi completamente destruído pelas chamas.
Mercadorias
De acordo com informações da Gradiente, o depósito estava lotado de aparelhos de som, DVDs, televisores, telefones e computadores.

Vítimas
Não há registro de mortos ou feridos.

Corpo de Bombeiros
Aproximadamente 70 homens e 25 veículos do Corpo de Bombeiros (Cobom) de São Paulo, Osasco e Barueri, da Brigada de Incêndio da empresa e um helicóptero da Polícia Militar participaram da operação para a contenção das chamas.
Dezenas de caminhões pipas reforçaram o abastecimento de água para os bombeiros, cerca de 200.000 litros
Controle do incêndio
As chamas, que começaram por volta das 17 h, foram controladas cerca de três horas depois.
Comunicado da Gradiente
Informamos que o incêndio ocorrido na terça-feira (19/03) no Centro de Distribuição da Gradiente localizado em Barueri, São Paulo, causou apenas danos materiais e, felizmente, não atingiu nenhum de nossos colaboradores.
Nossos esforços se concentram em restabelecer, com a agilidade que a Gradiente sempre demonstrou, o processo de distribuição de nossos produtos. Já estamos operando em um novo Centro de Distribuição, para continuar abastecendo a rede de revendedores e postos de assistência técnica em todo o País. Ressaltamos que grande parte do estoque de produtos encontra-se em trânsito ou nas fábricas localizadas em Manaus, que continuam operando normalmente.
O Centro de Distribuição que abrigava os produtos Gradiente está totalmente segurado. Além disso, a empresa cumpre rigorosamente todas as normas de segurança, obedecendo às determinações do Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis) e do Corpo de Bombeiros.

Logística da Gradiente pós-incendio
A Prologística, empresa do Grupo GPT Participações e Empreendimentos, vai cuidar por tempo indeterminado da armazenagem dos produtos eletroeletrônicos da Gradiente, que no dia 19.03, teve seu centro de distribuição, localizado em Barueri (SP), destruído por um incêndio.
O depósito da Prologística, com 20 mil metros quadrados, fica na rodovia Castelo Branco, a 4 km do centro de distribuição, de 13 mil metros quadrados, destruído pelo fogo.
A Gradiente Eletrônica, não especificou o montante dos danos materiais, nem o estoque que mantinha no prédio (alugado). "Grande parte do estoque de produtos encontra-se em trânsito ou nas fábricas localizadas em Manaus, que continuam operando normalmente", informou a empresa, acrescentando que o centro de distribuição "que abrigava os produtos está totalmente segurado."
Os eletroeletrônicos montados nas três fábricas da Gradiente localizadas em Manaus (AM) e desde do dia 20.03, estão armazenados na área da Prologística e são movimentados por três modalidades: aérea, rodofluvial e cabotagem. É uma das operações que mais envolvem intermodalidade.
Duas empresas do grupo GPT movimentam 80% dos eletroeletrônicos montados pela Gradiente. Uma delas é a Beta, dona de quatro aviões cargueiros. Outra é a Tecnocargo, que cuida do rodofluvial e da cabotagem.
"As cargas aéreas são as de maior valor agregado", disse Antônio Augusto Morato Leite presidente do grupo, que acrescenta: "Do volume que transportamos para a empresa, cerca de 10% é por avião, 20% é via cabotagem e o restante por rodofluvial." Além de controlar integralmente sete empresas, o grupo GPT participa, como acionista (50%) da administração do aeroporto de Cabo Frio (RJ).

Seguro
A Unibanco AIG confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, ser a seguradora líder na cobertura do depósito da Gradiente atingido, mas não forneceu detalhes como o valor da apólice ou a distribuição do risco entre outras seguradoras.

Gradiente
Classificado como o 130o maior grupo em patrimônio líquido no ranking da revista Balanço Anual, a Gradiente teve no ano 2000 uma receita operacional líquida de R$ 475,2 milhões (250 milhões de dólares), registrando lucro líquido de R$ 67,1 milhões (35 milhões de dólares).
O grupo, em 1999, teve uma receita de R$ 1,06 bilhão (590 milhões de dólares), e lucro de R$ 24,7 milhões (13,7 milhões de dólares). A redução de receita, em parte, é atribuída à venda de 49% de sua participação na fábrica de telefones celulares à finlandesa Nokia, que assim passou a controlar integralmente o negócio, com fábrica instalada na Zona Franca de Manaus. Em 1998, o grupo Gradiente teve uma receita de R$ 885,6 milhões (731 milhões de dólares) e um prejuízo de R$ 8,9 milhões (7,36 milhões de dólares).
O grupo Gradiente tem seu controle acionário distribuído entre os seguintes sócios: NPG Administração e Participações, com 62%; Res. Administração e Participações, com 15%. Outros 14% estão nas mãos de dois sócios individuais, Richard Jesse Staub (10%) e Eugênio Emílio Staub, 4%.

Fonte: Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Diário Grande ABC, Gazeta Mercantil, no período de 19 de Março a 23 de Março de 2002.

Comentário:

Componentes plásticos presentes no incêndio
Liberação de gases no incêndio
Os plásticos quando queimam liberam uma grande quantidade de gases tóxicos, com compostos de cloro, bromo e outros sais metálicos, os quais, no caso de combate a um incêndio, as pessoas envolvidas ou usuários podem sofrer intoxicação. A intoxicação respiratória é a principal causa de vitimas fatais ou não de incêndios.

Queimando PVC
O PVC (cloreto de polivinila) - conhecido simplesmente como “vinil” – é um dos materiais plásticos mais versáteis utilizados atualmente na sociedade moderna. O PVC é o mais perigoso, por criar problemas ambientais em todo o seu ciclo de vida: durante a sua produção, devida a utilização de grandes quantidades de substâncias tóxicas; durante seu uso, devido à migração de aditivos tóxicos; e durante a sua queima emitindo substâncias tóxicas, tais como dioxinas e furanos.
Liberações durante combustão são particularmente tóxicas, quando se trata de resíduo de PVC.
Queimas de resíduos de PVC são comuns em virtude do alto grau de pirólise e combustão do plástico. O potencial tóxico desta queima é extremamente elevado, visto que a combustão de PVC, gera fumaça e resíduos com uma gama preocupante de contaminantes, tais como metais pesados, aditivos e dioxinas.
As principais constatações dos estudos com PVC são: queima de 1 kg de PVC causa na maioria dos casos a formação de mais de 1 kg de resíduos perigosos.

Temperatura nas quais os danos começam a ocorrer em componentes eletrônicos
Equipamento eletrônico (microprocessador)- 79 C
Disquetes, fitas magnéticas- 37 C a 49 C
Disco- 66 C

Gestão de Riscos
Uma empresa média perderá 0,45% de suas vendas brutas, por dia de interrupção. No caso de um centro de logística, para a empresa repor os estoques integralmente, gastará no mínimo 10 dias, dependendo da distancia das fábricas (Manaus- via terrestre, 10 dias e por via aérea, 1 dia).
Podemos indagar, por que motivo algumas empresas ocorrem desastres e outras não? Seria simplesmente fatalidade ou sucesso na definição clara de uma política de prevenção? De forma simplista, a diferença entre ganhar ou perder em um desastre é normalmente a presença ou ausência da capacidade de gerenciar a política de prevenção.
As empresas que planejam a possibilidade de um desastre, que formulam estratégia para recuperação ou de funções críticas e que treinam os empregados para executarem essas estratégias geralmente sobrevivem a desastres.
Atualmente é comum, após um desastre, a empresa anuncia comunicado público, declarando que a empresa cumpre as normas de segurança. Mas cumprir a norma de segurança é a condição necessária e suficiente para fazer face ao desastre?
Mas que tipo de norma? Seria a norma para atender as condições ou requisitos técnicos para funcionamento da empresa? Ou através da implantação de uma política prevencionista, em que a norma é discutida sobre os aspectos estáticos (requisitos) e aspectos dinâmicos (peculiaridade do risco) onde a exigência de proteção ao risco, poderá estar acima da exigência da norma padrão, pois a discussão é feita sobre os fatores dinâmicos que envolvem os riscos (busca da qualidade da norma, que enquadra a proteção).
Na essência, quando uma empresa não tem um plano que foi testado para reagir e recuperar de um desastre, muito provável a empresa coloca em risco todos os seus outros planos e objetivos.

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quinta-feira, janeiro 14, 2010

Lembranças da Vila Socó, ontem e hoje

Na madrugada de 24 de fevereiro de 1984, um forte cheiro de gasolina assustou aos moradores da Vila Socó, uma favela formada por barracos de palafitas suspensos sobre uma área de mangue, em Cubatão-SP. Um duto de gasolina da Petrobrás que passa em baixo da Vila Socó iniciou um grande vazamento, jorrando 700.000 litros de gasolina que se alastraram por toda área alagada. Bastava uma fagulha para que tudo ardesse em chamas.E foi o que aconteceu.

Causa provável:
Vazamento de 700 mil litros de gasolina de um dos dutos que atravessam a Vila Socó. O combustível misturou-se com a água do mangue sob as casas de palafitas. Uma faísca provocada por fósforo ou curto circuito em fio elétrico pôs fogo à mistura de água com combustível. As chamas chegaram rapidamente ao oleoduto e provocaram a explosão.

Relato da tragédia
Onilda Gomes de Albuquerque Oliveira, uma das moradoras do local e sobrevivente da tragédia:
Pela uma hora da manhã, meu vizinho me acordou. Nós estávamos sentindo um cheiro de gasolina, mas não nos preocupamos, era costume essas fábricas soltarem sempre muitos gases à noite. Era muita poluição. Saímos para rua; eu, meu marido e meus filhos e fomos conversar com um policial. Quando ele acaba de afirmar "- Não senhora, não tem perigo, já está tudo sobre controle."
Vimos uma explosão subindo no céu. Não deu tempo para pôr camiseta nem nada, a gente não sabia para onde ir. Eu só lembrei dos meus filhos. O policial não conseguia sair do lugar, olhava para o fogo paralisado.
Os vizinhos saíram correndo, deixando tudo. Quanto mais você corria, mais parecia que a quentura estava nas suas costas e você não conseguia nem olhar pra trás. Gente sendo pisada, empurrada, na ponte de palafita. Uma senhora sendo pisoteada, ninguém ajudava porque só queriam sair dali.
Gente saindo correndo, desesperada, um alvoroço e aquela fumaça preta subindo. Fomos até parar na Cota (bairro na encosta da Serra do Mar), porque não sabíamos para onde ir, estava tudo explodindo. Uma coisa muito triste.
Boa parte das pessoas não conseguiu escapar, porque ao invés de virem atrás da gente, deram a volta pelo lado contrário, aí caíram na maré. Quando vimos os corpos de animais queimados, era como se a gente tivesse vendo alguém da nossa família, porque não dava para saber se eram seres humanos ou não.
Depois que as pessoas começaram a mexer é que a gente conseguia ver que era um porco, um cachorro, essas coisas, e, do outro lado, tinham as pessoas que estavam muito, mas muito queimadas.

Geraldo de Jesus Guedes, de 41 anos, viu o incêndio de perto.
"Corri mais de três quilômetros para fugir do fogo", disse. Para Guedes, morreram pelo menos mil pessoas. "Muitos não tinham documentos. O fogo queimou tudo e não foi possível provar nada", diz.

Dados oficiais
93 mortos e mais de 4.000 feridos

Dados extra-oficiais
Mais de 500 pessoas morreram na tragédia de Vila Socó, em Cubatão, o que significa se tratar do maior número de mortes em um único episódio, nos últimos anos, em todo o mundo.
Os números da tragédia de 25 de fevereiro de 1984 foram liberados pelos promotores Marcos Ribeiro de Freitas e José Carlos Pedreira Passo, com base nos laudos periciais elaborados pelo Instituto Médico Legal de Santos, e faz parte do relatório do Inquérito policial, presidido pelo delegado Antônio Hussemann Guimarães..

Na primeira hipótese
Foram 508 mortos, calculados da seguinte forma: 86 óbitos documentados, com encontro de cadáver, mais um número estimado de 300 crianças de zero a três anos de idade, mais 122 crianças de 3 a 6 anos.

Num segundo caso,
Seriam 631 os mortos na tragédia, considerando-se os mesmos 86 óbitos documentados, mais as 300 crianças de zero a três anos, além de 245 crianças de 3 a 6 anos, que continuam desaparecidas (e que na primeira hipótese foram consideradas apenas como 122).

Finalmente, numa terceira hipótese,
Além das crianças de zero a seis anos, tomadas em conjunto, soma-se um número não determinado de adultos, além daqueles 86 corpos localizados (entre os localizados 22 corpos eram de crianças com idade presumida além dos sete anos de idade), o que levaria o número final a cifras não calculadas, mas que iriam além das 700 pessoas.
Além desses mortos estão registrados 27 feridos com lesões graves e outros cem, pelo menos, com lesões mais leves.
Assim, tomando-se a primeira hipótese, de 508 mortos, que é o que deverá constar dos autos do processo que se iniciará, o número total de vítimas deverá ser de 635.
A maior parte desses mortos jamais será localizada, partindo-se do princípio que o calor gerado pelo incêndio, particularmente no centro da Vila Socó, ultrapassou a mil graus de temperatura, por várias horas.
Basta comparar essa informação com aquelas colhidas pelo IML, junto ao forno crematório de Vila Alpina, em São Paulo, que para incineração total (inclusive dentes) utiliza-se de três minutos a 800 graus centígrados, mais 30 segundos a mil graus.
Ou ainda outras informações colhidas oficialmente: nenhum corpo de criança com menos de presumíveis sete anos de idade foi localizado, mesmo nas áreas periféricas do incêndio; na área central, sequer corpos de adultos foram localizados.

Indenização
Na Vila Socó, as famílias dos 93 mortos foram indenizadas, embora ninguém do lugar, nem mesmo o prefeito atual Clermont Silveira, acredite que o número de mortos foi o oficial. "Estive lá durante o incêndio como médico e vi muitos mortos", diz o prefeito.
Hoje, vida segue tranqüila sobre dutos da Petrobrás

Tragédia de 1984, em Cubatão, não provocou remoção das famílias. Mais de 18 anos depois da tragédia de Vila Socó existem pelo menos 80 famílias com moradias em cima ou a menos de 15 metros dos dutos da Petrobrás, causadores do acidente de 1984, em Cubatão, na Baixada Santista, em São Paulo.
As prefeituras de cidades-sede de terminais petrolíferos e municípios por onde passam os dutos da Transpetro, sucessora da Petrobrás na movimentação de petróleo e derivados, estão sendo notificados sobre construções irregulares na faixa de proteção dos dutos. A empresa quer retirar os moradores e pede ajuda do poder público.
O recuo mínimo determinado pela lei 6.766/79 é de 15 metros de cada um dos lados dos dutos. As áreas de risco, já identificadas por uma comissão de vereadores de Cubatão, criada para analisar o pedido da Transpetro, são a Cota 95, Pinheiro do Miranda, Vilas Noé, dos Pescadores e Curtume.
As áreas foram ocupadas irregularmente há mais de 20 anos e estão próximas a dutos e ao Terminal Marítimo da Petrobrás. .
O prefeito de Cubatão, diz que as famílias não podem continuar em áreas de risco. "O temor é grande", afirma. Entretanto, ele considera que a Petrobrás terá de indenizar as famílias. Na opinião do prefeito, cabe à empresa a responsabilidade pela fiscalização das áreas, indenização das famílias ou construção de novas casas para as pessoas morarem.

Urbanização da Vila Socó
As casas da Vila Socó, antes de palafitas, agora são de alvenaria, as ruas asfaltadas, o duto da Petrobrás foi urbanizado e a prefeitura construiu playground para crianças. Os dutos ficam a mais de 15 metros das casas.
População da Vila Socó : 5.883 moradores segundo o censo do IBGE de 1979
Fonte: Prefeitura Municipal de Cubatão

Área de Risco
Segundo a presidente da Defesa Civil de Cubatão, Lusimar da Costa Lira, mais de 18 mil pessoas moram em áreas perigosas na cidade, incluindo encostas com risco de desabamento de barracos e próximas a tubulações da Petrobrás. Segundo ela, a fiscalização, manutenção e preservação das áreas dos dutos são de responsabilidade da empresa e não do município.
Já o gerente de controle de terminais terrestres e oleodutos da Transpetro, em São Paulo, Alberto Mitsuya Shinzato, lembra a existência da lei federal 6766/79 que delega aos municípios autonomia para evitar a ocupação das áreas de risco.
Diz, contudo, que não pretende polemizar com os prefeitos e considera que a negociação para remoção das famílias vai ser "longa e complexa". Sugere que as partes envolvidas encontrem mecanismos para resolver o problema. Em nenhum momento falou em indenização das famílias.
Só na área Cota 95, mais de 30 casas estão dispostas ao longo de dois quilômetros em cima ou a menos de 15 metros dos dutos.
Estima-se que na Cota 95 vivam cerca de 800 pessoas. A rua por onde passam os dutos não tem nome: é chamada pelos moradores como "Faixa de Oleoduto".
Na área Cota 95 crianças brincavam com fogo, perto das tubulações bem embaixo das placas que alertam para a proibição de construções.

Fontes : Folha de São Paulo - São Paulo, domingo, 25 de março de 1984, Gazeta Mercantil-Cubatão, 12 de Julho de 2002, e relato do jornalista Guilherme Barros

Comentário:
Nos países em que predomina como fonte energética produtos inflamáveis (gás, óleo) os acidentes ocorrem quase todos os anos, provocando tragédias (mortes, contaminação, evacuação de população,etc).
As autoridades envolvidas com a defesa civil não estão preparadas para atuar numa emergência de desastre de grandes proporções, devido:
■ Falta de um mapa de riscos atualizado das linhas de tubulações que passam pelo Estado, que transportam produtos perigosos,
■ Número insuficiente de hospitais especializados em queimaduras em locais estratégico (os hospitais devem ter um plano de emergência para atuar nesse tipo de desastre, pois poderá receber inúmeras vítimas simultaneamente). Os hospitais deverão ser classificados para receberem as vítimas conforme a gravidade, a fim de evitar que um paciente com ferimentos leves seja enviado para um hospital especializado.
■ Número insuficiente de equipes de resgate com paramédicos para primeiros socorros.
■ O mais importante à falta de um plano de emergência para desastre em geral (elaboração, preparação e treinamento), envolvendo as autoridades responsáveis e comunidades

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terça-feira, janeiro 05, 2010

Computadores europeus envenenam crianças na África

Os cidadãos do Ocidente jogam fora milhões de computadores velhos todos os anos. Centenas de milhares deles acabam na África, onde as crianças procuram ganhar a vida vendendo peças velhas das máquinas. Mas os elementos tóxicos presentes no lixo as estão envenenando lentamente.

Segundo a Bíblia, Deus lançou uma chuva de fogo e enxofre para destruir as cidades de Sodoma e Gomorra. E as autoridades governamentais de Accra, em Gana, também passaram a chamar de "Sodoma e Gomorra" uma parte da cidade afetada por produtos tóxicos de um tipo que os moradores das cidades bíblicas jamais poderiam imaginar. Ninguém vai a esse local, a menos que isso seja absolutamente necessário.

Fumaça ácida e negra
Uma fumaça ácida e negra passa sobre os barracos da favela. As águas do rio também são pretas e viscosas como óleo usado. Elas carregam gabinetes de computador vazios para o oceano. Nas margens do rio veem-se fogueiras alimentadas por isopor e pedaços de plástico. As chamas consomem o material plástico de cabos, conectores e placas-mãe, deixando intactos apenas o metal.
Hoje há um vento que faz com que a fumaça dessas fogueiras infernais passem lentamente por sobre a terra. Respirar muito profundamente é doloroso para os pulmões, e as pessoas que alimentam as fogueiras às vezes dão a impressão de serem apenas silhuetas vagas e enevoadas.
Uma figura pequena e curvada caminha entre as fogueiras. Com uma mão, o garoto arrasta um alto-falante velho pela terra e as cinzas, puxando-o por um fio. Com a outra mão ele segura firmemente uma bolsa.
O alto-falante e a bolsa são as únicas posses do garoto, além da camiseta e as calças que ele usa. Ele tem um nome incomum: Bismarck. O garoto tem 14 anos, mas é pequeno para a idade. Bismarck vasculha a terra em busca de qualquer coisa que os garotos mais velhos possam ter deixado para trás após queimarem uma pilha de computadores. Podem ser pedaços de cabo de cobre, o motor de um disco rígido, ou peças velhas de alumínio. Os ímãs do seu alto-falante também capturam parafusos ou conectores de aço.
Bismarck joga tudo o que encontra dentro da bolsa. Quando a bolsa estiver cheia até a metade, ele poderá vender o metal e comprar um pouco de arroz, e talvez também um tomate, ou até mesmo uma coxa de galinha grelhada em uma fogueira acesa dentro do aro de um carro velho. Mas o garoto diz que hoje ainda não encontrou o suficiente. Ele desaparece novamente na fumaça.

O refugo da era da internet -
Esta área próxima a Sodoma e Gomorra é o destino final dos computadores velhos e outros produtos eletrônicos descartados de todo o mundo. Há muitos lugares como este, não só em Gana, mas também em países como Nigéria, Vietnã, Índia, China e Filipinas. Bismarck é apenas um de talvez uma centena de crianças daqui, e de milhares do mundo inteiro.

Essas crianças vivem em meio ao refugo da era da internet, e muitas delas podem morrer por causa disso. Elas desmancham computadores, quebrando telas com pedras, e a seguir jogam as peças eletrônicas internas em fogueiras. Computadores contêm grandes quantidades de metais pesados e, à medida que o plástico é queimado, as crianças inalam também fumaça cancerígena. Os computadores dos ricos estão envenenando os filhos dos pobres.

Lixo eletrônico - 50 milhões de toneladas
A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que até 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são jogadas anualmente no lixo em todo o mundo. O custo para se reciclar apropriadamente um velho monitor CRT na Alemanha é de 3,50 euros (US$ 5,30 ou R$ 9,20). Mas o envio do mesmo monitor para Gana em um contêiner de navio custa apenas 1,50 euro (R$ 3,80).

Convenção de Basiléia - tratado de papel
Um tratado internacional, a Convenção de Basileia, entrou em vigor em 1989. O tratado baseia-se em um conceito justo, proibindo os países desenvolvidos de enviarem computadores que foram para o lixo aos países subdesenvolvidos. Até o momento 172 países assinaram a convenção, mas três deles ainda não a ratificaram: Haiti, Afeganistão e Estados Unidos. Segundo estimativas da Agência de Proteção Ambiental norte-americana, cerca de 40 milhões de computadores são descartados todos os anos somente nos Estados Unidos.
Diretrizes da União Europeia com acrônimos como WEEE (sigla em inglês de Lixo de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos) e RoHS (Restrição a Substâncias Perigosas) seguiram-se à Convenção de Basileia, e países individuais transformaram-na em lei. As leis relativas à administração de lixo na Alemanha estão entre as mais estritas do mundo, e neste país o envio de computadores descartados a Gana pode dar cadeia. Em tese.

Um negócio milionário
Recentemente o governo alemão mobilizou-se para verificar como é a situação na prática. Especialistas da Agência Federal do Meio Ambiente alemã ainda estão redigindo um relatório que será divulgado nas próximas semanas, mas as conclusões já são conhecidas - há sérias brechas no sistema de reciclagem do país. Segundo o estudo, firmas de exportação da Alemanha enviam 100 mil toneladas de aparelhos elétricos descartados a cada ano para os países subdesenvolvidos, o que é bem mais do que os especialistas temiam.
"Este é um negócio milionário. Não se trata de algo que possa ser classificado como crime pequeno", afirma Knut Sander, do instituto ambiental Ökopol, com sede em Hamburgo. Ele foi o autor do estudo, que exigiu meses de pesquisas. Por causa das suas investigações ele recebeu avisos de que deveria tomar cuidado com a sua segurança.
Ele não teve que ir longe do seu escritório para observar a atividade dessa indústria de exportação. "O Porto de Hamburgo é importante", explica Sander. "Aquilo que não sai por Hamburgo é embarcado em Antuérpia ou Roterdã."
Sander descobriu negociantes pequenos que enviam contêineres esporádicos ou alguns carros velhos cheios de computadores. Às vezes há centenas desses carros no terminal de O'Swaldkai, em Hamburgo, de onde os navios saem para a África.

Remarketing disfarçado
Há também grandes empresas enviando cargas de lixo tóxico - as chamadas companhias de remarketing, que coletam centenas de milhares de eletrodomésticos velhos todos os anos. Essas companhias têm autorização para revender computadores que estejam funcionando, mas são obrigadas a reciclar as máquinas defeituosas. E algumas delas sabem muito bem quanto dinheiro podem economizar enviando esses computadores inúteis para Gana.
A tarefa de deter essa exportação de lixo deveria ficar a cargo de uns poucos funcionários da alfândega e da guarda portuária. Mas quando os agentes ocasionalmente abrem um contêiner, eles estão provavelmente pedindo para ter dores de cabeça nos tribunais. As leis não definem o que seja um computador descartado, e é legal exportar computadores usados. Só não se pode exportar as máquinas descartadas. Um computador que está quebrado, mas que talvez ainda pudesse ser consertado, pode ser considerado lixo? E quanto a um computador de 20 anos de idade, que não consegue mais rodar um único programa? Quando há dúvidas, os juízes dão ganho de causa aos exportadores.

Entrando no inferno
Bismarck só sabe que todos os computadores exalam mau-cheiro, tenham eles dez ou 20 anos de idade, e não importando se sejam fabricados pela Dell, a Apple, a IBM ou a Siemens. Quando eles queimam, a fumaça faz com que a sua cabeça e garganta doam. As cinzas pegajosas grudam em cada poro e ruga, e provocam coceiras. Manchas aparecem na pele de Bismarck, mas ele sabe que não pode coçá-las porque a poeira tóxica entraria nas feridas abertas.

Um euro por dia
Bismarck aprendeu as regras rapidamente. Existe uma hierarquia, e todo garoto pode tentar galgar essa estrutura. Os homens jovens, de cerca de 25 anos de idade, controlam as grandes balanças de ferro velho que ficam com frequências nos locais onde se podem ver marcas de pneus na cinza que cobre a terra. Quando a sacola de Bismarck fica cheia até a metade após um dia perambulando em torno das fogueiras, ele pode vender o material recolhido para esses homens por cerca de dois cedis ganenses, o equivalente a cerca de um euro ou US$ 1,50 (R$ 2,60).
Aqueles que são um pouco mais novos, com cerca de 18 anos de idade, possuem carrinhos de mão feitos com tábuas e eixos de carros velhos. Eles seguem para a cidade no início da manhã para coletarem computadores dos importadores de refugo e trazem o material de volta para a favela. Eles quebram os computadores e retiram os cabos, e depois jogam o que restou nas fogueiras ou vendem esse resíduos para garotos um pouco mais novos.
São principalmente esses garotos que carregam os montes de cabos plástico para serem queimados nas fogueiras.

Encolhendo o cérebro - substâncias tóxicas
Um grupo de indivíduos brancos veio até à área de ferro velho, o que é raro. Eles eram do Greenpeace. Um homem usava luvas e carregava pequenos tubos de ensaio. Ele coletou amostras da lama de um dos lagos formados pelo rio, e depois cinza e solo de vários locais diferentes na área.
O químico analisou as amostras quando voltou para casa, na Inglaterra, e os valores que obteve não foram bons. Ele descobriu concentrações elevadas de chumbo, cádmio e arsênico, bem como de dioxinas, furanos e bifenis policlorados.
O chumbo, para tomar como exemplo apenas um dos produtos químicos perigosos, provoca dores de cabeça e estomacais após uma breve exposição. No longo prazo, ele danifica o sistema nervoso, os rins, o sangue e especialmente o cérebro. Quando uma criança ingere chumbo através da água ou por inalação, o seu cérebro encolhe ligeiramente e a sua inteligência diminui. Cientistas da Alemanha ficam preocupados quando descobrem concentrações acima de um limite de 0,5 miligramas de pó de chumbo por metro cúbico de ar. O tubo de raios catódicos de um único monitor de computador contém cerca de 1,5 quilograma de chumbo. Muitas das outras substâncias encontradas pelos químicos no local também provocam câncer, entre outras doenças.

Contra-atacando
Mike Anane, um ativista ambiental e coordenador local da organização internacional de direitos humanos FIAN, trouxe os membros do Greenpeace para cá. Anane nasceu aqui há 46 anos, bem ao lado de onde hoje em dia se situa Agbogbloshie. Naquela época, as margens dos rios eram repletas de prados verdes e de flamingos, e os pescadores tiravam o seu sustento do rio. Agora não existe vida nessas águas.
Oito anos atrás, Anane começou a perceber a chegada de uma quantidade cada vez maior de caminhões em Agbogbloshie, com as carrocerias repletas de computadores. Ele observou a situação de perto e passou a contra-atacar aquilo que viu. Anane coleta adesivos de procedência de vários computadores descartados para descobrir de quem são os venenos queimados aqui. Ele possui adesivos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, de autoridades britânicas e de companhias como o Banco Barclays e a British Telecom. "Algumas crianças daqui não chegarão aos 25 anos de idade", acredita Anane.

Ele sabe, porém, que as companhias e organizações cujos selos chegam aqui juntamente com os equipamentos descartados não são os agentes que de fato trazem esse lixo para o seu país. As pessoas diretamente envolvidas são comerciantes, como Michael Ninicyi, diretor da Kofi Enterprise. A Kofi Enterprise é uma pequena loja repleta de computadores.

"Este negócio é bom para Gana"
Ninicyi compra os seus produtos exclusivamente de navios de contêineres provenientes de Hamburgo. "Os alemães simplesmente tomam mais cuidado com os seus equipamentos do que qualquer outro povo", explica. Ele não quer dizer exatamente quem são os vendedores. Ninicyi compra os produtos sem examiná-los, algo que é comum nesta atividade. Como parte dos seus cálculos de custos, os vendedores alemães fazem com que em cada contêiner haja alguns equipamentos que funcionem, bem como alguns que ainda podem ser consertados. O restante, cerca de 30%, é lixo, que Ninicyi repassa imediatamente aos garotos que vêm de Agbogbloshie com os seus carrinhos da mão. Contêineres vindos do Reino Unido trazem uma proporção muito maior de lixo.
"Este negócio é bom para Gana e para os outros países", assegura Ninicyi. Ele diz que sente pelas crianças, mas afirma que paga impostos, e os seus fregueses também e que o povo de Gana tem acesso a computadores de preço acessível.

"Por que vocês não interrompem o fluxo de lixo?"
"Esse processo está cada vez mais rápido, e nós estamos sendo esmagados", queixa-se John Pwamang, diretor do Centro de Gerenciamento e Controle de Produtos Químicos da Agência de Proteção Ambiental de Gana. A agência está localizada em um prédio de concreto em péssimas condições. A caminho do escritório de Pwamang, os visitantes precisam subir primeiro uma escada que no passado deve ter sido verde, e a seguir passar por um banheiro com defeito e uma sala de conferência de cortinas marrons esfarrapadas. Na sala há três depósitos de lixo - um marrom, para papel, um cinza, para plástico, e um outro marrom para tudo mais. Entretanto, o país não conta com um sistema de reciclagem de lixo em funcionamento. Ao que parece a agência de Pwamang ainda tem alguns problemas pela frente.
Os olhos de Pwamang são pouco visíveis por trás das grossas lentes bifocais. Ele fala suavemente, o que o ajuda a parecer mais tranquilo do que realmente é. "Vocês europeus não mudam", reclama ele. "O que deveríamos fazer com os produtos tóxicos que vocês nos mandam? Não temos como reciclá-los. Vocês possuem as instalações para isso. Computadores que funcionam não são nenhum problema, mas muitas das máquinas velhas demais não duram nem um ano aqui. Por que vocês não interrompem o fluxo de lixo?".
Pwamang não tem como provar que o chumbo e as dioxinas estão matando as crianças. Quase ninguém com mais de 25 anos trabalha nas fogueiras às margens do rio de águas pretas. E não existe estudo algum sobre o problema. O Greenpeace identificou e quantificou as toxinas, mas a organização não examinou os efeitos diretos delas. "As crianças estão doentes", afirma Pwamang. "Temos aqui metais pesados e venenos. Um estudo seria bom, mas mesmo sem nenhum estudo eu sei que a situação é desastrosa."

Fonte: UOL Noticias - Der Spiegel - 05 de dezembro de 2009

Vídeo
Mostra jovens catadores de lixo eletrônico em Gana.


Comentário:
Hoje comenta-se muito a ética ambiental. Seria mais uma jogada de marketing ambiental? Para que as empresas permaneçam em evidências em setores que influenciam a sociedade.
A ética ambiental define-se como estudo da conduta comportamental do ser humano em relação à natureza, decorrente da conscientização ambiental e conseqüente compromisso preservacionista, tendo como objetivo a conservação da vida global. Mas na prática o que acontece com o lixo eletrônico das nações industrializadas? A maioria é despachada como pretexto de produto reutilizável, mas com destino algum lixão de alguma nação pobre.
O lixo eletroeletrônico é composto de milhares de substâncias, muitas dessas tóxicas aos seres humanos e ao meio ambiente. A composição desse lixo é variável e contém: arsênico nos microchips; cádmio nas placas de circuito integrado, nos tubos CRT e nas baterias; cromo utilizado como anticorrosivo; mercúrio nas TVs de tela plana, baterias e comutadores; PCBs nos capacitores e transformadores mais antigos; chumbo nos tubos de raios catódicos; cobre nos circuitos elétricos, entre outros.
Estima que nos Estados Unidos terão nos próximos anos mais de 500 milhões de computadores obsoletos e já possuíam em 2005 mais de 130 milhões de celulares. No Japão, a situação não é menos alarmante, a expectativa é de que, até o ano de 2010, os japoneses já terão descartado mais de 650 milhões de celulares. Na comunidade européia, estima-se que cada cidadão gere em média 25 quilos por ano de lixo eletroeletrônico
Para se ter uma idéia do potencial danoso de 500 milhões de computadores, eles resultam aproximadamente nas seguintes quantidades de resíduos sólidos:
■ três milhões de toneladas de plásticos;
■ 700 mil toneladas de chumbo;
■ 1.300 toneladas de cádmio;
■ 855 toneladas de cromo; e 285 toneladas de mercúrio.
A destinação desse e-lixo pode ser: armazenamento; reuso; reciclagem; dispostos em aterros; incinerados ou exportados para os países pobres.

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posted by ACCA@11:17 PM

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