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quarta-feira, novembro 29, 2017

Supremo proíbe uso do amianto em todo o país

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu hoje (29) proibir uso do amianto do tipo crisotila, material usado na fabricação de telhas e caixas d’água. A decisão dos ministros foi tomada para resolver problemas que surgiram após a decisão da Corte que declarou a inconstitucionalidade de um artigo da Lei Federal 9.055/1995, que permitiu o uso controlado do material.

Com a decisão, tomada por 7 votos a 2,  não poderá ocorrer a extração, a industrialização e a comercialização do produto em nenhum estado do país. Durante o  julgamento não foi discutido como a decisão será cumprida pelas mineradoras, apesar do pedido feito por um dos advogados do caso, que solicitou a concessão de prazo para efetivar a demissão de trabalhadores do setor e suspensão da comercialização.

Em agosto, ao começar a julgar o caso, cinco ministros votaram pela derrubada da lei nacional, porém, seriam necessários seis votos para que a norma fosse considerada inconstitucional. Dessa forma, o resultado do julgamento provocou um vácuo jurídico e o uso do amianto ficaria proibido nos estados onde a substância já foi vetada, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, mas permitida onde não há lei específica sobre o caso, como em Goiás, por exemplo, onde está localizada uma das principais minas de amianto, em Minaçu.

As ações julgadas pela Corte foram propostas pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI) há dez anos ao Supremo e pedem a manutenção do uso do material. A confederação sustenta que o município de São Paulo não poderia legislar sobre a proibição do amianto por tratar-se de matéria de competência privativa da União. Segundo a defesa da entidade, os trabalhadores não têm contato com o pó do amianto.

De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e outras entidades que defendem o banimento do amianto, apesar dos benefícios da substância para a economia nacional – geração de empregos, exportação, barateamento de materiais de construção -, estudos comprovam que a substância é cancerígena e causa danos ao meio ambiente. Fonte: Agência Brasil - 29/11/2017 

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segunda-feira, novembro 27, 2017

O gigantesco mar de lixo no Caribe com plástico

Latas, potes, talheres de plástico, roupas velhas, seringas e até animais mortos.... Trata-se de uma ilha de lixo que flutua no Mar do Caribe, entre as costas de Honduras e Guatemala, um camada de objetos descartados que periodicamente chega às praias e que, ultimamente, tornou-se uma fonte de tensão nas relações bilaterais entre os dois países.

Tirado da ilha hondurenha de Roatan, as fotos mostram talheres de plástico, sacos, garrafas e embalagens flutuando entre as algas marinhas. Uma imagem, tirada de baixo da linha de água, mostra o sol bloqueado pelo grande peso da poluição despejada no oceano

A fotógrafa britânica Caroline Power publicou várias fotos que mostravam as águas próximas à ilha turística de Roatán, cobertas de uma massa de detritos de todos os tipos. Ela vive em Roatan, uma ilha que tem apenas 20 km de comprimento e 6 km de largura, compartilhou as imagens nas mídias sociais para conscientizar do problema.
Após a publicação das fotos e a chegada do lixo flutuante em vários municípios da costa norte hondurenha, ambos os governos realizaram uma reunião para discutir possíveis soluções para o imbróglio que se estende há mais de três anos, de acordo com as autoridades locais.

RESPONSABILIDADE
Quem é o principal responsável pelos derramamentos?
De um lado, Honduras acusa seu vizinho de causar a poluição que atinge as praias de Omoa, Puerto Cortés e as Ilhas da Baía. Do outro, a Guatemala diz que é o país vizinho que derrama o lixo que o afeta.

OS EFEITOS
Carlos Fonseca vive há 60 anos na comunidade de Travesía, no município de Puerto Cortés, no norte de Honduras, e diz que há alguns anos passou a ser rotina limpar o lixo que chega à sua casa.
"Nas estações chuvosas, limpamos logo cedo e à tarde está cheio de lixo de novo, como se não tivéssemos feito nada. São pilhas e pilhas de lixo por todos os lados", conta à BBC Mundo.
Fonseca diz que são os vizinhos que, na maioria dos casos, são encarregados de limpar o lixo que chega à praia, ante a passividade das autoridades municipais.
"É uma situação infeliz, porque é lixo, traz doenças. Não sei se é daqui ou da Guatemala, mas para a gente é um pesadelo", diz ele.

José Antonio Galdames, ministro dos Recursos Naturais e Meio Ambiente de Honduras, disse que o problema do lixo que chega ao país está se tornando "insustentável" não só para o município de Omoa, um dos mais afetados, mas também para algumas ilhas e praias que constituem alguns dos principais destinos turísticos da nação centro-americana.
Na opinião do ministro, a presença de detritos flutuantes tem um impacto negativo em quatro dimensões básicas, pois gera danos ambientais, ecológicos, econômicos e de saúde.
"As pessoas não querem ir à praia porque têm medo da contaminação. Não é bom se deitar em uma areia onde você coloca suas costas e há uma agulha embaixo, ou você entra na água e fica com medo de encontrar algo contaminado", afirma.

BARREIRA DE CORAL
Ian Drysdale, engenheiro ambiental que coordena uma iniciativa para a proteção do Sistema Arrecifal Mesoamericano, garante que essa barreira de coral, a segunda maior do mundo, é uma das principais afetadas pelo lixo. "Devido aos movimentos das correntes marinhas, isso pode ter um impacto negativo em toda a barreira, tanto na parte que pertence a Honduras quanto na que pertence à Guatemala. Eu já encontrei lixo diversas vezes na região dos recifes de coral", conta o engenheiro.

MAS DE ONDE VEM TANTO LIXO?
Galdames diz que por trás da poluição atual está o lixo  do rio Motagua, que atravessa a maior parte da Guatemala e desemboca em Honduras.
"A maior parte da bacia do Motagua está no lado guatemalteco. Dos 95 municípios que estão ao longo do rio, 27 estão despejando resíduos sólidos. Nós temos apenas 3 municípios que fazem fronteira com o rio. Por isso, 86% das descargas provêm deles", diz o ministro hondurenho.
Ele acrescenta que, quando as autoridades de seu ministério realizam inspeções, geralmente encontram objetos escritos "Made in Guatemala".

MAS ISSO, AFIRMA, NÃO É O PIOR.
"Estamos recebendo roupas, plástico, lixo hospitalar, objetos manchados com sangue, agulhas, seringas, animais e até mesmo corpos humanos, devido ausência de aterros na maioria dessas comunidades na Guatemala, na época de chuvas, a água drena o lixo para o rio, que o leva ao mar e depois, pelo movimento das correntes marinhas, se move para alguns municípios e ilhas de Honduras", diz Galdames.

CONTAMINAÇÃO DO CARIBE
Rafael Maldonado, do Centro de Ação Jurídica Ambiental e Social da Guatemala, apoia essa teoria e acrescenta que, por trás dessa situação, há políticas equivocadas de sucessivos governos do país.
"A responsabilidade por este conflito do lixo é do governo guatemalteco, que durante anos evitou tomar medidas para evitar novos despejos nos rios", diz ele.
De acordo com o especialista, para evitar o investimento público milionário para criar um sistema capaz de evitar que o lixo termine nos rios, as autoridades da Guatemala adiam desde 2006 um regulamento para evitar a contaminação do Caribe.

"O que está acontecendo em Honduras é o resultado de uma má gestão ambiental na Guatemala. Honduras está recebendo o lixo de grande parte da Guatemala, incluindo a capital, que despeja seu lixo no rio Motagua e o leva para o mar. Isso acontece há anos e os governos não deram qualquer importância para não ter que fazer o investimento necessário", diz ele.

CONTROVÉRSIA
No entanto, o Ministro do Meio Ambiente da Guatemala, Sydney Alexander Samuels, considera que seu país está tomando as medidas necessárias para controlar os despejos no Caribe e garante que os rios hondurenhos são os principais responsáveis pela atual situação.
"As acusações só levam em conta a parte da Guatemala. Eles também devem considerar o que estão fazendo. Eles têm um rio lá, o Chamelecón, que é praticamente um esgoto de Puerto Cortés e San Pedro Sula. A maior parte do lixo que chegou a Roatán é de Honduras", disse o Ministro do Meio Ambiente da Guatemala.
Samuels sustenta que seu governo nunca recebeu informações sobre a citada descoberta de corpos humanos entre no lixo transportado pelo rio.
"Eu nunca ouvi falar de cadáveres humanos lá. Se for esse o caso, teria que ser investigado de onde eles vieram. Eu não tinha ouvido isso", diz ele.
"Sim, nós contaminamos o Mar do Caribe através do rio Motagua. Mas eu esclareço que não é só o Motagua, mas também Chamelecón e Ulúa (dois rios de Honduras), e também asseguro que no próximo ano já não estaremos transportando lixo para esse mar, pois teremos toda a infraestrutura para que isso não aconteça", afirma.
O engenheiro ambiental  Ian Drysdale,  disse também que Honduras tem sua responsabilidade no atual "mar de lixo".
"Há muitas comunidades em Honduras que não tem nem sequer um caminhão para coletar o lixo. A gente despeja o lixo nos rios e mais de 80% dos rios hondurenhos fluem para o Mar do Caribe. Esse costume de culpar o outro pela sua responsabilidade é muito comum. Acho que o problema do lixo é de todos", diz ele.

PRESSÕES E SOLUÇÕES
Além da disputa em torno das responsabilidades, outro tema que gera polêmica entre os dois países são as possíveis soluções para essa situação.
O ministro do Meio Ambiente de Honduras, embora não queira ignorar o trabalho do país vizinho para conter o despejo, questiona que as propostas da Guatemala estão orientadas "a médio e longo prazo".
"Eles estão falando sobre as soluções que entrarão em vigor em 2018. Mas nós pedimos para que eles tomem medidas imediatas: limpar os rios, limpar as praias, parar de jogar o lixo nos rios e fechar os despejos clandestinos. E que estabeleçam um sistema de alerta precoce para que possamos estar preparados para saber que o lixo chegará", diz ele.
"Não estamos à procura de problemas, não estamos à procura de ações judiciais. Estamos procurando responsabilidades comuns, mas diferenciadas, esse é o princípio. Se você tiver responsabilidade em 86% dessa bacia, deve ser sua responsabilidade procurar uma solução", acrescenta.

ACORDOS INTERNACIONAIS.
Galdames afirma que, se ele não receber uma resposta positiva até o final de novembro, seu país tomará medidas de acordos das organizações internacionais.
"Se eles não fizerem nada em cinco semanas, nos reservamos o direito de proceder de acordo com o estabelecido nos acordos internacionais que existem em águas marítimas, áreas de fronteira compartilhada e todos os acordos internacionais relacionados à proteção da diversidade biológica", diz.
Mas enquanto o fim da disputa sobre o despejo de lixo entre os dois países ainda é incerto e se contemplam soluções a nível governamental, um rio silencioso de lixo flutuante continua a chegar às praias de Honduras.
"Agora, chegou uma frente fria e isso vai trazer mais chuva. E sabemos que quando chove a praia fica cheia de lixo. É assim há anos", diz Carlos Fonseca, da comunidade de Travesía.
Fonte: The Independent - Terça-feira, 24 de outubro, BBC Brasil - 2 novembro 2017.

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sábado, novembro 25, 2017

Robô: Futuro trabalhador

Dar saltos mortais, de costas, é a mais nova habilidade do robô humanoide Atlas, desenvolvido pela empresa americana Boston Dynamics para operações de busca e resgate.
Com 1,75 metro e 82 kg e 28 articulações. Ele já conseguia andar na neve e se levantar depois de cair.
O humanoide também é capaz de ignorar provocações, distrações e obstáculos e continuar desempenhando a tarefa para a qual foi programado.
De acordo com a Boston Dynamics, companhia de robótica , o Atlas é movido por eletricidade, mas se movimenta de maneira hidráulica.
"Ele usa sensores no corpo e nas pernas para o equilíbrio, e outros sensores estéreo e a laser para evitar obstáculos, avaliar o terreno e ajudar na movimentação", explica. Fonte: BBC Brasil - 23 novembro 2017

Comentário: É o futuro trabalhador. É a quarta revolução industrial que não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital.




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segunda-feira, novembro 20, 2017

Patrulha de ONG mostra matança de golfinhos e baleias em ilhas da Dinamarca

Uma patrulha feita por 18 voluntários durante 10 semanas, de junho a setembro deste ano, mostra centenas de mortes de golfinhos e baleias nas Ilhas Faroé, arquipélago da Dinamarca localizado no Atlântico Norte. A operação 'Bloody Fjords' ("Fiordes sagrentos") foi organizada pela ONG Sea Shepherd.
O grupo, com ativistas do Reino Unido e da França, foi dividido em seis equipes em cidades diferentes, abrangendo 19 baías. Durante o período da patrulha, nove caças aos animais foram flagradas, o que resultou na morte de 198 golfinhos e 436 baleias-piloto, um total de 634 animais.
 
MORTES DOCUMENTADAS
Um dos grupos  criou uma sede em Tórshavn, capital das Ilhas Faroé. Os ativistas gravaram um grindadráp – método de caça em que a comunidade local se dirige em barcos com pedras, ganchos, cordas e facas para cerco aos animais. Em 5 de julho, 70 baleias-piloto foram mortas.
Em 17 de julho, outro grupo gravou um grindadráp. Foram mortas 191 baleias-piloto. Os voluntários também fotografaram, em Klaksvik, essas mesmas baleias em abatimento no dia seguinte. Dois caminhões foram rastreados enquanto transportavam seis baleias-piloto até uma empresa de processamento de peixe na capital.

Na cidade de de Sydrugota, em 25 de julho, a ONG registrou a caça de 16 golfinhos, mortos e abatidos em um galpão próximo. Dez dias depois, uma outra equipe baseada na cidade de Saltangará, gravou a morte de 134 golfinhos e 39 baleias-piloto.
Na capital Tórshavn, pouco mais de um mês do primeiro flagra de grindadráp, em 18 de agosto, mais 61 baleias-piloto foram mortas. Em Skálabotnur, mais 48 golfinhos. Os voltuntários documentaram também o abate de uma baleia-piloto adulta que havia sido armazenada em uma caçada anterior.

O último grupo, com base na cidade de Klaksvík, fotografou e gravou a morte de 46 baleias-piloto no dia 29 de agosto; dois dias depois, outras 29 foram mortas.
Os organizadores da operação explicam que apenas um pequeno número de participantes consegue fotografar e/ou gravar as caças sem restrições, ao se misturar com grupos de turistas visitantes. Segundo a ONG, o ano de 2017 foi um dos mais sangrentos nas Ilhas Faroé: 1691 baleias-piloto e golfinhos foram abatidos em 24 caças.

ATIVIDADE LEGAL
A Convenção sobre a Vida Selvagem e os Habitats Naturais da Europa, em vigor desde 1982, classifica as baleias-piloto e todos os cetáceos, o que inclui os golfinhos, como "estritamente protegidos" sem permissão para o abate.
Apesar disso e dos protestos de ambientalistas, o abate dos animais não é ilegal nas Ilhas Faroé. Isso ocorre porque o arquipélago não é membro da União Europeia, apenas se remete politicamente à Dinamarca, que controla a defesa, a política externa e a moeda. Segundo a organização Sea Shepherd, a principal razão para as Ilhas não se juntarem à UE é manter a atividade pesqueira. Fonte: G1 -08/11/2017 

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quinta-feira, novembro 16, 2017

Trabalho a quente, trabalho seguro

Lições chave aprendidas pelas investigações do Conselho Americano de Investigação de Riscos e Segurança Química (U.S. Chemical Safety and Hazard Investigation Board) sobre os incidentes causados pelo trabalho a quente

CERTIFICAÇÃO PARA TRABALHO A QUENTE
Recentemente, o trabalho a quente tem preocupado as comunidades de prevenção e inspeção de incêndio. O trabalho a quente foi culpado, ou suspeito de ter causado uma série de grandes incêndios em complexos de habitação em construção em todo o país, causando dezenas de milhões de dólares de perdas. Em Boston, o trabalho a quente foi culpado por um incêndio residencial em 2014 que matou dois bombeiros. O ano passado, o código de prevenção de incêndios da cidade foi emendado requerendo que todas as pessoas envolvidas em operações de trabalho a quente obtenham um Certificado de Trabalho a Quente Seguro. Até agora, mais de 13000 trabalhadores numa variedade de trabalhos de construção participaram do programa criado pela NFPA sobre certificação do trabalho a quente.

TRABALHO A QUENTE
O trabalho a quente é todo processo de trabalho que envolva a soldagem, a brasagem, a solda branda, o corte, esmerilhamento, perfuração, queima ou fusão de substâncias que podem  produzir faíscas ou chamas com uma temperatura suficiente para incendiar vapores inflamáveis e/ou materiais combustíveis (a definição da NFPA inclui atividades que produzem chamas, atividades que produzem faíscas e produção de calor, quer por condução, quer por radiação/convecção.)
As fontes comuns de ignição durante o trabalho a quente incluem;
■chama aberta, faíscas produzidas pela eletricidade, por fricção ou por impacto;
■superfícies quentes;
■rolamentos quentes, maçaricos para solda ou corte e gases, bobinas e resistores aquecidos.

RISCOS E PERIGOS DE INCÊNDIO
Todo trabalho a quente envolve riscos e perigos de incêndio inerentes e todos os perigos de incêndio deveriam ser considerados e avaliados antes de começar operações de trabalho a quente. São requeridos procedimentos e autorizações especiais quando o trabalho a quente for realizado num espaço confinado, tanque, contêiner ou conduto.

ACIDENTES
Os acidentes durante o trabalho a quente ocorrem em muitas indústrias nos Estados Unidos, incluindo o processamento de alimentos, a fabricação de polpa e papel, a produção de óleo, o armazenamento de combustível e o tratamento de resíduos. A maioria dos incidentes que envolvem trabalho a quente ocorre devido à ignição de materiais combustíveis (por exemplo um incêndio de teto) ou a ignição de estruturas ou detritos perto da atividade de trabalho a quente.
Embora os perigos associados ao trabalho a quente sejam bem documentados, a freqüência e a gravidade dos incidentes associados ao trabalho a quente foram excessivas nas últimas duas décadas. Para poder beneficiar plenamente das lições aprendidas desses incidentes é importante que a indústria e as organizações que lidam com segurança adotem normas de saúde e segurança mais estritas para garantir que a atividade de trabalho a quente seja realizada de forma segura, que os trabalhadores estejam conscientes dos perigos e que estejam plenamente protegidos.

TRABALHO A QUENTE É UMA DAS CAUSAS MAIS COMUNS DE MORTES DE TRABALHADORES
O Conselho Americano de Investigação de Riscos e Segurança Química (CSB, da sigla em inglês) chegou a conclusão que o trabalho a quente é uma das causas mais comuns de mortes de trabalhadores entre os incidentes investigados pela agência. O CSB continua a ver incidentes que envolvem trabalho a quente e encontrou um subconjunto significativo de ocorrências – as que envolvem tubulações, tanques ou contêineres onde estão presentes produtos inflamáveis- particularmente perigosos. Além disso, o CSB observa repetidamente incidentes com trabalho a quente envolvendo tanques ou contêineres em instalações de risco elevado como as refinarias e as plantas químicas que resultam geralmente em ferimentos e mortes e tem o potencial de causar grandes acidentes catastróficos.

Desde 2001, o CSB investigou 14 incidentes causados por trabalho a quente que resultaram em 25 mortes e 21 ferimentos de empregados e membros do público. O CSB continua a analisar os incidentes com o trabalho a quente onde um monitoramento constante poderia ter alertado os trabalhadores das mudanças de condições nas áreas onde se realizava o trabalho a quente.  

A NECESSIDADE DE INVESTIGAÇÃO
O CSB começou a investigar os riscos relacionados com o trabalho a quente depois da explosão de 17 de julho de 2001 na refinaria da Motiva Entreprises em Delaware City, Delaware. Uma equipe de trabalho estava fazendo reparos numa passarela acima dum conjunto de tanques de armazenamento de acido sulfúrico quando uma faísca originada pelo trabalho a quente incendiou vapores inflamáveis num dos tanques. A corrosão tinha perfurado o teto e a casca do tanque, causando perdas de acido sulfúrico. O tanque ruiu e um dos trabalhadores contratados morreu; oito ficaram feridos e um volume significativo de acido sulfúrico foi liberado no ambiente.

O CSB começou a rastrear sistematicamente os incidentes causados por trabalho a quente depois do acidente de 29 de julho de 2008 na Packaging Corporation of America (PCA) em Tomahawk, Wisconsin. Os trabalhadores estavam realizando trabalho de solda acima dum tanque de 24 m de altura que continha gás de hidrogênio altamente inflamável, produto da decomposição bacteriana de resíduos de fibras orgânicas - uma mistura de polpa de papel reciclada e água - no interior do tanque. Este era um perigo novo identificado pelo CSB. O trabalho a quente incendiou os vapores inflamáveis, resultando numa explosão que deixou três mortos e um ferido.

Nos 10 meses que seguiram a explosão na PCA, o CSB investigou cinco incidentes onde o trabalho a quente incendiou gás ou vapores inflamáveis, incluindo;
■ a explosão na MAR Oil em La Rue, Ohio, que matou dois trabalhadores contratados em outubro 2008;
■ uma explosão que matou uma pessoa e feriu outra na EMC Used Oil em Miami, Florida, em dezembro 2008;
■ uma explosão que matou um soldador contratado na ConAgra Foods em Boardman, Oregon, em fevereiro 2009;
■ uma explosão na A.V. Thomas Produce em Atwar, California, em março 2009 que queimou gravemente dois empregados;
■ e a explosão dum grande tanque de armazenamento de gasolina que matou três trabalhadores na instalação de distribuição de combustível TEPPCO Partners em Garners, Arkansas, em maio 2009.

Em novembro 2011, dois trabalhadores contratados na E.I. DuPont De Nemours Co. situada em Buffalo, New York, estavam realizando trabalho de solda acima dum tanque de pasta fluida (slurry) de 10000 galões quando faíscas quentes incendiaram vapores inflamáveis, causando uma explosão que matou um trabalhador contratado e feriu gravemente outro. O relatório final do CSB e um vídeo de segurança, intitulado “Trabalho a quente: Perigos Escondidos”, foi mostrado por primeira vez numa reunião pública no dia 19 de abril de 2012.
Uma das causas principais da explosão foi estabelecida pelo CSB como um erro da empresa que não requereu o monitoramento do interior dos tanques de armazenagem – onde devia ser realizado o trabalho a quente –para verificar a presença de vapores inflamáveis. O CSB emitiu uma recomendação exortando a DuPont a requerer o monitoramento no interior e em volta dos tanques antes de realizar trabalho a quente.

MELHORES PRÁTICAS PARA O TRABALHO A QUENTE
Em fevereiro 2010, o CSB publicou “Sete lições chave para prevenir as mortes de trabalhadores durante o trabalho a quente no interior e em volta de tanques de armazenamento”, um boletim de segurança que proporcionava resumos e conclusões de 11 investigações. (Também nota que ocorreram 60 mortes causadas por trabalho a quente entre 1990 e 2010). Além disso, o boletim oferecia sete lições chave para ajudar a prevenir as mortes de trabalhadores durante o trabalho a quente no interior e em volta de tanques de armazenamento que contêm materiais inflamáveis.

As lições incluem:
1.      Procure alternativas: sempre que possível, evite o trabalho a quente e considere métodos alternativos.
2.      Analise os riscos: antes de começar um trabalho a quente, realize uma avaliação de riscos que identifique o escopo do trabalho, os riscos potenciais e os métodos de controle de riscos.
3.      Monitore o ar: realize um monitoramento efetivo dos gases presentes na área de trabalho utilizando detectores de gás combustível devidamente calibrados antes e durante as atividades de trabalho a quente, mesmo em áreas onde não se prevê a presença de atmosfera inflamável.
4.      Teste a área: nas áreas de trabalho onde são armazenados ou manuseados líquidos e gases inflamáveis, drene e/ou purgue todo o equipamento e as tubulações antes de realizar o trabalho a quente. Quando realiza trabalho de solda sobre tanques de armazenamento ou outros contêineres ou na sua proximidade, teste adequadamente e, se necessário, monitore continuamente todos os tanques ou espaços adjacentes – não apenas o tanque ou contêiner onde se realiza o trabalho – procurando a presença de substâncias inflamáveis e elimine as fontes potenciais.
5.      Use permissões escritas: Assegure-se que pessoal qualificado familiarizado com os perigos específicos do local revise e autorize todos os trabalhos a quente e emita permissões identificando especificamente o trabalho a realizar e as precauções requeridas.
6.      Realize treinamento exaustivo: Treine o pessoal sobre as políticas e procedimentos para o trabalho a quente, o uso e a calibração adequados dos detectores de gases combustíveis, o equipamento de segurança e os riscos e controles específicos de cada tarefa numa linguagem que todos os trabalhadores entendam.
7.      Supervisiona  os contratados: forneça supervisão de segurança para os contratados por empreitada que realizam trabalho a quente. Informe-os sobre os perigos específicos do local, incluindo a presença de materiais inflamáveis. 

Entre 2010 e 2013, o CSB analisou 187 incidentes de trabalho a quente;
■ Dos quais 85 causaram uma explosão ocorrida durante a execução de trabalho a quente sobre ou na proximidade dum tanque ou contêiner. Esses incidentes causaram 48 mortes e 104 ferimentos significativos.
■ Vinte três por cento dos ferimentos e 42 por cento das mortes envolviam trabalhadores contratados por empreitada.

O CSB continua a ver incidentes catastróficos envolvendo trabalho a quente sobre tanques e contêineres que contêm vapores inflamáveis. As investigações que realizamos sobre esses incidentes demonstram uma falta de consciência dos riscos que apresenta o trabalho a quente em contêineres que em alguns casos tinham sido limpos anteriormente.
O CSB investigou recentemente dois incidentes que envolviam trabalho a quente, um numa terminal da Sunoco Logistics LP em Nederland, Texas e outro nas instalações da PCA em DeRidder, Louisiana. Na Sunoco, sete trabalhadores contratados ficaram feridos num incêndio em nuvem de vapor quando realizavam trabalho a quente num oleoduto em 12 de agosto de 2016.
Em 8 de fevereiro de 2017, três contratados sofreram ferimentos mortais numa explosão nas instalações da PCA quando realizavam trabalho a quente.

Devido à freqüência e gravidade dos acidentes com o trabalho a quente, o CSB definiu as práticas de trabalho a quente seguras como um dos cinco elementos de seu novo programa “Drivers of Critical Chemical Safety Change”. O programa está baseado nas recomendações resultantes das investigações e estudos do CSB. A meta do programa é procurar a implementação de mudanças que tenham altas probabilidades de alcançar importantes aprimoramentos de segurança a nível nacional.
O CSB continuou a defender a adoção de melhores práticas e aprimoramentos recomendados pelas normas de consenso, especificações, práticas recomendadas, relatórios técnicos e códigos para lidar com as atividades de trabalho a quente. As normas e códigos da NFPA citados pelo CSB em suas investigações sobre o trabalho a quente incluem a NFPA 51B, Prevenção de Incêndios Durante a Soldagem, o Corte e Outros Trabalhos a Quente; a NFPA 326, Salvaguarda de Tanques e Contêineres para a entrada, a Limpeza e os Reparos e a NFPA 70E®,Segurança Elétrica no Local de Trabalho.

RISCOS
Além disso, o CSB continuou a impulsionar a adoção de suas recomendações destinadas a prevenir incidentes com o trabalho a quente sublinhando a necessidade de aumentar a consciência sobre os riscos do trabalho a quente entre os trabalhadores e a necessidade de uma supervisão e responsabilidade mais vigorosas para as atividades de trabalho a quente.

Cinco idéias falsas sobre o trabalho a quente

De acordo com o relatório da NFPA “Structure Fires Started by Hot Work”, publicado em setembro passado, os corpos de bombeiros dos Estados Unidos responderam a uma média de 4400 incêndios estruturais por ano envolvendo trabalho a quente entre 2010 e 2014.
Em março de 2014, dois bombeiros de Boston morreram respondendo a um incêndio que foi iniciado por trabalho a quente. Como resultado dessa tragédia, a NFPA está trabalhando com a cidade e seu corpo de bombeiros desde setembro para proporcionar treinamento sobre a segurança do trabalho a quente a trabalhadores da construção na área de Boston. Até agora, 13.000 trabalhadores participaram do programa concebido pela NFPA. Eu conduzi 40 dessas sessões de capacitação e em minha experiência, estas são as principais idéias falsas que envolvem o trabalho a quente. 

1-A idéia falsa: O trabalho a quente é apenas soldar e cortar com maçarico.
A verdade: como definido na NFPA 51B, o trabalho a quente é qualquer trabalho que envolva “queima, solda, ou uma operação similar que pode iniciar incêndios e explosões.” Não é apenas trabalho que envolve chamas. Afinal de contas, você não precisa de chama para gerar calor. Atividades como perfuração, solda, brasagem, rosqueamento, esmerilhamento, tratamento por calor, lascagem, descongelar tubulações e jateamento abrasivo – muitas vezes chamado jateamento de areia – são todos considerados trabalhos a quente.

2-A idéia falsa: a soldagem branda, muitas vezes relacionada com tarefas de canalização, não é um grande problema.
A verdade: de acordo com o relatório da NFPA sobre os incêndios estruturais causados por trabalho a quente, a soldagem branda causa 34 por cento dos incêndios iniciados por trabalho a quente em residências. (Não sabemos se o trabalho foi realizado por pessoas contratadas ou pelos proprietários da residência no sistema de “faça você mesmo”.) No entanto, já que se trata dum trabalho que deve ser usualmente realizado perto de materiais de construção e de isolamento combustíveis, pode ser um desafio significativo para a segurança do trabalho a quente.

3-A idéia falsa: o perigo acaba quando a operação de trabalho a quente se termina.
A verdade: A NFPA 51B e outras práticas de segurança com o trabalho a quente requerem que alguém – normalmente um vigia de incêndio treinado – fique no local do trabalho pelo menos 30 minutos depois de terminado o trabalho a quente para monitorar o local verificando que não haja condições de fogo latente ou reignição de brasas quentes ou calor retido. E o calor tem sua maneira de ficar no local. Dados das seguradoras indicam que o calor retido contribuiu para a reignição até quatro horas depois do fim do trabalho a quente.

4-A idéia falsa: a segurança do trabalho a quente é a responsabilidade de uma única pessoa.
A verdade: a NFPA 51B requer o estabelecimento de uma equipe de segurança de trabalho a quente constituída por três pessoas:
■ o responsável (referido na NFPA 51B como a pessoa que emite a permissão, ou PAI (da sigla em inglês),
■ um operador do trabalho a quente e
■ um vigia de incêndio.
De acordo com a norma eles são responsáveis pela segurança no local do trabalho e por identificar qualquer mudança das condições de forma a paralisar o trabalho até fazer uma nova avaliação das condições. Esse é um ponto de ênfase particular no treinamento que estamos realizando em Boston. Essencialmente, nossa mensagem no local do trabalho para todos os trabalhadores é que se eles veem  algo que poderia ser uma mudança insegura das condições, eles precisam falar com alguém para que se faça uma verificação.

5-A idéia falsa: os resíduos dos trabalhos a quente incluindo faíscas, escória, respingo e transferência de calor são geralmente transmitidos apenas a uma distância limitada.
A verdade: muitos tipos de trabalho a quente, como a solda, o esmerilhamento e o corte com maçarico produzem faíscas, escória ou respingo que podem muito bem sair da área imediata de trabalho. Por esse motivo, a NFPA 51B estabelece uma distância mínima segura de 11 m em todas as direções desde o local do trabalho a quente. Em outras palavras, os materiais combustíveis devem ser movidos a uma distância mínima de 11 m do lugar de trabalho para prevenir o contato com os resíduos do trabalho a quente, como faíscas ou respingo. Essa é apenas uma distância mínima, e condições como o vento ou a proximidade de capim seco podem impor uma distância maior. Trabalhando numa localização elevada, onde as faíscas podem cair verticalmente, vi resíduos de trabalho a quente percorrer uma distância superior a 30m..

Fonte: NFPA Journal Latinoamericano – Set/2017 – Samuel A. Oyewole, Ph.D., Vidisha Parasram, MPH, Reepa Shroff, MS e Johnnie A. Banks, CFEI, são investigadores de incidentes químicos no U.S. Chemical Safety and Hazard Investigation Board (CSB) em Washington, D.C. O CSB é uma agência científica federal independente cuja missão é investigar de forma independente os incidentes e riscos químicos significativos e defender efetivamente a implementação das recomendações resultantes para proteger os trabalhadores, o público e o meio ambiente. Guy Colonna é diretor de divisão de serviços técnicos da NFPA



   


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