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segunda-feira, junho 20, 2022

PROTETOR DE OUVIDO CONTRA BARULHO: QUAIS OS BENEFÍCIOS E RISCOS DE USÁ-LO?

Dormir, estudar, trabalhar ou simplesmente descansar são períodos que exigem tranquilidade ou concentração, porém nem sempre estamos em um lugar silencioso. Neste caso, uma solução eficiente é o protetor de ouvido, que reduz os ruídos e assim ajuda no nosso foco, traz paz interior e ainda protege de um problema de audição sério: a surdez.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), uma exposição a um nível de ruído de 85 decibéis (medida da unidade da intensidade do som) durante 8 horas por dia é suficiente para causar perda de audição irreversível.

Além disso, existem outros prejuízos, como zumbidos, irritabilidade, dor de cabeça, alterações gastrointestinais, circulatórias, entre outras, que acabam comprometendo a qualidade de vida.


BARULHO NO TRABALHO E OS RISCOS

Na lista dos dez profissionais mais expostos a ruídos prejudiciais estão os operários, marceneiros, carpinteiros, técnicos de construção civil, mineiros, técnicos de som, DJs, músicos e jardineiros. Sendo os controladores de tráfego aéreo os mais expostos. Nas torres de controle, durante aterrissagens e decolagens, o barulho pode ser superior a 140 dB (sigla de decibéis).

Manoel de Nobrega, doutor e professor afiliado do departamento de otorrinolaringologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que a perda auditiva provocada pelo ruído é gradativa.

Isso quer dizer que a pessoa só percebe que está com dificuldades para ouvir quando o processo de surdez já está em estágio avançado. Para evitar que isso aconteça, é importante sempre estar atento ao nível de ruído e à utilização dos EPIs (equipamentos de proteção individual), de uso obrigatório em locais de trabalho que ultrapassam níveis saudáveis para a saúde auditiva.

Os riscos começam a aparecer dependendo de dois fatores principais em relação ao ruído: intensidade e tempo de exposição. Se o nível de ruído for maior que 50 decibéis e a exposição for necessária e frequente, como acontece com trabalhadores de metalurgia ou tecelagem, o uso de protetores auriculares é indispensável.


QUAIS OS BENEFÍCIOS DO PROTETOR AUDITIVO?

A maioria dos protetores reduzem o ruído de 20 a 30 dB.

Além disso:

Propiciam uma melhor noite de sono e relaxamento;

Ajudam em uma maior capacidade de concentração no estudo e no trabalho;

Evitam a perda auditiva ao longo do tempo;

Protegem de zumbido após ir a shows ou trabalhar em locais com ruídos fortes.


HÁ RISCOS EM USAR PROTETOR DE OUVIDO?

O protetor auricular pode desencadear alergia local em quem tem predisposição, agravar alguma doença que já esteja presente ou empurrar a cera de volta para o ouvido, causando um acúmulo, o que pode desencadear vários problemas incluindo perda auditiva temporária e zumbido.

Para limpar a cera, será preciso usar algo para amolecê-la ou removê-la com seu médico.

Existem riscos de infecções na orelha, embora possam ser causadas por conta do acúmulo de cera. As bactérias que crescem no protetor auricular também podem ser as responsáveis pelo problema. É importante ressaltar que as infecções causam dor e, se não tratadas adequadamente, podem ter complicações, como perda auditiva.


QUAIS CUIDADOS DEVO TER?

1) Nunca compartilhe o seu protetor auricular, seja qual for o modelo, com outra pessoa —são dispositivos de uso pessoal e individual.

2) Encaixe o protetor corretamente. Verifique qual a forma correta de uso, descrita na embalagem do produto ou conforme orientado pelo seu médico otorrinolaringologista.

3) Se o protetor for lavável, preste sempre atenção na higienização. Lave o dispositivo com sabão neutro e seque na sombra. No caso de protetores tipo concha, deve-se evitar imersão em água. Apenas um pano úmido com sabão neutro é o suficiente.

4) Utilizar apenas no próprio ambiente de trabalho se for o caso. As empresas devem oferecer locais de armazenamento adequado para todos os EPIs.

5) Para a colocação e retirada, as mãos devem estar limpas. Brincos e acessórios nas orelhas também não são indicados, pois podem danificar ou atrapalhar o uso dessa proteção.


De acordo com Roberto Angeli, membro da diretoria da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), trabalhadores que fazem uso correto dos protetores de ouvido devem, periodicamente, realizar exame de audiometria com a finalidade de detectar precocemente algum dano à audição.

Quem tem inflamação crônica nos ouvidos ou fez cirurgia em alguns dos ouvidos pode necessitar de protetores diferentes com o objetivo de prevenir a entrada de água dentro do canal auditivo que, neste caso, deve ser avaliado individualmente por um otorrinolaringologista.


QUAIS OS TIPOS DE PROTETORES AURICULARES QUE EXISTEM?

Priscilla Gambarra, fonoaudióloga especialista em audiologia e mestre em modelos de decisão em saúde e profissional do Hospital Universitário Lauro Wanderley, de João Pessoa, orienta que é importante verificar se o acessório possui certificação de aprovação que garante a eficiência e qualidade do produto, uma vez que o foco é a saúde.

Confira abaixo os diversos tipos de protetores auriculares que permitem níveis de proteção diferentes contra ruídos:


PROTETOR AURICULAR TIPO CONCHA (ABAFADOR)


Esses tipos de protetores têm um ótimo desempenho em faixas de frequência médias para agudas e protegem a orelha por completo. O professor de otorrinolaringologia da Unifesp recomenda o uso para trabalhadores que estão expostos durante longos períodos a barulhos intensos.

A estrutura é deste equipamento é forrada com uma espuma ou material isolante próprio que serve para abafar os ruídos indesejados e diminuir os níveis prejudiciais. As espumas podem ser trocadas, usando o kit de reposição de cada modelo para que seja obtido o melhor resultado na atenuação e vedação do protetor. O arco ajustável envolve a parte superior da cabeça para garantir maior resistência e é possível manipulá-los com luvas.

PROTETOR AURICULAR PLUG DE SILICONE

Por serem moldáveis, eliminam o problema do tamanho do protetor. Essas "massinhas" feitas de silicone ou cera são fáceis de colocar, basta rolar entre os dedos para amaciar um pouco e colocar no ouvido pressionando levemente para se moldar ao formato da orelha, e assim tampar a entrada do ouvido. Como são maleáveis, é mais fácil conseguir um encaixe perfeito.

Os protetores moldáveis no geral têm um nível de redução de ruído menor que os protetores de espuma. Os modelos de silicone podem ser lavados, o que dá mais tempo de vida útil ao produto. E devem ser manipulados com as mãos limpas e sem luvas.

PROTETOR AURICULAR DE ESPUMA


Protetores de espuma no geral são feitos para se encaixar em qualquer orelha e são descartáveis.

É possível diminuir o tamanho enquanto são manipulados em formato cilíndrico antes de usá-los. De proteção mais leve, são bastante populares e mais utilizados em situações triviais e por curtos períodos.

Esse modelo é considerado bastante confortável por causa da base plana e do topo arredondado, e só pode ser manipulado com as mãos limpas e sem luvas.

PROTETOR AURICULAR TIPO POLÍMERO


Esse tipo não muda de forma, por isso tem um formato de cone com três camadas com diferentes diâmetros. São eficientes para abafar ruídos e reduzir a exposição dos trabalhadores aos sons indesejados da atividade laboral. As vantagens incluem pode ser higienizado (lavado) e reutilizado, além de permitir o transporte na própria caixa plástica (embalagem). A manipulação apenas deve ser com as mãos limpas e sem luvas.  

Fonte: UOL 15/06/2022; Roberto Angeli, otorrinolaringologista e membro da diretoria da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial); Cláudio Ikino, especialista em otorrinolaringologia pela AMB (Associação Médica Brasileira) e professor associado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina); Priscilla Gambarra, fonoaudióloga especialista em audiologia e mestre em modelos de decisão em saúde, profissional do Hospital Universitário Lauro Wanderley, em João Pessoa e do Complexo Pediátrico Arlinda Marques; e Manoel de Nóbrega, médico especialista em otorrinolaringologia, doutor e professor afiliado do departamento de otorrinolaringologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

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terça-feira, junho 07, 2022

VIDRAÇAS: O "PREDADOR" QUE MATA BILHÕES DE PÁSSAROS POR ANO

Ambientalistas tentam convencer governos e proprietários de edifícios a implementar mudanças que evitem colisões de aves contra vidros. Especialistas dizem que as soluções podem ser surpreendentemente simples

Divya Anantharaman aponta sua lanterna sob os bancos de madeira próximos de um edifício em Wall Street. Neste momento, as ruas de Nova York ainda são domínio exclusivo dos madrugadores. Mas iniciar sua missão semanal de busca e resgate nesse horário, de manhã bem cedo, é essencial, diz ela.

Ela procura as vítimas dos notórios assassinos de pássaros: os arranha-céus de vidro. Quando a luz do dia aparece, os porteiros varrem as calçadas, e as provas são perdidas.

Anantharaman é voluntária da NYC Audubon, um grupo de conservação urbana que monitora a morte de aves devido a colisões em janelas. Ela inspeciona cada canto escuro da rota, em vasos de plantas e flores, cuidadosamente para não perder vítimas que possam ser resgatadas. No final da ronda, ela encontra um pássaro morto sob uma passagem superior de vidro que liga dois edifícios.

É uma ave chamada de "galinhola americana" (American woodcock), ela acredita, um pássaro migratório relativamente comum, de bico longo. Toda primavera, as galinholas voam para Nova York depois de passar os meses frios no Alabama e em outros estados da costa do Golfo do México, no sul dos Estados Unidos. Esta ave está rígida, o que significa que morreu recentemente, diz Anantharaman. "Os olhos ainda estão tão claros. Isso pode ter acontecido há alguns minutos".

Ela bate fotos, reserva um momento solene para fechar as pálpebras do pássaro com o polegar e coloca o cadáver em sua mochila cor-de-rosa.

UM BILHÃO DE AVES E CONTANDO

Todos os anos, entre 90.000 e 230.000 aves caem perto de prédios de Nova York, segundo estimativas da NYC Audubon. A concentração de edifícios iluminados da cidade é um obstáculo perigoso para os viajantes alados, especialmente durante a primavera e o outono, estações de migração.

Nova York está situada em uma rota de migração para a América do Sul, onde muitas aves passam o inverno. Como os pássaros navegam observando as estrelas, a luz artificial da noite os atrai e os desorienta. Acreditando que estão voando em direção à luz das estrelas, as aves desviam a rota e pousam no meio de uma metrópole desconhecida.

"O maior problema é o vidro reflexivo", diz a bióloga Kaitlyn Parkins, da NYC Audubon. "As aves não veem o reflexo de uma árvore. Para elas, é uma árvore. Elas voam na direção dessas 'árvores', podem acelerar muito rapidamente e, muitas vezes, morrem imediatamente".

AS AVES SÃO VULNERÁVEIS AO VIDRO

Nos Estados Unidos, país onde a maior parte das pesquisas sobre colisões de aves têm sido executadas, os edifícios são responsáveis pela morte de até 1 bilhão de aves por ano, conforme cálculos feitos nos anos 1990 pelo ornitólogo pioneiro no assunto, Daniel Klem. As janelas de vidro, porém, são armadilhas para pássaros em todo o mundo.

"As aves são vulneráveis ao vidro onde quer que haja aves e vidros juntos. Elas não veem essas coisas", diz Klem, que acrescenta que não são os arranha-céus, mas sim os edifícios baixos e médios que representam as maiores ameaças.

Klem, que atualmente é professor na Universidade Muhlenberg, na Pensilvânia, considera as colisões em janelas como fundamentais para a conservação das aves: "Como ameaça, eu colocaria a colisão logo após a destruição do habitat. O que é bastante traiçoeiro é que as janelas matam indiscriminadamente. Elas também são as mais adequadas para a população. Não podemos nos dar ao luxo de perder nenhum espécime, muito menos bons reprodutores".

Uma voluntária recolhe um pássaro morto do chão e o coloca dentro de um saco plástico, a fim de conservá-lo para futuros estudos..

 UM PROBLEMA INTERNACIONAL

Nos últimos anos, grupos de conservação e cientistas assumiram a causa. Binbin Li lidera um dos dois grupos de monitoramento de colisões em janelas na China. Ela é professora assistente de ciências ambientais na Universidade Duke Kunshan e obteve o doutorado na Duke, nos Estados Unidos, onde conheceu a pesquisadora líder do projeto de colisão de aves.

"Primeiro, pensei que isso era apenas um problema na Duke, ou nos Estados Unidos. Eu não podia imaginar ver aqui na China", diz. Mas, após seu retorno, ela recebeu relatos de três pássaros mortos no campus em um mês.

Com um grupo de estudantes, ela agora conta aves mortas no campus em Suzhou. Muitas das vítimas, ela observa, são encontradas sob corredores de vidro, a exemplo da galinhola que Anantharaman encontrou em Nova York.

Li iniciou uma pesquisa nacional para obter uma ideia mais clara do problema. Três grandes caminhos de migração cortam a China, mas os dados sobre as fatalidades ao longo dessas rotas ainda são limitados. "Percebemos que a colisão de aves não é bem conhecida na China, nem mesmo no meio acadêmico", diz Li.

"BASTA TROCAR O VIDRO E APAGAR AS LUZES"

Na Costa Rica, Rose Marie Menacho teve de convencer seus professores a deixá-la investigar colisões de aves como estudante de doutorado, há oito anos. "Eles não sabiam muito sobre esse assunto, não sabiam que era um problema real. Até mesmo eu ficava um pouco tímida quando dizia que estava estudando isso. Ficava um pouco envergonhada porque achava que não era algo tão grande assim", recorda.

Para entender o tamanho do problema nos trópicos, ela agora trabalha com cerca de 500 voluntários. Alguns armazenam cadáveres de pássaros em seus freezers, outros enviam relatórios e fotos. "Não são apenas espécies migratórias que colidem", diz Menacho. Seus voluntários recuperaram quetzal-resplandecentes e tucanos de cores vibrantes com bicos extensos e extravagantes. Ambas são espécies locais.

"A colisão mata muitas aves que já têm que lidar com a perda de habitat, mudanças climáticas, pesticidas etc. E é tão fácil de resolver, basta trocar o vidro e apagar as luzes", diz a bióloga Kaitlyn Parkins, da NYC Audubon.

Com os dados coletados, Parkins e sua equipe estão tentando convencer os proprietários de edifícios a agir. Normalmente, eles não precisam substituir nenhum vidro. Películas especiais podem torná-lo menos reflexivo – e assim economizar energia para aquecimento e resfriamento. As marcas nas janelas podem ajudar as aves a perceber a estrutura. Um exemplo: após uma renovação do Javits Convention Center, os voluntários encontraram cerca de 90% menos aves mortas ao redor do edifício.

Em janeiro, a cidade de Nova York adotou uma legislação para exigir que edifícios públicos desliguem as luzes à noite durante os períodos de migração. Desde o ano passado, os arquitetos também devem usar projetos favoráveis às aves para todos os edifícios novos, como o revestimento ultravioleta sobre vidro, que é visível para as aves, não para humanos.

NOVOS REGULAMENTOS SÃO UM BOM COMEÇO

Na calçada em frente ao Brookfield Place, um enorme escritório e centro comercial na região sul de Manhattan, Rob Coover inspeciona um pequeno pássaro. A luz do dia ainda é escassa, mas ele já procura por aves mortas há meia hora.

Coover olha cuidadosamente atrás das pilhas de cadeiras que os trabalhadores de um café logo distribuirão no terraço. Em duas oportunidades, ele já se contorceu para tirar fotos de um cadáver minúsculo e ainda rígido. Agora, ele novamente tira luvas de borracha e sacos plásticos de sua mochila para recolher e preservar uma vítima.

Certa vez, Coover encontrou 27 aves em apenas uma manhã. Uma parceira voluntária foi manchete internacional quando flagrou 226 aves sem vida ao redor do One World Trade Center em apenas uma hora, em setembro passado.

"É bastante deprimente, todos esses cadáveres", diz Coover. Às vezes, ele encontra algum sobrevivente e leva o animal ferido para um refúgio de pássaros. Os cadáveres geralmente ficam em seu freezer até que ele tenha tempo de levá-los à sede do grupo de conservação, onde são agrupados e, alguns deles, distribuídos a museus. "Antes da pandemia, eu costumava ir trabalhar após minhas rondas e colocava as aves no freezer do escritório", afirma. Ninguém nunca as notou, acrescenta.

Nos Estados Unidos e no Canadá, os voluntários são ativos em várias comunidades, e a lista de governos locais que sancionam leis para proteger as aves dos edifícios está crescendo. De acordo com a organização sem fins lucrativos American Bird Conservancy (Conservação Americana de Pássaros), a lei nova-iorquina é uma das mais eficazes. Após estudar as colisões de aves durante quase meio século, Daniel Klem mostra-se satisfeito. Ele finalmente vê a crescente conscientização que esperava.

"As mudanças climáticas também são uma questão muito séria, e ninguém está interessado em se desligar disso. Mas é muito complexo, e vai levar um tempo para descobrir as coisas e convencer as pessoas a fazer as coisas de maneira responsável. Colisões de aves é algo que poderíamos resolver amanhã. Não é complexo, só temos que ter vontade" conclui.  Fonte: Deutsche Welle – 21.04.2022  

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