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domingo, junho 18, 2023

ESTUDO MOSTRA CONTAMINAÇÃO DE PEIXES AMAZÔNICOS POR MERCÚRIO

Na Amazônia, um em cada cinco peixes consumidos pela população têm níveis de mercúrio perigosos para saúde. Metal é utilizado pelo garimpo.

Análise realizada em peixes adquiridos em mercados e feiras livres de cidades da região amazônica demonstra que mais de 20% dos animais ali comercializados têm contaminação de mercúrio acima do considerado seguro para a alimentação humana.

O estudo foi realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Federal de Lavras, do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, do Instituto Socioambiental e das organizações WWF-Brasil e Greenpeace Brasil e divulgado no final de maio.

Os pescados foram obtidos entre março de 2021 e setembro de 2022 em 17 pontos diferentes de seis estados amazônicos: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Em todas as localidades foram registrados peixes com níveis de contaminação acima do limite aceitável — o nível máximo considerado seguro para a ingestão, conforme estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é de 0,5 micrograma de metal por grama do alimento.

PIORES ÍNDICES

O pior cenário encontrado foi em Roraima, onde 40% dos peixes analisados tinham índice de contaminação maior do que o tolerável. No Acre, o índice foi de 35,9%. Os estados com menores indicadores foram Amapá, com 11,4%, e Pará, com 15,8%. Na média, 21,3% que chegam às mesas das famílias amazônicas têm níveis considerados altos de mercúrio.

A amostragem concluiu que em Rio Branco o potencial de ingestão de mercúrio da população pode chegar a 31,5 vezes o limite aceitável.

DANOS À SAÚDE

Uma das autoras do trabalho, a bióloga e sanitarista Ana Claudia Vasconcellos, pesquisadora da Fiocruz, ressalta a preocupação com a saúde da população da região. "Existem milhares de estudos que indicam que o consumo de pescado contaminado por mercúrio provoca inúmeros danos ao sistema nervoso central e cardiovascular de humanos, que podem ser identificados por uma variedade de sinais e sintomas. Essas pessoas podem desenvolver problemas de visão, de audição, de coordenação motora e de equilíbrio. Além de hipertensão arterial. Gestantes precisam redobrar os cuidados. É importante destacar que a exposição humana durante o período pré-natal pode provocar danos ainda mais graves do que em adultos, como atraso cognitivo, alterações no neurodesenvolvimento e até paralisia cerebral", afirma a pesquisadora.

O químico Rogério Machado, que estudou os efeitos do mercúrio durante seu mestrado, foi procurado pela reportagem para comentar os resultados da pesquisa. Ele afirmou que a contaminação de mercúrio pode acarretar uma abreviação de 5 a 25 anos de vida de uma pessoa.

Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie e na Faculdade São Bernardo do Campo, Machado explica que o mercúrio líquido, em si, se ingerido praticamente não seria absorvido pelo ser humano — menos de 0,1%.

METILMERCÚRIO

"O problema é que, uma vez nos rios, o mercúrio se converte em metilmercúrio, uma substância organometálica que o organismo humano absorve em mais de 95%", explica ele. Essa transformação, feita por bactérias, pode ocorrer nas plantas ou mesmo no organismo dos peixes. "Ou seja: aí o ser humano se contamina completamente e o mercúrio vai acabar nos rins, no fígado, no sistema nervoso central, nos lugares muito irrigados por sangue. E vai apodrecer as pessoas, aos poucos."

BIOMAGNIFICAÇÃO

Por conta de um fenômeno tecnicamente chamado de biomagnificação, o mercúrio presente na carne do peixe gradualmente se acumula ao longo da cadeia alimentar. Isso significa que peixes carnívoros podem ter mais material tóxico acumulado do que os herbívoros. "Por isso a piranha, a piraíba, o filhote, o pirarucu e o tucunaré têm níveis mercuriais mais elevados do que espécies não-carnívoras, como o matrinchã, o pacu, o aracu e o tambaqui", exemplifica a bióloga Vasconcellos.

Do ponto de vista da saúde pública, essa é uma estratégia que precisa ser adotada, como forma de mitigação a partir de um ajuste na dieta. "Principalmente para gestantes ou mulheres que pretendem engravidar", enfatiza a pesquisadora Ana Claudia Vasconcellos. "Nesses casos, é importante restringir o consumo de peixes carnívoros e priorizar o consumo de peixes herbívoros."

MEIO AMBIENTE

De acordo com a bióloga, é muito difícil zerar o problema, mas "para diminuir o impacto da contaminação" seria necessário "interromper a atividade garimpeira na Amazônia o quanto antes". Tóxico, o metal pesado é utilizado no processo do garimpo.

Vasconcellos frisa que, uma vez lançado na natureza, o mercúrio "pode permanecer até 100 anos no ambiental e não existem estratégias eficazes para a remoção" do mesmo em áreas "tão extensas quanto a Bacia Hidrográfica da Amazônia".

"Não vou dizer que é irreversível, mas é muito difícil reverter essa contaminação", concorda o químico Machado. Ele explica que até hoje não foram desenvolvidos métodos eficazes para retirar esse mercúrio de rios. Fonte: Deutsche Welle - 07/06/2023  

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sexta-feira, agosto 19, 2022

JOHNSON’S VAI PARAR DE FABRICAR TALCO APÓS PROCESSO BILIONÁRIO: HÁ RISCOS NO USO DO PRODUTO?


A Johnson & Johnson (J&J) deixará de fabricar e comercializar pó de talco para bebês em todo o mundo a partir do próximo ano.

O anúncio ocorre mais de dois anos depois que a gigante da saúde encerrou as vendas do produto nos EUA.

A J&J enfrenta dezenas de milhares de processos de mulheres que alegam que seu pó de talco continha amianto e as levou a desenvolver câncer de ovário.

O talco para bebês é usado para prevenir assaduras e para usos cosméticos, inclusive como xampu seco.

O talco é extraído da terra e é encontrado em camadas próximas às do amianto, que é um material conhecido por causar câncer.

No fim de 2018, surgiram informações de que a Johnson & Johnson (J&J) sabia, há décadas, que o seu pó de talco continha asbesto, um mineral com composição e características semelhantes às do amianto e com efeitos nocivos para a saúde.

Desde então, a J&J enfrentou milhares de ações judiciais com a acusação de que teria contribuído para o desenvolvimento de câncer nos ovários em consumidoras do produto. A empresa nega e diz que, a cada ano, gasta milhões de dólares com esses casos.

"A nossa posição sobre a segurança do pó cosmético permanece inalterada. Apoiamos fortemente as décadas de análise científica por médicos especialistas em todo o mundo, confirmando que o pó de talco para bebês, da Johnson, é seguro, não contém asbesto e não causa câncer", disse a farmacêutica.

Em 2020, a J&J disse que deixaria de vender talco para bebês nos EUA e no Canadá porque a demanda havia caído após o que chamou de "desinformação" sobre a segurança do produto em meio a vários casos legais.

Na época, a empresa disse que continuaria a vender seu talco para bebês à base de talco no Reino Unido e no resto do mundo.

A empresa enfrenta ações judiciais de consumidores e seus sobreviventes que alegam que os produtos de talco da J&J causaram câncer devido à contaminação com amianto.

Em resposta a provas de contaminação por amianto apresentadas em tribunais, reportagens da mídia e legisladores dos EUA, a empresa negou repetidamente as alegações.

"Como parte de uma avaliação de portfólio mundial, tomamos a decisão comercial de fazer a transição para um portfólio de talco para bebês à base de amido de milho", afirmou em comunicado.

A empresa acrescentou que talco para bebês à base de amido de milho já é vendido em países ao redor do mundo.

O talco para bebês da Johnson é vendido há quase 130 anos e se tornou um dos símbolos da empresa.

POR QUE O AMIANTO OFERECE RISCOS À SAÚDE

O amianto é um mineral que está presente na natureza.

Uma variedade da substância, o amianto branco, é usada na indústria da construção civil nos países em desenvolvimento, mas é proibida na maioria dos países industrializados, devido aos riscos para a saúde.

O amianto é resistente ao calor e ao fogo. Além disso, o material é resistente e barato, por isso pode ser usado de diversas formas. Ele pode ser misturado ao cimento para fabricação de tetos e pisos. Também é utilizado em canos, tetos, freios de veículos, entre outros.

Fragmentos microscópicos de fibras de amianto são potencialmente perigosos quando inalados e podem provocar doenças respiratórias:

•Câncer de pulmão, que é o mais comum em pessoas expostas ao amianto;

•Mesotelioma, uma forma de câncer no peito que praticamente só ocorre em pessoas expostas ao amianto;

•Asbestose, uma doença que causa falta de ar e pode levar a problemas respiratórios mais graves.

O amianto branco, conhecido como crisótilo, é a única forma de amianto usada hoje. A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que a variação também é associada ao mesotelioma e outros tipos de câncer, mas seus produtores dizem que a substância é segura se manejada com cuidado.

Alguns especialistas afirmam que o amianto branco traz menos risco à saúde do que os amiantos azul e marrom, mas mesmo empresas que vendem a substância dizem que os trabalhadores devem evitar inalar o ar com o produto.

A substância é amplamente produzida e usada no Brasil, apesar de alguns esforços isolados para se bani-la. O Brasil é o terceiro maior produtor e exportador de amianto, que é vendido para países como Colômbia e México. O país também é o quinto maior consumidor do produto. Fonte: BBC Brasil - 12 agosto 2022

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quarta-feira, junho 05, 2019

Agrotóxico: Coquetel perigoso em água de consumo

Um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água consumida em 1 a cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Entre os locais com contaminação múltipla estão as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas.

As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento.

Os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. 
■Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos.
■Em 2015, 84%
■Em 2016, 88%
■Em 2017, 92%
A falta de monitoramento também é um problema. Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.931 não realizaram testes nas suas redes de abastecimento entre 2014 e 2017

Embora se trate de informação pública, os testes não são divulgados de forma compreensível para a população, deixando os brasileiros no escuro sobre os riscos que correm ao beber um copo d'água. Em um esforço conjunto, a Repórter Brasil, a Agência Pública e a organização suíça Public Eye fizeram um mapa com os agrotóxicos encontrados em cada cidade. O mapa revela ainda quais estão acima do limite de segurança de acordo com a lei do Brasil e pela regulação europeia.


RETRATO NACIONAL DA CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA
O retrato nacional da contaminação da água gerou alarde entre profissionais da saúde. "A situação é extremamente preocupante e certamente configura riscos e impactos à saúde da população", afirma a toxicologista e médica do trabalho Virginia Dapper. O tom foi o mesmo na reação da pesquisadora em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Ceará, Aline Gurgel: "dados alarmantes, representam sério risco para a saúde humana".
Entre os agrotóxicos encontrados em mais de 80% dos testes, há cinco classificados como "prováveis cancerígenos" pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e seis apontados pela União Europeia como causadores de disfunções endócrinas, o que gera diversos problemas à saúde, como a puberdade precoce. Do total de 27 pesticidas na água dos brasileiros, 21 estão proibidos na União Europeia devido aos riscos que oferecem à saúde e ao meio ambiente.

MISTURA PREOCUPA PESQUISADORES
A mistura entre as diversas  substâncias químicas foi um dos pontos que mais gerou preocupação entre os especialistas ouvidos. O perigo é que a combinação de substâncias multiplique ou até mesmo gere novos efeitos. Essas reações já foram demonstradas em testes, afirma a química Cassiana Montagner. "Mesmo que um agrotóxico não tenha efeito sobre a saúde humana, ele pode ter quando mistura com outra substância", explica Montagner, que pesquisa a contaminação da água no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de São Paulo. "A mistura é uma das nossas principais preocupações com os agrotóxicos na água."
Os paulistas foram os que mais beberam esse coquetel nos últimos anos. O estado foi recordista em número de municípios onde todos os 27 agrotóxicos estavam na água. São mais de 500 cidades, incluindo a grande São Paulo - Guarulhos, São Bernardo do Campo, Santo André e Osasco - além da própria capital. E algumas das mais populosas, como Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto e Sorocaba. O estado do Paraná foi o segundo colocado, com coquetel presente em 326 cidades, seguido por Santa Catarina e Tocantins.

Os especialistas falam muito sobre a "invisibilidade" do efeito coquetel. As políticas públicas não monitoram a interação entre as substâncias porque os estudos que embasam essas políticas não apontam os riscos desse fenômeno. "Os agentes químicos são avaliados isoladamente, em laboratório, e ignoram os efeitos das misturas que ocorrem na vida real", diz a médica e toxicologista Dapper.
Por isso, ela lamenta, as pessoas que já estão desenvolvendo doenças em decorrência dessa múltipla contaminação provavelmente nunca saberão a origem da sua enfermidade. Nem os seus médicos.

LIMITE FIXADO PARA REGULAR A MISTURA DE SUBSTÂNCIAS
Questionado sobre quais medidas estão sendo tomadas, o Ministério da Saúde enviou respostas por email reforçando que "a exposição aos agrotóxicos é considerada grave problema de saúde pública" e listando efeitos nocivos que podem gerar "puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias".
A resposta, porém, ressalta que ações de controle e prevenção só podem ser tomadas quando o resultado do teste ultrapassa o máximo permitido em lei. E aí está o problema: o Brasil não tem um limite fixado para regular a mistura de substâncias.

Essa é uma das reivindicações dos grupos que pedem uma regulação mais rígida para os agrotóxicos. "É um absurdo esse problema ficar invisível no monitoramento da água e não haver ações para controlá-lo", afirma Leonardo Melgarejo, engenheiro de produção e membro da Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. "Se detectar diversos agrotóxicos, mas cada um abaixo do seu limite individual, a água será considerada potável no Brasil. Mas a mesma água seria proibida na França."

Ele se refere à regra da União Europeia que busca restringir a mistura de substâncias: o máximo permitido é de 0,5 microgramas em cada litro de água - somando todos os agrotóxicos encontrados. No Brasil, há apenas limites individuais. Assim, somando todos os limites permitidos para cada um dos agrotóxicos monitorados, a mistura de substâncias na nossa água pode chegar a 1.353 microgramas por litro sem soar nenhum alarme. O valor equivale a 2.706 vezes o limite europeu.

DOSES PEQUENAS, RISCO GRANDE
Mesmo quando se olha a contaminação de cada agrotóxico isoladamente, o quadro preocupa. Dos 27 agrotóxicos monitorados, 20 são listados como altamente perigosos pela Pesticide Action Network, grupo que reúne centenas de organizações não governamentais que trabalham para monitorar os efeitos dos agrotóxicos.
Mas, aos olhos da lei brasileira, o problema é pequeno. Apenas 0,3% de todos os casos detectados de 2014 a 2017 ultrapassaram o nível considerado seguro para cada substância. Mesmo considerando os casos em que se monitora dez agrotóxicos proibidos no Brasil, são poucas as situações em que a presença deles na água soa o alarme.
E esse é o segundo alerta feito por parte dos pesquisadores: os limites individuais seriam permissivos. "Essa legislação está há mais de dez anos sem revisão, é muito atraso do ponto de vista científico" afirma a química Montagner.  
Ela se refere a pesquisas mais recentes sobre os riscos do consumo frequente e em quantidades menores, um tipo de contaminação que não gera reações imediatas. "Talvez certo agrotóxico na água não leve 15% da cidade para o hospital no mesmo dia. Mas o consumo contínuo gera efeitos crônicos ainda mais graves, como câncer, problemas na tireoide, hormonal ou neurológico", alerta Montagner. "Já temos evidências científicas, mas a água contaminada continua sendo considerada como potável porque não se olha as quantidades menores", afirma.

Em resposta a essa crítica, um grupo de trabalho foi criado pelo Ministério da Saúde para rever os limites da contaminação. "Estamos fazendo um trabalho criterioso", afirma Ellen Pritsch, engenheira química e representante da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental no grupo. Segundo ela, pesquisas internacionais e regulações de outros países estão sendo levados em conta. A previsão é que os trabalhos, iniciados em 2014, sejam concluídos em outubro.

SÃO PAULO É O RECORDISTA DESSE FENÔMENO DE INTOXICAÇÃO.
Pelo menos 144 cidades detectaram o mesmo pesticida de modo contínuo durante os quatro anos de medições seguidos, segundo os dados. Mais uma vez, São Paulo é o recordista desse fenômeno de intoxicação. Especialistas ouvidos pela reportagem apontam o uso de pesticidas na produção de cana de açúcar como a provável origem para a larga contaminação do estado. "A cultura da cana é a que tem mais herbicidas registrados. Como São Paulo é um dos maiores produtores de cana, isso justifica sua presença elevada [de pesticidas na água]", afirma Kassio Mendes, coordenador do comitê de qualidade ambiental da Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas.
O diuron, um dos principais herbicidas usados pelo setor, foi detectado em todos os testes feitos na água dos mananciais das regiões onde mais se cultiva cana no estado, segundo dados de 2017 da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). A substância é uma das apontadas como provável cancerígena pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

EMPURRA-EMPURRA
Depois de contaminada, são poucos os tratamentos disponíveis para tirar o agrotóxico da água. "Alguns filtros são capazes de tirar alguns tipos de agrotóxicos, mas não há um que dê conta de todos esses", afirma Melgarejo. "A água mineral vem de outras fontes, mas que são alimentadas pela água que corre na superfície, então eventualmente também serão contaminadas."

O trabalho preventivo, ou seja, evitar que os agrotóxicos cheguem aos mananciais, deveria ser primordial, afirma Rubia Kuno, gerente da divisão de toxicologia humana e saúde ambiental da Cetesb. "O esforço deve ser na prevenção porque o sistema de tratamento convencional não é capaz de remover os agrotóxicos da água", afirma.

O Ministério da Saúde diz que a vigilância sanitária dos municípios e dos estados deve dar o alerta aos prestadores de serviços de abastecimento de água para que tomem as providências de melhoria no tratamento da água. "Caso os dados demonstrem que o problema ocorre de forma sistemática, é preciso buscar soluções a partir da articulação com os demais setores envolvidos, como órgãos de meio ambiente, prestadores de serviço e produtores rurais", diz a nota enviada pelo órgão.

SEGURANÇA DOS PESTICIDAS
Questionado sobre quais ações estão sendo tomadas, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), que representa os produtores de agrotóxicos, fez uma defesa sobre a segurança dos pesticidas. Em nota, o grupo afirma que a avaliação feita pela Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura garante que eles são seguros ao trabalhador, população rural e ao meio ambiente "sempre que utilizados de acordo com as recomendações técnicas aprovadas e indicadas em suas embalagens".
O sindicato afirma que a aplicação correta dos produtos no campo é um desafio e atribui a responsabilidade aos trabalhadores que aplicam os pesticidas. "O setor de defensivos agrícolas realiza iniciativas para garantir a aplicação correta de seus produtos, uma vez que alguns problemas estruturais da agricultura como a falta do hábito da leitura de rótulo e bula e analfabetismo no campo trazem um desafio adicional de cumprimento às recomendações de uso."

Em Santa Catarina, que está entre os três estados com maior contaminação, o Ministério Público Estadual chamou a responsabilidade de prefeituras, secretarias estaduais, concessionárias de água, agências reguladoras e sindicatos de produtores e trabalhadores rurais. A iniciativa partiu dos resultados de um estudo inédito que encontrou agrotóxicos na água de 22 municípios. "Alertamos todos os órgãos públicos e privados envolvidos para buscar soluções, é preciso aplicar medidas corretivas para diminuir os riscos dos cidadãos", diz a promotora Greicia Malheiros, responsável pela investigação. A iniciativa teve início em março desse ano e ainda não tem resultados.
Mais do que remediar a contaminação da água, a coordenadora técnica do estudo, a engenheira química Sonia Corina Hess, defende a proibição do uso dos pesticidas que oferecem maior risco. Das substâncias encontradas em seu estudo no estado catarinense, sete estão proibidas na União Europeia por oferecer risco à saúde humana. "Tem que proibir o que é proibido lá fora, tem que proibir o que é perigoso. Se faz mal para eles porque no Brasil é permitido?", questiona.

PERIGOSO NA EUROPA, PERMITIDO NO BRASIL
O controle da água feito pelo Brasil também está distante dos parâmetros da União Europeia. Com o objetivo de eliminar a contaminação, o continente fixou a concentração máxima na água em 0,1 micrograma por litro - valor que era o mínimo detectável quando a regulação foi criada.

Para descobrir como a água do Brasil seria avaliada pelo padrão europeu, a organização Public Eye classificou os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde segundo o critério daquele continente. Alguns dos agrotóxicos mais perigosos ultrapassaram os limites europeus em mais de 20% dos testes. Entre eles, o glifosato e o mancozebe, ambos associados a doenças crônicas, e o aldicarbe, proibido no Brasil e classificado pela Anvisa como "o agrotóxico mais tóxico registrado no país, entre todos os ingredientes ativos utilizados na agricultura".

 GLIFOSATO
O glifosato é o caso mais revelador sobre as peculiaridades do Brasil na regulação sobre agrotóxicos. Classificado como "provável carcinogênico" pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, órgão da Organização Mundial da Saúde, o pesticida está sendo discutido em todo o mundo. Há milhares de pacientes com câncer processando os fabricantes nos Estados Unidos - e vencendo nos tribunais - , além de protestos e petições pedindo a sua proibição na Europa. Não há consenso, entre as agências reguladoras, sobre sua classificação. No Brasil, que oficialmente colocou a substância em revisão desde 2008, o Ministério da Agricultura liberou novos registros para a venda de glifosato no início deste ano. O pesticida passou a ser vendido em novas formas, quantidades e por número maior de fabricantes.

Nos testes com a água do país, a controversa substância foi a que mais ultrapassou a margem de segurança segundo o critério da União Europeia: 23% dos casos acima do limite. Pela lei brasileira, o glifosato foi um dos que menos soou o alarme: apenas 0,02% dos testes ultrapassaram o nosso limite.

"Isso é um escândalo de saúde pública. Nós colocamos o limite alto, lá na estratosfera, e aí comemoramos que temos uma água segura", questiona a pesquisadora Larissa Bombardi, professora de geografia na Universidade de São Paulo e autora de um atlas que compara a lei brasileira e europeia no controle dos agrotóxicos. Seu estudo revela como nossos limites chegam a ser 5.000 vezes mais altos que os europeus. O caso mais grave é o do glifosato: enquanto na Europa é permitido apenas 0,1 miligramas por litro na água, aqui no Brasil a legislação permite até 500 miligramas por litro.

Como o glifosato é o agrotóxico mais vendido no país, e também o que tem o limite mais generoso para presença na água, Bombardi lança suspeitas sobre os critérios usados: "no caso do glifosato é realmente difícil encontrar justificativa científica, parece ser mais uma decisão política e econômica". O pesticida foi o mais consumido em 2017 no Brasil com 173 mil toneladas vendidas, segundo o Ibama. O volume corresponde a 22% das estimativas de vendas para esse químico em todo o mundo no mesmo ano - o que faz do Brasil um importante mercado para as fabricantes, entre elas as gigantes Syngenta e a Monsanto - comprada pela Bayer no ano passado.

A DISCREPÂNCIA ENTRE BRASIL E EUROPA
A larga diferença entre os limites fixados pela União Europeia e pelo Brasil é um dos principais argumentos dos críticos do uso da substância no Brasil. "Essa diferença só pode se dar por dois motivos. Ou porque nossa sociedade é mais forte, somos seres mais resistentes aos agrotóxicos. Ou mais tola, porque estamos sendo ingênuos quanto aos riscos que corremos", provoca Melgarejo, da Campanha Contra os Agrotóxicos.
A engenheira química Ellen Pritsch, representante da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental no grupo de trabalho que reavalia os limites dos pesticidas na água, discorda. Para ela, os atuais limites são seguros e foram fixados com embasamento científico. "O critério brasileiro é dez vezes menor do que o efeito que geraria problema. Então, mesmo que seja encontrado um percentual acima esse valor, ainda assim seria menor [estaria abaixo do risco]", afirma.
Antes de aprovar os registros dos agrotóxicos, as empresas fabricantes entregam estudos com testes feitos com animais em laboratórios. O Sindiveg, sindicato da indústria de fabricantes de pesticidas, defende que esses estudos são o suficiente para avaliar os riscos das substâncias. "São estudos de bioconcentração em peixes e micro-organismo, algas e organismos do solo, abelhas, microcrustáceos, peixes e aves", afirma nota enviada pelo Sindiveg em resposta às perguntas da reportagem  
A principal reivindicação dos grupos que fazem campanha pelo controle dos agrotóxicos para evitar efeitos no Brasil é por mais restrição e até pela proibição de alguns dos pesticidas hoje aprovados no país, como a atrazina, o acefato e o paraquate, que são campeões de venda no Brasil, mas proibidos na União Europeia. Fonte: UOL Noticias - 15 de abril de 2019.

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quinta-feira, setembro 21, 2017

Alerta de ovos contaminados por agrotóxico na Europa

ALERTA ALIMENTAR LANÇADO PELAS AUTORIDADES HOLANDESAS
A rede de supermercados populares Aldi anunciou na sexta-feira (04/08) que está retirando todos os ovos de suas prateleiras na Alemanha, em meio a um alerta alimentar lançado pelas autoridades holandesas sobre ovos supostamente contaminados com um pesticida tóxico.

Em comunicado, a empresa alemã, que possui mais de 4 mil unidades em todo o país, justificou que tomou a decisão por "pura precaução", a fim de fornecer "clareza e transparência" ao consumidor, embora não haja evidência real de contaminação em seus produtos. A associação alemã de agricultores, por outro lado, descreveu a atitude como uma "reação exagerada".

O alerta fora lançado pela NVWA, agência responsável por segurança alimentar na Holanda, que encontrou vestígios do uso do inseticida fipronil em várias fazendas avícolas no país. Após fechar dezenas de empresas, recomendou que os mercados deixassem de vender os ovos produzidos por elas.

Uma lista com mais de cem códigos – que aparecem impressos nas cascas dos ovos e identificam em qual fazenda eles foram produzidos – foi publicada pela agência reguladora em sua página na internet, alertando os cidadãos para que evitem consumir esses produtos até segundo aviso.

BILHOES DE OVOS PRODUZIDOS
Segundo a imprensa holandesa, cerca de 10 bilhões de ovos foram produzidos no país no último ano por cerca de mil fazendas avícolas. Ao menos metade deles atravessou a fronteira para a Alemanha.

O ministro alemão da Agricultura, Christian Schmidt, afirmou que "ao menos 3 milhões de ovos contaminados" vindos da Holanda chegaram ao país nas últimas semanas, e a maioria foi vendida.

RETIRADA DOS SUPERMERCADOS
No país, várias redes de supermercados anunciaram ter interrompido a venda de ovos holandeses. O grupo Rewe, bem como sua cadeia subsidiária Penny, anunciou que retiraria de suas prateleiras todos os ovos provenientes da Holanda, independentemente de estarem na lista da NVWA ou não.
O próprio grupo Aldi, antes de informar nesta sexta-feira que está deixando de vender qualquer ovo em suas lojas, já havia removido das prateleiras os produtos das fazendas que supostamente utilizam fipronil. Aldi possui mais de 4 mil supermercados na Alemanha
O mesmo fez a rede rival de supermercados populares Lidl.
Já em território holandês, a rede de supermercados Albert Heijn, a maior do país, afirmou que "parou a comercialização de 14 tipos de ovos" seguindo as indicações da NVWA, afirmou a porta-voz da empresa, Els van Dijk.  "Todos esses 14 tipos de ovos foram enviados de volta aos depósitos para serem destruídos", completou Van Dijk, indicando que esta é uma "situação sem precedentes" para o grupo Albert Heijn.

Além da agência reguladora holandesa, a autoridade de segurança alimentar da Bélgica, AFSCA, também lançou uma investigação criminal sobre a questão. Testes encontraram fipronil em alguns ovos, mas não em quantidades que representem ameaça à saúde humana. Nenhum desses ovos chegou às prateleiras de supermercados belgas, garantiu a agência.

Em Bruxelas, a Comissão Europeia disse estar ciente da situação. Segundo a porta-voz Anna-Kaisa Itkonen, o caso está sendo monitorado de perto pelas autoridades. "O que posso dizer é que as empresas foram identificadas, os ovos foram banidos, e a situação está sob controle", afirmou. 

A LTO, federação holandesa de agricultura e horticultura, comunicou que estima uma perda de pelo menos 10 milhões de euros por parte dos avicultores do país devido ao escândalo de contaminação.

FIPRONIL
Produzido por empresas como a alemã Basf, o fipronil é comumente utilizado em produtos veterinários para evitar o aparecimento de pulgas, piolhos e carrapatos. Seu uso, no entanto, é proibido para tratar animais destinados ao consumo humano, como aves.
O inseticida é considerado tóxico para humanos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), podendo danificar órgãos como fígado, rins e tireóide se consumido em grandes quantidades e por período prolongado, alerta a entidade.

BELGAS SOUBERAM DE OVOS TÓXICOS EM JUNHO
Agência de segurança alimentar da Bélgica recorre a segredo de Justiça em investigação para explicar por que informação não foi divulgada antes. Ovos produzidos no país e na Holanda estão contaminados com inseticida.

Autoridades da Bélgica admitiram que já sabiam desde o início de junho de uma suspeita de que ovos produzidos no país teriam sido expostos a um inseticida tóxico.  Mesmo assim não divulgaram nenhum alerta na época, e a informação foi repassada a autoridades europeias apenas em 20 de julho. Nos últimos dias, testes demonstraram que ovos produzidos no país e na vizinha Holanda apresentavam sinais de contaminação.

Segundo Katrien Stragier, uma porta-voz da Agência de Segurança Alimentar da Bélgica (AFSCA), o silêncio ocorreu por causa das regras que são impostas em casos de suspeita de fraude. "Nós sabíamos desde o início de junho que havia um problema com o [inseticida] fipronil no setor aviário. Iniciamos uma investigação imediatamente e informamos o Ministério Público, já que o caso incluía a suspeita de fraude. Desse ponto em diante, passou a valer o segredo de Justiça. Entendemos que as pessoas querem fazer questionamentos sobre saúde pública, e estamos tentando responder", disse.

OUTROS PAÍSES
As autoridades francesas e britânicas afirmam que ovos expostos a inseticida também entraram em seus países, mas em menor quantidade. Europa alerta ainda Suécia e Suíça.
A Comissão Europeia informou que ovos possivelmente contaminados com um pesticida tóxico também chegaram à França e ao Reino Unido, em meio a um alerta alimentar lançado pelas autoridades holandesas que já atinge outros países do continente.

REINO UNIDO
Importou 700 mil ovos contaminados

FRANÇA
Já o governo francês comunicou que 13 lotes de ovos holandeses contaminados com fipronil foram encontrados em duas fábricas de processamento de alimentos no centro-oeste da França. O Ministério da Agricultura do país não soube informar se algum produto chegou ao consumidor. Também o  ministério relatou que, em 28 de julho passado, uma fazendo avícola em Pas-de-Calais, no norte da França, foi colocada sob vigilância depois de um alerta recebido pelas autoridades de que um fornecedor belga enviara à granja produtos supostamente contaminados.

O governo francês expandiu a lista de produtos que foram retirados da venda porque contêm ovos contaminados . O Ministério da Agricultura francês acrescentou três referências aos 17 que estavam na lista inicial que havia publicado. Estes são dois tipos de Frangipane (um biscoito com pasta de amêndoa) da marca Lotus feita na Bélgica que foi colocada no mercado na  França entre 3 de julho e 3 de agosto e um waffle feito na Holanda da marca Les Trouvailles de Lucille. Anteriormente, a retirada de 17 outros tipos de waffles, todos importados da Holanda e vendidos com o marca de diferentes cadeias de supermercados.
Sobre esses ovos, a pasta garantiu que nenhum deles chegou às prateleiras de supermercados do país. Os produtos foram submetidos a testes, e o resultado deve ser conhecido.
O Departamento de Agricultura observou que, em todos esses casos, a taxa de concentração de Fipronil excede o limite autorizado, mas enfatizou que seu consumo não é perigoso para a saúde. Ele também acrescentou que incluirá outras referências confirmadas a presença do inseticida com as análises que estão sendo feitas.

DINAMARCA RECEBEU 20 TONELADAS DE OVOS CONTAMINADOS
Governo dinamarquês diz que produto foi vendido a estabelecimentos e fornecedores e não chegou ao consumidor comum. Áustria e Romênia também identificam lotes tóxicos.  
O governo da Dinamarca divulgou que 20 toneladas de ovos contaminados foram vendidos a estabelecimentos e fornecedores alimentícios.
"A companhia dinamarquesa Danaeg recebeu um total de 20 toneladas de ovos cozidos e descascados de um fornecedor belga", informou a administração veterinária e alimentar dinamarquesa.
Segundo a agência do governo, a maior parte dos ovos foi vendida a cafeterias e empresas de fornecimento. A administração ressalta que os ovos "provavelmente não foram vendidas a lojas de varejo a um nível significativo" e não representaram riscos aos consumidores.

UNIÃO EUROPEIA DIZ QUE 15 PAÍSES DO BLOCO RECEBERAM OVOS CONTAMINADOS, MAIS SUÍÇA E HONG KONG
 Quinze países da União Europeia (UE), além de Suíça e Hong Kong foram afetados pela crise dos ovos contaminados, segundo anúncio feito pela Comissão Europeia. Há granjas interditadas em quatro países — Bélgica e Holanda, origem da crise, e Alemanha e França —, dos quais partiram exportações para os demais. Investigações mostraram que os níveis de fipronil, produto usado para erradicar o ácaro vermelho nas galinhas, superava os limites autorizados pela regulamentação europeia, em alguns casos muito acima. O produto é usado por empresas especializadas na desinfecção de propriedades agrícolas.
A Comissão anunciou ainda que fará uma reunião com representantes desses países, em 26 de setembro próximo, para “tirar as lições” do episódio. Na União Europeia, os países atingidos são Bélgica, Holanda, Alemanha, França, Suécia, Reino Unido, Áustria, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia e Dinamarca, disse um porta-voz do Executivo europeu à imprensa.

PERDAS MILIONÁRIAS
A Comissão Europeia deu mais informações, sobre a origem dos ovos suspeitos de contaminação. Além das dezenas de criadouros que permanecem fechados na Holanda e na Bélgica, Bruxelas afirmou que também foram fechadas quatro explorações agrícolas na Alemanha e uma na França por terem utilizado fipronil para limpeza, cuja utilização é proibida em aves de granja. Os ministros da União Europeia (UE) se reunião em 26 de setembro para analisar as múltiplas falhas de coordenação na gestão da crise.

O fipronil não apareceu apenas em criadouros da Holanda e da Bélgica. As autoridades do bloco detalharam  que o inseticida, proibido em animais destinados a alimentação, também foi usado na Alemanha e na França. Em ambos os países, várias granjas continuam fechadas enquanto é feita a análise dos ovos e da carne das aves. Os trabalhadores do setor só poderão retomar a atividade quando ficar comprovado que os resíduos de fipronil presentes nos alimentos cumprem com as normas sanitárias. Dos criadouros desses quatro países, mas sobretudo da Holanda e da Bélgica, saíram ovos que foram retirados do mercado em 15 países da UE, Suíça e Hong Kong.

As autoridades europeias têm sido cautelosas, bloqueando todas as exportações agrícolas tratadas com a substância desde janeiro deste ano. O objetivo é evitar a chegada ao mercado de produtos em mau estado, embora os especialistas continuem tranquilizando os consumidores quanto ao pequeno risco à saúde causado pela ingestão.

As grandes preocupações do setor são as milionárias perdas que o escândalo vai causar aos avicultores afetados e o tempo que levarão para recuperar a confiança dos clientes. A porta‑voz da organização holandesa Bionext, que reúne criadores especializados em produtos ecológicos, mostrava a decepção reinante entre eles. “Estão abatidos e se sentem enganados pela empresa ChickFriend, que lhes vendeu um produto aparentemente limpo e natural.

ROTEIRO DA CRISE

COMO COMEÇOU A CRISE?
Supostamente importado da Romênia pela empresa belga Poultry-Vision, o pesticida foi misturado a outros inseticidas legais para melhorar seus efeitos. Chickfriend, a empresa holandesa que supostamente desinfectou as aves com o composto ilícito comprado da Bélgica, diz que não trabalhou em granjas de frangos destinados ao consumo. No entanto, a Holanda, que tem mais de 100 milhões de aves de granja e exporta milhões de ovos, desaconselhou no início de agosto sua ingestão pela população. O Serviço de Segurança Alimentar tinha encontrado fipronil em diversas concentrações, uma delas muito alta, em 28 amostras. Qualificou os ovos de nocivos para as crianças e o alarme nacional foi dado.

COMO SE DESCOBRIU A CONTAMINAÇÃO?
A Bélgica garante que a Holanda recebeu em novembro de 2016 informações anônimas sobre o uso do produto em granjas, mas não investigou. Mesmo admitindo o alarme, os ministérios da Saúde e Agricultura holandeses destacam que não havia indícios de que a substância fosse chegar aos ovos. Só se falava da limpeza de aves e instalações. Os ministérios da Agricultura e da Saúde admitiram que não informaram o Parlamento em 2016 “porque na época havia uma investigação em andamento”. Alertaram, por sua vez, o Serviço de Segurança Alimentar quando a presença do fipronil foi constatada nas amostras de ovos de suas granjas este verão. Publicou-se, além disso, os códigos dos ovos considerados tóxicos. Os movimentos de 138 instalações foram bloqueados, e as investigações incluem até agora 180.

TODOS OS PRODUTOS CONTAMINADOS FORAM RETIRADOS?
Os ovos suspeitos foram retirados de lojas e supermercados, mas continua havendo doces, molhos e saladas que podem contê-los. Agentes da vigilância sanitária repassam agora todos os produtos, inclusive alimentos infantis, para elaborar uma lista exaustiva.

O QUE ACONTECE SE FOR CONSUMIDO UM OVO COM FIPRONIL?
Como em outros casos, os especialistas afirmam que o consumo continuado pode ser perigoso, mas não o esporádico. Isso se deve à concentração do pesticida, que só seria daninha em grandes quantidades. É aconselhável descartá-los, sobretudo para evitar que crianças e grávidas se exponham desnecessariamente a possíveis perigos.

COMO É O USO DE FIPRONIL NO BRASIL?
Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o produto é autorizado para uso inseticida, formicida e cupinicida especialmente para aplicação no solo no cultivo de batatas, cana-de-açúcar e milho. Além da aplicação nas folhas das culturas de algodão, arroz, eucalipto e soja, dentre outros. Em junho de 2012, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), soltou um comunicado  restringindo a pulverização aérea de fipronil, bem os agrotóxicos imidacloprido, tiametoxam e clotianidina, no controle parasitário agrícola, pois essas substâncias seriam nocivas às abelhas.
A Organização Mundial da Saúde afirmou que, quando ingerida em grandes quantidades, a substância pode prejudicar rins, fígado e glândulas tiroides. Fonte: Deutsche Welle – 04.08.2017 a 11.08.2017



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quarta-feira, setembro 13, 2017

Os 30 anos do acidente radioativo do césio-137

Técnicos retiram lixo radioativo das áreas contaminadas nos setores
Aeroporto e Ferroviário, no centro de Goiânia,
bairros mais afetados pela contaminação do césio-137
A cada mês de setembro, desde 1987, a árvore genealógica da família Alves Ferreira lembra a maior tragédia radiológica urbana da história da humanidade.

Era o dia 13 do mês de setembro, uma cápsula com cloreto de césio --sal obtido por meio do radioisótopo 137 do elemento químico césio-- foi aberta em uma casa da rua 57, no setor Aeroporto da capital goiana, antes de seguir para um ferro-velho.

PRECONCEITOS
Os dias seguintes foram de dor, ferimentos, sofrimento e morte. Depois, preconceito e incerteza quanto ao futuro das 129 pessoas contaminadas pela radiação. Esse dia jamais chegou ao fim.
Um dia, uma passageira  do táxi perguntou se não tinha nenhum perigo de ficar no carro com os vidros fechados. Eu disse que não, mas que ela ficasse à vontade se quisesse descer  O Hyundai prateado modelo HB, placas de Aparecida de Goiânia, está a duas quadras do aeroporto da capital goiana. Ele é guiado por Odesson Alves Ferreira, 62, cuja mão esquerda exibe as cicatrizes do acidente. Ele perdeu a palma da mão --ela foi reconstituída com parte da pele que cobre o abdômen-- e as falanges do dedo indicador da mão foram amputadas. Odesson cadastrou-se há um ano na Uber, após seguidas tentativas de empreendimentos barradas pelo preconceito.
É a memória oral da história do césio-137: conta inúmeras vezes com precisão o que aconteceu desde o dia 13 de setembro de 1987. Tem, na cabeça, os números exatos do peso da peça de ferro-velho, da cápsula de césio, do tamanho e das especificações do que foi enterrado no depósito de Abadia de Goiás.

A precisão das datas impressiona, assim como o bom humor ao contar situações pitorescas dos primeiros dias de tragédia. “O médico pediu que eu tomasse cerveja para que a urina eliminasse a radiação, e eu até achei bom --não precisava justificar a cervejinha para a minha mulher. Mas não adiantou nada, e o banheiro do bar precisou ser demolido porque também recebeu radiação.”

Antes de dirigir e presidir, por duas vezes, a associação das vítimas, o aposentado tentou por duas vezes investir em comércios de bairro em  Aparecida de Goiânia, cidade que faz limite com Goiânia e que abriga a maior parte da família Alves Ferreira, a mais afetada pela tragédia --são 50 pessoas atingidas, além das duas mortes diretamente ligadas ao acidente e outras duas posteriores.

“Fomos chamados de ‘marajás’ porque recebíamos uma pensão miserável do Estado. Entrei em depressão porque não podia mais trabalhar --fui aposentado por invalidez. Montei uma frutaria, e todos os dias ia até o Ceasa buscar tudo fresquinho. Não conseguia vender. As pessoas passavam na porta, iam até outro lugar e passavam com a mercadoria. Acabei com a frutaria, e montamos um bar. Também passavam com garrafa de cerveja vazia, iam no boteco vizinho e compravam. O irmão de um deles me falou: 'O pessoal não compra cerveja aqui porque acha que está contaminada'.”

Nos anos seguintes, as vítimas fizeram uma via-crúcis para matricularem seus filhos em colégios de Goiânia e de Aparecida de Goiânia. Receberam o não mais de duas vezes cada uma.

Cunhada de Odesson, Luiza Odete dos Santos mentiu por anos sobre a origem da longa cicatriz que exibe no lado esquerdo do pescoço. “Isso aqui, pegando meu rosto, passou a parecer uma mancha de vitiligo, e eu falava que era. E o pessoal me ensinava um remédio. Depois, o tempo foi passando, e eu disse: vou viver. Se o pessoal pergunta, eu falo. E fica assustado, porque ainda existe a discriminação. Pessoas mal informadas ainda acham que a gente transmite radiação.”

Lourdes Alves Ferreira, mãe de Leide das Neves, 6 --a menina morta no acidente que virou o símbolo da luta contra a radiação e o preconceito diante das vítimas--, tem a guia médica zerada nas clínicas que frequenta por causa do acidente.

“As recepcionistas insistem para saber por que ela é zerada”, diz. “Um dia, uma gritou. E fui pertinho dela e falei: sou obrigada a explicar o porquê? Quando o médico me chamou, ela fez questão de me acompanhar até o consultório. Eu disse que era uma vítima do césio. O tempo todinho que fiquei esperando, se ela não estava escrevendo, estava olhando para mim. Eu era uma pessoa estranha para ela. Já aconteceu de a pessoa, quando soube quem era eu, se levantar de perto de mim.”

Isso aqui passou a parecer uma mancha de vitiligo, e eu falava que era. O tempo foi passando, e eu disse: vou viver. Se perguntam, eu falo. Ficam assustados. Acha que a gente transmite radiação

AS VÍTIMAS ETERNAS
A Secretaria Estadual da Saúde, por meio do Cara (Centro de Atendimento ao Radioacidentado), ainda hoje monitora 1.292 pessoas, entre radioacidentados, parentes da primeira e segunda geração e funcionários que tiveram contato com os afetados durante os dias de controle da irradiação.

Elas sofreram com problemas físicos e psiquiátricos. Obrigatoriamente, devem visitar o Cara pelo menos uma vez por ano --a frequência já foi mensal e semestral.  Em 2016, o centro realizou 5.741 atendimentos --destes, 1.497 no setor de enfermagem e 811 no de psicologia.

Membros foram amputados, braços e mãos receberam enxertos e, em duas vítimas, as feridas provocadas pelo contato com o césio --as radiodermites-- ainda não fecharam. Eles vivem às custas de curativos, paliativos às lesões que sofreram e nunca foram curadas. E ainda há o preconceito.

“Há um cansaço com essa situação. Um rapaz que está para amputar o pé teve a proposta para tratamento com células-tronco, com uma equipe da Suíça. E ele negou: ‘Estou cansado de ser cobaia. Já não sei quantas tentativas foram feitas, e nenhuma deu resultado. Prefiro ser amputado”, afirma a psicológica Suzana Helou, que atende aos radioacidentados desde outubro de 1987.

CÁPSULA E CONTAMINAÇÃO
A cápsula que causou o acidente era parte de um aparelho radioterapêutico que estava abandonado no terreno em que funcionou o Instituto Goiano de Radioterapia (IGR). Foi utilizado de 1971 até 1985, quando o instituto foi desativado. O equipamento de  teleterapia (radioterapia externa) , que continha o césio, foi abandonado naquele ano em meio às ruínas do centro de radioterapia.

A peça foi encontrada no dia 13 de setembro de 1987 por Wagner Mota Pereira e Roberto Santos Alves, que depois a revenderiam para um ferro-velho. A peça, de aproximadamente 200 quilos de ferro e chumbo, tinha 19,26 gramas de césio-137, guardada em um recipiente arredondado, semelhante a uma lata de goiabada. Ela foi levada para a casa de Roberto. No terreno da rua 57, o invólucro de chumbo foi perfurado, e a placa de lítio que isolava as partículas radioativas, rompida.

De lá, a peça foi vendida para Devair Alves Ferreira, então com 37 anos e dono de um ferro‑velho na rua 26-A, no mesmo bairro. Ele percebeu o brilho azul que irradiava do recipiente arredondado. Fragmentos de pó saíam da cápsula e foram distribuídos. Assim, o brilho e a contaminação se espalharam pelos bairros adjacentes ao setor Aeroporto.

Dos que tiveram contato com o pó, restaram 46 pessoas diretamente contaminadas. Todas elas passaram por um banho com escovação e vinagre para se descontaminarem, mas a radiação continuou. Suas roupas, seus pertences e suas casas demolidas foram descartados --estão enterrados no depósito de lixo radiológico de Abadia de Goiás (23 km de Goiânia).

Quatro pessoas morreram depois de um mês isoladas no hospital naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro: Leide da Neves Ferreira, 6, Maria Gabriela Ferreira, 37, Israel Baptista dos Santos, 22, e Admílson Alves de Souza.

Todos eles receberam uma dose muito alta de radiação, medidas pelo índice Gy (gray). Para cada sessão de radioterapia para câncer de mama, por exemplo, a dose é de, no máximo, 2 Gy. Devair, que teve contato com uma dose maior (7 Gys), sobreviveu por não ingerir o pó. Leide das Neves, que ingeriu o césio ao comer um ovo cozido com as mãos sujas da substância, absorveu diretamente 6 Gy.

Os corpos tiveram que ser colocados em caixões de chumbo, de cerca de 700 quilos, e sepultados sob uma estrutura de toneladas de concreto. Os primeiros enterros, de Leide e de Maria Gabriela, sofreram tentativas de impedimento, com blocos interrompendo o tráfego de veículos e pedras e cruzes dos túmulos atiradas contra os veículos que transportavam os caixões, que foram içados por um guindaste para os túmulos. As estruturas de concreto, que não têm contato com o solo, mas recebem constantemente flores de quem ainda se sensibiliza com a tragédia, hoje são as mais preservadas do Cemitério Parque de Goiânia.  

Presidente da Associação das Vítimas do Césio-137, Suely Lina de Moraes ainda reside na mesma casa da época do acidente, na rua 26. Os fundos da residência dão para o terreno concretado que um dia foi o ferro-velho de Devair --a casa foi demolida depois do acidente. “A diretora trazia meu filho da escola e o deixava na esquina, por medo de contaminar. Esses dias  teve um evento no lote do Devair, e a polícia veio para acompanhar. Quando viram que era a rua do césio, não entraram. Não desceram com medo da radiação.”

HOJE, NÃO HÁ MAIS CONTAMINAÇÃO NAS PESSOAS NEM NOS LOTES.
Suely sorri o tempo todo, mesmo quando se lembra da tragédia. É ela a responsável por controlar as informações e os cuidados com as vítimas do acidente. “Tem os remédios de uso contínuo que não estão disponiveis no SUS. Mas outros custam R$ 200, R$ 100. E não tem.” O Cara afirma que a questão de abastecimento de medicamentos está sendo resolvida pela Secretaria Estadual da Saúde.

Ela tem um mapa, feito à mão, com as vítimas de câncer residentes nos setores Aeroporto e Ferroviário, os mais atingidos pela radiação. Ela aponta 23 casos. “São os moradores daqui, que não saíram daqui. Não vieram fazer pesquisa [epidemiológica, que atesta a incidência maior ou menor de doenças] deles.

Nunca foram na fundação, nem sabem onde é. Enquanto as vítimas diretas eram atendidas, eles continuaram aqui. Estavam expostos [à radiação].”

“As doenças causadas pela radiação limitam-se às mortes da época do acidente e aos 22 pacientes com radiodermites. Foram 129 vítimas diretas. Nós podemos afirmar que a doença do césio se limita a esse grupo”, rebate o diretor-geral do Cara, André Luiz de Souza.

“É um discurso permanente deles, de que serão sempre vítimas do acidente. É um fator estressor permanente, de um dia contraírem doenças degenerativas, como câncer e leucemias, ou ter um descendente com deformação genética. Foi o que um pesquisador norte-americano chamou de ‘grávidos da morte’. Tudo é atribuído ao acidente radiológico”, afirma a psicóloga Suzana Helou.

Em dezembro de 2016, Helou entrevistou acidentados e também a população em geral. A pergunta era se os atingidos pela exposição ao césio ainda se consideravam vítimas do acidente radioativo. “Mais de 80% respondeu que sim”, diz. “A maior incidência de resposta é a discriminação que eles acreditam sofrer por parte da população em geral.”

CONSTRUÇÃO DO DEPÓSITO
A 23 km do local do acidente, o antigo vilarejo de Abadia de Goiás foi escolhido para receber os restos da tragédia. Foram 17 anos para que a estrutura ficasse pronta: dois campos de concreto cobertos de grama com 60 metros de comprimento, 18 de largura e oito de altura.
O reservatório contém todas as blindagens e a fonte que continha o césio --nele estão todos os rejeitos de média radioatividade.

Abadia virou cidade de 6.868 habitantes, emancipada em dezembro de 1995. A cidade foi escolhida tecnicamente, com base na geologia local para que não tivesse influência na natureza , afirma Marco Antonio Pereira da Silva, do CRCN-CO (Centro Nacional de Ciência Nuclear do Centro-Oeste). Os materiais contaminados estão envolvidos em contêineres, e a base de concreto impede que eles contaminem o solo nem o lençol freático, aponta.

O desenvolvimento, afirma, veio em parte pela construção do depósito. "Antes da instalação, havia muito medo de remover o depósito para cá, por falta de informação. Hoje, a população sabe que não há nenhum risco --pelo contrário, isso trouxe desenvolvimento. Abadia entrou no mapa científico do mundo --muita gente vem para cá para fazer pesquisas e desenvolver outras. Não há estigma na cidade --ele é maior em Goiânia do que aqui. Abadia é uma cidade que se incorporou à construção do depósito. Fonte: UOL Noticias – 10 de setembro de 2017

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sexta-feira, agosto 25, 2017

Lembrança - Desastre químico no Rio Reno ainda arde na memória suíça

Trinta anos depois do incêndio que provocou um grande derramamento de produtos químicos perto de Basileia, as autoridades suíças de proteção do meio ambiente continuam esperando um relatório final antes de emitir novas diretrizes de segurança.

Na madrugada de 1° de novembro de 1986, um incêndio começou em um depósito da empresa de produtos químicos Sandoz, na área industrial de Schweizerhalle, nos arredores de Basileia. Cerca de 1.351 toneladas de pesticidas e agroquímicos foram incendiadas.

O acidente deixou o Rio Reno vermelho, matou milhares de peixes e emitiu uma fumaça acre sobre a cidade. Foi um dos piores desastres ambientais da Europa e fez manchetes em todo o mundo.

INCORPORAR
Marcus Müller, chefe da equipe de crise do cantão da Basileia, disse à televisão pública suíça SRF que as empresas e as comunidades estão melhor preparadas hoje.
"Temos órgãos de liderança nos níveis empresarial, municipal e estadual. Eles são especialmente treinados para lidar com emergências nucleares, biológicas e químicas. Essa é a grande melhoria desde o incidente em Schweizerhalle", disse.

Martin Forter, geógrafo e especialista em contaminação, diz que a maioria das metas de descontaminação não foram cumpridas. Além disso, o perigo ainda está presente, embora não tanto em Basileia - onde o foco está agora em produtos farmacêuticos, em vez da produção química cáustica.

"Por conta da globalização, esse tipo de produção perigosa foi terceirizada para a Índia e a China - onde as 'Schweizerhalles' de hoje acontecem - com dimensões muito maiores do que em 1986", declarou Forter à SRF.

Trinta anos atrás, os moradores revoltados exigiram ação. No final, no entanto, apenas dois bombeiros foram acusados pela poluição do Reno, resultado de suas ações para combater o incêndio. A administração da Sandoz não foi responsabilizada.

Mas a companhia, que mais tarde se fundiu com a Ciba-Geigy para se tornar a gigante Novartis, pagou 43 milhões de francos (US$ 49 milhões na época) em compensação à Suíça, França, Alemanha e Holanda, países banhados pela parte afetada do rio Reno. Também concedeu 10 milhões de francos a um fundo para pesquisas ecológicas do rio Reno. Em 2006, o Reno foi declarado mais uma vez um "rio vivo" pela Comissão Internacional para a Proteção do Reno. Fonte: Swissinfo - 1 de Novembro de 2016 

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terça-feira, maio 30, 2017

Ilha desabitada do Pacífico Sul é o lugar com mais lixo no mundo

Uma ilha desabitada do Pacífico Sul é o lugar com a maior densidade de lixo no mundo. O território de Henderson acumula 18 toneladas de resíduos em seus 37 quilômetros quadrados, ou seja, 671 pedaços de lixo por metro quadrado, de acordo com um estudo publicado pela revista científica norte-americana PNAS. A cada dia chegam 3.570 resíduos flutuando, embora o território fique a 5.000 quilômetros de distância da massa continental mais próxima, acrescenta o artigo.

ILHA HENDERSON
A Ilha Henderson faz parte do arquipélago britânico de Pitcairn e lá são realizados estudos científicos a cada cinco ou dez anos. Está localizada perto do chamado Giro do Pacífico Sul, um redemoinho gigante onde se acumulam detritos transportados pelas correntes marinhas provenientes de navios ou da América do Sul.

PEDAÇOS DE PLÁSTICO
Os cientistas estimam que existam cerca de 38 milhões de pedaços de plástico na Ilha Henderson, cujo tamanho é semelhante ao da cidade espanhola de Corunha. No entanto, a quantidade de lixo pode ser ainda maior, como explicou a principal autora do estudo, Jennifer Lavers, do Instituto de Estudos Marinhos e Antárticos da Universidade da Tasmânia. A equipe de cientistas só explorou até uma profundidade de dez centímetros de areia, nas áreas de falésias o acesso foi menor, e muitos pedaços de plástico eram pequenos demais para serem contados.

Recipientes de plástico, boias de pesca, redes, escovas de dente e isqueiros são parte dos resíduos que cobrem a ilha. Embora a maioria seja de “objetos não identificados”, como os milhares de pedaços medindo apenas um milímetro, disse Lavers à agência Efe.

“O que vemos na Ilha Henderson demonstra que nenhum lugar do mundo escapa da poluição pelo plástico, nem mesmo os mais remotos nos oceanos”, disse Lavers. A especialista alertou que 25% das espécies marinhas e algumas aves comem plástico em algum momento. “E se alguém comer um peixe com tecidos contaminados na verdade está comendo seu próprio lixo”, insistiu.

PRODUÇÃO DE PLÁSTICO
Os cientistas estimam que, enquanto na década de cinquenta a produção de plástico era inferior a dois milhões de toneladas, em 2014 ultrapassou os 300 milhões de toneladas em todo o mundo. O plástico que não é reciclado e termina no mar, onde flutua durante anos, representa uma ameaça para os animais que o ingerem ou se enredam no lixo, explica o estudo. Fonte: El Pais - Madri 16 MAI 2017  

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