Poluição e calor transformam São Paulo em um caldeirão químico
Nas últimas semanas, estamos com a impressão de que o Brasil
foi colocado em uma panela quente. Andar pelas ruas é um exercício de sudorese,
os ônibus lotados fazem as vezes de sauna e dormir passou a ser uma experiência
desafiadora.
Além do desconforto pessoal, a presente situação climática
introduziu em nosso cotidiano importantes temas ambientais. O aspecto ambiental
mais facilmente percebido é a imagem de reservatórios de água quase vazios. O
nível diário do sistema Cantareira passou a ocupar as primeiras páginas dos
jornais e a frequentar conversas de rodas de amigos.
DETERIORAÇÃO DA QUALIDADE DO AR
Há, no entanto, outras consequências menos evidentes desse
período de clima bicudo: os frutos da combinação das emissões de poluentes
(usinas térmicas e emissões veiculares) aliada às altas temperaturas e radiação
solar, que resultam na deterioração da qualidade do ar.
A mistura complexa desses diversos poluentes liberados para
a atmosfera faz da nossa cidade um verdadeiro caldeirão químico que, sob o
efeito da radiação solar, forma outros poluentes, sendo o ozônio seu integrante
mais ilustre.
Vale ressaltar que o ozônio é formado naturalmente nas
camadas mais altas da atmosfera, onde ajuda a proteger a vida na terra filtrando
raios ultravioleta. Entretanto, na superfície terrestre o ozônio é altamente
danoso à saúde humana.
Muitas pessoas se surpreenderam recentemente com a indicação
de qualidade do ar da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
de São Paulo), exposta nos relógios digitais espalhados por São Paulo,
indicando nível ruim ou péssimo, seu pior nível.
CAMADA DE OZÔNIO
No gráfico abaixo, dados diários de ozônio e temperatura
estão correlacionados. Em São Paulo, de janeiro de 2008 até a metade de janeiro
de 2015, é evidente o aumento deste poluente fotoquímico nos dias mais quentes
como os que vivemos atualmente (círculo em vermelho).
Hoje, sabemos que a exposição a níveis moderados e elevados
de ozônio está associada a uma grande variedade de efeitos negativos sobre a
saúde, desde uma simples irritação na garganta até a redução de expectativa de
vida. Crianças, idosos e pessoas que tenham alguma doença pulmonar
pré-existente, como asma, bronquite crônica e enfisema, são as que mais sofrem.
TEMPERATURA-CONFORTO TÉRMICO
Além do acúmulo dos poluentes produzidos pelas reações
químicas na atmosfera, há o efeito direto da temperatura em nossa saúde.
Importante ressaltar que a faixa de conforto térmico varia de região para
região do planeta, não sendo a mesma, por exemplo, para Teresina ou Copenhague.
Em particular, para a cidade de São Paulo, a média da zona
de conforto térmico é de 22 a 25ºC. A faixa de conforto térmico é definida
tanto pelo padrão construtivo de nossas casas, como também pelos sistemas que
regulam a nossa temperatura corpórea.
Nós, seres humanos, temos que manter nossa temperatura
corporal em uma faixa muito estreita, entre 36,5 e 37,2°C, e para isso temos um
sistema que funciona como um "termostato", mas que possui um limite
de tolerância. Indivíduos mais idosos e crianças são aqueles que têm a saúde
mais comprometida quando a temperatura ambiente fica fora da zona de conforto
térmico, pois seu intervalo de tolerância é geralmente menor.
Pessoas portadoras de doenças como diabetes, desordens
cerebrovasculares ou cardiovasculares também devem tomar mais cuidado com as
altas temperaturas, pois o risco nessas condições é maior. No calor nossos
vasos dilatam e perdemos muita água corporal para mantermos nossa temperatura
estável, por isso, ficamos desidratados mais rapidamente.
Isso pode provocar um aumento da viscosidade sanguínea e
outras mudanças fisiológicas que, quando agravadas, podem levar a morte.
Alterações de mecanismos de regulação endócrina, de arquitetura do sono, de
pressão arterial e do nível de estresse também podem ser relacionadas com esses
dias mais quentes.
A atual condição climática tem feito com que nós sejamos
frequentemente compelidos a conviver com temperaturas muito acima da nossa
faixa de conforto térmico, com potencial prejuízo à nossa saúde.
Portanto, nestes dias mais quentes e muito ensolarados,
associados a uma qualidade do ar ruim, alguns cuidados podem ser tomados para
proteger sua saúde. Por exemplo, evite exposições ao ar livre nos períodos mais
quentes do dia, concentre as atividades físicas no período da manhã e ao
anoitecer. Beba muita água ao longo do dia para manter-se hidratado.
Uma dica simples para verificar o nível de hidratação é
olhar a cor da urina. Uma urina mais escura do que o habitual deve acender uma
luz dizendo beba mais água, se ainda este raro fluido for disponível em nossos
anêmicos reservatórios. UOL Noticias - 23/01/20150 - Paulo Saldiva (médico
especialista em poluição atmosférica); Mariana Veras (bióloga , especialista em
poluição atmosférica); Nilmara de
Oliveira Alves (bioquímica, especialista em poluentes atmosféricos e efeitos na
saúde)
Marcadores: Meio Ambiente, Poluição
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