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Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

domingo, abril 10, 2022

TRAGÉDIA EM PETRÓPOLIS

PANORAMA DA REGIÃO: Petrópolis é um município localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro no estado do Rio de Janeiro, no Brasil, também conhecido como Cidade Imperial. Ocupa uma área de 795,798 km², sua população  é de 306.678 (ano 2020)  habitantes segundo a estimativa do IBGE.  Obs:  Em 1902 a cidade tinha 29.000 habitantes

GEOGRAFIA: Petrópolis situa-se a 68 km do Rio de Janeiro. A área central urbana de Petrópolis localiza-se no topo da Serra da Estrela, pertencente ao conjunto montanhoso da Serra dos Órgãos, subsetor da Serra do Mar. O município de Petrópolis apresenta relevo extremamente acidentado, com ocorrência de grandes desníveis. A partir do distrito de Itaipava o relevo vai diminuindo sua altitude.

O ambiente serrano, quase sempre úmido, permitiu que a vegetação local fosse caracterizada como sendo floresta de Mata Atlântica. Atualmente, tem havido a diminuição da vegetação remanescentes, e ainda o seu isolamento em “ilhas”, ocorrendo até mesmo o risco de extinção dessa vegetação natural.

CLIMA: O clima é o tropical de altitude, com verões úmidos e quentes e invernos secos e relativamente frios. O alto relevo, formado por montanhas de grandes altitudes, tem grande influência no clima do município. Dessa forma, massas de ar quente-úmidas são bloqueadas, concentradas e obrigadas a subir a grandes altitudes (maiores que 2000m). Neste momento, o contato dessas massas de ar com o ar frio dessas altitudes, ocasionam o desencadeamento das chuvas e tempestades constantes sobre a Serra do Mar. Essas chuvas, no período dos meses de verão, são muito concentradas e catastróficas em Petrópolis.

CENÁRIO: A pluviosidade significativa ao longo de todo o ano, com uma média anual de 1929 mm, associada ao relevo e à presença de rios cortando a região são fatores indicativos da ocorrência de inundações e deslizamentos.

Com o crescimento da população e a consequente necessidade de expansão da área urbana do núcleo da cidade, observa-se que ocorre uma intensa ocupação das denominadas “áreas mais problemáticas do que as planejadas pelo Major Köeler (grande parte do traçado do Centro Histórico, ou núcleo fundacional, foi planejado por Major Köeler em 1846 e é preservado até os dias atuais.). As áreas do topo de morros e do fundo de vales acabam sendo ocupadas, resultando em um maior desmatamento e trazendo, como consequência, dentre outras, o aumento dos processos de assoreamento dos rios da região. Estes dois fatores têm implicação direta no transbordamento de rios com inundações e risco para os habitantes ribeirinhos e, provocam ainda, um aumento dos deslizamentos de massa de morros da cidade, ocasionando o soterramento de regiões, algumas habitadas.

Observou-se que a expansão do restante da cidade, provocou a redução das áreas de vegetação, não restringindo-se, apenas aos vales ou em áreas propícias à construção. A ocupação dos morros ocorreu em, praticamente, toda a cidade, intensificando o desmatamento e a ocupação das margens dos rios, expondo os moradores a riscos frequentes. Com essa expansão territorial, alguns rios foram canalizados e, outros, mesmo que em seus cursos originais, foram afetados pela poluição. Fonte: Evolução urbana do centro histórico de Petrópolis, Revista de Morfologia Urbana  

TEMPESTADE: No dia 15 de fevereiro de 2022, uma tempestade inesperada fez cair três horas seguidas de chuvas. De acordo com o Cemaden, foram registrados 259,8 milímetros de chuva durante o dia todo, sendo 250 mm foram apenas entre 16h20 e 19h20. A média climatológica para fevereiro na cidade é de 185 milímetros. Foi a maior tempestade da história de Petrópolis, desde que se iniciaram as medições, em 1932. O recorde anterior havia ocorrido no dia 20 de agosto de 1952, quando choveu 168,2 mm em 24 horas.

FORMAÇÃO DO DESASTRE:  Precipitação elevada, topografia acidentada que potencializa a  chuva, falta de cobertura vegetal, ocupação desordenada da encosta, impermeabilização excessiva da cidade, as condições são ótimas para que o volume de chuva seja excessiva, com velocidade, com deslizamento/aluimento de terra e pedra.


De acordo com o professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em drenagem urbana Matheus Martins, a topografia da cidade é propícia a inundações e deslizamentos, já que fica em uma região de encostas e é cortada por rios, sendo o principal o Rio Piabanhas, afluente do Paraíba do Sul.

Quando chove com mais intensidade, a água desce rápido das encostas, atinge o rio com velocidade, desce o rio com mais velocidade e, quando chega próximo ao centro de Petrópolis, a declividade do rio diminui um pouco e a cheia acaba transbordando para as margens. Isso acontece mais ou menos frequentemente em Petrópolis

VÍTIMAS: Inicialmente a Defesa Civil confirma 78 mortas e 21 pessoas resgatadas, e também temos 372 pessoas desabrigadas ou desalojadas. São 89 áreas atingidas, com 26 deslizamentos. Mais de 180 moradores de áreas de risco estão sendo acolhidos", atualizou.

No mesmo dia, a unidade do Corpo de Bombeiros Militar na cidade já havia identificado pelo menos 18 mortos por causa dos eventos, número que aumentou para 94 no dia seguinte e para 181 no sétimo dia de buscas.

Em 18/02, o número de mortos em Petrópolis, na região serrana fluminense, subiu para 123, segundo dados divulgados pela Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro.

Em 22/02, segundo dados divulgados pela Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, já são 183 os mortos confirmados; 111 mulheres, 32 crianças e 40 homens.

Em 24/02, segundo dados divulgados; 208 mortos, sendo: 124 são mulheres, 84 homens. Do total, 40 são menores de idade. Até o momento, 191 foram identificados e 181 já foram  liberados para os procedimentos funerários.

Em 28/02, segundo dados divulgados; pelo menos 229 mortos, sendo ; 136 mulheres, 50 homens e 43 menores. Segundo a Polícia Civil, os peritos ainda atuam na análise de DNA de despojos recuperados nas áreas afetadas.

DESABRIGADOS: A cidade já contabiliza 875 desabrigados, acolhidos em 13 escolas públicas sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Assistência Social.

DESAPARECIDOS: Até o momento, há registro de 69 desaparecidos comunicados à Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA).

Em 28/02; Ao menos 20 pessoas ainda estão desaparecidas, segundo o portal de desaparecidos da Polícia Civil

AUXILIO DE EMERGÊNCIA: O prefeito da cidade anunciou um acordo com o governador do estado, para a garantia de um aluguel social no valor de R$ 1 mil, sendo R$ 800 pagos pelo estado e R$ 200 pelo município. O intuito do benefício é permitir que as famílias possam alugar quartos ou casas temporariamente.

ATENDIMENTO HOSPITALAR: A Marinha terminou de montar no domingo (20) um hospital de campanha no Sesi Petrópolis, na Rua Bingen. A unidade funciona das 8h às 18h, com 12 leitos de enfermaria e cinco estações de atendimento ambulatorial, aberto a pessoas que precisem de atendimento de baixa complexidade.

De acordo com o diretor do Centro de Medicina Operativa da Marinha, a unidade vai apoiar os hospitais da cidade. “Estamos aqui para apoiar a estrutura de saúde local, realizando atendimentos clínicos, laboratoriais, odontológicos, pediátricos, ortopédicos e pequenos procedimentos. Assim, deixamos os atendimentos de maior complexidade para os hospitais previamente estabelecidos”.

MEDIDAS DE EMERGÊNCIAS: Cerca de 400 bombeiros trabalham nas buscas aos desaparecidos. A Polícia Civil do RJ também montou uma força-tarefa na cidade. São cerca de 200 policiais, peritos legistas e criminais, papiloscopistas, técnicos e auxiliares de necropsia, servidores de cartório e de diversas delegacias da Região Serrana.

As Forças Armadas disponibilizaram 5 caminhões, uma ambulância e colocou todo o efetivo do Exército à disposição da cidade. A Polícia Rodoviária Federal participa das operações com 34 agentes, 8 viaturas, uma aeronave, uma retroescavadeira, um caminhão caçamba e um prancha, uma ambulância e drones.  

 Para reforçar os trabalhos, mais de 150 militares de 15 estados e do Distrito Federal estão se somando ao contingente de mais de 500 da corporação fluminense

O apoio da Marinha à tragédia de Petrópolis começou na madrugada do dia 16, na desobstrução das vias com motosserras. Caminhões, retroescavadeiras e material para a instalação do hospital de campanha chegaram na manhã do dia 17.

O efetivo da força na cidade é de 60 viaturas e 300 militares, entre fuzileiros navais, médicos, enfermeiros e farmacêuticos.

ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA: A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro (SES) enviou ontem quatro motolâncias do grupamento de motociclistas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital para atuar nas ações de socorro em locais de difícil acesso em Petrópolis.

Segundo o governo do estado, os agentes atendem a demanda espontânea da população e alcançam locais onde outros veículos ainda não conseguem chegar, por causa da dificuldade de mobilidade e obstrução das vias após os deslizamentos de terra.

DECRETO DE CALAMIDADE PÚBLICA: A Prefeitura decretou estado de calamidade pública e informou que as equipes dos hospitais foram reforçadas para o atendimento às vítimas. Quem tiver parentes desaparecidos deve procurar a delegacia.

CIDADE SOB A LAMA: Na  quarta-feira (16/02), era possível ver o tamanho da devastação — embora, em muitos locais, fosse difícil distinguir o que era casa, o que era terra ou o que era rua.

Morros vieram abaixo, carregando pedras do tamanho de carros; veículos ficaram empilhados com a força da correnteza; vias importantes foram bloqueadas, dificultando o acesso aos desabrigados.

O Alto da Serra foi uma das localidades mais devastadas. A prefeitura estima que pelo menos 80 casas foram atingidas pela barreira que caiu no Morro da Oficina. Outras regiões também foram atingidas, como 24 de Maio, Caxambu, Sargento Boening, Moinho Preto, Vila Felipe, Vila Militar e as ruas Uruguai, Washington Luiz e Coronel Veiga.

Corpos também foram encontrados no Centro da cidade depois que o nível do rio desceu.

A situação é quase que de guerra. Carros pendurados em postes. Carros virados de cabeça para baixo. Muita lama e muita água ainda.

IMPACTOS ECONÔMICOS: Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas e Análises da Fecomércio e divulgada em 17 de fevereiro, mostrou que as fortes chuvas provocaram um prejuízo de mais de 78 milhões de reais no setor de bens, serviços e turismo do município.

Em 21 de fevereiro, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) divulgou os resultados de uma pesquisa sobre o impacto financeiro da tragédia. A perda estimada foi de 665 milhões de reais, o equivalente a 2% do PIB do município. Segundo o presidente da entidade, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, as perdas superam 1 bilhão de reais, se incluídos os gastos com a reconstrução. Ainda segundo a instituição, as chuvas afetaram 65% das empresas da cidade, sendo que 85% ainda não haviam retomado as atividades.

LIMPEZA: A prefeitura de Petrópolis realiza na segunda-feira, 28/02, megaoperação para limpeza das ruas, com o apoio das cidades do Rio de Janeiro e de Niterói. Serão mais de dois mil homens e mulheres atuando em diversos pontos da cidade, além de máquinas e caminhões, na primeira ação da Frente Nacional dos Prefeitos.

A Companhia de Limpeza Urbana da capital (Comlurb) enviou 15 caminhões basculantes de grande porte, dois menores, sete pás mecânicas e quatro caminhões pipa, além de duas vans equipadas com moto bomba e itens para remoção de galhos, caminhão de apoio e cinco vans de poda de árvore, com 50 motosserras.

No domingo, 20/02, o trabalho de limpeza contou com mais de mil pessoas, concentradas nas ruas do Centro Histórico, Bingen, Coronel Veiga e Washington Luiz. As equipes atuam também em regiões como Centro, Quitandinha, Alto da Serra, Chácara Flora e Corrêas. De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes, metade das cerca de 20 vias fundamentais para a mobilidade urbana do município atingidas após as chuvas já foram desobstruídas.

RETORNO AS ATIVIDADES

As empresas de ônibus de Petrópolis estão restabelecendo gradualmente a operação das linhas. No sábado, 19/02,  os ônibus permaneceram operando com redução de horários e de frota.

A prefeitura de Petrópolis pede que os moradores evitem sair de casa, para agilizar as ações de limpeza com menos pessoas circulando pela cidade.

BUSCAS ENCERRADAS

Os trabalhos de buscas continuam no bairro Chácara Flora, onde há registro de duas pessoas desaparecidas. Já as buscas no Morro da Oficina foram encerradas no domingo, 27/02.  O Corpo de Bombeiros informou que já encontrou todas as pessoas dadas como desaparecidas na localidade. Agora, além do trabalho na Chácara Flora, também há varredura pelos rios da cidade, onde três vítimas estão desaparecidas.

Um grupo com 5 condutores e 5 cães chegaram da Argentina para auxiliar no trabalho. Ao todo, 58 cães farejadores atuaram na cidade.

POR QUE CHOVEU TANTO EM PETRÓPOLIS? FRENTE FRIA, UMIDADE E RELEVO EXPLICAM

A chegada de uma frente fria junto com um corredor de umidade, e ar abafado, são dois fatores que explicam as fortes chuvas que atingiram ontem Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro.

"Ela está relacionada com a chegada da frente fria até o litoral do Rio de Janeiro. É uma frente fria que passou pela costa de São Paulo bem rápido, mas, no Rio de Janeiro, ela conseguiu levar um pouco mais de chuva", diz Carine Gama, meteorologista da Climatempo. "Além disso, o ar, no interior do Brasil, estava bem abafado. A gente tinha um corredor de umidade voltado para o Sudeste brasileiro."

Carine Gama cita um outro motivo fator que influenciou no cenário: a orografia, que é o relevo acidentado, como acontece na região de Petrópolis. "Áreas de montanha têm condição para formação de nuvens de chuva forte de forma mais fácil porque o ar sobe por um lado e sai do outro."

A previsão do tempo indicava a chance de chuvas severas na região serrana, mas não há ferramenta, segundo as meteorologistas, que indiquem um volume tão intenso em um espaço tão curto de tempo.

Nenhum modelo meteorológico vai indicar 200 milímetros de chuva em três horas. Infelizmente, a gente não tem essa ferramenta em mãos"

Carine Gama, meteorologista da Climatempo

"O que a gente pode ver é monitorar o deslocamento, mas quando o radar mostra já é praticamente a nuvem já formada, precipitando", diz Marlene Leal, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Na terça, Petrópolis registrou em apenas três horas uma quantidade de chuva maior do que a média esperada para todo o mês de fevereiro. Ao menos 94 pessoas morreram no município.

Segundo o Cemadem (Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), foram registrados 250 milímetros de chuva em três horas em 15/02, em Petrópolis. No total das 24 horas de 15 de fevereiro, foram 260 milímetros.

"A média climatológica para o mês de fevereiro de Petrópolis é de 185 milímetros", diz Gama. "Esse volume foi maior do que toda a chuva prevista para o mês. Choveu fevereiro inteiro mais um terço de fevereiro."

Além da intensidade, outro fator é destacado por meteorologistas: a chuva foi concentrada em áreas de Petrópolis, o que pode ter evitado uma tragédia maior.

Foi uma nuvem de chuva totalmente localizada que provocou essa chuva extremamente excepcional. Não foi na cidade inteira, em toda a região serrana. Foi uma chuva totalmente pontual, totalmente localizada, Carine Gama, meteorologista da Climatempo

PETRÓPOLIS: UM MÊS APÓS TRAGÉDIA

Ao completar um mês da tragédia que tirou a vida de 233 pessoas e deixou quatro desaparecidos em Petrópolis, alguns problemas seguem sem solução. O maior deles é onde acomodar as centenas de pessoas que perderam suas casas ou tiveram que sair do imóvel, com risco de desabamento.

Segundo o último balanço da prefeitura, são 685 pessoas em abrigos, a maioria em igrejas e escolas. Outras estão provisoriamente em casas de parentes. A maioria espera a concessão do aluguel social para conseguir novo lugar para morar, mas o processo está muito lento.

Dados gerais

1) 60.000 toneladas de entulho retirado

2) 233 mortes

3) 4 desaparecidos

4) 200 milhões de prejuízos

HISTÓRICO DE ENCHENTES EM PETRÓPOLIS: Em veículos de comunicação da época, como o Mercantil e o Paraíba, são relatadas enchentes, ainda, em 1873, 1875 – vez que a Fábrica São Pedro de Alcântara foi afetada, 1882, 1895, 1897, 1902, 1903, 1904, 1906 e inúmeras delas na década de 1930. Posteriormente, marcaram a história local, ainda, os eventos de 1965, 1966, 1988 e 2011.

Fontes: Agência Brasil - Rio de Janeiro - Publicado em 16/02/2022; UOL, em São Paulo-16/02/2022; g1 — Petrópolis 16/02/2022; Diário de Petrópolis - Quarta-feira, 16/02/2022; Agência Brasil - Rio de Janeiro - Publicado em 22/02/2022; Por g1 — Petrópolis - 28/02/2022; Globo News – 15/03/2022; Wikipédia 03/04/2022





Comentário:

Esse um padrão de urbanismo que ainda predomina nas cidades, encaixar um rio num leito retificado, com as margens impermeabilizadas e muretas. Ao longo do rio ou córrego constrói avenidas e edificações. O rio perde toda sua característica natural, ficando engessado numa calha artificial Suas margens e regiões limítrofes são modificadas por construções, avenidas, de maneira desordenada. Quando há chuvas torrenciais o rio procura sua forma anterior, natural, para escoar a água ou manter a vazão do rio de modo continuo. Com esse engessamento do rio, acrescido pela vazão do rio virtual provocado pela impermeabilização do solo e desmatamento, ele forçosamente sairá de seu leito artificial construído pelo homem, para aliviar a pressão e volume de água existente nesse leito que não comporta esse volume de água.

A cidade vai crescendo, mais impermeabilização, mais água é direcionado ao rio, que mantém a mesma vazão anterior numa situação crescente de ocupação urbana, sem ao menos aumentar o leito do rio, que se torna inviável devido a ocupação de suas margens por infraestrutura urbana.

Esse tipo de desastre obedece a um padrão semelhante em todos os países.   

As principais causas de inundação seriam:

■A morfologia da cidade a região tem relevo altamente acidentado, formado por serras, morros, fundo de vale, e encostas íngremes.

■O clima: chove torrencialmente na época de verão

■Uso e ocupação do solo de maneira desordenada

■Não há mapeamento das áreas inundáveis quanto a:

1-Conhecimento da relação cota x risco de inundação

2- Definições dos riscos de inundação de cada superfície

3- Incorporação a Legislação Municipal de uso e ocupação do solo em zona de risco

4- Uso de Sistema de Informações Geográficas na análise de projetos de edificações e equipamentos urbanos.

5- Controle público da ocupação regular e irregular

■A prática legalizada da construção ilegal e construção de obras públicas que não respeita o ecossistema.

■O aumento da vulnerabilidade é atribuível ao uso do solo e da água que é muitas vezes ainda não considera as limitações impostas pela hidrogeologia. É comum no país como padrão, canalizar córrego, retificar e construção de avenidas ao logo das margens dos córregos e rios. Em conseqüência disso há uma ocupação desordenada do solo, principalmente construções, aumentando ainda mais a impermeabilização do solo.

Infelizmente a história de desastre natural demonstra que tais acidentes se repetem após um ciclo de poucos anos. Não aprendemos ou as pessoas mudam e as lições são esquecidas, com os erros dos que nos antecederam. Infelizmente, muita gente não consegue enxergar nem tirar proveito dos fatos que já aconteceram e repetirão os mesmos erros. A natureza tem suas próprias leis para provocar desastres.

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domingo, fevereiro 27, 2022

FORTES CHUVAS ATINGIRAM A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO E INTERIOR

Desde a noite de 28 de janeiro de 2022, fortes chuvas atingiram a Região Metropolitana de São Paulo durante cinco dias, causando dezenas de mortes. Vários pontos da cidade de Franco da Rocha alagaram, principalmente o centro e áreas próximas, com o desabamento de várias casas, devido a deslizamentos de terra. O tráfego de trens foi interrompido devido ao alagamento dos trilhos entre Francisco Morato e Perus. O tráfego de veículos entre o município e Jundiaí também foi prejudicado devido aos deslizamentos de terra e queda de árvores na SP-332, principal rodovia que liga as cidades

A SITUAÇÃO ATÉ O MOMENTO, SEGUNDO INFORMAÇÕES DA DEFESA CIVIL:

VÁRZEA PAULISTA - Cinco pessoas da mesma família morreram após a casa em que moravam ser atingida por um desmoronamento. As vítimas são um casal, um bebê de um ano e duas crianças, uma de 10 e outra de 12 anos;

EMBU DAS ARTES - Três pessoas, também de uma mesma família, morreram após uma casa ser atingida por um deslizamento de terra na madrugada de domingo. As vítimas são a mãe e dois filhos — uma menina de quatro anos e um rapaz de 21 anos. Quatro pessoas conseguiram escapar.

FRANCO DA ROCHA - Quatro pessoas morreram, há ainda oito feridos e quatro desaparecidos;

FRANCISCO MORATO - Quatro pessoas morreram;

RIBEIRÃO PRETO - Uma pessoa morreu;

ARUJÁ - Uma pessoa morreu;

JAÚ - Uma pessoa morreu.

RESGATE EM FRANCO DA ROCHA E FRANCISCO MORATO

A Prefeitura de Franco da Rocha afirmou que as equipes estão mobilizadas no resgate de vítimas de um deslizamento de terra na Rua São Carlos, no Parque Paulista, que fica na divisa com Francisco Morato. Três pessoas morreram no local. Sete pessoas foram resgatadas com vida, mas uma morreu no local.

Foto: Franco da Rocha
Equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros usaram botes para resgatar moradores na manhã de domingo (30), em Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo. O Ribeirão Eusébio e o Rio Juquery transbordaram, deixando a área central da cidade alagada.

CAIEIRAS

Em Caieiras, na Grande SP, as chuvas deixaram casas e ruas completamente alagadas. Muita gente ficou ilhada, e o resgate está sendo feito por tratores da Prefeitura e caminhões.

Os pontos de alagamento ainda deixaram muita gente presa no trânsito, impossibilitados de transitar pelas ruas. O acesso a outras cidades também está impossibilitado. A cidade registrou ainda um deslizamento de terra, em que ninguém ficou ferido.

De acordo com o prefeito toda a área baixa da cidade está alagada. Ainda não há número de desabrigados ou desalojados pelas chuvas.

VÁRZEA PAULISTA

Uma equipe da Defesa Civil procura por quatro pessoas desaparecidas de uma família, na manhã deste domingo (30), no Jardim Promeca, em Várzea Paulista (SP). O corpo de um homem já foi retirado da casa pela equipe.

De acordo com o órgão, na cidade choveu 88 mm nas últimas 72h. O bairro mais prejudicado foi o Jardim Promeca, a região onde há desaparecidos.

Segundo a Defesa Civil, as buscas estão sendo realizadas no imóvel da família. Uma grande quantidade de terra de um morro desmoronou e atingiu um dos quartos do casal e das crianças.

As chuvas intensas em Várzea Paulista fizeram o Rio Jundiaí também invadir a Avenida Marginal.

BALANÇO DA DEFESA CIVIL - 31 DE JANEIRO

A Defesa Civil do Estado de São Paulo confirmou, 34 óbitos em razão das chuvas que atingiram diversas regiões do estado desde a última sexta-feira (28). Os transtornos provocados pelo mau tempo também deixaram cerca de 5.770 famílias desabrigadas ou desalojadas.

Entre as vítimas há um total de oito crianças. Além disso, há 14 feridos e 0 desaparecido. Ainda de acordo com a Defesa Civil, há ocorrências espalhadas por todo Estado relacionadas às chuvas, como alagamentos, queda de árvores, quedas de muros e deslizamentos de terra. No total, são 39 municípios afetados.

ITAPEVI – 1 óbito

ARUJÁ – 1 óbito

FRANCISCO MORATO – 4 óbitos

EMBU DAS ARTES – 3 óbitos

FRANCO DA ROCHA: 18 óbitos

VÁRZEA PAULISTA – 5 óbitos

JAÚ – 1 óbito

RIBEIRÃO PRETO – 1 óbito

A Defesa Civil já forneceu, até o momento, 1.012 cestas básicas, 1.316 kits de higiene/limpeza  e 1.154 kits dormitório.

RECURSOS LIBERADOS

O governado do estado anunciou a liberação de R$ 15 milhões para as cidades afetadas.

Os recursos anunciados serão destinados aos municípios de Arujá (R$ 1 milhão), Francisco Morato (R$ 2 milhão), Embu das Artes (R$ 1 milhão) e Franco da Rocha (R$ 5 milhão), na Região Metropolitana de São Paulo, e Várzea Paulista (R$ 1 milhão), Campo Limpo Paulista (R$ 1 milhão), Jaú (R$ 1 milhão), Capivari (R$ 1 milhão), Montemor (R$ 1 milhão) e Rafard (R$ 1 milhão), no interior do Estado.

HISTÓRICO DE OCORRÊNCIAS

Historicamente, Franco da Rocha já havia sido inundada por águas da chuva em 1987, 2011, 2015, 2016, 2018.

FRANCO DA ROCHA

É um município da região metropolitana de São Paulo. Compõe, juntamente com outros 39 municípios, a região no entorno da cidade de São Paulo, capital do Estado. Está a 27 quilômetros do centro da capital, 728 metros acima do nível do mar.

Com território de 132,775 km² Franco da Rocha faz divisa com os municípios de Cajamar, Caieiras, Mairiporã, Francisco Morato, Jundiaí e Campo Limpo Paulista. Junto com os quatro

primeiros municípios dessa lista integra a região hidrográfica denominada Bacia do Juquery, principal rio que cruza a região; a bacia ainda é composta pelo Reservatório Juquery, Ribeirão Euzébio, Ribeirão Borda da Mata, Ribeirão Itaim, Tanque Velho, Cristais, Santa Inês, Córrego

da Colônia e Córrego da 3ª Colônia.

Segundo o IBGE (2016) a população de Franco da Rocha é de 147.650 habitantes, sendo desses 67.462 homens e 64.142 de mulheres. Abaixo um gráfico com a distribuição por faixa etária no município:

A população ocupa predominantemente a área urbana, sendo que 92,1% da população encontra‑se na cidade, enquanto que 7,9% da população de Franco da Rocha encontra-se em área rural.

Fontes: Por g1 SP — São Paulo - 30/01/2022, g1 SP e TV Globo - São Paulo - 31/01/2022   e Defesa Civil do Estado de São Paulo



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segunda-feira, janeiro 03, 2022

PREJUÍZOS POR DESASTRES CLIMÁTICOS AUMENTARAM EM 2021

 Do furacão Ida nos EUA a enchentes na China e na Europa, desastres impulsionados por mudanças climáticas atingiram países ricos e pobres e custaram mais de US$ 170 bilhões e centenas de vidas neste ano, aponta relatório.

Os dez desastres climáticos mais caros de 2021 causaram mais de 170 bilhões de dólares (R$ 964,8 bilhões) em prejuízos, 20 bilhões de dólares (R$ 113,5 bilhões) ou 13% a mais que em 2020, divulgou a organização de caridade britânica Christian Aid nesta segunda-feira (27/12).

A alta nos prejuízos em relação ao ano passado reflete os efeitos das mudanças climáticas causadas pelo homem, afirmou a entidade, que a cada ano calcula os custos de enchentes, incêndios e ondas de calor.

Segundo a Christian Aid, os dez desastres mais caros de 2021 também mataram ao menos 1.075 pessoas e deixaram 1,3 milhão de desabrigados.

"Os custos das mudanças climáticas foram graves neste ano" afirmou Kat Kramer, líder de políticas climáticas na Christian Aid e autora do relatório Counting the cost 2021: a year of climate breakdown (Contando o custo de 2021: um ano de colapso climático).

O desastre mais caro de 2021 foi o furacão Ida, que atingiu o leste dos Estados Unidos e causou cerca de 65 bilhões de dólares em prejuízos (R$ 369 bilhões) e 95 mortes. Após chegar a Louisiana no fim de agosto, o furacão avançou em direção ao norte e causou enchentes na cidade de Nova York e arredores.

Inundações históricas na Europa Ocidental e Central em julho vêm em segundo lugar na lista, tendo causado perdas de mais de 43 bilhões de dólares (R$ 244 bilhões) e mais de 240 mortes. Alemanha, França, Holanda, Bélgica e outros países foram atingidos por chuvas extremas que cientistas dizem terem se tornado mais prováveis e frequentes devido ao aquecimento global.

Uma onda de frio e uma tempestade de inverno no Texas que derrubou a vasta rede elétrica do estado americano custou 23 bilhões de dólares (R$ 130,5 bilhões).

Inundações na província chinesa de Henan em julho custaram cerca de 17,6 bilhões de dólares (R$ 100 bilhões) e 302 vidas. O volume de chuvas registrado na capital de Henan, Zhengzhou, ao longo de três dias foi quase o equivalente à média anual, inundando o sistema de metrô.

Outros desastres que custaram vários bilhões de dólares incluem inundações no Canadá, uma geada no final da primavera na França que danificou vinhedos, e um ciclone na Índia e Bangladesh em maio.

INJUSTIÇA CLIMÁTICA: O relatório, feito com base em pedidos a seguradoras, reconheceu que sua avaliação abrange principalmente desastres em países ricos onde a infraestrutura é melhor assegurada e que o custo financeiro dos desastres nos países pobres é muitas vezes incalculável.

A entidade cita como exemplo o Sudão do Sul, onde enchentes ocorridas entre julho e novembro forçaram mais de 850 mil pessoas a deixarem suas casas, muitas das quais já estavam desabrigadas devido a conflitos e outros desastres.

"Alguns dos mais devastadores eventos climáticos extremos em 2021 atingiram as nações mais pobres, que pouco contribuíram para as mudanças climáticas", observou o comunicado de imprensa do relatório, destacando a injustiça dos impactos do aquecimento global.

AÇÕES URGENTES: Em meados de dezembro, a maior companhia de seguros e resseguros do mundo, a Swiss Re, estimou que todos os eventos climáticos extremos e catástrofes naturais em 2021 causaram cerca de 250 bilhões de dólares em prejuízos, 24% a mais que no ano passado. O relatório da Christian Aid aponta que o custo somente para a indústria de seguros foi o quarto mais alto desde 1970.

Os custos financeiros e humanos das mudanças climáticas devem continuar a aumentar, a não ser que governos intensifiquem esforços para reduzir emissões e contenham o aquecimento global, diz o relatório.

"Embora tenha sido bom ver algum progresso sendo alcançado na COP26, está claro que não estamos no rumo para assegurar um mundo seguro e próspero", afirmou Kramer.

Apelos crescentes de países em risco para que se estabeleça um novo fundo para ajudar a cobrir perdas e danos num mundo mais quente devem ser uma prioridade global em 2022, disse Nushrat Chowdhury, assessor de justiça climática da Christian Aid em Bangladesh. Fonte: Deutsche Welle- 27.12.2021 

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quarta-feira, outubro 16, 2019

Os trágicos números de Chernobyl

A primavera era sempre a época mais movimentada do ano para as mulheres que trabalhavam na fábrica de processamento de lã de ovelhas em Chernihiv, no norte da Ucrânia. E os meses de abril e maio de 1986 não foram exceção, com turnos de 12 horas para separar as pilhas à mão antes de serem lavadas e enfardadas. Só que as mulheres começaram a ficar doentes.

NÍVEL DE RADIAÇÃO EXCESSIVA
Algumas sofreram hemorragias nasais, outras reclamaram de tontura e náusea. Quando as autoridades foram chamadas para investigar, descobriram níveis de radiação na fábrica de até 180 mSv/hr. Hoje, em menos de um minuto qualquer pessoa exposta a esses níveis excederia a dose anual considerada segura em muitas partes do mundo.

ZONA DE EXCLUSÃO
A 80 km da fábrica ficava a usina nuclear de Chernobyl. Em 26 de abril de 1986, um reator da instalação sofreu uma explosão catastrófica que expôs o núcleo e jogou nuvens de material radioativo sobre seu entorno, como um incêndio incontrolável.
Mas, na época, consideraram que Chernihiv estava bem fora da zona de exclusão lançada às pressas ao redor da usina atingida, e leituras em outros lugares da cidade mostraram que ela tinha níveis comparativamente baixos de radiação.
"A área tinha a legenda amarela nos mapas de radiação, o que significa que a cidade não havia sido atingida com muita força", diz Kate Brown, historiadora da ciência do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. "Mas havia 298 mulheres nesta fábrica que receberam status de 'liquidante', termo normalmente reservado àqueles que documentaram exposições durante os primeiros dias da limpeza após o acidente."
Brown descobriu a história dos trabalhadores de lã de Chernihiv como parte de sua pesquisa sobre o impacto do desastre de Chernobyl. Sua determinação em desvendar o verdadeiro impacto do desastre fez com que ela viajasse para muitas partes da Ucrânia, Bielorússia e Rússia, entrevistasse sobreviventes, vasculhasse arquivos oficiais e revisasse relatórios antigos de hospitais.

DADOS OFICIAS: NÚMERO DE MORTOS RECONHECIDO INTERNACIONALMENTE
De acordo com os dados oficiais, o número de mortos reconhecido internacionalmente aponta que apenas 31 pessoas morreram como resultado imediato de Chernobyl, enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 50 mortes podem ser diretamente atribuídas ao desastre. Em 2005, previa que mais 4 mil poderiam eventualmente ter morrido como resultado da exposição à radiação.

A pesquisa de Brown, no entanto, sugere que Chernobyl lançou uma sombra muito maior.

É COMO ABRAÇAR MÁQUINA DE RAIO-X
"Quando visitei a fábrica de lã em Chernihiv, conheci algumas das mulheres que estavam trabalhando na época", diz ela. "Havia apenas 10 dessas mulheres ainda presentes. Eles me disseram que estavam pegando fardos de lã e os classificando-os nas mesas. Em maio de 1986, a fábrica estava adquirindo lã que tinha radiação de até 30Sv/hr. Os fardos de lã que as mulheres carregavam eram como abraçar uma máquina de raios X ligada."

LÃS CONTAMINADAS
Milhares de animais foram abatidos na área ao redor de Chernobyl ao longo da evacuação. Para Brown, as lãs de alguns desses animais parecem ter chegado à fábrica em Chernihiv, juntamente com outras lãs contaminadas de fazendas sob nuvens de material radioativo que se espalharam pelo norte da Ucrânia.
Quando Brown encontrou dez das pessoas que trabalharam na fábrica de lã, suas histórias trouxeram à tona uma imagem sombria do que parece ter acontecido em toda a região, já que pessoas comuns que não tinham nada a ver com a limpeza do desastre acabaram expostas ao material radioativo.

"Eles apontaram para diferentes partes de seus corpos que tinham envelhecido mais do que o resto e onde tinham problemas de saúde", diz Brown. "Eles sabiam tudo sobre quais isótopos radioativos haviam se alojado em seus órgãos." As outras 288 mulheres, dizem os sobreviventes, morreram ou passaram a receber pensões por problemas de saúde.

LIQUIDANTES
Nas semanas e meses que se seguiram ao desastre de Chernobyl, centenas de milhares de bombeiros, engenheiros, tropas militares, policiais, mineiros, faxineiros e integrantes da equipe médica foram enviados para a área imediatamente ao redor da usina destruída em um esforço para controlar o fogo e o núcleo colapsado, e evitar que o material radioativo se espalhe ainda mais pelo ambiente.

Essas pessoas - que ficaram conhecidas como "liquidantes" devido à definição oficial soviética de "participante na liquidação das consequências do acidente da usina nuclear de Chernobyl" - receberam um status especial que, na prática, significava receber benefícios como cuidados médicos extras e indenizações. Registros oficiais indicam que 600 mil pessoas receberam o status de liquidante.

Mas um relatório publicado por membros da Academia Russa de Ciências, que foi alvo de controvérsia, indica que poderia haver até 830 mil pessoas nas equipes de limpeza de Chernobyl. Eles estimaram que entre 112.000 e 125.000 destes - cerca de 15% - haviam morrido até 2005. Muitos dos números presentes desse estudo, no entanto, foram contestados por cientistas do Ocidente, que questionaram sua validade científica.

As autoridades ucranianas, no entanto, fizeram um registro de seus próprios cidadãos afetados pelo acidente de Chernobyl.
■Em 2015, havia 318.988 trabalhadores de limpeza ucranianos no banco de dados, embora, de acordo com um relatório recente do Centro Nacional de Pesquisa Médica de Radiação na Ucrânia (NRCRM), 651.453 trabalhadores de limpeza foram examinados em razão da exposição à radiação entre 2003 e 2007. Um registro semelhante em
■A Bielorrússia registrou 99.693 trabalhadores de limpeza, enquanto outro registro incluiu 157.086 liquidantes russos.

TAXA DE MORTALIDADE
Na Ucrânia, as taxas de mortalidade entre esses indivíduos aumentaram entre 1988 e 2012, passando de 3,5 para 17,5 mortes por mil pessoas. A incapacidade entre os liquidantes também disparou. Em 1988, 68% deles eram considerados saudáveis, enquanto 26 anos depois apenas 5,5% ainda eram saudáveis. A maioria - 63% - sofria de doenças cardiovasculares e circulatórias, enquanto 13% tinham problemas com o sistema nervoso.
Na Bielorrússia, 40.049 liquidantes foram diagnosticados com câncer até 2008, além de outros 2.833 da Rússia.

40 MIL HOSPITALIZADOS
Outro grupo que suportou o peso das exposições à radiação foram aqueles que moravam na cidade vizinha de Pripyat e arredores. Demorou um dia e meio até que a evacuação de 49.614 pessoas tivesse início. Mais tarde, outras 41.986 pessoas foram evacuadas de um perímetro de 30 km ao redor da usina. Por fim, cerca de 200.000 pessoas foram deslocadas em razão do acidente.

Algumas das pessoas que viviam mais perto da usina receberam doses de radiação em suas glândulas tireoides de até 3.9Gy - cerca de 37 mil vezes a dose de um raio-x de tórax - depois de respirar material radioativo e comer alimentos contaminados.
Médicos que pesquisaram as pessoas deslocadas de suas casas relatam que a mortalidade entre os evacuados tem aumentado gradualmente, atingindo um pico entre 2008 e 2012, com 18 mortes por 1.000 pessoas.

Mas isso ainda representa uma pequena proporção das pessoas afetadas por Chernobyl.
A Agência Internacional de Energia Atômica (um braço da ONU), no entanto, diz que os estudos de saúde sobre os liquidantes "falharam em mostrar qualquer correlação direta entre a exposição à radiação" e câncer ou outras doenças.
Estabelecer um número preciso no total de mortes ao redor do mundo decorrentes do desastre de Chernobyl é quase impossível

Brown, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, encontrou evidências escondidas nos registros hospitalares, feito por volta da época do acidente, que mostram problemas generalizados.

"Em hospitais daquela região, e mesmo nos distantes como o de Moscou, as pessoas estavam repletas de sintomas agudos", diz ela. "Os registros indicam que pelo menos 40 mil pessoas foram hospitalizadas no verão após o acidente, muitas delas mulheres e crianças."

Acredita-se que a pressão política de autoridades soviéticas tenha levado à supressão de um retrato fidedigno do problema, já que não queriam arranhar a imagem do país no âmbito internacional. Com o colapso da União Soviética e como as pessoas que viviam em áreas expostas à radiação começam a se apresentar com uma série de problemas de saúde, está vindo à tona uma imagem muito mais clara do número de mortos pelo desastre.

AUMENTO DA TAXA DE MORTALIDADE
Viktor Sushko, vice-diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa Médica de Radiação, descreve o desastre de Chernobyl como o "maior desastre antropogênico da história da humanidade". O órgão estima que cerca de 5 milhões de cidadãos da antiga União Soviética, incluindo 3 milhões na Ucrânia, tenham sido afetados pelo desastre de Chernobyl. Na Bielorrússia, outras 800 mil pessoas também foram atingidas pela radiação.

Atualmente, o governo ucraniano paga pensões a 36.525 viúvas de homens que são considerados vítimas do acidente de Chernobyl.

Segundo registros oficiais, cerca de 600 mil pessoas participaram das ações de contenção posteriores ao acidente na usina.

Em janeiro de 2018, 1,8 milhão de pessoas na Ucrânia, incluindo 377.589 crianças, tinham o status de vítimas do desastre, segundo Sushko. Houve um rápido aumento no número de pessoas com deficiência entre esta população, passando de 40.106 em 1995 para 107.115 em 2018.

Curiosamente, Sushko e sua equipe também relatam que o número de vítimas de Chernobyl na Ucrânia diminuiu em 657.988 desde 2007 - uma queda de 26%. Embora não expliquem os motivos, as hipóteses prováveis são a migração, à medida que as vítimas deixaram o país, a reclassificação do estatuto de vítima e, inevitavelmente, algumas mortes.

As taxas de mortalidade em áreas contaminadas por radiação têm crescido progressivamente mais na região do que o resto da Ucrânia. O pico foi em 2007, quando morreram mais de 26 pessoas em cada 1.000 - a média nacional é de 16 para cada 1.000.

ZONAS CONTAMINADAS E ZONA DE EXCLUSÃO
No total, cerca de 150.000 km² da Bielorrússia, Rússia e Ucrânia são considerados contaminados e a zona de exclusão de 4.000 km² - uma área com mais que o dobro do tamanho de Londres - permanece praticamente desabitada.

PRECIPITAÇÃO RADIOATIVA
Mas a precipitação radioativa, carregada pelos ventos, espalhou-se por grande parte do hemisfério Norte. Dois dias depois da explosão, altos níveis de radiação foram detectados na Suécia, enquanto a contaminação de plantas e campos na Grã-Bretanha levou a restrições rigorosas à venda de cordeiros e de outros produtos ovinos durante anos.
Em áreas da Europa Ocidental também afetadas, houve indícios de que as taxas de neoplasmas - crescimentos anormais de tecido que incluem câncer - foram maiores do que em áreas que escaparam à contaminação.

ALIMENTOS RADIOATIVOS
Em um arquivo em Moscou, Brown, do MIT, encontrou registros que indicavam que carne, leite e outros produtos de plantas e animais contaminados foram enviados para todo o país.
"Eles criaram manuais para as indústrias de carne, lã e leite para classificar os produtos como alta, média e baixa em termos de radiação", diz ela. "Carne com nível alto, por exemplo, foi colocada em um freezer para que eles pudessem esperar até que a taxa caísse. Carne de nível médio e baixo deveria ser misturada com carne limpa e transformada em salsicha. Foi rotulada como normal e enviada para todo o país, embora tenha havido instruções para não enviá-la para Moscou."

Brown, que escreveu um livro sobre suas descobertas chamado Manual de Sobrevivência: Um Guia de Chernobyl para o Futuro, também descobriu histórias semelhantes de mirtilos que estavam acima do limite de radiação aceitável misturado com bagas mais limpas para que todo o lote fosse aprovado no limite regulamentar.

Isso significa que as pessoas de fora da Ucrânia "tomariam um café da manhã com mirtilos de Chernobyl", mesmo sem saber, Brown diz.

Uma equipe de testes de radiação retornou à usina nuclear cinco anos após o acidente que destruiu o reator.
Estabelecer elos entre a exposição à radiação e os efeitos na saúde a longo prazo, no entanto, é uma tarefa difícil. Pode levar anos, até mesmo décadas antes que o câncer apareça, e atribuí-lo a uma causa específica pode bastante complexo.

PROBLEMAS NOS GENOMAS
Um estudo recente, no entanto, identificou problemas nos genomas de crianças que foram expostas durante o desastre ou que nasceram de pais que foram expostos. Foram achados níveis elevados de dano e instabilidade em seus genomas.

"A instabilidade do genoma representa um risco significativo de câncer", diz Aleksandra Fučić, do Instituto de Pesquisa Médica e Saúde Ocupacional, na Croácia. Filha de uma mulher ucraniana, ela tem atuado com cientistas russos para estudar os efeitos da radiação de Chernobyl sobre crianças da região. "Nos casos de Chernobyl, o tempo não está curando, mas um período de latência para o desenvolvimento do câncer."

As taxas de suicídio entre as pessoas envolvidas na limpeza em Chernobyl são maiores do que na população geral, segundo estudos, que também descobriram que as pessoas que relataram viver nas zonas afetadas pelo desastre na Ucrânia tinham taxas mais altas de problemas com álcool e níveis mais baixos de saúde mental.

Estabelecer um número preciso no total de mortes ao redor do mundo decorrentes do desastre de Chernobyl é quase impossível. Mas, apesar do quadro sombrio da maioria das pinturas de pesquisa, há algumas histórias de esperança também.
Três engenheiros que se voluntariaram para drenar milhões de galões de água de tanques sob o reator em chamas nos dias logo depois da explosão passaram por águas altamente radioativas e detritos para alcançar válvulas. Seu heroísmo é um dos momentos mais dramáticos da recente série da HBO sobre o desastre, Chernobyl. Surpreendentemente, dois dos três ainda estão vivos, apesar da proteção mínima contra a radiação durante a missão. O terceiro deles, Borys Baranov, viveu até 2005. Fonte: BBC Brasil -10 agosto 2019

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quarta-feira, abril 17, 2019

Temporal deixa mortos no Rio de Janeiro

O município do Rio de Janeiro está em estado de crise desde as 20h55 de segunda-feira, 08 de abril. As áreas mais afetadas foram as zonas sul e oeste. O temporal alagou ruas, derrubou árvores, destruiu carros e inundou túneis por toda a cidade.

De acordo com dados do Alerta Rio, o sistema de monitoramento meteorológico da prefeitura do Rio, o volume de chuva acumulado em apenas quatro hora na noite dessa segunda foi até 70% maior do que o esperado para todo o mês de abril em alguns pontos dessas regiões.

Na zona oeste, a estação medidora da Barrinha registrou 212 milímetros de chuva entre as 18h e as 22h. No mesmo período, na zona sul, choveu 168 milímetros em Copacabana, 164 na Rocinha e 149 no Jardim Botânico.

As sirenes de alerta para risco de deslizamento de terra foram acionadas em 21 das 103 comunidades monitoradas pela Defesa Civil Municipal. Mas, segundo moradores, o alarme não chegou a ser acionado no Morro da Babilônia porque estava faltando energia na comunidade no momento do temporal.

A chuva também provocou o desabamento de mais um trecho da Ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer. Desta vez, a parte que caiu fica próxima do bairro de São Conrado. O desabamento ocorreu por volta das 22h, quando a via já estava fechada.

VITIMAS FATAIS
Dez pessoas morreram entre a noite de segunda-feira e a tarde desta terça-feira

DESALOJADOS E DESABRIGADOS
O temporal deixou ainda ao menos 1.204 desalojados, 220 desabrigados e seis feridos no estado, segundo balanço do governo do Rio.

RESUMO
■Suspensas as aulas nas escolas públicas
■Mortes aconteceram no Morro da Babilônia, no Leme, na Gávea, em Santa Cruz e em Botafogo
■59 sirenes foram acionadas em 36 das 103 comunidades que possuem o sistema de alerta
■Vias importantes interditadas: Avenida Niemeyer, Alto da Boa Vista, Avenida Visconde de Albuquerque, mergulhão Billy Blanco e Avenida Engenheiro Souza Filho

ÍNDICE DE PRECIPITAÇÃO
Onde mais choveu das 22h30 de segunda (8) às 10h30 de terça (9):
■Barra/Barrinha: 295,4 mm
■Rocinha: 294,8 mm
■Alto da Boa Vista: 287,0 mm
■Jardim Botânico: 285,2 mm
■Copacabana: 269,2 mm

DEFESA CIVIL MUNICIPAL
A Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil recebeu 1.025 chamados desde as 17h de segunda-feira, 8, até as 18h20 desta quarta-feira, 10. Foram foram realizadas 128 interdições de imóveis em decorrência das chuvas. Entre os pedidos de atendimento, estão vistorias em área de deslizamento de encosta e barranco, desabamento de estrutura e ameaça de desabamento.  

SIRENES
Ao todo, 59 sirenes soaram em 36 das 103 comunidades de alto risco geológico monitoradas pelo sistema de alertas sonoros da cidade para chuvas fortes nos últimos dias. Não houve acionamentos nesta quarta-feira. As sirenes são acionadas pela Defesa Civil municipal após monitoramento e avaliação dos índices críticos de chuva por meteorologistas do Sistema Alerta Rio, lotados no Centro de Operações Rio (COR).

AÇÃO ESPECIAL DA SEOP REMOVEU 158 VEÍCULOS ARRASTADOS PELAS CHUVAS
Desde a madrugada desta terça-feira (9), a Coordenadoria de Fiscalização e Reboques (Cfer), vinculada à Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), montou operação especial para auxiliar na retirada de automóveis que ficaram atolados em pontos da cidade por conta das fortes chuvas. Ao todo, 158 foram removidos e realocados em pontos seguros para liberação das vias.

ANÁLISE
"Chuvas intensas são esperadas, mas não nesta época do ano", reforça a geógrafa Ana Luiza Coelho Netto.
Coordenadora do Laboratório de Geo-hidroecologia e Gestão de Riscos (Geoheco) da UFRJ, Ana Luiza acompanha os padrões dos regimes de chuva no país e afirma que as alterações têm ocorrido "numa velocidade surpreendente" do século 20 para cá, "acompanhando a velocidade das intervenções humanas" e gerando impactos exacerbados pela histórica falta de políticas públicas para lidar com o problema.
"A cidade vem acumulando um descaso na mesma magnitude do caos que se instalou hoje com a chuva", disse a especialista, enquanto se espantava com a quantidade de terra, blocos de cimento e pedras que rolavam pela rua onde vive Jardim Botânico. "Moro aqui há muitos anos e não lembro de ter visto um caos tão grande quanto este", afirma.
Ela lembrou sua infância no Rio, quando via as ruas do bairro de Botafogo completamente alagadas e pedia abrigo a vizinhos para esperar a água baixar.
"Até parece que isso é novidade, que a grande culpada é a chuva. Não é. É falta de política pública integrada para a cidade", diz a geógrafa.
"Isso não significa apenas fazer controle de enchente. É ter políticas de moradia, de transporte, de planejamento urbano, de tudo. Estamos falando de uma metrópole. Essa cidade concentra milhões de pessoas, e ninguém está seguro. Nas encostas tem deslizamento. Nas baixadas, enchentes. A gente acumula esse problema historicamente. A gente prefere ignorar a natureza dessa cidade, e o resultado é esse. Agora as chuvas intensas estão se tornando cada vez mais frequentes, esse caos será mais frequente, e não estamos preparados, disse  Ana Luiza. Fontes: UOL Noticias - 09/04/201; G1 RJ - 09/04/2019 


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quinta-feira, abril 11, 2019

Lembrança:Em 1966, enxurrada matou 200 pessoas no Rio de Janeiro

Rio entrou em colapso com mais de mil desabamentos: bombeiros e hospitais não conseguiram dar conta da demanda. Na Praça da Bandeira, carros flutuaram nas águas

A enxurrada de 10 de janeiro de 1966, foi "o maior temporal de todos os tempos", matou cerca de 200 pessoas, provocou mais de mil desabamentos em vários bairros e deixou mais de 30 mil desalojados. A cidade ficou em estado de calamidade pública. As chuvas torrenciais pararam o Rio e levaram ao colapso os sistemas de atendimento à população. Sem poder dar conta de todos os chamados, o Corpo de Bombeiros pedia que as pessoas ligassem para a corporação apenas nos casos mais graves. Com ambulâncias danificadas pela chuva, muitos hospitais não conseguiam socorrer os feridos, que chegavam em caminhões ou no colo das pessoas.

Canais como o do Mangue e rios transbordaram, alagando ruas e avenidas. Em alguns lugares, a água chegou a um metro de altura. A Praça da Bandeira ficou completamente inundada e o Túnel Santa Bárbara, intransitável. O sistema de transporte também entrou em colapso. Trens e ônibus pararam de circular. Os táxis sumiram das ruas. Houve alagamentos em várias partes da cidade. Devido à queda de barreiras, as principais rodovias de acesso ao Rio foram interditadas, deixando a cidade praticamente isolada.

A cidade ainda não havia se recuperado do trauma de janeiro de 1966 quando, em 18 de fevereiro de 1967, sofreu um outro temporal arrasador. As chuvas causaram a morte de 116 pessoas. O caso mais grave aconteceu em Laranjeiras. Uma pedra rolou da encosta e provocou o desabamento de três prédios na Rua General Glicério.

Nas últimas décadas, outros dois temporais traumatizaram os cariocas: o de 1988 e o 1996. Em 19 de fevereiro de 1988, uma chuva torrencial parou a cidade e provocou 273 mortes no estado, sendo 78 no município do Rio. O caso mais grave aconteceu em Santa Teresa, onde toneladas de pedra e terra rolaram sobre a Clínica Santa Genoveva, soterrando cerca de 40 pessoas, entre pacientes e funcionários. As principais vias da cidade ficaram alagadas e os engarrafamentos se estenderam madrugada a dentro. Na Avenida Radial Oeste, no Maracanã, a força das águas arrastou dezenas de carros. Houve desabamentos no Rio e na Região Serrana.
Outro violento temporal atingiu a cidade em 13 de fevereiro de 1996, matando 53 pessoas e deixando cerca de 2.000 desabrigadas. As regiões mais atingidas foram Jacarepaguá e Barra da Tijuca. Fonte: O Globo - Publicado: 09/07/13 

Comentário:
Os temporais acompanham o cotidiano carioca desde que a cidade nasceu.
Até o século XIX, o Rio de Janeiro teve um crescimento demográfico lento. Era uma cidade pequena, em comparação com a enorme malha urbana que vemos hoje. Na verdade, na metade do século passado a cidade começava na Praça XV e acabava na Praça da República. E essa era, portanto, a área afetada pelos temporais.

A posição estratégica do Rio de Janeiro, na entrada da Baía de Guanabara foi fundamental na decisão portuguesa de fundar a cidade e de aqui manter o seu posto avançado de controle colonial. Mas o sítio sempre foi problemático, pela quebra abrupta de gradiente entre a encosta e a baixada situada ao nível do mar, e pela grande quantidade de brejos, pântanos e lagoas.

Por isso, a conquista propriamente dita foi um processo longo e penoso. O espaço da cidade do Rio de Janeiro teve que ser conquistado pelo homem através de dessecamentos e aterros, durante mais de 300 anos, até o século XIX.

Para termos uma noção mais precisa do que era esta terra primitiva, devemos lembrar que a cidade originalmente estendia-se entre o morro de São Bento, o antigo morro do Castelo – onde está hoje a esplanada do Castelo –, o morro de Santo Antonio e o morro da Conceição.

Em volta, quase que só havia água. Para dar um exemplo, basta lembrar que toda a área da Lapa, onde está hoje o Hospital da Cruz Vermelha, era um grande pântano –o Pantanal de Pedro Dias. Havia também diversas lagoas no que é hoje a área central.

Com que foram feitos os aterros? Com entulho e lixo, os grandes formadores do solo carioca. Foram os dejetos da própria cidade os viabilizadores de sua expansão sobre o brejo, sobre as lagoas e sobre o mar.

Além, é claro, da construção de inúmeras valas, que contribuíram para o enxugamento do solo e que, até o final do século XIX, seriam praticamente a única rede de drenagem urbana do Rio de Janeiro.

A cidade vai ocupar então áreas mal aterradas e mal niveladas, e não é de surpreender que, depois, sejam justamente essas as áreas mais afetadas pelas inundações.

O mais antigo registro histórico sobre grandes inundações no Rio de Janeiro é de setembro de 1711. Um registro de abril de 1756 indica que choveu durante três dias ininterruptos. O temor e o susto se apoderaram de tal modo do ânimo dos habitantes, que já na primeira noite muita gente abandonou as casas e se refugiou nas igrejas. As águas cresceram de tal maneira que inundaram a Rua dos Ourives, atual rua Miguel Couto, e entraram pelas casas adentro, por não
caberem pelas valas. Todo o campo parecia um lagamar.

“AS ÁGUAS DO MONTE”
Mas a grande inundação no passado do Rio de Janeiro foi a que ficou conhecida como “as águas do monte”, acontecida quando o príncipe regente já estava na cidade, em fevereiro de 1811. Foram sete dias ininterruptos de chuva, que causaram grandes prejuízos materiais e de vidas humanas. O príncipe regente ordenou então a elaboração de um relatório. Seria o primeiro
de uma longa série que, no futuro, se seguiria a cada grande temporal. Datado de 4 de julho de 1811, o trabalho assinado pelo tenente-general e engenheiro dos reais exércitos João Manoel da Silva explicava a D. João VI as causas das “águas do monte” (infelizmente, o original desse relatório se perdeu, mas ele foi publicado em 1894 no Jornal do Commercio). As conclusões do tenente-general não são diferentes das de hoje.

A topografia da cidade, dizia ele em seu relatório, apresenta mudanças abruptas de gradiente – de encostas íngremes para terrenos planos ao nível do mar, o que contribui para o escorrimento
rápido das águas pelas vertentes e para o seu represamento igualmente rápido na baixada. A vala mestra do sistema de drenagem (que ficava no eixo da atual rua Uruguaiana, então chamada Rua da Vala) está praticamente ao nível do mar e não dá vazão às águas que para aí se dirigem; além do mais – prosseguia o relatório – está sempre coberta de imundícies, porque a população
joga tudo nas valas.

Apesar das recomendações contidas no relatório de 1811, nada foi feito durante os 40 anos seguintes.  Os problemas políticos e econômicos da Regência e do Primeiro Reinado avolumaram-se e deixaram em segundo plano as enchentes na cidade. Quem faz pesquisa histórica nos arquivos encontra com freqüência abaixo-assinados e petições de moradores reclamando soluções para o problema das inundações nesta ou naquela área.

A segunda metade do século XIX torna-se-ia um período fundamental na história da relação do sítio urbano com os temporais, porque de um lado temos a grande expansão da malha urbana – através da introdução dos sistemas de transporte coletivo por carros ou por trens – e, de outro, uma enorme migração para a cidade, que vai levar ao crescimento acelerado da população urbana.

Mas, no século XX, a situação vai se agravar bastante, devido à enorme expansão da malha urbana em direção à periferia. No início do século, o crescimento demográfico acelerado não foi acompanhado pela desconcentração do emprego. Isso significava um alto custo de moradia para as populações pobres, que se amontoavam em cortiços instalados no centro da cidade. Com o combate aos cortiços no final do século XIX, mais a remodelação da cidade comandada pelo prefeito Pereira Passos na virada do século, começou então o processo de favelização da cidade.

É importante notar que até o século XIX, a encosta não era valorizada; nela quase não havia construções, porque a encosta oferece problemas de engenharia civil muito importantes e porque havia outras áreas para ocupar. É só no final do século XIX, com a crescente ocupação de Santa Teresa e, principalmente no século XX, que as encostas vão passar a ser importantes áreas de concentração populacional.

AGRAVAMENTO SUBSTANCIAL DAS INUNDAÇÕES URBANAS.
■Altas densidades demográficas em certos bairros;
■Verticalização; aumento considerável da pavimentação, que impermeabiliza o solo;
■Crescimento descontrolado das favelas, levando a uma nova fase de destruição da cobertura vegetal dos morros;
■Retificação e canalização ineficiente de rios urbanos, o que aumenta a rapidez do fluxo das águas;
■E pouco ou nenhum investimento na melhoria da drenagem urbana levaram, então, ao agravamento substancial das inundações urbanas.

Como vimos, o problema das inundações no Rio de Janeiro é antigo. E, pelo visto, as soluções também. A vontade política é o que parece ser, na realidade, a grande chave. Quando ela existiu, como aconteceu no passado para o combate às epidemias, os resultados vieram.

Estamos novamente num momento como esse. A relação entre o sítio  e os temporais na cidade parece bem clara. A engenharia oferece os recursos técnicos. De um lado, está o problema, com suas causas naturais e sociais; de outro, as soluções – que podem ser encontradas e aplicadas. Basta que exista vontade política.

Fonte: A Cidade e os Temporais: uma relação antiga, Maurício de Almeida Abreu Professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.  Tormentas Cariocas, Seminário Prevenção e Controle dos Efeitos dos Temporais no Rio de Janeiro, 1997

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quarta-feira, julho 25, 2018

Resgate dos adolescentes presos em caverna na Tailândia

MISSÃO POSSÍVEL
Nas últimas três semanas, o mundo acompanhou com apreensão o drama dos 13 tailandeses presos em uma caverna no norte do país. A história reunia elementos dignos de um filme de Hollywood : crianças em uma caverna, chuvas que alagam o local, um mergulhador que morre tentando ajudar e uma corrida angustiante contra o tempo.

Mas, após dias de agonia, na quarta-feira (11 de julho), soube-se que essa era uma história de final feliz: os garotos resgatados recebem cuidados médicos e passam bem.

MEGAOPERAÇÃO
Para que esse resultado fosse possível, a Tailândia organizou uma megaoperação que contou com militares norte-americanos, mergulhadores de várias nacionalidades e até uma tradutora voluntária brasileira. Com ciência, tecnologia e solidariedade de diversas partes do planeta, a humanidade venceu.
Espanhol radicado na Tailândia, Raigal é mergulhador profissional há 12 anos. Trabalha no setor petrolífero e realiza inspeções e reparos em grandes profundidades. "Caverna não é minha especialidade. Mas mesmo os especialistas diziam que essa era uma operação muito difícil: visibilidade zero, correntezas, as crianças não sabiam nadar e poderiam entrar em pânico", disse.
Para driblar as condições adversas, a operação multinacional montada na Tailândia tentou, como primeira alternativa, bombear para fora da caverna a água que alagava as galerias.
"Não foi possível retirar tudo, mas foi fundamental. Assim, foi possível estabelecer na caverna uma área seca que serviu como base de apoio", explicou.

A CHAVE PARA O SUCESSO
Ao bombear parte da água para fora da caverna, equipe reduziu necessidade de cilindros de ar. Estabelecer uma área seca em um ponto intermediário da galeria foi fundamental para o sucesso da operação, segundo Fernando Raigal.
Com isso, os mergulhadores não precisavam mais ter cilindros de ar suficientes para percorrer, indo e voltando, os mais de três quilômetros que separavam a entrada da caverna do ponto em que estavam os garotos. Acredita-se que foi justamente por essa falta de ar que o mergulhador Saman Gunan tenha morrido, ao tentar regressar para a entrada da caverna.
"Um dos meus trabalhos era levar e trazer cilindros de ar até esse ponto intermediário", diz Raigal.
Esses cilindros eram utilizados para os trechos da caverna que ainda estavam alagados. "Foi preciso, em alguns trechos, arrastar os garotos mergulhados na água", relata.
Retirou-se toda a água que se pôde. Mas ainda havia trechos inundados. A alternativa foi arrastar os meninos debaixo d'água, Fernando Raigal, 33, um dos mergulhadores que participaram do resgate

POR QUE ELES FORAM PARA A CAVERNA?
Era sábado, dia 23 de junho, em meio a época de chuvas fortes na Tailândia, também conhecida como o período das monções.
Na província de Chiang Rai, ao norte do país, após um dia normal de treino de futebol, 12 meninos da equipe juvenil Javalis Selvagens, acompanhados do técnico, foram ao complexo de cavernas Tham Luang  para comemorar o aniversário de um deles. Foi quando começou a chover.
Devido às chuvas violentas que caem todos os anos na região, o acesso à caverna é proibido a partir de julho. A excursão, inicialmente inofensiva, aconteceu uma semana antes.

MENINOS PERDIDOS
O sinal de alerta foi dado pela mãe de um dos meninos, que não voltou para casa depois do treino de futebol. Por volta das 15h (horário local) do dia 23 de junho, 11 bicicletas foram encontradas do lado de fora de uma caverna conhecida por ser perigosa durante a temporada de chuvas na Tailândia.
As buscas no interior do complexo de cavernas começaram nas primeiras horas do dia seguinte e logo atraíram a atenção da mídia.
Ao percorrer o mundo, a história dos meninos desaparecidos atraiu mergulhadores e socorristas voluntários, muitos deles vindos de outros países, como Raigal, que viajou de Bancoc, a capital, para Chian Rai para oferecer ajuda.

O GRANDE ENCONTRO
Em 2 de julho, mais de uma semana após o início das buscas, o grupo foi finalmente encontrado por dois mergulhadores ingleses, no labirinto infinito de rochas, galerias e águas que compõem o complexo de cavernas Tham Luang Nang Non.
"Os meus colegas relataram que a primeira pista que tiveram foi o 'cheiro de gente' que sentiram conforme se aproximavam dos meninos", disse Raigal.
"Na sequência, viram também luzes das lanternas", conta. Paciente e estratégico, o grupo economizou bateria e conseguiu fazer com que os equipamentos durassem por mais de nove dias.
Eles estavam a mais de três quilômetros da entrada do complexo, protegidos das inundações sobre um banco de pedra. Estavam magros e enfraquecidos. Os britânicos filmaram o momento do encontro.
"Em quantos vocês estão?", pergunta um dos mergulhadores. "Somos 13", responde um garoto, o único a se comunicar bem em inglês. "Brilhante", exclama o mergulhador, aliviado.
Os dois socorristas contam para os meninos que é segunda-feira, que eles estão desaparecidos há nove dias e que são muito corajosos. Avisam que muito mais gente está vindo para resgatá‑los. Mas quando?

A CORRIDA CONTRA O TEMPO
A alegria e a comoção de encontrar os 13 desaparecidos com vida foram logo substituídas pela grande incógnita de como retirá-los de lá.
Para chegar ao local em que estavam protegidos da água, era necessário percorrer um longo caminho no interior da caverna, em meio a trechos extremamente estreitos ou inundados.
Os meninos, além de fracos pelos dias em um ambiente inóspito, sem alimentação, não tinham qualquer experiência com mergulho --alguns nem sabiam nadar.
Durante os dias seguintes, autoridades cogitaram manter os meninos no local por meses, até que terminasse a estação de chuvas e eles pudessem caminhar para fora. A hipótese, no entanto, foi logo descartada com a previsão de mais água por vir.

MORTE DE MERGULHADOR AUMENTA O MEDO
No dia 5 de julho, um ex‑mergulhador da Marinha tailandesa morreu em meio as operações de resgate.
Saman Gunam tinha 38 anos, era triatleta e voluntário no local. Ele havia levado suprimentos e oxigênio para o grupo. Na volta, ficou ele próprio sem ar e acabou perdendo a consciência. Gunam foi retirado da caverna por seu companheiro de mergulho, mas os socorristas não conseguiram reanimá-lo.
A morte de um militar experiente evidenciou os riscos envolvidos no resgate do grupo. Se já era difícil para um mergulhador experiente, imagine para um grupo de meninos.

COMPANHIA POR 3 (LONGOS) DIAS
O médico e mergulhador australiano Richard Harris ficou com os meninos na caverna durante os três dias que durou o resgate.
Especialista em prestar socorro em caverna, ele se voluntariou para a missão, quando ficou sabendo que os meninos haviam sido localizados.
Foi Harris quem decidiu, após avaliá-los, quais eram as crianças mais aptas a deixarem primeiro a caverna.

HERÓI OU VILÃO?
O técnico Ekkapol Chantawong, 25, dividiu a opinião das pessoas que acompanhavam a notícia.
Muitos o culparam pela situação dos meninos, considerando que era o único adulto e responsável pelo grupo.
Os pais das crianças, no entanto, perdoaram Ekkapol em uma carta entregue pelos mergulhadores.
"Queremos que você saiba que nenhum dos pais está bravo com você, então, não se preocupe com isso", escreveram.
Antes de ser técnico do Javalis Salvagens, Ekkapol passou uma década como monge budista. Sua tia contou a jornalistas que ele pode ficar até uma hora meditando. Acredita-se que essa habilidade tenha ajudado os adolescentes a superarem os dias sozinhos e no escuro da caverna.

O RESGATE

■Cada integrante do grupo usa uma máscara de mergulho que cobre o rosto todo, além de roupa especial, capacete e botas
■Dois mergulhadores da Marinha acompanham cada criança; o da frente carrega o tanque de oxigênio usado pelo resgatado da vez
■Os mergulhadores usam uma corda fixa como guia para conduzir os jovens pela escuridão da caverna
■Cada garoto está ligado por uma corrente ao mergulhador-chefe


No domingo, 8 de julho, as equipes decidiram aproveitar uma janela entre tempestades, com a previsão de mais chuvas na região para os próximos dias.
Naquele mesmo dia, mergulhadores iniciaram a missão resgate. O plano era trazer os meninos em grupos de quatro, cada um deles acompanhado por dois mergulhadores. Os rapazes estariam amarrados aos socorristas, que também carregariam os tanques de oxigênio para eles.
O caminho envolvia andar sobre as rochas, escalar e mergulhar na escuridão. Para isso, os meninos vestiram roupas especiais de mergulho e máscaras que cobriam todo o rosto.
Já no domingo (8), quatro garotos foram retirados da caverna com vida e bem de saúde. Nos próximos dois dias, seguindo o mesmo procedimento, o grupo inteiro foi resgatado.

OS NÚMEROS DA OPERAÇÃO

■ 18  dias foi o total de tempo que os meninos ficaram na caverna. Eles se perderam em 23 de junho e nesta terça (10) os quatro últimos foram resgatados.
■ 9 dias foi o tempo que as equipes de resgate levaram para encontrar os meninos então desaparecidos, sem saber se estariam vivos ou não.
■ 4 quilômetros era a distância do local em que eles foram encontrados, a partir da entrada do complexo de cavernas.
■ 800 metros abaixo do solo era a profundidade do lugar seco que encontraram para se refugiar.
■ 3 dias foi o tempo que durou a operação de resgate. Ela teve início no domingo (8) e terminou nesta terça (10).
■ 128 milhões de litros de água da chuva foram drenados das cavernas, para que o resgate fosse possível.
■ 90 mergulhadores participaram da operação, sendo 40 tailandeses e 50 estrangeiros de diferentes países.
■ 14 era a média de idade entre os 12 meninos, que tinham entre 11 e 16 anos. Além deles, havia um técnico, de 25.
■ 1.000- É o número estimado de voluntários, tailandeses e estrangeiros, que passaram pelo local para ajudar com comida, traduções e apoio de todo tipo.
■ 1.100 - Jornalistas de todo o mundo estiveram no local, com equipamentos instalados em meio ao barro e realizando transmissões ao vivo de baixo da chuva.  

FINAL FELIZ
Depois de 18 dias na caverna e oito no hospital, os 12 garotos do time de futebol Javalis Selvagens e seu treinador tiveram um último compromisso na  quarta-feira (18) antes de voltar para casa: uma entrevista mediada por médicos, psicólogos e autoridades da Tailândia.
Sorridentes, os garotos se apresentaram um a um, falando, além dos nomes, a posição em que jogam no time de futebol. Com boa aparência (recuperaram três quilos, em média), fizeram piadas e riram diversas vezes durante a conversa.

Eles contaram por que entraram na caverna e o que sentiram enquanto, por dez dias, esperavam ser encontrados, além de detalhar a operação de resgate, que durou três dias.
O treinador Ekapol Chantawong, 25, apelidado de "Ake", que respondeu a maior parte das questões, também falou da tristeza ao saber da morte do mergulhador que lhes havia entregado tubos de ar e dos laços que se formaram no grupo e inclusive com as equipes de mergulhadores.

OS DIAS PRESOS
Foram dez dias sem comer, bebendo apenas a água que escorria pelas paredes da caverna. O grupo havia lanchado logo antes de entrar no complexo de Tham Luang e não levou comida.
Para se distrair, jogavam damas. Para tentar sair, escavavam as paredes. Não deu certo.
"Nós nos revezávamos para cavar. Bebíamos água até ficar cheios antes de escavar", disse o técnico Ake. "Quase todos sabiam nadar, mas alguns não eram bons nadadores", completou o treinador. Ele esperava a água baixar, já que seria difícil sair a nado, no escuro, sem saber ao certo para onde ir.
Ao responder à pergunta "como era a relação de vocês na caverna", Ake sorriu: os vínculos formados entre o grupo não eram mais de treinador e treinados.
Na caverna, formamos uma família, Ake , Técnico dos javalis selvagens
Sinto que um dos mergulhadores era como meu pai. Ele me chamava de 'filho' na caverna
Ekkarat, "Bew" Wongsookchan, 14
Tentava não pensar em comida, me dava mais fome, Titan, o caçula do time

ENTRADA NA CAVERNA
Ake relata que foi à caverna porque um dos garotos queria conhecer o local. Diferentemente do que se disse na imprensa internacional antes, não era aniversário de nenhum deles.
Ele relata que o grupo caminhou bastante até perceber que a caverna estava inundando.
"Tentei me manter calmo e pensar em soluções", disse um dos garotos. "Pensei, tudo bem, vai demorar um pouco", contou outro. Foram mais de duas semanas presos.
No quinto dia, vimos que tínhamos que achar uma saída e não esperar alguém. Pensamos em ir mais fundo na caverna. Mas a água subiu

ALEGRIA E CULPA: ENCONTRO
Em 2 de julho, mergulhadores britânicos encontraram os garotos num banco de lama, a três quilômetros da entrada da caverna. "A gente estava com medo. Peguei a lanterna e (...) foi quando os mergulhadores apareceram. Não sabia o que dizer, a não ser 'olá'!", disse Adul Sam‑on, 14, nascido em Mianmar e que sabe falar inglês. "Foi um milagre." Alguns garotos pediram aquilo que o grupo mais queria: comida.

LUTO
O técnico relatou a tristeza ao saber que, em 6 de julho, o mergulhador Saman Kunan havia morrido. Ele tinha levado tubos de ar ao grupo e tentava sair da caverna. Ake disse que teve sentimento de culpa "por ter, de alguma maneira, causado o fim da vida dele". Emocionado, o técnico completou: "Ficamos muito tristes. Sentimos que causamos tristeza à sua família". Os garotos fizeram uma reverência diante de um retrato do mergulhador.
Somos muito gratos a você e a sua família, Titan, após prestar homenagem ao mergulhador morto.

A SAÍDA
Na hora de escolher quem sairia primeiro, Ake, o técnico, contou que todos os garotos tinham condições físicas similares: fracos, mas saudáveis. Achava que eles iriam direto para casa. Queria que aqueles que moram longe saíssem primeiro e pudessem ver logo a família.
De volta para casa, todos os garotos afirmaram que a primeira coisa que querem dizer são "desculpas".
Fomos negligentes. Não sabíamos o que ia acontecer e não sabíamos o futuro. Seremos mais cautelosos, e vou viver minha vida plenamente, Adul Sam-on, um dos resgatados.
Como aprendizado, o técnico afirmou que ele e os jovens viverão "cuidadosamente, e não de forma imprudente". "Vamos checar antes de fazer qualquer coisa."
"Aprendi muito com esse desastre", agregou Nick, 15. "Serei uma boa pessoa para a sociedade."
Outro menino, Mark, 13, afirmou que se sente "mais forte" e sonha em virar jogador de futebol profissional.
Aos jornalistas, os oficiais pediram que respeitem a privacidade das crianças. A entrevista de hoje, com perguntas previamente selecionadas pelos psicólogos, teve dois objetivos: diminuir a curiosidade da imprensa e garantir, que daqui em diante, os garotos poderão tentar retomar suas rotinas.

SAUDAÇÃO AO REI
A entrevista terminou com um dos oficiais agradecendo ao rei "que nos deu todo o apoio necessário". A Tailândia é uma monarquia.
Na sequência, os garotos caminharam em direção ao retrato do rei e se curvaram, em sinal de reverência.
Agora, eles voltam para suas casas e se preparam para retomar suas rotinas.
Esse episódio é a maior experiência que já enfrentei. Me ensinou a ser mais paciente e forte, a não desistir facilmente, Titan. Fontes: UOL noticias - 12 de julho de 2018, ULO Noticias -18 de julho de 2018.

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posted by ACCA@7:30 AM

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