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quinta-feira, agosto 04, 2016

Chernobyl:Itália enfrenta invasão de javalis radioativos

Quase trinta anos após o desastre da usina de Chernobyl (Ucrânia), a maior tragédia radioativa da história continua a causar graves problemas na Europa e a deixar a população em alerta. Desta vez, o alarme foi soado em uma zona de caça livre no norte da Itália. Após um ano de pesquisas, o Instituto Zooprofilático Experimental de Piemonte, Ligúria e Valle d'Aosta – entidade ligada ao governo regional– divulgou a presença de traços de césio-137 acima dos limites permitidos pela União Europeia em dezenas de javalis encontrados na província piemontesa de Verbano-Cusio-Ossola, especialmente na pequena comunidade de Valsesia. A carne do javali seria consumida pelos caçadores.

O instituto começou a investigar a área com maior rigor em março de 2013, após a descoberta de 27 animais contaminados. Em pouco mais de um ano, foram analisados 1.441 porcos selvagens e a constatação foi a de que mais de 10% da população (166 javalis) apresentam índice de radioatividade superior a 600 becquerel/quilo, limite máximo permitido pela UE em animais selvagens. O becquerel é a unidade usada internacionalmente para mediação de radioatividade.

Embora não tenha revelado precisamente o nível de radiação encontrado nos animais de Vasesia, Maria Caramelli, diretora do instituto, afirmou que as análises apresentaram traços de césio-137 "significativamente superiores" ao permitido pela comunidade europeia.

NUVEM RADIOATIVA
De acordo com a instituição, a contaminação dos javalis é consequência ainda da nuvem radioativa provocada pela explosão de Chernobyl em 1986. Nos dias decorrentes ao desastre, a nuvem se espalhou por dezenas de países da Europa. Na Itália, um mapeamento feito pelo CCR (Centro Comum de Pesquisa da União Europeia) constatou que as regiões mais afetadas foram Lombardia e Piemonte. Fortes chuvas atingiram essas áreas naquele período fazendo com que o césio penetrasse maciçamente no solo.

A nuvem tóxica, explica Maria Caramelli, passaram pelas regiões do norte do nosso país. Em Valsesia a precipitação radioativa foi particularmente intensa por causa da chuva que caiu nesse período. As carcaças de animais selvagens de outras áreas do Piemonte não revelaram contaminação

A atual propagação da substância radioativa entre a população de porcos selvagens, e não em outros animais, pode ser consequência dos hábitos alimentares dos javalis. Como eles se nutrem principalmente de raízes, escavam camadas profundas do solo em busca do alimento, expondo‑se assim à radiação. Além disso, as raízes são por si próprias grandes concentradoras de radiatividade. 

Após a descoberta, o Instituto Zooprofilático emitiu um alerta pedindo maior controle na zona de caça da província de Verbano-Cusio-Ossola. Atualmente, o Piemonte possui um plano de monitoramento da carne proveniente da caça na região. Porém, a fiscalização não atinge a totalidade dos animais abatidos em zonas selvagens antes de serem consumidos.

ÍNDICES SUBESTIMADOS
Para Massimo Bonfatti, coordenador na Itália do Projeto Humus, que trabalha com políticas de contenção de contaminação em áreas atingidas por radioatividade, a situação é ainda mais grave do que parece. Segundo o médico, dois fatores não estão sendo levados em consideração para avaliar precisamente o quadro. O primeiro deles seria a análise exclusiva de somente um isótopo radioativo.

"Um problema grave é que o índice de validação de contaminação na Europa é feito só com o césio-137, mas a nuvem que foi liberada por Chernobyl era cheia de outros elementos em proporções diversas. Não conseguimos nunca ter, por exemplo, o resultado da contaminação no norte da Itália por césio-134, que também pode causar sérios danos".
Além disso, segundo o coordenador, o valor permitido de radiação de 600 becquerel por quilo de carne é extremamente elevado. "É complicado, mas estamos trabalhando na elaboração de uma proposta de projeto de lei para baixar esse índice para 10 bq/kg"

MAIOR RIGOR
Ainda de acordo com Bonfatti, os danos causados à saúde humana por contaminação radioativa são gigantescos. "Nós sustentamos que a grande epidemia de câncer que existe no mundo é provavelmente consequência da radiação que foi liberada do pós-guerra até hoje no planeta. Além disso, estudos já revelaram que o césio-137 se liga às fibras do coração provocando o surgimento de graves patologias cardíacas. Fonte: UOL, em Roma 28/07/2014; La Repubblica - 19 giugno 2014

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terça-feira, agosto 02, 2016

Os lobos reconquistam Chernobyl

Lobo na zona de exclusão. 
Muito antes de os soviéticos erguerem a central de Chernobyl na década de 1970, os lobos, alces e javalis já percorriam os bosques e pradarias do que hoje é a zona de exclusão, onde não vivem pessoas desde que em 1986 se produziu o pior acidente nuclear da história. Três décadas depois daquilo, os animais ocuparam o vazio deixado pelas 116.000 pessoas removidas para sempre de um território de 4.200 quilômetros quadrados. Hoje, graças ao desaparecimento do ser humano, há mais mamíferos de grande porte  na zona do que antes da tragédia atômica.

Um grupo internacional de biólogos tem trabalhado na zona, sobrevoando a área e realizando contagem de animais, para saber como a radiação afetou essas populações, essencialmente na Reserva Radioecológica de Polésia, criada pela Belarus na região mais afetada pelo material radioativo. Partiam de três hipóteses: que haveria menos animais nas zonas mais contaminadas, que haveria menos mamíferos de grande porte na Polésia do que em reservas não contaminadas e que depois do acidente se notaria um declínio da densidade de mamíferos ao longo do tempo. As três hipóteses estavam equivocadas: os animais se desenvolvem por toda a reserva, à margem dos indicadores de contaminação, e cada vez são em número maior, também em comparação com outras regiões.

 “Nosso trabalho mostra que, apesar dos possíveis efeitos da radiação em animais individuais, não se pode detectar um efeito sobre as populações de mamíferos’, explica Jim Smith, líder do estudo. E acrescenta: “Este é um exemplo notável dos efeitos da presença humana e o uso do entorno: seu desaparecimento na zona de Chernobyl permitiu que os animais prosperassem”. Segundo os dados publicados em Current Biology, a quantidade e densidade de grandes mamíferos é semelhante na Polésia e outras reservas não contaminadas da região. Em alguns casos, a ausência de humanos fez com que disparassem: há sete vezes mais lobos do que em reservas próximas e mais alces do que o normal, com javalis, corças e cervos em níveis semelhantes.

ZONA MORTA
Um alce nada na reserva de Polésia
A chamada “zona morta” tem mais fauna que nunca e os cientistas veem uma resposta clara: “É simplesmente por não haver presença humana”, responde Smith, da Universidade de Portsmouth. “Embora tenha havido um pouco de caça regulada de lobos para controlar seu número, a pressão humana em outras reservas naturais é maior, e por isso temos maior presença de lobos em Chernobyl”, resume.
Só no entorno do que agora é a reserva de Polésia viviam cerca de 22.000 pessoas e os pesquisadores estão convencidos de que agora o número de animais ali é mais elevado do que na época do acidente. Outros cientistas disseram que até o urso pardo, que desapareceu da região há um século, voltou. Mas em relação às aves, por exemplo, foi detectado um efeito negativo nas populações.
Depois de analisar dados históricos, os pesquisadores concluem que não houve nenhum declínio nos anos posteriores à tragédia, apenas nos seis primeiros meses depois do incêndio do reator, nos quais os altíssimos níveis de radiação afetaram a saúde e a reprodução. “Mas não em longo prazo”, diz o estudo, que se concentra exclusivamente nas tendências das populações e não nas afecções específicas que poderiam afetar cada animal. Os cientistas lembram em seu trabalho que já em meados dos anos noventa foi publicado outro estudo sobre pequenos mamíferos (doninhas, ratos, musaranhos, etc.) com a mesma conclusão: sua presença foi mantida, apesar da radiação.
Este é um exemplo notável de como afeta a presença humana: seu desaparecimento na região de Chernobyl permitiu que os animais prosperassem

ANIMAIS COM ALTOS NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO

Javalis correm na frente de construções abandonadas.
Ainda hoje, quase trinta anos depois, os animais em lugares tão distantes da usina como a Alemanha e a Noruega continuam apresentando altos níveis de exposição à radiação em seus organismos, o que originou políticas para evitar o consumo de carne de caça e acompanhar de perto sua condição. Os autores desse trabalho estudam agora os possíveis efeitos reprodutivos e genéticos da radiação nos peixes de lagos contaminados por Chernobyl, inclusive no tanque de refrigeração da usina. “Embora acreditemos que a radiação não afeta as populações de animais, estamos interessados em efeitos mais sutis sobre os indivíduos”, esclarece Smith. Fonte: El País - 5 OCT 2015 

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domingo, maio 01, 2016

Chernobyl, trinta anos depois da tragédia

Ucrânia, Bielorrússia e Rússia lembram separadamente o 30º aniversário da tragédia de Chernobyl, a maior de toda a história da exploração civil de energia nuclear. Os três países eslavos envolvidos recordam o acidente de 26 de abril de 1986 cada um a seu modo, conforme suas diferentes referências políticas e econômicas.

CHERNOBYL ESTÁ EM PROCESSO DE ENCERRAMENTO DESDE 2000
Chernobyl está em processo de encerramento de atividades e fechamento desde 2000. Em novembro será instalado o chamado arco, uma construção única em seu gênero, que deverá proteger o sarcófago construído sobre o quarto reator (o que sofreu o acidente) contra qualquer possível vazamento radioativo, segundo afirmou ao semanário Zérkalo Nedelii o diretor da central, Igor Gramotkin. O projeto do arco, destacou ele, custa 2,5 bilhões de euros (cerca de 10 bilhões de reais) e dele participam 28 países, além do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, que é o administrador do fundo de Chernobyl. Gramotkin explicou que o terceiro reator já pode ser considerado uma instalação não nuclear; o segundo e o primeiro blocos também passarão a essa categoria neste ano, quando se concluirá a eliminação de todo o combustível radioativo ainda existente dentro deles.

“Quando a decisão de fechar Chernobyl foi tomada, a Ucrânia não estava preparada para isso, seja do ponto de vista organizacional, seja técnico ou financeiro”, comentou o funcionário.
A região de Chernobyl, segundo explicou, pode ser utilizada para duas diferentes atividades: o tratamento de materiais radioativos ou a construção de instalações para produção de energia alternativa, em especial energia solar. A ideia de se construir uma área verde no local da central é vista como inadequada devido ao alto teor de contaminação existente em torno dela, em um perímetro de dez quilômetros, afirmou.

RÚSSIA E BIELORRÚSSIA
Na Rússia, quinze regiões foram afetadas pela nuvem radioativa de Chernobyl. A radiação continua muito elevada em alguns pontos que o Governo russo excluiu das zonas mais atingidas, segundo afirmou Alla Yaroshinskaya, autora de várias obras sobre Chernobyl. Segundo ela, 554 localidades foram retiradas em 2015 da relação de territórios atingidos, o que significa a perda dos subsídios recebidos por seus habitantes.

A Bielorrússia foi, proporcionalmente, o país mais atingido pelo acidente (23% da área do país, especialmente as regiões de Gómel e Magiliov, onde viviam 2 milhões de pessoas). Cerca de 1,4 milhão de pessoas (12% do total da população) viviam na zona contaminada (dado de 1 de janeiro), segundo a agência russa de notícias Tass.

Apesar disso, a Bielorrússia parece ser o país mais disposto a enterrar o acidente: ela constrói, atualmente, a sua primeira central nuclear com tecnologia russa e planeja reinstituir a produção agrícola em uma região atingida pela tragédia, segundo afirmou em Minsk o ministro das Relações Exteriores, Vladimir Makei. Na sua avaliação, “podemos chorar, sofrer e lamentar, mas é preciso tentar mudar a situação” e escolher entre organizar a ajuda humanitária entre os atingidos e “tentar recuperar esta terra para viver e cultivar produtos aptos para o consumo”.

CHERNOBYL: VIDA NA ZONA INTERDITADA
Após catástrofe de 1986, 115 mil moradores em torno da usina foram evacuados. Apesar de proibições e dificuldades, algumas pessoas voltaram a viver na área atingida. Entre pomar, pesca e religião, não lamentam a decisão.

No centro de Chernobyl está localizada a administração de toda a zona interditada. A cidade, que contava milhares de habitantes até o desastre de 1986, está hoje abandonada. Devido à contaminação radioativa, foram removidos mais de 115 mil moradores, num raio de 30 quilômetros em torno da usina nuclear.
Casas baixas de tijolos com os telhados tombados e janelas quebradas rangendo ao vento lembram cenas de filme de terror. Embora os seres humanos a tenham abandonado 30 anos atrás, a vida continua na localidade: a vegetação cobre as ruas, e os cães vira-latas que vagam parecem quase lobos.

UM POVOADO, 16 MORADORES
Ao todo, 180 pessoas moram atualmente na zona interditada: 80 em Chernobyl e os restantes em quatro aldeias vizinhas. Kupovate, a 47 quilômetros da antiga usina, tem 16 habitantes. No pátio de uma casa torta de madeira, à entrada do povoado, o casal Viktor Tchausov e Maria Sapura amontoa lenha. Antes da catástrofe, ela trabalhava como ordenhadora, ele como operário de construções, tendo participado da construção da cidade de Pripyat, destinada aos funcionários da usina nuclear.
Também Maria e Viktor retornaram secretamente ao local após a evacuação. Ninguém mais vive na rua deles. Quase sempre tem eletricidade, mas água é preciso ir buscar no poço. Uma vez por mês, um carteiro traz o dinheiro da aposentadoria; duas ou três vezes vem o carro do quitandeiro, e eles compram pão e cevada perolada. "Não temos filhos, por isso ninguém nos visita. Vamos sobrevivendo como dá", conta Maria.

Viktor vai fazer 80 anos em breve. Acendendo um cigarro, ele relembra a evacuação. "Nós fomos todos reunidos como gado. Primeiro nos colocaram por três meses nos abrigos, depois em casas." "Mas nós só ganhamos um quarto, com cortinas em vez de portas" prossegue Maria. "Só tinha um sofá. E várias famílias ficavam alojadas em uma casa, as pessoas tinham que dormir no chão. Agora a estamos velhos e temos que trabalhar duro. Mas nós temos pepinos, tomates e batatas."
Os 30 anos passaram depressa, ela se acostumou a tudo e diz não estar mal. "Não dou conta de comer tudo o que eu tenho", brinca, apontando para um armário repleto de conservas de tomate, pepino, maçã, batata e cebola. "É claro que eu escutei que era proibido cultivar qualquer coisa depois do acidente nuclear. Mas fizeram as medições da radioatividade, e me disseram que estava tudo dentro dos limites permitidos."

MORTES, DOENÇAS E HERÓIS
Na época do acidente, mais de meio milhão de civis e militares foram convocados em toda a ex‑União Soviética para limpar e conter a disseminação de material radioativo. Eles eram chamados de "liquidadores" – muitos deles sofreram diversos efeitos causados pela radioatividade, milhares morreram, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Trinta e um trabalhadores da usina e bombeiros morreram em imediata consequência do acidente, principalmente devido a síndrome aguda da radiação.
Ao longo das últimas três décadas, milhares de pessoas têm sucumbido a doenças relacionadas à radiação, como o câncer, embora o número total de mortes e os efeitos de longa data sobre a saúde continuam a ser um assunto de intenso debate.
Um controverso relatório da ONU, publicado em 2005, estimou que "até 4 mil pessoas" poderiam eventualmente morrer em consequência do veneno invisível na Ucrânia e nos países vizinhos Rússia e Belarus.

UNIÃO SOVIÉTICA ACUSOU OCIDENTE DE PROPAGANDA
O desastre e a reação do então governo destacaram as falhas do sistema soviético com seus burocratas irresponsáveis e a enraizada cultura de segredos e sigilo. Cerca de 48 mil habitantes de Prypyat, por exemplo, foram orientados a deixar a cidade somente 36 horas depois do desastre.
O acidente em Chernobyl foi noticiado pela primeira vez na Alemanha, dois dias após a tragédia. A televisão soviética tentou convencer a população local de que tudo estava em ordem em Chernobyl e que as informações do exterior não passavam de propaganda estrangeira.
"Como você pode ver, a enorme destruição sobre a qual os meios de comunicação ocidentais continuam a falar sem parar, não estão lá", dizia um clipe em preto e branco que mostrava áreas da planta nuclear logo após o colapso. "Um elemento essencial das operações em Chernobyl é a absoluta segurança de todos que trabalham lá."
Fonte: @ZR, Deutsche Welle – 26/04/2016, El País – 26/04/2016

Artigos publicados
Chernobyl: O Legado terrível de 23 anos e o balanço
Chernobyl: Os efeitos e seqüelas para o ser humano
Chernobyl:


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sábado, junho 23, 2012

Aumenta número de javalis radioativos em florestas da Alemanha

Quase 25 anos após o desastre nuclear de Chernobyl, consequências ainda são sentidas

Foi um ótimo tiro. Um enorme javali. E uma grande decepção. Quando Georg van Bebber carregou seu javali para fora da floresta Ebersberg, perto de Munique, depois de um dia inteiro de caçada, ele estava entusiasmado com sua presa impressionante.

Mas antes que pudesse levar o animal para casa, um contador Geiger mostrou um problema: a carne do javali estava radioativa, num nível perigoso para o consumo humano. Era preciso jogá-la fora e queimá-la. "Eu realmente queria ter ficado com aquele javali", disse van Bebber, ao narrar o incidente.

Quase 25 anos após o desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, suas consequências ainda são um assunto corrente em algumas partes da Alemanha, onde milhares de javalis abatidos por caçadores ainda aparecem com níveis excessivos de radiação. De fato, os números estão mais elevados do que nunca.

A compensação total paga pelo governo alemão no ano passado pelo descarte de carne contaminada chegou a 425.000 euros, a partir de apenas 25.000 euros pagos há dez anos, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.

"A razão é que há mais e mais javalis na Alemanha, e mais estão sendo caçados e mortos, e é por isso que mais carne contaminada aparece", disse o porta-voz Thomas Hagbeck.

"Mas isso também mostra quanto tempo a contaminação radioativa continua a ser um problema para o meio ambiente", acrescentou.

Javalis estão entre as espécies mais suscetíveis às consequências da catástrofe nuclear de 24 anos atrás. Diferentemente de outros animais de caça, eles frequentemente se alimentam de cogumelos e trufas que tendem a acumular radioatividade. Além disso, eles fuçam o solo contaminado com seus focinhos.

Mas os javalis são também beneficiários de outra crise ambiental, a mudança climática.

A Europa Central está se transformando num paraíso para esses animais, à medida que as temperaturas elevadas fazem com que as árvores produzam um excesso de sementes e as plantações que os javalis às vezes invadem também tenham excesso de produção, disse Torsten Reinwald, da Federação Alemã de Caça.

"O número de javalis na Alemanha quadruplicou ou quintuplicou nos últimos anos, assim como o número de javalis abatidos", afirmou ele, acrescentando que países como Polônia e França também assistem a uma explosão populacional dos animais.

Artigos publicados – Chernobyl

Fonte: Estadão - 19 de agosto de 2010 

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quarta-feira, abril 29, 2009

Chernobyl: O Legado terrível de 23 anos e o balanço


O fotógrafo Igor Kostin descobriu esta criança com deformidade em uma escola especial para crianças abandonadas na Bielorrússia. A foto, foi publicada na revista alemã "Stern", a fotografia apareceu em todo o mundo e a criança foi adotada por uma família britânica. O garoto sofreu várias operações realizadas por um cirurgião britânico e agora a vive uma vida relativamente normal e indo a escola.

Em 26 de abril de 1986, o reator número 4 da central nuclear de Chernobyl explodiu à 1h e 24 min da madrugada. Toneladas de poeira radioativa foram lançadas no ar e transportadas pelo vento, e contaminou o hemisfério do nosso planeta, precipitando-se onde choveu. As emissões de radioatividade duraram 10 dias.

Caminho da radioatividade
■ Em 29 de Abril, níveis fatais de radioatividade foram registrados na Polônia, Áustria, Romênia, Finlândia e Suécia.
■ No dia seguinte, 30 de Abri, atingiu Suíça e Itália.
■ Em 2 de Maio, chegou na França, Bélgica, Holanda, Grã-Bretanha, e na Grécia.
■ No dia seguinte, Israel, Kuwait e Turquia foram contaminadas.
■ Então, ao longo dos próximos dias, as substâncias radioativas foram registradas no Japão (3 de Maio), China (4 de Maio), Índia (5 de Maio), e nos E.U.A e Canadá (6 de Maio).

A descarga radioativa desta explosão foi 200 vezes maior do que a bomba atômica em Hiroshima. Nenhuma pessoa estava segura a partir desta catastrófica explosão nuclear, e 65 milhões de pessoas foram contaminadas e mais de 400.000 pessoas foram forçadas a evacuar em torno de Chernobyl, perdendo as suas casas, bens e empregos, bem como a sua situação econômica, social e laços familiares.

A longo prazo e os custos ocultos da contaminação radioativa que nunca foram devidamente registrados pela mídia. Segundo os autores (incluindo o Dra. Rosalie Bertell) de um novo livro, "O Legado oculto de Chernobyl: levará milênios para recuperar a área que é tão grande como a Itália, para retornar em nível normal de radiação em cerca de 100.000 anos.

Esta semana, 26 de Abril de 2009, marca o 23º aniversário desde esta catástrofe, por isso temos outros 99.977 anos para ir, até as coisas voltar novamente ao "normal".

Com uma miríade de custos sociais em curso ignorado pela maior parte do mundo da mídia, o escalonamento das conseqüências médicas agora sistêmica do envenenamento da radiação, e da enorme tragédia de malformações genéticas, enquanto a indústria nuclear apregoa como " energia nuclear segura", e é tempo de analisar novamente o custo real na economia mundial, em um efeito dominó criado deliberadamente de destroços de proporções nunca vistas na nossa história. Dada este colapso econômico global atual, não há garantias suficientes financeira ou tecnológica disponíveis atualmente ou a longo prazo para proteger a humanidade a partir do já existente e onipresente toxicidade radioativa a que estamos todos expostos.

Custo social
A área em torno da Bielorrússia foi a mais afetada, cerca de 30 por cento do seu território tornou-se inútil. Apesar de centenas de milhares de pessoas foram evacuadas inicialmente, ao longo destes 23 anos, muitos têm retornado "as suas casas". Hoje em dia, suas vidas e casas permanecer permanentemente devastadas. Envenenadas. No entanto, o governo soviético não informou ao seu próprio povo como foi catastrófica a explosão, ou quais as conseqüências reais da radiação a longo prazo.

Além disso, pessoas que estavam trabalhando para supostamente "conter" a crise morreram pouco depois de radiação maciça por envenenamento. As informações foram controladas por parte do governo para diversos organismos internacionais, do que aconteceu e fez a extensão deste pesadelo inacessível para a população russa afetada, assim como o resto do mundo.

Os reatores de Chernobyl foram construídos no âmbito da era pós-Stalin pelo governo que não tinha nenhuma compreensão dos problemas complexos da construção de quatro reatores: (1) com um prazo irrealista, cinco anos; (2) a perigosa instabilidade de funcionamento de reatores durante longos períodos de tempo com menos da metade de potência, que fez instável; (3) falta de medidas realistas de segurança em caso de uma fusão nuclear.

O diretor da usina foi o engenheiro nuclear chamado Victor Brukhanov. Inconcebivelmente, ele foi colocado no cargo durante a construção do complexo de reatores e bem como na criação de uma nova cidade chamada Pripyat (que teve uma população de 50.000). A corrida para a sua realização, dentro do prazo irrealista, resultou em partes que foram "apressadamente construída sobre o projeto em andamento" e que não foram especificamente aprovadas pelos projetistas originais.

No entanto, foi à missão de Brukhanov de tornar Pripyat mais atraente para os trabalhadores soviéticos tanto quanto possível, independentemente dos reais perigos nucleares, assim a cidade e o reator foram sendo concluídos apressadamente.

Cidadãos foram atraídos para Pripyat com moradia barata, salários normais, e todas as regalias que eram, em geral, não existiam para a maioria dos cidadãos soviéticos.

Pripyat foi logo considerada um dos principais locais para os jovens trabalhadores, cuja média de idade foi de 26 anos, na Ucrânia e da área circundante, que tinha "shopping centers, instalações desportivas, escolas e um parque de diversões. A cidade tinha uma variedade enorme de produtos alimentícios e bens que eram difíceis de obter em outras áreas do país.

Embalado completamente por uma falsa sensação de segurança financeira, poucos perceberam que os reatores em uso em todo o país já tinham problemas de mau funcionamento. Uma liberação acidental de uma nuvem de iodo radioativo em uma usina em Leningrado em 1975 e um "quase colapso" do outro reator tinha acontecido perto Beloyarsk.

Mais uma vez, nenhum desses acidentes foram informados aos cidadãos soviéticos ou para o resto do mundo. Segredo já estava em vigor sobre as centrais nucleares e os perigos da radiação nuclear.

Quando ocorreu o acidente na usina nuclear americana Three Mile Island, em Março de 1979, soviéticos criticaram o capitalismo, observando que o dinheiro e os lucros foram mais importantes do que questões de segurança. Esta crítica dos reatores nucleares do Ocidente foi fugaz. Leste ou Oeste, no entanto, qualquer país com a energia nuclear continua a enganar os seus cidadãos sobre os verdadeiros custos e os perigos da radiação.

Quando Chernobyl explodiu, os dois operadores responsáveis seguiram os procedimentos, para controlar os danos, tanto quanto possível, e conseguiu impedir a propagação da explosão do reator número 3. Estes dois operadores morreram logo após a explosão. No entanto, na corrida para o governo soviético para encobrir o que realmente aconteceu, estes homens foram julgados, como a única causa da explosão.

De fato, depois de anos de mentiras e engano, houve “várias revisões históricas do acidente, durante o qual foi esclarecido, que a causa principal recai sobre as falhas de planejamento do reator, eles foram perdoados do crime, mas não oficialmente”.

Os cidadãos de Pripyat não foram evacuados até dois dias após a explosão. Foram apenas autorizados levar documentos pessoais e algum dinheiro. Eles nunca foram autorizados a regressar. Pripyat é agora uma cidade fantasma.

Uma área de 30 quilômetros ao redor do local da usina nuclear é chamada de "Zona de exclusão". Está isolada e proibida a entrada.

As taxas de radioatividade de césio 137 são surpreendentes. No entanto, cerca de 4.000 pessoas retornaram para zonas evacuadas, embora permaneçam radioativas. As pessoas são forçadas a viver em um ambiente contaminado.

A limpeza continua. O pessoal de limpeza (um verdadeiro paradoxismo) são chamados de "liquidatários". Eles não foram treinados corretamente, não compreendem os enormes riscos de vida sobre o trabalho que fazem. Por exemplo, entre 1986-1987, mais de 800.000 liquidatários trabalharam na zona de exclusão, todos, sem qualquer acompanhamento médico níveis de radioatividade que "atingiu tão elevada como 20.000 Roentgens por hora. O nível normal seria 0,010-0,020 milliRoentgens por hora.
A dose normal de radiação do fundo natural de radiação recebidas ao longo da vida de 70 anos é de 7 REM.

Todos os liquidatários (não usavam qualquer proteção, demoliram casas contaminadas e transportavam escombros) trabalharam em uma nuvem de poeira nuclear que os envolveu.

Um liquidatário, Zalavie Chechersk observou: "Sempre trabalhamos sem proteção, nem sequer notamos mais. Acostumamos com a radioatividade e a radioatividade acostumou com a gente, e mesmo assim, temos de trabalhar para viver, e esta é a forma como você trabalha aqui. Trata-se de uma sentença de morte para um liquidatário.
A longo prazo, todos que ajudaram na limpeza também morreram. Em Alla Yaroshinskaya's "Chernobyl: A Verdade Proibida" o autor relata, que os pedidos de abrir processos judiciais contra as pessoas que obstruíram as aberturas, no que diz respeito às consequências do acidente, e que tinha escondido a informação de moradores das zonas perigosas só recebiam uma" resposta burocrática", sempre a mesma camuflagem, a mesma dissimulação da mentira global a nível estatal.

Nem uma palavra de decretos do governo que cria o regime de segredo, nem da administração no mesmo espírito, nem uma palavra das milhões de pessoas que coloca em perigo pela constante exposição à radiação. Nem uma palavra da incontrolada propagação de radionuclídeos, outro termo para isótopos radioativos que são produzidos artificialmente durante o processo de fissão nuclear em todo o país. Era como se tudo isso não existia.

Caos, caos em curso, é o que estas pessoas (que vivem em um ambiente radioativo), continuam a lidar no dia-a-dia e anualmente. Hoje, mais de 9 milhões de pessoas vivem nesta área (Bielorússia, Ucrânia, e no Oeste da Rússia), com elevados níveis de radioatividade, consumindo alimentos e água contaminadas e 80 por cento da população sofre de diversas patologias.

Até agora, a explosão do reator de Chernobyl causou mais de um milhão de mortes. O verdadeiro número de mortes pode nunca ser conhecido. O núcleo radioativo, enterrado agora em um sarcófago cheio de fissuras(onde gás radioativo e poeira escapam ) ainda contém 180 toneladas de material radioativo.

Houve centenas (ou milhares) de estudos científicos que documentam o pesadelo que continua em Chernobyl. O último relatório, de 7 de Setembro de 2005, é que não importa como duramente eles (governo e outros] tentam esconder a realidade mortal do acidente de Chernobyl, não terá sucesso na sua erradicação por milhares de anos.

Custos médicos / tragédias
De acordo com o Dr. Pierpaolo Mittica, o pesadelo médico em curso da radiação inclui:
1. Um aumento de 100 vezes na incidência de tumores agressivos da tireóide e 50 vezes a incidência de outros tumores relacionados com a radiação (leucemia, tumores cerebrais e de ossos) em áreas contaminadas. Grande parte deste aumento é cancerígeno em crianças.
2. Há um aumento de 30 por cento nas malformações devido a mutações genéticas, das patologias dos sentidos, cardiovasculares, ósseos, e sistemas musculares e os tecidos conjuntivos, assim como as doenças do sistema nervoso e perturbações psíquicas.
3. Existe um aumento de 20 por cento dos nascimentos prematuros.
4. Estes valores não incluem os números desconhecidos de abortos espontâneos, abortos acidentais, e mortes-prematuras (fetos mortos) , devido à radiação.
5. Os médicos e cientistas que se pronunciaram foram desmentidos, demitidos, ou presos.
6. Baixo nível de exposição à radiação continua a ser um perigo.

Câncer existe desde os tempos antigos, mas agora, a diferença é que é epidemia. Grande parte desta epidemia pode estar ligada as causas induzidas humanas; e milhões de casos podem ser ligadas a envenenamento por radiação. Evidentemente, há o fundo natural de radiação. No entanto, durante os últimos 64 anos, continuamos a ter contaminação de radiação: milhares de explosões nucleares (na atmosfera, no subsolo, acima do solo, e nos oceanos); outras armas nucleares, como o urânio empobrecido (utilizado mais recentemente, sobre a inocente Gaza cidadãos), raios-X e outros tipos de medicina nuclear.

Isto não é uma simples causa de uma crise. Pelo contrário, os seres humanos tornaram-se esponjas e desavisados cobaias para uma variedade de substâncias altamente tóxicas, incluindo muita radiação nuclear de longa vida; mais de 100.000 produtos químicos em uso (e de 1000 novos adicionados cada ano) com a maioria nunca foi testado para a segurança humana; dezenas de programas de modificações de tempo clandestinos (que nunca tiveram qualquer discussão ou debate público). Esta lista é apenas para começar.

Desde o início da era nuclear (com o secretíssimo Projeto Manhattan criado para construir a bomba atômica), a grande maioria dos cidadãos do mundo nunca foi alertado sobre os perigos extremos colocados pelas explosões nucleares e da radiação maciça que resultam. Temos também a contaminação global relacionada com os acidentes que continuam a causar devastações a bilhões de cidadãos. Dra Rosalie Bertell estima que pode ter havido "milhares" de acidentes nucleares, já que muitos não têm sido relatados, mas são conhecidos de "provas casuais”. A enorme catástrofe de Chernobyl é uma das muitas em curso de pesadelos radioativos com devastação permanente de destroços. A contaminação radioativa não vai embora.

As mutações genéticas a todos os seres vivos (todos os seres humanos e animais) que estão acontecendo também têm recebido pouca cobertura da mídia. Em 1959, quando a tragédia da talidomida atingiu os recém-nascidos, a mídia mostrou muitas fotos de bebês deformados. Agora a mídia está silenciosa para que o mundo em geral não sabe ou vê a devastação que a radiação nuclear causas. No entanto, a medicina e jornais alternativos cobriram este horror.

Radiação nuclear provém de diversas fontes. Os mais prejudiciais são Estrôncio-90 e césio-137. Os radioisótopos (também chamado de radionuclídeos ou de isótopos radioativos) são os "elementos radioativos” produzidos artificialmente durante o processo de fissão nuclear. Os núcleos destes isótopos artificiais são instáveis devido à um excesso de prótons e / ou nêutrons. Isto provoca instabilidade espontânea e transformações em outros isótopos, e esta transformação é acompanhada pela emissão de radiação ionizada. Esse processo é chamado de desintegração ou decomposição. Este processo de desintegração radioativo varia, dependendo dos isótopos. Isto é conhecido como sua meia-vida radioativa.
■ Césio-137 tem uma meia-vida de valor, de 30 anos, e pela emissão de radioatividade para o seu desaparecimento tem 300 anos. Césio tem uma estrutura química semelhante ao potássio. Devido a isso, ele pode entrar no sistema circulatório do corpo e substituir a sua própria radioatividade para o potássio e causar "mutações genéticas, tumores, e um grande número de patologias em diferentes órgãos.
■ O estrôncio-90 tem 28 anos de meia-vida, e desaparece após 290 anos. O estrôncio compartilha semelhanças químicas com cálcio, e, portanto, é absorvida em nossos ossos, medula óssea, e os dentes. Uma vez que emite radiação constantemente no corpo isto provoca câncer, tais como; osteossarcomas e leucemias.
■ Outras substâncias radioativas incluir Iodo-131, urânio-235 (700 milhões de anos-semi-vida, desaparecendo em 7 milhões de anos), e Plutônio-239 (com uma meia-vida de 24.000 anos, desaparecendo em 240.000 anos).
Assim, qualquer contaminação a partir destas substâncias radioativas é letal para sempre, e isso não significa apenas a morte imediata, mas, na sua maior duração provoca mutações graves e esterilidade em gerações subseqüentes.

A dramática e aterradora fotos dos bebês e crianças que acompanham o livro “Mittica´s book) e os artigos de Leuren Moret necessitam maior circulação. Como é extremamente dolorosa olhar essas fotos, o intenso impacto de ver estes meninos inocentes que sofrem de maneira aguda que causaria indignação universal, quando milhões de pessoas sabiam da extensão dos danos de radiação que estavam fazendo. Este é o verdadeiro e trágico custo da tecnologia nuclear

Não há qualquer "correção" para as conseqüências destas radiações que agora são globais. Eles são relatados em revistas alternativas, ao invés na primeira página de todos os jornais e sites de notícias da Internet.
Como tenho escrito, o invisível não significa seguro.

Fonte: Global Research, April 25, 2009, Dra. Ilya Sandra Perlingieri
Comentário:É só digitar no Google imagens “chernobyl children” veremos fotos aterradoras de crianças inocentes que foram vítimas dessa catástrofe nuclear, que a indústria nuclear vende como uma energia limpa e segura. Chernobyl é o pequeno símbolo do que seria um Holocausto Nuclear.


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domingo, dezembro 09, 2007

Chernobyl - Desastre


Dados obtidos do documentário passado no canal Discovery em 30de abril de 2006.


Quando houve a explosão, testemunhas relatam que o céu tinha as cores de um arco íris. Não imaginaram que o problema era tão grave.

Os bombeiros que iniciaram o combate ao incêndio na usina, sem proteção adequada para radiação, todos foram contaminados e morreram posteriormente.

As informações iniciais sobre a explosão enviadas ao governo, informavam que os problemas foram controlados. Ninguém sabia da extensão da contaminação
As autoridades locais demoraram 48 h para tomar uma resolução. O governo soviético soube da gravidade do problema através do monitoramento efetuado pela Suécia

As crianças mais velhas chegaram a ir à escola no dia seguinte da explosão. A maioria sabia do acidente, mas não tinha idéia do grau de perigo causado pela radiação.

O exercito soviético assumiu o comando da situação e faziam a medição da exposição a radiação, na cidade e próximo a usina, que ultrapassava centenas de vezes o que o ser humano poderia suportar.

O incêndio no núcleo do reator continuava a queimar, com gravidade e se a laje de concreto não suportasse a temperatura da camada incandescente, poderia atingir a água acumulada do combate ao incêndio, que estava sob o reator. Se acontecesse a explosão seria muito mais grave.

O exercito utilizando helicópteros jogavam toneladas de areia e nitrato de bário para controlar o incêndio e principalmente a temperatura.
Mas o núcleo continuava a queimar. Somente após o lançamento de toneladas de barra de chumbo a temperatura do reator começou a reduzir. Todos os pilotos dos helicópteros foram afetados pela radiação.

As populações das cidades foram retiradas através de ônibus ( 300 mil pessoas).

Foram convocados mineiros da região da Ucrânia para efetuar um túnel de acesso ao reator
Conseguiram efetuar o túnel em um mês, trabalhando 24 h, em equipes. Todos sem proteção contra radiação. A maioria morreu e outros com doença provocada pela radiação.

Para isolar a área e efetuar a limpeza do reator, o exercito convocou milhares de reservistas , cerca de 400 mil reservistas e milhares de civis.

Inicialmente o exercito utilizou equipamentos pesados com controle remoto para efetuar a limpeza do reator, mas radiação era tão elevada, que afetou os circuitos eletrônicos dos equipamentos.

Foram utilizados soldados, com proteções rudimentares (proteções de chumbo) para efetuar a limpeza e posteriormente isolar o reator. Cerca de 20 mil soldados foram mortos posteriormente e 250.000 ficaram incapacitados (doenças).

Equipes foram destinadas para eliminar todos os animais da área e demolir as edificações e posteriormente enterradas.





Foto: região verde afetada pela radiação


Na realidade o governo não estava preparado para essa situação e as informações iniciais minimizavam o problema.
Durante as horas iniciais a população não tinha noção da gravidade do problema e continuava com as atividades normais da cidade. O ar contaminado e população em seu cotidiano.

Nem os cientistas tinham a noção da gravidade da situação. Alguns estavam no local, sem nenhuma proteção contra radiação.
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Os registros iniciais do desastre desapareceram, principalmente da região da Ucrânia e os hospitais não registravam todos os casos como conseqüência da radiação ( aumentaram o nível de exposição mínima permitida ao ser humano).

Numa reunião na Agencia internacional Nuclear, um cientista soviético com um relatório minucioso expôs a gravidade do problema e estimou em quase 40 mil mortos. A comunidade internacional não aceitou essa estimativa de mortos. A Franca não reconheceu que a poeira radioativa atingiu o seu território. Mas a região atingida teve posteriormente vários casos de câncer na tireóide.

Na Rússia houve vários casos de abortos e crianças deformadas por causa da contaminação (sem braços, deformação no rosto, etc).
Na época o governo soviético gastou cerca de 18 bilhões de dólares para controlar a radiação.

Cerca de 9.3000 foram reconhecidas com mortes causadas pela radiação (Agência Governamental). Greenpeace estima em mais de 93.000 mortos. Cerca de 5 milhões de pessoas ainda vivem em áreas contaminadas na Ucrânia, Belarus e Rússia. Cerca de 200.000 km2 de terra foi contaminada.

Comentário do documentário:
O documentário histórico , com resgate de filmagens da época e entrevistas com civis e militares que estavam no cenário do acidente, para efetuar a limpeza e resfriamento do reator. São relatos de pessoas comuns que enfrentaram o desafio, sem nenhuma proteção contra radiação . Em um dos relatos, um sobrevivente com seqüelas disse, “Alguém tinha de fazer o trabalho”. Milhares de pessoas morreram no decorrer dos anos vitimas de contaminação. O documentário mostra relatos de pessoas sofrendo dores físicas, psicológicas e outras carregando as anomalias genéticas, que passarão de gerações a gerações. Os especialistas dizem que a energia nuclear é limpa e extremamente segura. Mas segurança de qualquer tecnologia é relativa e não absoluta.
O estigma deixado por Chernobyl foi a contaminação ambiental envolvendo toda cadeia do ecossistema da Terra (água, peixe, solo, aves, reprodução, ser humano, etc). Nos seres humanos os efeitos da contaminação marcarão gerações a gerações com anomalias genéticas, cânceres, etc.


Foto: Cidade fantasma - A cidade de Pripyat foi construída para servir de moradia para trabalhadores da usina de Chernobyl. Ela foi abandonada 36 horas após a explosão.
Horário em que o alarme da Usina disparou 26 de abril de 1986 (01h23, hora local; 19h23, hora de Brasília)

BBC News





Informações gerais publicadas em jornais
1 - Notícia publicada no Deutsche Welle - Alemanha em 25 de abril de 2002, passados 16 anos do acidente nuclear de Chernobyl, um nível elevado de radioatividade ainda é constatado em diversos alimentos silvestres e carnes de caça na Alemanha. O Departamento Federal de Proteção contra Radioatividade (BfS) analisou diversos tipos de fungos comestíveis, de amoras silvestres e de carnes de caça, deparando com uma elevada contaminação restante, em especial de césio-137.
A região mais contaminada é a do sul da Alemanha, sobretudo a Floresta Bávara. O BfS chamou a atenção para a proibição em vigor de comercialização de alimentos que apresentem uma contaminação de césio-137 superior a 600 bequeréis por quilo. Os alimentos examinados apresentaram valores até cem vezes superiores a isto.

2 - Notícia publicada no El País, Espanha, abril de 2006; Cerca de 3,9 milhões de quilômetros quadrados da Europa (superfície equivalente a oito vezes a da Espanha) foram contaminados por césio 137 (mais de 4 mil Bq/m2), 40% da superfície da Europa", indica o relatório, que também especifica que 2,3% do território europeu receberam doses de contaminação mais elevada. Esse último dado é exatamente o que a OMS e a AIEA reconhecem. A Áustria foi o país mais exposto à nuvem radioativa, enquanto na Finlândia e na Suécia foram contaminados 5% do território. Em níveis inferiores de contaminação, a Alemanha, com 44% de suas terras contaminadas e o Reino Unido, com 34%, foram os países mais atingidos da velha Europa. A Espanha não está entre os países afetados pela nuvem tóxica.

As autoridades alimentares britânicas publicaram uma informação segundo a qual, "devido à contaminação provocada pelo acidente de Chernobyl, ovelhas de certas áreas do Reino Unido ainda contêm níveis de radioatividade acima dos limites de segurança. A agência [de padrões alimentares] mantém restrições ao movimento das ovelhas afetadas para proteger os consumidores".

O relatório acrescenta que o césio 137 passa da terra ao pasto e para os animais, e aplica a restrição a um total de 200 mil animais e 374 propriedades rurais. Nesse mesmo país o epidemiologista John Urquhart acaba de publicar um documento que registra um crescimento de 11% da mortalidade infantil nas áreas em que a nuvem tóxica teve maior impacto no final dos anos 80, contra 4% no restante do país.

Juntamente com o Reino Unido, persistem as restrições ao tráfego de alimentos na Suécia e na Finlândia, onde afetam principalmente a rena e produtos silvestres. E em algumas regiões da Alemanha, Áustria, Itália, Lituânia e Polônia, onde a caça, os cogumelos silvestres e uma espécie de peixe carnívoro registram um conteúdo excessivo de césio 137.

As conseqüências de Chernobyl foram desde o início motivo de discórdia, em parte pela opacidade com que a antiga URSS tratou uma catástrofe que tentou ocultar e minimizar até o último momento (também foi ocultada por outros países, como a França). Depois porque os danos atribuídos ao acidente influem na percepção do perigo que representa o desenvolvimento da energia nuclear, e não faltam partes interessadas em desenhar sua própria realidade.

3 - Noticia publicada na BBC News em abril de 2006, sobre o relatório da Comissão Européia, órgão executivo da UE, e nas imagens de satélite tomadas nos dias posteriores ao desastre, apresenta as seguintes ponderações;

As fotos mostram o deslocamento da nuvem tóxica desprendida pelo acidente, composta por elementos como o Césio 137, Estrôncio 90 e Iodo 131, com radioatividade equivalente a 200 vezes a das bombas de Hiroshima e Nagasaki combinadas.

A explosão que ocorreu na unidade quatro de Chernobyl na manhã do dia 26 de abril de 1986 espalhou nuvens radiativas por um raio de entre 7 e 9 quilômetros na atmosfera.

Estima-se que 30% das 190 toneladas de combustível do reator se espalhou pela região próxima à central, situada a 110 km ao norte da capital ucraniana, Kiev, e a 16 km da fronteira com Belarus, então território da União Soviética.

"O fogo que se seguiu à explosão, abastecido por 1.700 toneladas de grafite, durou oito dias e foi o principal responsável pela gravidade do desastre de Chernobyl", afirma o relatório.

Europa Ocidental
Segundo os cientistas britânicos, as maiores concentrações de material radiativo recaíram sobre Belarus, Rússia e Ucrânia, "mas mais da metade da quantidade total de emissões" geradas pelo acidente foi parar em solos da Europa Ocidental.

Cerca de 3.900.000 quilômetros quadrados da UE receberam mais de 4.000 becquereles por metro quadrado de Césio 137 (Bq/m2, unidade de medida de radioatividade), elemento com vida média de 30 anos.

Entre essas regiões, estão 80% do território da Áustria e da Suíça, 44% da Alemanha e 34% do Reino Unido. Além disso, 2,3% da Europa Ocidental foi contaminado com níveis superiores a 40.000 Bq/m2, uma porcentagem que inclui 5% das terras de Ucrânia, Finlândia e Suécia.

O relatório ressalta que a carne de animais silvestres na Alemanha apresenta atualmente uma média de 6.800 Bq/kg, mais de dez vezes superior aos 600 Bq/kg máximos permitidos pela UE em alimentos.

Níveis similares são encontrados em cogumelos, frutas e animais silvestres de certas regiões da Áustria, Italia e Suécia.

Só na Grã-Bretanha as restrições sobre alimentos contaminados por Chernobyl ainda afetam 200.000 ovelhas e a produção agrícola de 750 quilômetros quadrados de fazendas.

Até 2005 cerca de 5.000 casos de câncer de tiróide foram registrados entre moradores da Belarus, Rússia e Ucrânia que tinham menos de 18 anos na época do desastre.

Os cientistas britânicos estimam que nos próximos dez anos "Chernobyl causará de 30.000 a 60.000 mortes por câncer, entre 7 e 15 vezes mais que o estimado pela da Organização Mundial da Saúde (OMS)", que limita esse número a 9.000.

Para a organização não governamental Greenpeace, a estimativa é ainda mais pessimista. O grupo desacreditou os números da OMC ao afirmar que o número de mortos por câncer causado pelo acidente de Chrnobyl pode chegar a quase 100 mil pessoas.

O OMS (Organização Mundial da Saúde) questionou as conclusões do Greenpeace, reafirmando que no máximo 9 mil mortes seriam causadas pelo acidente.

4 - Hoje existem na Rússia 250.000 trabalhadores (que trabalharam na limpeza e na construção do isolamento do reator) que não recebem benefícios do governo (cuidados médicos e benefícios) e cerca de 20% são inválidos. (Agência Itar-Tass, 21/04/2006)

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quinta-feira, dezembro 06, 2007

Chernobyl: Os efeitos e seqüelas para o ser humano

Bastaram algumas horas, depois da explosão do reator nº 4 da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, no dia 26 de abril de 1986, para tornar inabitáveis e incultiváveis durante dezenas de anos cerca de 40 mil quilômetros quadrados.

Devido ao acidente, o termo “átomo pacífico” desapareceu na nuvem negra sobre o reator nuclear número 4 – em chamas – da usina de energia nuclear Chernobyl, na antiga União Soviética. A mais significativa e abrangente catástrofe tecnológica na história da humanidade ocorreu em uma pequena cidade ucraniana às margens do rio Pripyat.

Milhões de pessoas (por várias estimativas, entre 5 e 8 milhões) ainda residem em áreas que continuarão altamente contaminadas por muitos anos ainda pela poluição radioativa de Chernobyl.

Como a meia-vida do elemento radioativo mais liberado (embora longe de ter sido o único), Césio-137 (137Cs), é um pouco mais de 30 anos, as conseqüências radiológicas (e, portanto, de saúde) desse acidente nuclear continuarão a ser sentidas nos próximos séculos.

Este evento verdadeiramente global teve seus maiores impactos nas três antigas repúblicas soviéticas vizinhas – hoje países independentes da Ucrânia, Bielo-rússia e Rússia. Os impactos, contudo, se expandiram de forma muito mais ampla.

Mais de metade do Césio-137 emitido como resultado da explosão foi carregado, pela atmosfera, a outros países europeus. Pelo menos 14 outros países na Europa (Áustria, Suécia, Finlândia, Noruega, Eslovênia, Polônia, Romênia, Hungria, Suíça, República Tcheca, Itália, Bulgária, República da Moldova e Grécia) foram contaminados por níveis de radiação acima de 1 Ci/m2 (or 37 kBq/m2) – limite usado para definir áreas como “contaminadas”.

Em níveis inferiores, mas não em quantidades radioativas substanciais desprezíveis – ligadas ao acidente de Chernobyl – foram detectadas contaminações em todo o continente europeu, da Escandinávia ao Mediterrâneo, e na Ásia. Apesar da seriedade e extensão geográfica documentada da contaminação causada pelo acidente, a totalidade de impactos em ecossistemas, saúde humana, desempenho econômico e estruturas sociais continua desconhecida.

Em todos os casos, contudo, impactos assim tendem a ser extensos e duradouros. Juntando contribuições de numerosos cientistas, pesquisadores e profissionais da saúde, incluindo muitos da Ucrânia, Bielo-rússia e Rússia, esse relatório trata de um desses aspectos, especialmente a natureza e o escopo das conseqüências para a saúde humana, a longo prazo.

O alcance de estimativas do aumento de mortalidade resultante do acidente de Chernobyl transpõe uma escala extremamente ampla, dependendo precisamente do que é levado em consideração.

Por exemplo, o relatório de 2005 da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) estimou que 4 mil mortes adicionais resultariam do acidente de Chernobyl. As mais recentes estatísticas publicadas indicam que, só na Bielo-rússia, Rússia e Ucrânia, o acidente resultou em cerca de 200 mil mortes adicionais – entre os anos de 1990 e 2004.

Os dados disponíveis revelam um alcance considerável em estimativa de mortalidade adicional resultante do acidente de Chernobyl (estima-se para os próximos anos milhões de pessoas), servindo para destacar as imensas incertezas ligadas ao conhecimento de todos os impactos do desastre.

Contaminação imediata da população e de trabalhadores

Quatro grupos de população tiveram os efeitos de saúde mais severos:
1 - trabalhadores de limpeza, incluindo civis e militares designados a continuar com suas atividades de limpeza e construir a camada protetora para o reator (escudo);
2 - pessoal evacuado de regiões perigosamente contaminados num raio de 30 km ao redor da usina;
3 - residentes das regiões menos (mas ainda perigosos) contaminadas; e
4 - crianças nascidas em famílias de qualquer um dos 3 grupos acima.

Algumas das principais descobertas relacionadas ao câncer e outras doenças (não-cancerígenas) são resumidas abaixo.

Câncer
Hoje está claro que a poluição de Chernobyl causou, de fato, um aumento em larga escala em cânceres. Em particular, cânceres são notavelmente mais comuns em populações das regiões altamente contaminadas e entre os “trabalhadores” (pessoal responsável pelo combate ao fogo e construção do escudo protetor, maior exposição à radiação, civis e militares) em comparação com grupos de referência (relativamente não expostos). Nos “trabalhadores” da Bielo-rússia, por exemplo, incidências de câncer de rins, bexiga e tireóide foram todos significativamente mais altas para o período de 1993 a 2003 do que em comparação com grupo de referência.
A leucemia foi significativamente mais alta nos “trabalhadores” da Ucrânia, em adultos na
Bielo-rússia e em crianças nas áreas mais contaminadas da Rússia e Ucrânia.

Outros exemplos incluem:
· Entre 1990 e 2000, um aumento de 40% em todos os cânceres na Bielo-rússia foi documentado, com aumentos maiores (52%) na região altamente contaminada (Gomel) do que nas regiões menos contaminadas de Brest (33%) e Mogilev (32%).
· Na Rússia, a morbidade do câncer nas altamente contaminadas regiões de Kaluga e Bryansk foi maior do que em todo o resto do país. Por exemplo, em áreas altamente contaminadas da região Bryansk, a morbidade foi 2,7 vezes maior do que em territórios menos contaminados da região.
· Em áreas contaminadas da região Zhytomir da Ucrânia, o número de adultos com câncer quase
triplicou entre 1986 e 1994, de 1,34% para 3,91%.

Câncer de tireóide
O câncer de tireóide cresceu dramaticamente nos três países (como esperado), devido às grandes quantidades de iodo radioativo liberadas pela catástrofe de Chernobyl. Por exemplo, a incidência na região altamente contaminada de Bryansk, no período de 1988-1998, foi o dobro da Rússia como um todo – e o triplo que figura em 2004. Somente para a Federação Russa, Bielo-rússia e Ucrânia, estimam-se que possivelmente ultrapasse 60.000 casos adicionais.
Crianças que tinham de 0 - 4 anos, na época da exposição, foram particularmente vulneráveis a esse câncer.
Antes do acidente, a ocorrência de câncer de tireóide entre crianças e adolescentes calculou a média de 0,09 casos em cada 100.000. Depois de 1990, a freqüência de ocorrência subiu para 0,57-0,63 em cada 100.000. O pico da morbidade do câncer de tireóide – entre esses que eram crianças e adolescentes no momento da catástrofe – previsto no período de 2001-2006.
O câncer da glândula tireóide causado por Chernobyl pareceu ser extraordinariamente agressivo, com progressão rápida e antecipada para formar tumores secundários nas glândulas linfáticas e pulmões – o que piorou o prognóstico e, freqüentemente, demandou a realização de intervenções cirúrgicas múltiplas.
Dada a particularidade de períodos de longo estado latente – que pode ser associada ao câncer de tireóide –, novos casos induzidos por Chernobyl podem emergir nas próximas décadas. O monitoramento a longo prazo das populações “de risco”, incluindo aquelas que receberam doses relativamente baixas, será essencial para permitir intervenção médica oportuna e efetiva.

Leucemia
Altas taxas de leucemia aguda entre os “trabalhadores” bielo-russos foram observadas, pela primeira vez, em 1990-91. A partir de 1992, aumentos significativos na incidência de todas as formas de leucemia foram detectáveis na população adulta da Bielo-rússia como um todo. Na Ucrânia, a freqüência de cânceres sangüíneos malignos foi significativamente maior do que no período pré-catástrofe nas quatro partes mais contaminadas das regiões de Zhytomyr e Kiev, tanto durante os primeiros quatro anos quanto durante o sexto ano após a catástrofe.
Leucemia infantil na região de Tula, no período pós-Chernobyl, excedeu significativamente a média de escala da Rússia, especialmente em crianças com idade de 10-14. Em Lipetsk, os casos de leucemia aumentaram 4.5 vezes de 1989 até 1995. Alguns dados sugerem risco aumentado de leucemia até mesmo para crianças expostas ainda no útero das mães.

Outros cânceres
Um aumento no câncer de trato respiratório, em mulheres, foi observado nas áreas mais contaminadas da região de Kaluga. De 1995 em diante, excessos de cânceres de estômago, pulmão, mama, reto, colo e tireóide, medula óssea e sistema linfático também foram detectados nas áreas sudoeste dessa região. Na região de Tula, taxas extraordinariamente altas de câncer ósseo e do sistema nervoso central foram detectáveis em crianças durante o período de 1990-1994.
Nos territórios mais contaminados da Ucrânia, a incidência de câncer de mama continuou relativamente estável – e um tanto mais baixa do que nos arredores –, durante o período de 1980-1992. Contudo, de 1992 em diante, incidências de câncer de mama – nos territórios contaminados – começou a crescer. Aumentos significativos na incidência de cânceres de bexiga foram detectados nos territórios contaminados da Ucrânia, em anos recentes.

Doenças não-cancerígenas
As mudanças identificadas na incidência de doenças cancerígenas relatadas por estudos de populações expostas à radiação – surgindo do acidente de Chernobyl – são somente um aspecto da amplitude de impactos para a saúde relatadas. Somado a isso, aumentos significativos em doenças não-cancerígenas entre as populações expostas também foram relatados – ainda que a escala dada da exposição e os números dos estudos sejam poucos.
Apesar das dificuldades em deduzir as relações absolutas de causa-efeito e a relativa escassez de dados – dado o impacto internacional substancial da liberação de Chernobyl – os vários relatórios são suficientes para tornar bem claro que a morbidade e mortalidade baseada somente em mudanças projetadas e observadas em escalas de doenças cancerígenas (entre essas populações) poderiam subestimar, consideravelmente, todo o escopo e escala de impactos sobre a saúde humana.

Sistema Respiratório
A exposição dos sistemas respiratórios humanos aos materiais radioativos liberados pelo acidente de Chernobyl aconteceu através de dois caminhos. Nas fases iniciais da liberação radioativa, a formação de “partículas quentes” líquidas e sólidas (em diferentes tamanhos) – junto com radionuclídeos em forma gasosa – significou que o caminho da aspiração era o mais significativo. Subseqüentemente, a irradiação externa de material depositado foi considerada a rota mais significativa de exposição de sistema respiratório.

Entre os evacuados da zona de 30-km na Bielo-rússia, os casos de morbidade respiratória quase dobraram.
Essa morbidade representou em torno de um terço dos problemas observados nos evacuados e nesses adultos e adolescentes que continuaram residindo nas regiões contaminadas. Em crianças, os problemas respiratórios representaram quase dois terços da morbidade documentada.
Os estudos mais amplos reportados parecem ser esses dos “trabalhadores” envolvidos em fazer a segurança e limpeza do local – depois do incidente. Neste grupo, a doença pulmonar obstrutiva crônica – na forma de bronquite obstrutiva crônica e asma brônquica – foi reportada como das principais razões para mortalidade, morbidade e invalidez. Nesses casos, os estudos subseqüentes permitiram que observações compreensíveis de saúde fossem ligadas com os perfis de dose de radiação reconstruídos. Isto permitiu a progressão de problemas reportados ser documentada com algum detalhe. Este grupo fornece um exemplo relativamente raro de uma população atingida pela liberação de radiação – que foi seguida com algum detalhe.

Sistema Digestivo
Há alguma evidência de irregularidades do sistema digestivo sendo mais freqüente entre indivíduos expostos a radiação de Chernobyl. Um levantamento realizado em 1995 sugeriu que a morbidade dessas irregularidades era 1,8 vezes maior entre os evacuados bielo-russos e habitantes dos territórios contaminados do que entre a população bielorussa como um todo. Entre 1991 e 1996, o incidente reportado de úlcera péptica – na população da Bielo-rússia – aumentou em quase 10%.
Na Ucrânia existem relatórios mais amplos. Durante 1988-1999 uma duplicação de morbidade do sistema digestivo foi observada na população que ainda morava em áreas contaminadas. Problemas de sistema digestivo reportados entre evacuados adultos da cidade de Prypyat – e na zona de 30 km – foram mais comuns do que no resto da população. Os índices de morbidade do sistema digestivo entre esses moradores das zonas de controle rígido de radiação foram maiores do que para a população ucraniana em larga escala. Este foi também o caso das crianças, em quem a doença do sistema digestivo aumentou mais que o dobro entre 1988 e 1999. Entre crianças, houve uma clara tendência de relatos aumentados de patologia do órgão digestivo e descobertas similares foram feitas para crianças expostas ainda no útero. Outra vez, a incidência dobrou. As irregularidades do sistema digestivo foram reportadas como a causa mais comum de doença de saúde – em crianças morando em regiões contaminadas.

Sistema vascular de sangue
A exposição à poluição radioativa de Chernobyl foi ligada não somente a câncer no sangue (maligno) e doenças linfáticas, mas também com condições não malignas do sistema vascular – que estão propensas a ter sido mais prontamente diagnosticadas como um resultado da atenção direta nesses sistemas, relacionados com sua sensibilidade a doenças malignas.
Na Bielo-rússia, dez anos após o acidente de Chernobyl, doenças de sangue aumentaram – com um aumento maior reportado nas áreas contaminadas. O distúrbio do total de células brancas também foi reportado – dos subgrupos da população, morando nos territórios afetados por Chernobyl.
Os estudos mais extensos e holísticos parecem ter sido feitos na Ucrânia. A aterosclerose generalizada precoce e doença cardíaca coronariana se desenvolveram mais comumente nos evacuados da zona de 30 km e naqueles moradores das áreas poluídas com radionuclídeos – se comparados à população em geral.
Em um estudo internacional relativamente incomum, as condições hemorrágicas e icterícia congênita em bebês recém nascidos foram monitoradas em várias das áreas expostas à radiação de Chernobyl – na Bielo-rússia, Ucrânia e Federação Russa. Esses foram descobertos sendo 4,0 e 2,9 vezes mais comuns, respectivamente, do que nas áreas não contaminadas levantadas no estudo.

Sistemas cutâneos e músculo–esquelético
Dados específicos sobre reações do sistema músculo-esquelético e de tecido conjuntivo à exposição radioativa (resultante do acidente em Chernobyl) são relativamente raros. Isto é indiscutivelmente devido, em parte, ao fato de esses sistemas não serem considerados – por si só – criticamente vulneráveis. Não obstante, dados reportados de áreas contaminadas na Bielo-rússia e Ucrânia sugerem que complicações músculo-esquelético aumentaram notoriamente. Exames de esqueleto fetal também revelaram incorporação de 137-Cs em ossos e uma ocorrência de anormalidades maior do que a esperada.
Um estudo internacional de saúde neonatal, conduzido em vários das regiões contaminadas, sugeriu uma tendência crescente de desenvolvimento de deficiências músculo-esquelético.

Estado (status) Hormônio/endócrino
Em 1993, mais de 40% das crianças pesquisadas na região Gomel (Bielo-rússia) tiveram aumento da glândula tireóide enquanto, na Ucrânia, o dano à tireóide foi observado em 35,7% dos 3 019 adolescentes das regiões de Vinnitsk e Zhytomyr – que tinham de 6-8 anos de idade, na época do acidente.

A ocorrência de doenças no sistema endócrino – em crianças morando nas partes contaminadas por Chernobyl, em Tula (região na Rússia) – quintuplicou em 2002, comparada ao período pré-acidente. A morbidade na população adulta – morando nas regiões altamente contaminadas, sudoeste da região de Bryansk – excede a média regional em 2.6 vezes.
Parece que uma reação generalizada nos indivíduos morando em áreas contaminadas aumentou a atividade do sistema endócrino – que só se estabilizou 5-6 anos depois de sair dessas áreas. Nas áreas russas afetadas pela radioatividade de Chernobyl, disfunções generalizadas na produção e balanço de hormônios sexuais foram descritas enquanto um nível persistentemente elevado de doença endócrina auto-imune – hiroadenite autoimune, tireo-toxicose e diabetes – foi observado de 1992 em diante, nos territórios ucranianos contaminados.
De forma completa, a patologia do sistema endócrino é um impacto altamente importante e significativo nessas populações expostas à radiação de Chernobyl. Dada a importância do sistema endócrino na modulação de todo o funcionamento do corpo, não é de se surpreender que outras disfunções também tenham sido observadas.

Anormalidades de função imune
Reações imunes generalizadas
O sistema imune é um sistema modulado por função endócrina. Consequentemente, anormalidades do sistema imunológico podem ser esperadas onde o sistema endócrino é perturbado. Somado a isso, a radiação de íons pode afetar, diretamente, componentes do sistema imune.
Na Bielo-rússia, um estudo da situação (status) do sistema imune de 4 000 homens expostos a pequenas – mas duradouras – doses de radiação mostrou que exposição à radiação crônica leva à perda da habilidade (do sistema imune) de resistir ao desenvolvimento de doenças infecciosas, bem como não-infecciosas.

Na Ucrânia, as mudanças mais desfavoráveis foram observadas em crianças com altas doses de irradiação da tireóide (acima de 200 cGy), ainda no útero das mães. Entre essas crianças, 43,5% desenvolveram deficiência imune – comparada com 28,0% no grupo de controle.

Doenças infecciosas
A interferência no sistema imune pode impactar sobre a ocorrência e severidade de doenças infecciosas na população mais ampla. Algumas das estatísticas juntadas pós-Chernobyl sugerem que as populações expostas à radiação podem ser mais vulneráveis a doença.
Descobriu-se que infecções congênitas ocorreram 2,9 vezes mais do que antes do acidente em recém nascidos cujas mães vieram de regiões contaminadas pela radiação.

Anormalidades genéticas e aberrações cromossomáticas
As freqüências de aberrações cromossomáticas em áreas da Ucrânia, Bieolorússia e Rússia que foram contaminadas pelo incidente de Chernobyl são, notavelmente, maiores do que a média global.
Aberrações cromossomáticas que pensaram ser atribuídas a Chernobyl foram relatadas até na Áustria, Alemanha e Noruega.
Aumentos na freqüência de mutação de cromossomos freqüentemente correlacionaram com a incidência maior de uma variedade de doenças.

Por exemplo, maiores aberrações cromossomáticas em linfócitos foram descobertas coincidindo com níveis diagnosticados de desafio psicopatológico e imunossupressão secundária, em 88% dos “trabalhadores” pesquisados.

Sistema reprodutivo e urogenital
Durante 1988-1999, doenças do sistema urogenital mais do que duplicaram em populações ainda morando em regiões mais contaminadas da Ucrânia. Um aumento triplicado em doenças inflamatórias internas, disfunções no ciclo menstrual e tumores (benignos) de ovário foram reportados em mulheres expostas. Em outras regiões contaminadas, tanto impotência quanto infertilidade masculina foi se tornando, em relatos, mais freqüente desde o acidente. Mudanças estruturais nos tubos seminíferos e disfunção na produção de esperma foram reportadas em três quartos dos homens pesquisados – na região de Kaluga, na Rússia.
Mais de 8-10 anos depois do acidente, a ameaça de gravidez interrompida se tornou mais freqüente em evacuados da zona de 30 km e naqueles vivendo em regiões contaminadas.

Em grupos altamente expostos na Ucrânia, mais da metade das mulheres grávidas sofreram complicações durante a gravidez.
É improvável que os impactos tenham se limitado a Rússia, Bielo-rússia e Ucrânia. Pelo oeste europeu e Escandinávia (incluindo Grécia, Hungria, Polônia, Noruega, Finlândia e Alemanha), estudos identificaram exposição (ainda no útero) à radiação de Chernobyl como possível fator contribuinte em abortos espontâneos, baixo peso no nascimento e sobrevivência infantil reduzida.


Envelhecimento precoce
A idade “biológica” aparente de pessoas morando em conhecidas áreas contaminadas pela radiação (na Ucrânia) aumentou de forma desproporcional, com o passar dos anos desde o acidente – com a idade “biológica” avaliada, agora, excedendo a idade real em mais de 7-9 anos. Num estudo de 306 trabalhadores, essa discrepância foi estimada entre 5 e 11 anos. Nas regiões mais contaminadas da Bielo-rússiarússia, a idade média para morte de vítimas por ataque cardíaco foi de 8 anos mais baixa do que para a população geral.

Órgãos sensitivos
Em áreas contaminadas nos arredores de Chernobyl, disfunções dos olhos – tais como catarata (incluindo em recém nascidos) e outros problemas – foram encontrados com maior freqüência do que na vizinhança, nas regiões menos contaminadas. Ainda que os maiores riscos ocorram com as maiores exposições, não há um limiar conhecido de dose radioativa a qual abaixo o risco de catarata não aumente. De forma similar, outros problemas de visão que ocorrem naturalmente em todas as populações (em algum nível) – tais como a degradação da retina – foram relatados com maior freqüência em populações irradiadas.

Disfunções neurológicas e psicológicas
Mesmo níveis comparativamente baixos de radiação podem resultar em algum nível de dano aos sistemas nervoso central e periférico. Avaliar toda a extensão do dano neurológico resultante das liberações de Chernobyl é, portanto, uma tarefa muito difícil.
Contudo, em trabalhadores da Rússia, por exemplo, doenças neurológicas foram o segundo grupo mais comum de doenças relatadas, estimando 18% de toda a morbidade. Disfunções neurológicas e psiquiátricas – entre adultos nas regiões contaminadas pela radiação, na Bielo-rússia – também foram consideradas mais freqüentes do que o normal (31,2% comparados a 18,0%).
Aumentos nas disfunções mentais e do sistema nervoso também foram relatados em crianças de algumas áreas contaminadas da Bielo-rússia – incluindo diminuição de QI – ainda que sua relação com medidas diretas de exposição à radiação não seja sempre nítida.

Conclusão
As evidências relativas aos impactos da liberação de radiação na saúde humana, pelo acidente de Chernobyl são altamente diversas e complexas – mas de grande significado. Muitas das características do acidente e suas conseqüências – tal como a incerteza quanto ao total de quantidade liberada de radionuclídeos, distribuição desigual de radioatividade, efeitos seqüenciais e simultâneos de exposições radioisótopos múltiplos – bem como limitações no monitoramento médico, diagnóstico, previsão e tratamento de doenças fazem conjuntamente, dessa forma, a restituição de muitos padrões previamente aplicados e métodos inaplicáveis.
A avaliação completa das conseqüências à saúde humana do acidente de Chernobyl é, portanto, provável que continue uma tarefa quase impossível – de forma que sua real extensão de morbidade e mortalidade resultante poderá nunca ser totalmente avaliada.

Fonte: Chernobyl Children´s Project International e Greenpeace

Comentário
Os especialistas consideram a energia nuclear como uma tecnologia segura, com ausência de risco incontrolável. Mas existe algum tipo de tecnologia realmente segura? O que os especialistas procuram ou tenham a pretensão é controlar a caixa de Pandora (internamente reserva as surpresas desagradáveis, caso ocorra a sua ativação) e os labirintos perigosos do processo, podemos imaginar a figura mitológica grega do Minotauro (vivia em labirinto, dificilmente encontrava a saída). Queremos dominar o destino ou desafiá-lo, pretendendo construir a segurança absoluta. Por mais que haja segurança não conseguimos eliminar a incerteza. Mas quando incerteza penetra no sistema, ela reclama seus direitos e quase sempre de maneira cruel.
Veja o caso de Chernobyl dos sobreviventes da tragédia e das crianças que na época estavam nos ventres das mães que não tinham culpa de nada, com seqüelas irreparáveis mostrando ao mundo as conseqüências desse apocalipse tecnológico.

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posted by ACCA@6:53 PM

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