Chernobyl:Itália enfrenta invasão de javalis radioativos
Quase trinta anos após o desastre da usina de Chernobyl
(Ucrânia), a maior tragédia radioativa da história continua a causar graves
problemas na Europa e a deixar a população em alerta. Desta vez, o alarme foi
soado em uma zona de caça livre no norte da Itália. Após um ano de pesquisas, o
Instituto Zooprofilático Experimental de Piemonte, Ligúria e Valle d'Aosta – entidade
ligada ao governo regional– divulgou a presença de traços de césio-137 acima
dos limites permitidos pela União Europeia em dezenas de javalis encontrados na
província piemontesa de Verbano-Cusio-Ossola, especialmente na pequena
comunidade de Valsesia. A carne do javali seria consumida pelos caçadores.
O instituto começou a investigar a área com maior rigor em
março de 2013, após a descoberta de 27 animais contaminados. Em pouco mais de
um ano, foram analisados 1.441 porcos selvagens e a constatação foi a de que
mais de 10% da população (166 javalis) apresentam índice de radioatividade
superior a 600 becquerel/quilo, limite máximo permitido pela UE em animais
selvagens. O becquerel é a unidade usada internacionalmente para mediação de
radioatividade.
Embora não tenha revelado precisamente o nível de radiação
encontrado nos animais de Vasesia, Maria Caramelli, diretora do instituto,
afirmou que as análises apresentaram traços de césio-137
"significativamente superiores" ao permitido pela comunidade
europeia.
NUVEM RADIOATIVA
De acordo com a instituição, a contaminação dos javalis é
consequência ainda da nuvem radioativa provocada pela explosão de Chernobyl em
1986. Nos dias decorrentes ao desastre, a nuvem se espalhou por dezenas de
países da Europa. Na Itália, um mapeamento feito pelo CCR (Centro Comum de
Pesquisa da União Europeia) constatou que as regiões mais afetadas foram
Lombardia e Piemonte. Fortes chuvas atingiram essas áreas naquele período
fazendo com que o césio penetrasse maciçamente no solo.
A nuvem tóxica, explica Maria Caramelli, passaram pelas
regiões do norte do nosso país. Em Valsesia a precipitação radioativa foi particularmente
intensa por causa da chuva que caiu nesse período. As carcaças de animais
selvagens de outras áreas do Piemonte não revelaram contaminação
A atual propagação da substância radioativa entre a
população de porcos selvagens, e não em outros animais, pode ser consequência
dos hábitos alimentares dos javalis. Como eles se nutrem principalmente de
raízes, escavam camadas profundas do solo em busca do alimento, expondo‑se
assim à radiação. Além disso, as raízes são por si próprias grandes
concentradoras de radiatividade.
Após a descoberta, o Instituto Zooprofilático emitiu um
alerta pedindo maior controle na zona de caça da província de Verbano-Cusio-Ossola.
Atualmente, o Piemonte possui um plano de monitoramento da carne proveniente da
caça na região. Porém, a fiscalização não atinge a totalidade dos animais
abatidos em zonas selvagens antes de serem consumidos.
ÍNDICES SUBESTIMADOS
Para Massimo Bonfatti, coordenador na Itália do Projeto
Humus, que trabalha com políticas de contenção de contaminação em áreas
atingidas por radioatividade, a situação é ainda mais grave do que parece.
Segundo o médico, dois fatores não estão sendo levados em consideração para
avaliar precisamente o quadro. O primeiro deles seria a análise exclusiva de
somente um isótopo radioativo.
"Um problema grave é que o índice de validação de
contaminação na Europa é feito só com o césio-137, mas a nuvem que foi liberada
por Chernobyl era cheia de outros elementos em proporções diversas. Não
conseguimos nunca ter, por exemplo, o resultado da contaminação no norte da
Itália por césio-134, que também pode causar sérios danos".
Além disso, segundo o coordenador, o valor permitido de
radiação de 600 becquerel por quilo de carne é extremamente elevado. "É
complicado, mas estamos trabalhando na elaboração de uma proposta de projeto de
lei para baixar esse índice para 10 bq/kg"
MAIOR RIGOR
Ainda de acordo com Bonfatti, os danos causados à saúde
humana por contaminação radioativa são gigantescos. "Nós sustentamos que a
grande epidemia de câncer que existe no mundo é provavelmente consequência da
radiação que foi liberada do pós-guerra até hoje no planeta. Além disso,
estudos já revelaram que o césio-137 se liga às fibras do coração provocando o
surgimento de graves patologias cardíacas. Fonte: UOL, em Roma 28/07/2014; La Repubblica - 19 giugno 2014
Marcadores: chernobyl, contaminação, energia nuclear, Meio Ambiente
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