Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Segurança, Meio Ambiente, Riscos, Ciência e Tecnologia

quarta-feira, julho 30, 2025

EMPRESA QUE NÃO TREINOU EMPREGADO TEM CULPA EXCLUSIVA EM ACIDENTE DE TRABALHO

 A ausência de treinamento prévio faz com que a presunção de culpa por um acidente de trabalho recaia exclusivamente sobre a empresa, ainda que o trabalhador possa ter cometido ato inseguro. Com esse entendimento, a Justiça do Trabalho de SC negou o recurso de uma madeireira de Palma Sola (SC) em ação proposta por um empregado que perdeu três dedos da mão esquerda num acidente ocorrido em 2018.

O acidente aconteceu enquanto o trabalhador e outros três empregados usavam uma prensa de chapas de compensado. Ao tentar acomodar uma das chapas com as mãos, no interior da máquina, o empregado teve três dedos esmagados. A empresa alegou que o equipamento não apresentava problemas e atribuiu o acidente a um erro do próprio empregado, argumentando que o movimento não fazia parte dos procedimentos de operação da máquina.

Ao analisar o caso, o juiz Alessandro Friedrich Saucedo (VT de São Miguel do Oeste) condenou a empresa a pagar um total de R$ 48 mil ao trabalhador, valor que inclui indenização por dano moral e pensão mensal pela perda parcial da capacidade laborativa. Para o magistrado, o alto grau de risco da atividade atrai a responsabilidade do acidente para a madeireira, que não conseguiu demonstrar a culpa exclusiva do trabalhador.

“Entendo que a responsabilidade do empregador é objetiva, pois a atividade desenvolvida pelo autor expôs a riscos excessivos, além daqueles aceitáveis a que estão expostas todas as pessoas”, apontou o juiz, destacando que uma das testemunhas confirmou ser necessário, às vezes, ajustar as chapas manualmente. “Não é possível constatar qualquer conduta da vítima que configurasse ato inseguro durante seus afazeres”, concluiu o magistrado.

FALTA DE TREINAMENTO

A empresa recorreu e o caso voltou a ser julgado, desta vez na 5ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (TRT-SC), que também não aceitou o argumento de causa exclusiva do empregado. Na visão do colegiado, o fato de o trabalhador ter recebido apenas um treinamento geral — e não uma capacitação específica para operar a máquina que o vitimou — impede que ele seja responsabilizado pelo acidente. 

“Para que ao empregado seja imputada a prática de ato inseguro, é necessária a comprovação de que este detinha plena ciência quanto à correta operação do equipamento, mas negligenciou as normas procedimentais”, afirmou a desembargadora-relatora Ligia Maria Teixeira Gouvêa. ”Julgo que a culpabilidade recai exclusivamente sobre o empregador, por não ter demonstrado o treinamento do trabalhador para executar de forma segura a sua função.”

Não houve recurso da decisão.

Fonte; Secretaria de Comunicação Social - TRT/SC - 17/03/2020

Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região SC

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sexta-feira, julho 25, 2025

QUEIMADAS ATINGIRAM 30 MILHÕES DE HECTARES NO PAÍS EM 2024

 A primeira edição do Relatório Anual do Fogo do MapBiomas mostra que quase metade de toda a área queimada no Brasil desde 1985 foi na última década

Um quarto (24%) do território nacional, equivalente à soma das áreas do Pará e do Mato Grosso, queimou pelo menos uma vez entre 1985 e 2024.

Nas últimas quatro décadas, 206 milhões de hectares foram afetados pelo fogo com intensidades diferentes em cada um dos seis biomas do País. Ao lado da Amazônia, que bateu recorde de incêndios florestais em 2024, e da Mata Atlântica, que teve a maior área afetada por fogo nas últimas quatro décadas, o Pantanal é destaque: teve 62% de seu território  queimado pelo menos uma vez no período mapeado pelo MapBiomas Fogo.

Os dados também ressaltam a extensão da área queimada em 2024, quando 30 milhões de hectares foram afetados – uma área 62% acima da média histórica de 18,5 milhões de hectares por ano.

 Os dados, obtidos a partir do mapeamento de cicatriz de fogo com imagens de satélite, traçam o mais completo retrato da ação do fogo em todo o território brasileiro e expõem alguns padrões da ocorrência das queimadas e dos incêndios. Além de apresentar a alta concentração do fogo em poucos meses do ano – o período de agosto a outubro responde por 72% da área queimada no Brasil, com um terço (33%) ocorrendo em setembro – o relatório aponta os biomas, estados, municípios e áreas protegidas com maior área queimada. No caso dos biomas, o relatório mostra ainda os que apresentaram maior recorrência do fogo. Em nível nacional, 64% da área afetada pelo fogo em todo o país queimou mais de uma vez entre 1985 e 2024.

O Cerrado é o bioma com maior recorrência do fogo: 3,7 milhões de hectares queimaram mais de 16 vezes em 40 anos.

Outro dado do relatório é o tamanho das cicatrizes deixadas pelo fogo no território. Em média, entre 1985 e 2024, a maior proporção (27%) correspondia a áreas queimadas entre 10 e 250 hectares. Em 2024, porém, quase um terço (29%) da área total queimada foi em mega eventos de fogo com mais de 100 mil hectares afetados. Os dados também mostram que 43% de toda a área queimada no Brasil desde 1985 teve sua última ocorrência de fogo nos últimos 10 anos (2014 a 2023).

Entre 1985 e 2024, 69,5% da área queimada no Brasil ocorreu em vegetação nativa (514 milhões de hectares), porém no ano de 2024 esse percentual subiu para 72,7% (21,8 milhões de hectares). Houve mudança também no tipo de vegetação nativa mais afetada: historicamente, a maior área de vegetação nativa queimada era de formação savânica, com uma média anual de  6,3 milhões de hectares; em 2024, predominou a formação florestal, com 7,7 milhões de hectares – extensão 287% superior à  média histórica.

Os biomas com maior proporção de vegetação nativa afetada pelo fogo entre 1985 e 2024 foram Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, todos com mais de 80% da extensão afetada. Na Amazônia e Mata Atlântica, o fogo ocorreu principalmente em áreas antrópicas (mais de 55%). No caso de Amazônia, pastagens respondem por 53,2% da área queimada no período; na Mata Atlântica, 28,9% da extensão queimada eram de pastagem e 11,4% de agricultura.

PANTANAL LIDERA EM ÁREAS MAIORES QUE 100 MIL HECTARES QUEIMADOS

Entre os seis biomas brasileiros, o Pantanal foi o mais afetado pelo fogo nos últimos 40 anos, proporcionalmente. A quase totalidade (93%) dos incêndios ocorreu em vegetação nativa, especialmente em formações campestres e campos alagados (71%). As pastagens representaram 4% das áreas atingidas por fogo. O bioma mostra também uma grande recorrência do fogo: três em cada quatro hectares (72%) queimaram duas vezes ou mais nas últimas quatro décadas. As cicatrizes deixadas costumam ser mais extensas do que em outros biomas: é no Pantanal que se encontra a maior prevalência de extensões queimadas superiores a 100 mil hectares (19,6%).  Áreas com cicatrizes de queimada entre 500 e 10 mil hectares também se destacam (29,5%) e estão distribuídas por diferentes regiões do bioma. No ano passado, houve um aumento de 157% da área queimada no Pantanal na comparação com a média histórica do período avaliado pelo MapBiomas Fogo.

“Os dados históricos mostram a dinâmica do fogo no Pantanal, que se relaciona com a presença da vegetação natural e com os períodos de seca. Em 2024, o bioma queimou na região do entorno do Rio Paraguai, região que passa por maiores períodos de seca desde a última grande cheia em 2018”, explica Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do bioma Pantanal no MapBiomas. No Pantanal, Corumbá foi o município com maior área queimada acumulada entre 1985 e 2024, com mais de 3,8 milhões de hectares.

MATA ATLÂNTICA BATE RECORDE EM 2024

No caso da Mata Atlântica, o ano de 2024 representou um recorde. Os 1,2 milhão de hectares afetados pelo fogo no ano passado, que ficaram 261% acima da média histórica para o bioma, de 338,4 mil hectares por ano, são a maior extensão de área queimada em um único ano desde 1985.  No ano passado, São Paulo concentrou 4 dos 10 municípios com maior proporção de área queimada no Brasil, todos no entorno do município de Ribeirão Preto, uma região predominantemente agrícola.

Entre 1985 e 2024, 8,3 milhões de hectares foram queimados pelo menos uma vez, o que corresponde a 7% do bioma nos últimos 40 anos. A maior parte (60%) das cicatrizes mapeadas ocorreu em área antrópica, sendo a pastagem a classe com maior ocorrência (3,9 milhões de hectares). Entre os tipos de cobertura natural, as formações campestres lideram, com 2,2 milhões de hectares queimados no período analisado. As áreas queimadas menores que 250 hectares são predominantes (80,7%). Quase três em cada quatro hectares afetados pelo fogo na Mata Atlântica (72%) entre 1985 e 2024 queimaram somente uma vez nos últimos 40 anos.

“As áreas naturais na Mata Atlântica são especialmente vulneráveis ao fogo, que não faz parte da dinâmica ecológica desse bioma. Quando ocorrem, os incêndios acabam trazendo grandes impactos aos escassos remanescentes florestais dentro do bioma. Além dos prejuízos ambientais — como a degradação dos serviços ecossistêmicos relacionados ao clima, à água e ao solo — são evidentes os danos econômicos e, principalmente, os para a saúde e qualidade de vida da população”, aponta Natalia Crusco, da equipe da Mata Atlântica do MapBiomas.

RECORDE DE ÁREA QUEIMADA NA AMAZÔNIA EM 2024

Em 2024, a Amazônia registrou a maior área queimada de toda a série histórica iniciada em 1985 e foi, de longe, o bioma que mais queimou no país. O bioma apresentou aproximadamente 15,6 milhões de hectares queimados, um valor 117% superior à sua média histórica. Essa área correspondeu a 52% de toda área nacional afetada pelo fogo em 2024, tornando a Amazônia como o principal epicentro do fogo no Brasil no ano passado.

Além do recorde em extensão, 2024 também marcou  uma mudança em termos qualitativos: pela primeira vez na série histórica, a vegetação florestal tornou-se a classe de cobertura e uso da terra mais afetada pelo fogo na Amazônia. Foram 6,7 milhões de hectares de florestas  afetados pelo fogo (equivalente a 43% da área queimada no bioma), superando os 5,2 milhões de hectares de pastagem queimados (33,7%). Historicamente, as pastagens sempre haviam sido a classe mais atingida pelo fogo no bioma.

“O fogo não é um elemento natural da dinâmica ecológica das florestas amazônicas. As áreas queimadas que marcaram o bioma em 2024 são resultado da ação humana, especialmente em um cenário agravado por dois anos consecutivos de seca severa. A combinação entre vegetação altamente inflamável, baixa umidade e o uso do fogo  criou as condições perfeitas para a propagação do mesmo em larga escala, levando a um recorde histórico de área queimada na região.” afirma Felipe Martenexen, coordenador de mapeamento do bioma Amazônia do MapBiomas.

AMAZÔNIA E CERRADO CONCENTRAM 86% DA ÁREA QUEIMADA NO BRASIL

O Cerrado também se destaca pela extensão afetada pelo fogo. Juntos, Cerrado e Amazônia,  responderam por 86% da área queimada pelo menos uma vez no Brasil entre 1985 e 2024: foram 89,5 milhões de hectares no Cerrado e 87,5 milhões de hectares na Amazônia. Embora a área queimada nos dois biomas seja semelhante, há uma grande diferença em termos proporcionais, uma vez que a área total da Amazônia é quase o dobro do Cerrado. Por isso, na Amazônia, a área queimada pelo menos uma vez nos últimos 40 anos corresponde a 21% do bioma; no Cerrado, esse percentual é de 45%. 

É também na Amazônia e no Cerrado que se encontram os três estados brasileiros líderes em área queimada: Mato Grosso, Pará e Maranhão. Juntos, eles concentram 47% da área queimada em todo o Brasil entre 1985 e 2024.  Entre os 15 municípios brasileiros que mais queimaram – e que, juntos, respondem por 10% de toda a área afetada pelo fogo no Brasil nos últimos 40 anos – sete estão no Cerrado e seis na Amazônia.

No Cerrado, a área queimada, de 10,6 milhões de hectares em 2024, equivale a 35% do total queimado no país no ano passado e representa um crescimento de 10% em relação à média histórica de 9,6 milhões de hectares por ano.

“Historicamente, o Cerrado evoluiu com a presença de fogo natural, geralmente provocado por raios durante o início da estação chuvosa. No entanto, o que temos observado é um aumento expressivo dos incêndios no período de seca, impulsionado principalmente por atividades humanas e agravado pelas mudanças climáticas. Um dado especialmente preocupante é o avanço do fogo sobre as formações florestais no Cerrado, que em 2024 atingiram a maior extensão queimada dos últimos sete anos — uma mudança na dinâmica do fogo que ameaça de forma crescente a biodiversidade e a resiliência desse bioma” comenta Vera Arruda pesquisadora do IPAM e coordenadora técnica do MapBiomas Fogo.

CAATINGA E PAMPA: QUEIMADAS ABAIXO DA MÉDIA EM 2024

Na Caatinga, a extensão queimada, de 11,15 milhões de hectares queimados entre 1985 a 2024, representou 13% do bioma. Cerca de 38% da área queimada no bioma foi afetada pelo fogo mais de uma vez ao longo dos últimos 40 anos. A prevalência foi de áreas menores que 250 hectares (53%). As formações savânicas são o tipo de vegetação mais afetado pelo fogo (79%) na Caatinga, e representam 95% da vegetação nativa. Em 2024, houve uma redução da área queimada de 16% com  404 mil hectares queimados  a respeito da média histórica de 480 mil hectares.

“Apesar de o fogo não ser um elemento natural predominante na dinâmica ecológica da Caatinga, sua recorrência em determinadas regiões chama a atenção. As formações savânicas têm sido as mais impactadas, o que reforça a importância do monitoramento. A queda observada em 2024, com valores abaixo da média nos últimos 10 anos da série histórica, é positiva, mas não garante uma tendência de redução a longo prazo.”  aponta Soltan Galano da equipe Caatinga do MapBiomas.

PAMPA

O Pampa, por sua vez, tem a menor área queimada – tanto em extensão (495 mil hectares), como proporcionalmente em relação ao total do bioma (3%). Apesar de um leve aumento em relação a 2023, os valores permaneceram abaixo da média anual, de 15,3 mil hectares. O ano com maior área queimada dentro do período analisado foi 2022, com 36,2 mil hectares.

As áreas queimadas no Pampa são predominantemente pequenas, com cerca de 93% das cicatrizes de fogo atingindo menos de 250 hectares. A maior parte dos incêndios (95%) ocorre em áreas naturais, predominando nas formações campestres. A silvicultura foi o tipo de uso antrópico com maior extensão de área queimada (19,6 mil hectares).

“A proporção de área queimada no Pampa costuma ser baixa. Em 2024 os valores ficaram abaixo da média histórica, especialmente por conta  do fenômeno El Niño. No sul do Brasil,  ele se manifesta com volumes expressivos de chuva, como as observadas no primeiro semestre — que incluíram  as enchentes de maio. Embora o fogo ocorra em menor escala no bioma, muitas áreas naturais estão sujeitas a incêndios catastróficos nos períodos mais secos, como as áreas pantanosas e os campos com grande acúmulo de biomassa, que resultam em danos ambientais expressivos”, afirma Eduardo Vélez, coordenador de mapeamento do bioma Pampa do MapBiomas.

Na avaliação dos pesquisadores, os dados traçam o mais completo retrato da ação do fogo em todo o território nacional e expõem alguns padrões da ocorrência das queimadas e dos incêndios.

“O relatório permite apoiar o planejamento de medidas preventivas e direcionar de forma mais eficaz os esforços de combate aos incêndios”, conclui Ane Alencar, diretora de Ciências do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo. Fonte: MapBiomas - 24 de junho de 2025

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quarta-feira, julho 16, 2025

O RISCO DE BEBER ÁGUA DA CHUVA

Estudo encontra agrotóxicos em amostras recolhidas em cidades paulistas. Exposição crônica mesmo a baixas doses dessas substâncias pode causar danos à saúde.

A água da chuva se tornou uma fonte alternativa de água potável devido à escassez causada pelas mudanças climáticas e ao crescimento populacional. No entanto, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) não recomendam o uso dessa água para beber, cozinhar ou tomar banho sem tratamento prévio e enfatizam que a análise dela é importante já que pode detectar contaminantes.

E foi justamente isso que um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fez. Eles coletaram amostras de água da chuva entre agosto de 2019 e setembro de 2021 em três cidades paulistas: Campinas, Brotas e a capital São Paulo. Eles descobriram que essa água pode ser uma fonte de contaminação por agrotóxicos.

Segundo a pesquisa, cujo resultado foi divulgado na revista científica Chemosphere no final de abril, 14 tipos de agrotóxicos foram identificados nessas amostras.

"Nós já sabíamos que uma quantidade de agrotóxico é encontrada nas águas dos rios, mas na água da chuva foi a primeira vez que foi estudado no Brasil. Isso mostra que essas partículas de agrotóxicos estão presentes no ar", explica Cassiana Montagner, pesquisadora do Instituto de Química da Unicamp, coordenadora do Laboratório de Química Ambiental.

Os agrotóxicos podem chegar aos rios de várias maneiras, como através do escoamento superficial da água da chuva que carrega os produtos químicos, do manejo inadequado do solo ou do vazamento ou derramamentos acidentais.

OS AGROTÓXICOS ENCONTRADOS

O herbicida atrazina, usado em larga escala pelo agronegócio no país, foi detectado em todas as amostras de água da chuva coletadas nas três cidades que integram o estudo e o fungicida carbendazim, que tem seu uso proibido no Brasil, foi encontrado em 88% do material coletado. Em Brotas ele foi o agrotóxico encontrado em maior quantidade. O herbicida tebuthiuron foi detectado pela primeira vez em água de chuva, estando presente em 75% das amostras.

Em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso do carbendazim, dando o prazo de doze meses para que os agricultores se adequassem à nova regra. A substância pode causar mutações genéticas, diminuir a fertilidade e prejudicar o feto.

As concentrações dos agrotóxicos encontradas nas amostras não ultrapassaram os limites permitidos para a água potável no Brasil. Porém, algumas das substâncias detectadas não têm padrões de segurança estabelecidos, ou seja, não há indicadores de concentração segura.

Além disso, segundo os pesquisadores, a exposição crônica mesmo a baixas doses dessas substâncias pode causar danos à saúde humana a longo prazo. "Ninguém bebe ou tem contato com essa água da chuva todos os dias, então o risco não é direto. Mas esse estudo acende um alerta. Por exemplo, alguns desses produtos têm relação com doenças crônicas como infertilidade, doenças neurológicas, respiratórias e podem causar câncer", acrescenta Montagner.

PRESENTES NA ATMOSFERA

Com relação ao reuso, a pesquisadora afirma que não há problemas em usar essa água da chuva para lavar os quintais, por exemplo.

Outro ponto importante, segundo o estudo, é que ao encontrar essas partículas de agrotóxicos na água da chuva, isso mostra que essas substâncias estão presentes na atmosfera, ou seja, também pode estar presente no ar que respiramos.

A pesquisa apontou também que Campinas foi a cidade que apresentou a maior concentração de agrotóxicos, com 701 microgramas por metro quadrado. O município tem quase metade do território ocupado por lavouras – o maior território de plantio entre as cidades analisadas no estudo.

Em Brotas, onde os plantios ocupam 30% da cidade, ficou em segundo lugar com a média de 680 microgramas por metro quadrado. Já em São Paulo, que possui apenas 7% do seu território agrícola, os índices chegaram a 223.

COMO OS AGROTÓXICOS VÃO PARAR NA ÁGUA DA CHUVA

Parte dos agrotóxicos aplicados nas lavouras se dissipa na atmosfera e pequenas partículas podem se condensar nas gotículas de água que formam a chuva. Com a precipitação, o produto retorna ao solo e pode alcançar locais mais distantes das plantações. Isso acontece porque fatores como vento, temperatura e umidade influenciam na sua distribuição.

O que ocorre com os agrotóxicos é semelhante ao que ocorre com a chuva ácida. Esse tipo de chuva é caracterizado pelos níveis elevados de ácidos sulfúrico e nítrico, formados pela reação de dióxido de enxofre (SO₂) e óxidos de nitrogênio (NOₓ) com a umidade da atmosfera. Esses poluentes são liberados principalmente pela queima de combustíveis fósseis.

A diferença é que a quantidade de micropartículas de agrotóxicos encontradas na água da chuva, ainda estão em uma quantidade pequena, quando comparada à chuva ácida. "Eu não diria que é uma nova vertente da chuva ácida, mas sim, mais um poluente que estamos encontrando na água da chuva", diz Montagner.  Fonte:  DW - 24/05/2025 

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sexta-feira, julho 11, 2025

MISTÉRIO DOS JAVALIS RADIOATIVOS DA ALEMANHA

 Animais da Baviera foram afetados pelo desastre nuclear de Chernobyl em 1986. Desde então, várias espécies se recuperaram. Mas níveis de radioatividade permaneceram elevados em javalis. Cientistas explicam o porquê.

O acidente nuclear de Chernobyl, em 1986, na antiga União Soviética, teve um grande impacto negativo na fauna e na flora da Europa Central. Nos anos seguintes ao desastre, o consumo de cogumelos e de carne de animais silvestres foi desencorajado devido à contaminação radioativa, especialmente no sul da Alemanha.

Nos últimos anos, a contaminação em veados e corças selvagens diminuiu. Mas a radiação em javalis permaneceu elevada, em contraste com outros animais. Isso ficou conhecido como o "paradoxo do javali". Agora, um grupo de pesquisadores acredita ter encontrado a razão da persistência dessa contaminação. Os resultados foram divulgados nesta quarta-feira (30/08) na revista Environmental Science & Technology.

Os pesquisadores estudaram especificamente 48 javalis (Sus scrofa) abatidos no estado alemão da Baviera entre 2019 e 2021, a cerca de 1.300 quilômetros de distância da antiga usina de Chernobyl. Eles encontraram uma exposição desproporcional ao isótopo radioativo césio-137 entre 370 e 15.000 becqueréis por quilograma, ou 25 vezes mais do que o limite legal de 600 becqueréis permitido pela União Europeia (UE). E nem toda essa contaminação tem origem no acidente de Chernobyl.

CHERNOBYL NÃO É A ÚNICA CAUSA

Estudos anteriores calcularam que cerca de 10% do césio radioativo presente nos javalis da Baviera remontava a testes de armas nucleares na década de 1950 e 1960. Os outros 90% seriam resultado do desastre de Chernobyl.

No entanto, a nova análise revelou que a maior quantidade de césio-137 detectada nos javalis estudados foi liberada durante os testes de armas nucleares que antecederam a catástrofe de Chernobyl. Especificamente, até 68% do césio presente nos javalis veio de antigos testes de armas nucleares - uma proporção surpreendentemente elevada.

"Mesmo que Chernobyl não tivesse acontecido, algumas amostras excederiam o limite", explica o cientista Georg Steinhauser, radioecologista da Universidade Técnica de Viena e coautor do estudo.

Até hoje, mesmo 60 anos depois do auge, as consequências ambientais e para a saúde dos testes de armas nucleares têm sido pouco estudadas.

UM TIPO DE TRUFA PODE ESTAR POR TRÁS DA CONTAMINAÇÃO

O cientista sugere que um tipo de cogumelo, conhecido como trufa de veado (da família Elaphomyces) pode ser o responsável por essa radioatividade "tardia" nos javalis. Como o césio é absorvido lentamente pelo solo, pode levar bastante tempo até que chegue aos fungos locais, que depois são consumidos pelos javalis, que têm uma preferência alimentar por cogumelos e trufas.

"Isso explica por que o césio 'velho' é encontrado desproporcionalmente em javalis", aponta Steinhauser.

"As trufas de veado, que podem ser encontradas a profundidades de 20 a 40 centímetros, só agora estão absorvendo o césio liberado em Chernobyl. O césio dos antigos testes de armas nucleares, por outro lado, já chegou lá há algum tempo."

Assim, também não se espera que a contaminação da carne de javali diminua significativamente nos próximos anos, porque só agora parte do césio de Chernobyl está sendo incorporado nas trufas.

"O nosso trabalho mostra quão complicadas podem ser as interrelações nos ecossistemas naturais", diz Steinhauser. "Mas também mostra precisamente que as respostas a tais enigmas podem ser encontradas se as medições forem suficientemente precisas."

O LEGADO DOS TESTES NUCLEARES

Os Estados Unidos e a União Soviética realizaram mais de 900 testes nucleares nas décadas de 1950 e 1960, durante a Guerra Fria - destes, mais de 400 foram feitos na superfície, liberando radiação na atmosfera.

O césio-137 tem meia-vida física (tempo necessário para que metade dos átomos presentes em uma amostra radioativa desintegre-se) de cerca de 30 anos, o que significa que 25% da radioatividade liberada pelos testes ainda permanece. Enquanto isso, o material liberado pela usina de Chernobyl ainda apresenta cerca de 42%.

MEDIÇÃO DA RADIOATIVIDADE ANTES DO CONSUMO

O Departamento Federal de Proteção Radiológica da Alemanha (BfS, na sigla em alemão) aponta que muitos cogumelos, especialmente na Baviera, ainda estão contaminados com césio radioativo.

Em certos cogumelos, foram medidos mais de 4.000 becqueréis de césio-137 por quilograma de massa durante testes dos anos de 2019 a 2021. No entanto, a origem do material radioativo não foi investigada nesses testes.

Segundo o Centro Alemão de Pesquisa do Câncer (DKFZ, na sigla em alemão), o césio-137 pode se acumular no tecido ósseo e danificar o material genético. A longo prazo, isso pode provocar câncer nos ossos e leucemia. Portanto, tanto os caçadores quanto os coletores de cogumelos devem medir os níveis de radiação antes de consumirem fungos e carne de animais silvestres.

A carne de javali, por muito tempo, foi considerada uma iguaria na região. Mas, nas últimas décadas, o consumo vem diminuindo, destaca Steinhauser.

Segundo ele, isso também traz impactos ecológicos: sem um grande consumo, a caça a javalis pode diminuir, aumentando a possibilidade de que as populações desse animal cresçam de forma incontrolável, ameaçando as florestas da Baviera, uma vez que muitos javalis podem causar danos à vegetação e às fazendas próximas. DW - 01/09/2023

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sexta-feira, julho 04, 2025

MORTES DE OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM SP AUMENTAM

Acidentes no setor no estado subiram de 10.725 para 11.987 no mesmo período, segundo dados de Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT) na plataforma do governo federal eSocial.

 Número de acidentes com mortes no setor da construção civil aumentou de 52, em 2023, para 57, em 2024, em São Paulo, o equivalente a 10%.

· Dados são de Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT) na plataforma do governo federal eSocial.

·  Atividades com mais acidentes e, consequentemente, mortes são construção de edifícios, incorporação de empreendimentos imobiliários e serviços de engenharia.

O número de operários do setor da construção civil no estado de São Paulo que morreram no trabalho aumentou nos últimos anos. Em 2023, foram registrados 10.725 acidentes, que ocasionaram 52 mortes. Em 2024, as ocorrências saltaram para 11.987, com 57 óbitos.

Em 2025, só nos quatro primeiros meses, já são 4.010 acidentes com 15 mortes. Os dados são de Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT) na plataforma do governo federal eSocial, registro oficial de acidente ou doença ocupacional ocorrido com um trabalhador feito pelo empregador.

O documento apresenta dados de CATs no setor da construção civil no estado de São Paulo com base nos CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) mais comuns do setor.

As atividades com mais acidentes e, consequentemente, mortes são construção de edifícios, incorporação de empreendimentos imobiliários e serviços de engenharia.

·   Construção de edifícios: 2.301 acidentes e 8 mortes em 2023; em 2024, foram 2.590 acidentes e 12 óbitos.

·   Incorporação de empreendimentos imobiliários: 2.196 acidentes e 9 mortes em 2023; em 2024, foram 2.573 acidentes e 10 óbitos.

·  Serviços de engenharia: 916 acidentes e 3 mortes em 2023; em 2024, foram 998 acidentes e 7 óbitos.

Na segunda-feira (19), três operários morreram após a queda de um elevador de carga na obra de um condomínio residencial Reserva Raposo, na Zona Oeste de São Paulo.

AUMENTO DE 14% NOS ACIDENTES EM 2025

Os números de acidentes, no entanto, podem ser maiores, segundo a coordenadora-geral de fiscalização em segurança e saúde no trabalho no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Viviane de Jesus Forte.

Em uma reunião ao vivo transmitida online em 28 de abril, no dia da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho, ela chamou atenção para a subnotificação e falta de padronização nos procedimentos de registro de acidentes.

"O setor de construção civil se destaca na geração de ocorrências de acidentes fatais", disse ela, na ocasião.

Diferentemente do eSocial, onde o registro é feito pelo empregador, os dados de acidentes trabalhistas fornecidos pela Secretaria da Saúde do estado são registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. Ou seja, esses dados são cadastrados e notificados pelos municípios, cabendo a eles também a investigação destes casos.

Dados da pasta da Saúde de São Paulo também mostram o aumento nos acidentes de trabalho em atividades da construção civil em 2025.

O estado registrou um aumento de 13,9% nos acidentes de trabalho em atividades da construção civil até março de 2025, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Até março deste ano, 377 casos foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. O número equivale a mais de quatro acidentes por dia. Em todo o ano passado, foram 1.390 casos de acidentes de trabalho no setor. 

Dados de CATs no setor da construção civil no estado de São Paulo com base nos CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) mais comuns do setor. Fonte: g1 SP — São Paulo - 20/05/2025

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