CASO DA CERVEJARIA BACKER: INTOXICAÇÃO E MORTES
A empresa está situada no bairro Olhos D’água, na Região Oeste de Belo Horizonte, Minas Gerais foi fundada em 1999. A fábrica conta com cerca de 350 funcionários. Com 20 rótulos, vários deles premiados internacionalmente, a Backer lançou a Belorizontina para homenagear os 120 anos da capital mineira, em 2017. A cerveja, que teria uma edição limitada, fez sucesso e continuou a ser produzida pela marca.
DOENÇA MISTERIOSA
A Polícia Civil instaurou
inquérito em 9 de janeiro de 2020, quinta-feira, para investigar a possível doença misteriosa
que já matou uma pessoa e deixou outras sete internadas em Minas.
Um dos produtos da cervejaria
Backer, a cerveja Belorizontina, foi comentada em relatos nas redes sociais,
aos sintomas da doença. Policiais civis chegaram à fábrica da empresa, no
bairro Olhos D’Água, na região Oeste da capital, por volta das 13h, e
recolheram amostras e documentos da cervejaria.
VÍTIMAS DA DOENÇA MISTERIOSA
Dados da Secretária de Estado
de Saúde (SES) mostram que já são oito vítimas da doença misteriosa que causa
insuficiência renal grave e problemas neurológicos. Sete continuam internadas e
uma morreu.
De acordo com a pasta, os
pacientes começaram com sintomas gastrointestinais, como náusea, vômito e dor abdominal, associados à insuficiência renal aguda grave
de evolução rápida, que progride em 72 horas,
seguida de uma ou mais alterações neurológicas, como paralisia facial,
borramento visual, amaurose, ou seja, perda de visão, alteração de sensório e
paralisia descendente.
LAUDO DA POLÍCIA CIVIL APONTA
A PRESENÇA DE DIETILENOGLICOL, NA
CERVEJA
A Polícia Civil e a
Vigilância Sanitária informaram, que a
perícia em amostras de cerveja encontrou substância tóxica compatível com os
quadros clínicos desenvolvidos por oito pessoas,
O composto orgânico
dietilenoglicol, também conhecido como éter de glicol, usado no processo de
refrigeração na indústria de cerveja, foi encontrado em dois lotes do rótulo Belohorizontina. Por meio de nota, a Secretaria de Estado de
Saúde de Minas Gerais (SES-MG), informou que, diante do laudo “que comprova a
presença de substância tóxica em cerveja consumida por pacientes internados em
estado grave, em Belo Horizonte” convocou a força tarefa envolvida na
investigação “para definição dos encaminhamentos médicos, epidemiológicos e da
Vigilância Sanitária”.
Antes de divulgar o laudo,
peritos da corporação vistoriaram a sede da empresa de bebidas artesanais. “Nas
duas amostras de cerveja encaminhadas lacradas pela vigilância sanitária do
município de Belo Horizonte foi identificada a presença da substância
dietilenoglicol em exames preliminares”, diz o laudo.
DEVOLUÇÃO
A cervejaria Backer informou
na sexta-feira, 10 de janeiro, que vai
recolher, caso seja de interesse dos consumidores, qualquer lote da cerveja
Belorizontina, investigada por ter relação direta com uma "doença
misteriosa". "Para o bem-estar e conforto de seus clientes, comunica
que irá recolher, caso seja de interesse do consumidor, outros lotes da cerveja
Belorizontina, mesmo que não sejam os lotes L1 1348 e L2 1348, a partir de
segunda-feira, 13 de janeiro", informou a empresa por meio de nota.
A Secretaria Municipal de
Saúde da capital também vai receber a partir desta segunda-feira as cervejas.
Podem ser entregues as bebidas de qualquer lote, de moradores da capital
mineira que possuam o produto para consumo próprio. "Não serão recebidos
produtos de bares, restaurantes e supermercados. O material ficará sob custódia
da secretaria para encaminhamento das investigações necessárias", disse.
A CERVEJARIA É INTERDITADA
PELO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
O Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizou na sexta-feira (10), como medida
cautelar, o fechamento momentâneo da Cervejaria Backer, fabricante da cerveja
Belorizontina, suspeita de ter uma substância que causa uma síndrome ainda
desconhecida. Segundo o órgão, também foram determinadas ações de fiscalização
para a apreensão dos produtos que ainda se encontram no mercado.
O ministério informou que auditores fiscais federais agropecuários
prosseguem apurando as circunstâncias em que ocorreram a contaminação a fim de
dar pleno esclarecimento à população sobre o ocorrido.
Análises laboratoriais seguem
sendo realizadas nas amostras coletadas pela equipe de fiscalização das
Superintendências Federais de Agricultura. Além disso, mais de 16 mil litros de
cervejas foram apreendidos.
LOTES CONTAMINADOS
O Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirmou
na tarde de quinta feira, em 16 de
janeiro, que identificou as substâncias dietilenoglicol e monoetilenoglicol em
oito rótulos produzidos pela cervejaria.
De acordo com o Mapa, no
total são 21 lotes contaminados, sendo que um deles foi usado para produzir
dois rótulos.
Além das marcas Belorizontina
e Capixaba, foram encontradas as substâncias tóxicas em outras seis marcas:
Backer D2, Backer Pilsen; Brown; Capitão Senra; Fargo 46; Pele Vermelha.
SAIBA O QUE É DIETILENOGLICOL
A presidente da Sociedade
Mineira de Nefrologia e professora da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Lílian Pires de Freitas, disse
que a substância não é própria para o consumo, os casos de ingestão de
dietilenoglicol são raros e geralmente de forma acidental.
"Quando a substância é
ingerida, ela é rapidamente absorvida e se dirige ao fígado para ser processada
e se transforma em outros compostos que são altamente nocivos para o
organismo. Depois ela começa uma série
de lesões progressivas no corpo. A fase inicial são sintomas no trato
gastrointestinal, depois passa para a destruição dos rins e por fim alterações
neurológicas.", explica a professora. Os sintomas são semelhantes aos que
as pessoas estão internadas com a doença
misteriosa.
TRATAMENTO
Quando se descobre a
intoxicação por dietilenoglicol logo no início existe um antídoto que é
administrado no hospital para não ocorrer
a produção dos compostos tóxicos pelo fígado. "Quanto mais rápido o
tratamento acontecer menos vai destruir às células. A recuperação e o
tratamento dependem da quantidade de produto ingerido e da gravidade da
lesão", conclui a nefrologista.
USO
O dietilenoglicol foi
descoberto em 1937, sendo usado na fabricação de resinas, plastificantes, como
umectante para tinta, cola e em produtos como cremes e loções para a pele,
desodorantes.
A substância anticongelante é
bastante aplicada em sistemas de refrigeração, não costuma ser usado nas
instalações das cervejarias artesanais brasileiras.
Como não é próprio para o
consumo humano às informações disponíveis sobre a toxicidade humana são
limitadas.
SOCORRO RÁPIDO
A intoxicação com o dietilenoglicol pode evoluir para três fases: comprometimento gastrointestinal, nefrológica e complicações neurológicas.
Quando ingerido, o composto
orgânico é absorvido pelo trato intestinal. Depois de 48 horas, o paciente
inicia quadro de insuficiência renal, o rim para de funcionar. Quando aparecem
esses primeiros sinais, a pessoa contaminada costuma procurar os serviços
médicos. “Em geral, o paciente dá entrada com insuficiência renal, com exames
alterados ou por parar de urinar” , explica o nefrologista Vinícius Sardão
Colores, membro da diretoria da Sociedade Mineira de Nefrologia.
No período de sete a 10 dias,
o paciente pode apresentar problemas no quadro neurológico, com a paralisia dos
pares cranianos, que fazem toda a musculatura da face funcionar (músculos dos
olhos e da boca). O quadro pode evoluir para paralisia dos músculos do pescoço
para baixo, como se fosse uma tetraplegia. Esses metabólicos tóxicos se
acumulam e lesionam os órgãos.
Nas primeiras 48 horas, o
nefrologista explica que pode ser ministrado um antídoto, com a aplicação
intravenosa de álcool etílico. No entanto, o procedimento não deve ser feito
sem acompanhamento médico. “É um tratamento muito raro. No Brasil, não temos
histórico desse tipo de intoxicação. É mais comum ocorrer em países frios.”
O comprometimento neurológico
pode não ter reversibilidade. Para a parte neurológica se recuperar, é preciso
fisioterapia e tratamento de suporte no período de oito a 14 semanas até o
paciente esboçar melhora. O composto orgânico atinge o neurônio, levando lesão
da mielina (bainha de mielina). Quando há perda dessa substância de condução
nervosa, o nervo começa a não funcionar. Não é uma limitação muscular. O que
ocorre é o nervo, que não consegue levar o estímulo..
DISTRIBUIÇÃO DA CERVEJA
CONTAMINADA
A empresa afirmou que os lotes de cerveja suspeitos de contaminação foram distribuídos
para as seguintes regiões: BH, Grande BH, Brasília, Espirito Santo, São Paulo,
Tiradentes, Ouro Preto e Centro-Oeste de Minas. Não foram para um lugar só,
para o bairro que está sendo fiscalizado e para um supermercado, disse a
diretora de marketing da cervejaria Backer.
CONTROVÉRSIA NA CONTAMINAÇÃO DA CERVEJA
Representantes do setor
cervejeiro consideram improvável contaminação de bebida por substâncias usadas
no resfriamento durante a produção.
Além de a Backer ter negado
utilização em sua planta de produção do dietilenoglicol – substância encontrada
por perícia da Polícia Civil em garrafas da cerveja e em amostras de sangue de
três dos pacientes que consumiram a bebida
–, os sistemas operacionais são considerados seguros por especialistas,
ainda que passíveis de falhas.
Engenheiro de produção pela
USP e mestre cervejeiro formado em Louvain-la-Neuve, na Bélgica, Paulo
Schiaveto afirma que as circunstâncias apresentadas inicialmente pelas
apurações da Polícia Civil surpreendem, especialmente pelo fato de a Backer ter
sustentado que trabalha com monoetilenoglicol em seus processos de
resfriamento, e não dietilenoglicol. “Há uma conjunção de fatores muito
estranha. Impossível não é. Mas é improvável. Se desse algum problema, a
tendência seria vazar para o isolamento e não para dentro do tanque”.
Em inox, tanques de
fermentação como os da Backer são dotados das chamadas 'paredes encamisadas'.
Há o compartimento em que é mantida a cerveja e, funcionando num duto lateral,
isoladamente, uma serpentina pela qual circula a substância para manter
resfriada a temperatura interna – entre 12°C e 18°C iniciais, em média,
dependendo do estilo. No caso da Belorizontina, uma pilsen, entre 10°C e 12°C.
Assim, não há (ou não deveria haver) contato entre o líquido de resfriamento e
o produto.
Na hipótese de um vazamento,
há duas leituras entre profissionais da área: a perspectiva maior, nesse caso,
seria a de a cerveja transbordar para a parte ensanduichada, dada a pressão
interna do fermentador. Ocorrendo um acidente e havendo a “invasão” da
substância (nas serpentinas encapsuladas circulam em torno de 240 litros num
tanque de 20 mil litros), seu grau de diluição não teria, de acordo com essas
avaliações em tese, potência contaminadora o bastante para provocar os sintomas
dos pacientes.
Vice-presidente do
Sindbebidas e um dos cervejeiros mais tradicionais de Minas Gerais, Marco
Falcone, proprietário da Falke, sugere cautela. “Nossa posição é esperar laudos
conclusivos”, afirma, observando o grau de complexidade das apurações. “Há
muitas perguntas sem respostas. A diluição num tanque de 20 mil litros seria
residual. E havendo contaminação de 60 mil garrafas, era para termos uma
epidemia por aí”. Ele diz que aguarda a perícia sobre as garrafas recolhidas
para contraprova para que surjam novos elementos e demonstra confiança
institucional na Backer. “A amostragem de duas garrafas na casa do doente, com
quem nos solidarizamos, não nos convence.”
Presidente da Associação
Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), Carlo Lapolli defendeu o aprofundamento
das apurações, mas citou preocupação com prejulgamentos. “Precisamos aprofundar
a investigação médica e saber a origem de como aconteceu essa contaminação, a
causa, se realmente está ligada ao dietilenoglicol e se não há mais algum tipo
de agente externo”, declarou, acrescentando o aspecto de a ocorrência ter sido,
num primeiro momento, numa área geográfica bastante delimitada, no caso o
Bairro Buritis, Região Oeste de Belo Horizonte.
Sobre a hipótese de vazamento
interno, Lapolli vê baixa possibilidade. “Não há notícia desse tipo de
contaminação em nenhuma cervejaria. É muito raro o vazamento desse sistema de
refrigeração, usado no mundo inteiro. E quando vaza, vaza para dentro desse
sanduíche que é feito para o isolamento térmico. Para dentro seria uma coisa
muito rara.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO: IDENTIFICA ÁGUA CONTAMINADA
O Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento identificou que a água utilizada no processo de
produção da cervejaria Backer estava contaminada com a substância
dietilenoglicol e a contaminação aconteceu dentro da fábrica, mas não consegue
apontar a causa. Entre as hipóteses estão: sabotagem, vazamento ou uso
indevido.
Segundo o diretor do
Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, Glauco Bertoldo, e pelo
coordenador-geral de Vinhos e Bebidas, Carlos Vitor Müller, foi identificado
que a água usada para resfriar a cerveja durante a produção estava contaminada.
Essa água era reutilizada para produção de cerveja.
Os técnicos da pasta ainda
não identificaram em qual momento do processo a água foi contaminada. Como a
água utilizada em toda a fábrica fica em apenas um tanque, o ministério
justificou o fechamento da fábrica toda. Foram apreendidos de 139 mil litros de
cerveja engarrafados e 8,480 litros de chope.
Segundo a apresentação do
trabalho feito pelo ministério, em dois anos a cervejaria adquiriu 15 toneladas
de monoetilenoglicol (que pode interagir quimicamente e resultar em
dietilenoglicol). Não foi apresentado um parâmetro de consumo, mas o ministério
considera uma aquisição incomum.
A investigação aponta que os
controles de produção demonstram que os lotes já detectados como contaminados
passaram por distintos tanques, afastando a possibilidade de ser um evento
relacionado a um lote ou um tanque específico.
INVESTIGAÇÃO COMPLETA DOIS
MESES SEM PRAZO PARA CONCLUSÃO
O caso Backer completou
na sexta-feira, 6 de março, dois meses
de investigação e até agora não se sabe como o dietilenoglicol foi parar nos
tanques de produção e nas garrafas de cerveja.
Resumo
•Uma força-tarefa da polícia
investiga 34 notificações de pessoas contaminadas após consumir cerveja (seis
delas morreram);
•O Ministério da Agricultura
identificou 53 lotes de cerveja da Backer contaminados com dietileglicol, um
anticongelante tóxico;
•A cervejaria foi
interditada, precisou fazer recall e interromper as vendas de todos os lotes
produzidos desde outubro;
•Diretora da cervejaria disse que não sabe o que está acontecendo e pediu que clientes não consumam a cerveja.
TÉRMINO DO INQUÉRITO: POLÍCIA CIVIL INDICIA 11 PESSOAS
Onze funcionários da
cervejaria Backer foram indiciadas pela Polícia Civil de Minas Gerais após a
intoxicação por dietilenoglicol em cervejas da marca. Entre os crimes, estão
lesão corporal, contaminação de produto alimentício e homicídio.
Segundo o delegado Flávio
Grossi, a Polícia Civil conseguiu comprovar, física e quimicamente, a
existência de um vazamento no tanque de cerveja. As investigações comprovaram
que o vazamento começou em setembro de 2019, quando foi adquirido o tanque
JB10, que foi onde a polícia concentrou seus esforços, por ter demonstrado
quimicamente alta concentração da substância. Para o Ministério da Agricultura,
a contaminação começou ainda antes, em janeiro de 2019.
"Encontramos o vazamento
dentro do tanque. O líquido ia para a cerveja. Achamos a comprovação física e
visual da existência desse vazamento. Demonstramos quimicamente uma
similaridade entre o produto retirado no tanque e o conteúdo do produto. Tinha
a mesma composição. Comprovamos de forma química a existência desse
vazamento", disse Grossi.
Ele também disse que foram
encontrados outros pontos de vazamento na mesma adega. Um deles, na bomba do
chiller, o resfriador dos líquidos. "A bomba do chiller vazando, o líquido
se espalhava pela fábrica".
Fazem parte do grupo de
indiciados:
•Testemunha que mentiu em seu
depoimento (responderá por falso testemunho e obstrução)
•Chefe da manutenção
(responderá por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de
produto alimentício culposo)
•Seis pessoas do grupo gestor
e responsáveis técnicos (responderão por homicídio culposo, lesão corporal
culposa e contaminação de produto alimentício doloso)
•Três pessoas do grupo
societário (responderão de forma dolosa por não dar publicidade a produto que
causa risco e por manter em depósito e colocar à venda esse produto)
"Esta investigação foi
multifacetada, tivemos químicos, engenheiros, peritos da maior gama possível.
Atuamos de forma extremamente centrada e, para iniciar a investigação,
precisávamos entender como é feita a cerveja", disse Grossi.
O inquérito, que chegou a
considerar 42 vítimas, foi concluído com 29 vítimas criminais, segundo a
Polícia Civil. Sete morreram e 22 sobreviveram. "No decorrer das
investigações, retiramos dez vítimas por fatores investigativos ou médicos. Ou
laudo descartava ou deixava em dúvida. Três vítimas não desejaram fazer testes
de exames", explicou.
Ele esclarece que outros 30
casos ainda serão analisados. De acordo com o delegado, se essas eventuais
vítimas fossem anexadas às investigações neste momento, a solução do inquérito
poderia ser adiada. "Essas pessoas não serão abandonadas".
USO DE PRODUTOS TÓXICOS:
NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA
De acordo com o delegado, em
nenhum momento, os técnicos da cervejaria atuaram com dolo. "Foi um fato
acidental, sem sombra de dúvida, mas passível de punição", afirmou.
Segundo ele, foram identificadas duas modalidades da culpa: negligência e
imperícia.
Ele frisou que duas condutas
levaram às intoxicações e mortes: o uso incorreto do equipamento, com
substância tóxica, e o descontrole (vazamento) dessa substância. "Se
tivessem interrompido qualquer uma dessas duas condutas, nada disso
aconteceria", disse o delegado.
"O tanque exigia consumo
de substância não tóxica e era usada substância tóxica. Chiller indicava também
uso de substância não tóxica. Essas substâncias (não tóxicas) poderiam circular
e, mesmo vazando, não haveria efeito danoso às vítimas. Não causariam nenhuma
letalidade ou lesão às vítimas. Se os manuais dos fabricantes fossem seguidos,
não estaríamos aqui. No máximo ocorreria diferença de sabor ou aumento de teor
alcoólico. Se o álcool tivesse sido usado (em vez de dietilenoglicol), nós não
estaríamos aqui hoje", disse Grossi.
O superintendente de Polícia
Técnico-Científica, Thales Bittencourt, explicou que tanto o monoetilenoglicol
quanto o dietilenoglicol são tóxicos e causam a síndrome nefroneural, com
pequena diferença nos sintomas.
Mas as necropsias feitas em
vítimas que perderam a vida constataram que a contaminação foi por
dietilenoglicol:
"Em todas elas foram
constatadas alterações macro e microscópicas compatíveis com contaminação por
dietilenoglicol. E em todas também foi constatada a presença do tóxico
dietilenoglicol. Cem por cento de produtividade nas necropsias", afirmou.
A forma como esse produto
tóxico era adquirida pela Backer será alvo de uma segunda investigação, mas,
segundo o delegado Flávio Grossi, ela não interfere na conclusão deste
inquérito, que já constatou que o dietilenoglicol foi usado indevidamente e que
houve vazamento dele para as cervejas que depois foram consumidas pelas
vítimas.
Conforme os delegados, os
laudos de todas as perícias feitas ao longo das investigações já foram
entregues à Justiça, e agora o Ministério Público vai analisar as medidas que
julgar cabíveis.
BALANÇO DE VÍTIMAS
Inicialmente, até de 20 de
janeiro, 21haviam apresentado insuficiência renal e alterações neurológicas com
rápida evolução. Três mortes são investigadas por suspeita da doença. Um outro
caso foi confirmado por intoxicação provocada pelo dietilenoglicol.
De acordo com a Secretaria
Estadual de Saúde (SES-MG) foram
notificados: quatro mortos e 18 casos
suspeitos por intoxicação exógena por Dietilenoglicol.
Desses, 16 pessoas são do
sexo masculino e duas do feminino. Quatro casos foram confirmados e os 14
restantes continuam sob investigação, uma vez que apresentaram sinais e
sintomas com relato de exposição.
Todos os 14 internados estão
em estado grave e com risco de morte, segundo a Secretaria de Estado de Saúde
(SES). A informação foi dada pela infectologista e diretora do Hospital Eduardo
de Menezes, Virgínia Antunes de Andrade.
Em 20 de janeiro a Secretaria
de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) divulgou
que subiu para 21 o número de casos suspeitos de intoxicação, sendo 19
pessoas são do sexo masculino e duas do feminino, e quatro morreram.
Em 23 de janeiro mais quatro
pessoas foram incluídas na lista de casos suspeitos de intoxicação, com isso, o
número de pacientes saltou para 26: 22 homens e quatro mulheres. As informações
estão contidas em boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).
Em 15 de julho mais uma pessoa intoxicada pela
ingestão de cerveja morreu em Belo Horizonte..
ASSISTÊNCIA ÀS VÍTIMAS
No final do inquérito, os
sobreviventes relatavam que a empresa ainda não havia custeado qualquer
tratamento médico.
Já a empresa se defendeu
dizendo que seus bens estão bloqueados por ordem judicial e que caberá ao juiz
decidir quem receberá uma indenização, após cada caso ser avaliado.
POSIÇÃO DA EMPRESA
Desde que as suspeitas de
contaminação das cervejas Belorizontina vieram a público, a cervejaria Backer
afirma que não utiliza dietilenoglicol em sua fábrica.
JUSTIÇA MINEIRA RECEBE
DENÚNCIA CONTRA SÓCIOS DA CERVEJARIA BACKER
A Justiça de Minas Gerais
informou em 16 de outubro, ter recebido denúncia contra sócios e funcionários
da Cervejaria Três Lobos, empresa dona da marca de cervejas Backer, cujo
consumo causou a morte de dez pessoas por intoxicação pela substância
dietilenoglicol.
Com o recebimento da
denúncia, 11 pessoas passaram à condição de réus. Dessas, três são sócios da
cervejaria. Eles foram denunciados por vender chope e cerveja de forma que
sabiam poder estar adulterados pelo uso de substância tóxica no seu processo de
produção e por causarem dano irreparável à saúde pública, entre outros crimes
previstos no Código de Defesa do Consumidor.
Outros sete funcionários da
empresa, entre engenheiros e técnicos, foram denunciados por homicídio culposo,
lesão corporal culposa e atitude omissiva, entre outros crimes. Segundo a
denúncia, três desses engenheiros exerciam a profissão de modo irregular, sem
registro no Conselho de Química e Engenharia.
Uma pessoa, funcionário de
uma fornecedora de insumos para a cervejaria, responderá ao crime de falso
testemunho, por ter apresentado informações falsas na fase de investigação do
caso. Segundo a denúncia, ele pretendia prejudicar a empresa na qual trabalhava
após desavenças trabalhistas.
Além de receber a denúncia, o
juiz Haroldo André Toscano de Oliveira, da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte,
também retirou o sigilo sobre o processo. A partir de agora, a ação penal
prosseguirá com o recebimento da defesa por escrito dos denunciados, informou a
Justiça de Minas Gerais.
A denúncia havia sido
apresentada em 4 de setembro pelo Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG).
"Os engenheiros e técnicos responsáveis pela produção de cerveja assumiram
o risco de fabricar produto adulterado, impróprio a consumo, que veio a causar
a morte e lesões corporais graves e gravíssimas a inúmeras vítimas", diz a
peça de acusação, assinada pela promotora de Justiça Vanessa Fusco.
A denúncia afirma que “o uso indevido dos produtos tóxicos aliado à precária condição de manutenção da linha de produção das bebidas alcoólicas causaram um dano irreparável à saúde pública”.
Fontes: Tempo - 09/01/20 -
16h30; O Tempo 09/01/20 - 13h57 ;O Tempo - 10/01/20 - 19h13;O Tempo - 10/01/20
- 18h16; EM-11/01/2020 ; EM-12/01/2020; G1 Minas — BH , 13/01/2020; UOL, em
Brasília-15/01/2020; O Tempo - 16/01/20 - 08h22; EM - 16/01/2020; O Tempo - 17/01/20 - 11h49; O Tempo - 20/01/20
- 17h47; EM - 23/01/2020 18:56; G1 Minas — Belo Horizonte-06/03/2020 15h04; G1
Minas — Belo Horizonte-09/06/2020 10h39; Agência Brasil - 16/07/2020 - 15:34;
Agência Brasil - 17/10/2020 - 10:54
Marcadores: alimentos, gerenciamento de riscos, responsabilidade civil
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home