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sábado, novembro 07, 2020

CASO DA CERVEJARIA BACKER: INTOXICAÇÃO E MORTES

 A empresa está situada no bairro Olhos D’água, na Região Oeste de Belo Horizonte, Minas Gerais foi fundada em 1999. A fábrica conta com cerca de 350 funcionários. Com 20 rótulos, vários deles premiados internacionalmente, a Backer lançou a Belorizontina para homenagear os 120 anos da capital mineira, em 2017. A cerveja, que teria uma edição limitada, fez sucesso e continuou a ser produzida pela marca.

DOENÇA MISTERIOSA

A Polícia Civil instaurou inquérito em 9 de janeiro de 2020, quinta-feira,  para investigar a possível doença misteriosa que já matou uma pessoa e deixou outras sete internadas em Minas. 

Um dos produtos da cervejaria Backer, a cerveja Belorizontina, foi comentada em relatos nas redes sociais, aos sintomas da doença. Policiais civis chegaram à fábrica da empresa, no bairro Olhos D’Água, na região Oeste da capital, por volta das 13h, e recolheram amostras e documentos da cervejaria.

VÍTIMAS DA DOENÇA MISTERIOSA

Dados da Secretária de Estado de Saúde (SES) mostram que já são oito vítimas da doença misteriosa que causa insuficiência renal grave e problemas neurológicos. Sete continuam internadas e uma morreu.

De acordo com a pasta, os pacientes começaram com sintomas gastrointestinais, como náusea, vômito e  dor abdominal,  associados à insuficiência renal aguda grave de evolução rápida, que progride em 72 horas,  seguida de uma ou mais alterações neurológicas, como paralisia facial, borramento visual, amaurose, ou seja, perda de visão, alteração de sensório e paralisia descendente.

LAUDO DA POLÍCIA CIVIL APONTA A PRESENÇA  DE DIETILENOGLICOL, NA CERVEJA 

A Polícia Civil e a Vigilância Sanitária informaram,  que a perícia em amostras de cerveja encontrou substância tóxica compatível com os quadros clínicos desenvolvidos por oito pessoas,

O composto orgânico dietilenoglicol, também conhecido como éter de glicol, usado no processo de refrigeração na indústria de cerveja, foi encontrado em dois lotes  do rótulo Belohorizontina.  Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), informou que, diante do laudo “que comprova a presença de substância tóxica em cerveja consumida por pacientes internados em estado grave, em Belo Horizonte” convocou a força tarefa envolvida na investigação “para definição dos encaminhamentos médicos, epidemiológicos e da Vigilância Sanitária”.

Antes de divulgar o laudo, peritos da corporação vistoriaram a sede da empresa de bebidas artesanais. “Nas duas amostras de cerveja encaminhadas lacradas pela vigilância sanitária do município de Belo Horizonte foi identificada a presença da substância dietilenoglicol em exames preliminares”, diz o laudo.

DEVOLUÇÃO

A cervejaria Backer informou na  sexta-feira, 10 de janeiro, que vai recolher, caso seja de interesse dos consumidores, qualquer lote da cerveja Belorizontina, investigada por ter relação direta com uma "doença misteriosa". "Para o bem-estar e conforto de seus clientes, comunica que irá recolher, caso seja de interesse do consumidor, outros lotes da cerveja Belorizontina, mesmo que não sejam os lotes L1 1348 e L2 1348, a partir de segunda-feira, 13 de janeiro", informou a empresa por meio de nota.

A Secretaria Municipal de Saúde da capital também vai receber a partir desta segunda-feira as cervejas. Podem ser entregues as bebidas de qualquer lote, de moradores da capital mineira que possuam o produto para consumo próprio. "Não serão recebidos produtos de bares, restaurantes e supermercados. O material ficará sob custódia da secretaria para encaminhamento das investigações necessárias", disse.

A CERVEJARIA É INTERDITADA PELO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizou na sexta-feira (10), como medida cautelar, o fechamento momentâneo da Cervejaria Backer, fabricante da cerveja Belorizontina, suspeita de ter uma substância que causa uma síndrome ainda desconhecida. Segundo o órgão, também foram determinadas ações de fiscalização para a apreensão dos produtos que ainda se encontram no mercado.

O ministério informou  que auditores fiscais federais agropecuários prosseguem apurando as circunstâncias em que ocorreram a contaminação a fim de dar pleno esclarecimento à população sobre o ocorrido.

Análises laboratoriais seguem sendo realizadas nas amostras coletadas pela equipe de fiscalização das Superintendências Federais de Agricultura. Além disso, mais de 16 mil litros de cervejas foram apreendidos.

LOTES CONTAMINADOS

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa)  afirmou na tarde  de quinta feira, em 16 de janeiro, que identificou as substâncias dietilenoglicol e monoetilenoglicol em oito rótulos produzidos pela cervejaria.

De acordo com o Mapa, no total são 21 lotes contaminados, sendo que um deles foi usado para produzir dois rótulos.

Além das marcas Belorizontina e Capixaba, foram encontradas as substâncias tóxicas em outras seis marcas: Backer D2, Backer Pilsen; Brown; Capitão Senra; Fargo 46; Pele Vermelha.

SAIBA O QUE É DIETILENOGLICOL

A presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Lílian Pires de Freitas, disse  que a substância não é própria para o consumo, os casos de ingestão de dietilenoglicol são raros e geralmente de forma acidental.

"Quando a substância é ingerida, ela é rapidamente absorvida e se dirige ao fígado para ser processada e se transforma em outros compostos que são altamente nocivos para o organismo.  Depois ela começa uma série de lesões progressivas no corpo. A fase inicial são sintomas no trato gastrointestinal, depois passa para a destruição dos rins e por fim alterações neurológicas.", explica a professora. Os sintomas são semelhantes aos que as pessoas estão  internadas com a doença misteriosa.

TRATAMENTO

Quando se descobre a intoxicação por dietilenoglicol logo no início existe um antídoto que é administrado no hospital para não ocorrer  a produção dos compostos tóxicos pelo fígado. "Quanto mais rápido o tratamento acontecer menos vai destruir às células. A recuperação e o tratamento dependem da quantidade de produto ingerido e da gravidade da lesão", conclui a nefrologista.

USO

O dietilenoglicol foi descoberto em 1937, sendo usado na fabricação de resinas, plastificantes, como umectante para tinta, cola e em produtos como cremes e loções para a pele, desodorantes.

A substância anticongelante é bastante aplicada em sistemas de refrigeração, não costuma ser usado nas instalações das cervejarias artesanais brasileiras. 

Como não é próprio para o consumo humano às informações disponíveis sobre a toxicidade humana são limitadas.

SOCORRO RÁPIDO 


A intoxicação com o dietilenoglicol pode evoluir para três fases: comprometimento gastrointestinal, nefrológica e complicações neurológicas.

Quando ingerido, o composto orgânico é absorvido pelo trato intestinal. Depois de 48 horas, o paciente inicia quadro de insuficiência renal, o rim para de funcionar. Quando aparecem esses primeiros sinais, a pessoa contaminada costuma procurar os serviços médicos. “Em geral, o paciente dá entrada com insuficiência renal, com exames alterados ou por parar de urinar” , explica o nefrologista Vinícius Sardão Colores, membro da diretoria da Sociedade Mineira de Nefrologia.

No período de sete a 10 dias, o paciente pode apresentar problemas no quadro neurológico, com a paralisia dos pares cranianos, que fazem toda a musculatura da face funcionar (músculos dos olhos e da boca). O quadro pode evoluir para paralisia dos músculos do pescoço para baixo, como se fosse uma tetraplegia. Esses metabólicos tóxicos se acumulam e lesionam os órgãos.

Nas primeiras 48 horas, o nefrologista explica que pode ser ministrado um antídoto, com a aplicação intravenosa de álcool etílico. No entanto, o procedimento não deve ser feito sem acompanhamento médico. “É um tratamento muito raro. No Brasil, não temos histórico desse tipo de intoxicação. É mais comum ocorrer em países frios.”

O comprometimento neurológico pode não ter reversibilidade. Para a parte neurológica se recuperar, é preciso fisioterapia e tratamento de suporte no período de oito a 14 semanas até o paciente esboçar melhora. O composto orgânico atinge o neurônio, levando lesão da mielina (bainha de mielina). Quando há perda dessa substância de condução nervosa, o nervo começa a não funcionar. Não é uma limitação muscular. O que ocorre é o nervo, que não consegue levar o estímulo..

DISTRIBUIÇÃO DA CERVEJA CONTAMINADA

A empresa  afirmou que os lotes de cerveja  suspeitos de contaminação foram distribuídos para as seguintes regiões: BH, Grande BH, Brasília, Espirito Santo, São Paulo, Tiradentes, Ouro Preto e Centro-Oeste de Minas. Não foram para um lugar só, para o bairro que está sendo fiscalizado e para um supermercado, disse a diretora de marketing da cervejaria Backer.

CONTROVÉRSIA NA  CONTAMINAÇÃO DA CERVEJA

Representantes do setor cervejeiro consideram improvável contaminação de bebida por substâncias usadas no resfriamento durante a produção.

Além de a Backer ter negado utilização em sua planta de produção do dietilenoglicol – substância encontrada por perícia da Polícia Civil em garrafas da cerveja e em amostras de sangue de três dos pacientes que consumiram a bebida  –, os sistemas operacionais são considerados seguros por especialistas, ainda que passíveis de falhas.

Engenheiro de produção pela USP e mestre cervejeiro formado em Louvain-la-Neuve, na Bélgica, Paulo Schiaveto afirma que as circunstâncias apresentadas inicialmente pelas apurações da Polícia Civil surpreendem, especialmente pelo fato de a Backer ter sustentado que trabalha com monoetilenoglicol em seus processos de resfriamento, e não dietilenoglicol. “Há uma conjunção de fatores muito estranha. Impossível não é. Mas é improvável. Se desse algum problema, a tendência seria vazar para o isolamento e não para dentro do tanque”.

Em inox, tanques de fermentação como os da Backer são dotados das chamadas 'paredes encamisadas'. Há o compartimento em que é mantida a cerveja e, funcionando num duto lateral, isoladamente, uma serpentina pela qual circula a substância para manter resfriada a temperatura interna – entre 12°C e 18°C iniciais, em média, dependendo do estilo. No caso da Belorizontina, uma pilsen, entre 10°C e 12°C. Assim, não há (ou não deveria haver) contato entre o líquido de resfriamento e o produto.

Na hipótese de um vazamento, há duas leituras entre profissionais da área: a perspectiva maior, nesse caso, seria a de a cerveja transbordar para a parte ensanduichada, dada a pressão interna do fermentador. Ocorrendo um acidente e havendo a “invasão” da substância (nas serpentinas encapsuladas circulam em torno de 240 litros num tanque de 20 mil litros), seu grau de diluição não teria, de acordo com essas avaliações em tese, potência contaminadora o bastante para provocar os sintomas dos pacientes.

Vice-presidente do Sindbebidas e um dos cervejeiros mais tradicionais de Minas Gerais, Marco Falcone, proprietário da Falke, sugere cautela. “Nossa posição é esperar laudos conclusivos”, afirma, observando o grau de complexidade das apurações. “Há muitas perguntas sem respostas. A diluição num tanque de 20 mil litros seria residual. E havendo contaminação de 60 mil garrafas, era para termos uma epidemia por aí”. Ele diz que aguarda a perícia sobre as garrafas recolhidas para contraprova para que surjam novos elementos e demonstra confiança institucional na Backer. “A amostragem de duas garrafas na casa do doente, com quem nos solidarizamos, não nos convence.”

Presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), Carlo Lapolli defendeu o aprofundamento das apurações, mas citou preocupação com prejulgamentos. “Precisamos aprofundar a investigação médica e saber a origem de como aconteceu essa contaminação, a causa, se realmente está ligada ao dietilenoglicol e se não há mais algum tipo de agente externo”, declarou, acrescentando o aspecto de a ocorrência ter sido, num primeiro momento, numa área geográfica bastante delimitada, no caso o Bairro Buritis, Região Oeste de Belo Horizonte.

Sobre a hipótese de vazamento interno, Lapolli vê baixa possibilidade. “Não há notícia desse tipo de contaminação em nenhuma cervejaria. É muito raro o vazamento desse sistema de refrigeração, usado no mundo inteiro. E quando vaza, vaza para dentro desse sanduíche que é feito para o isolamento térmico. Para dentro seria uma coisa muito rara.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO: IDENTIFICA ÁGUA CONTAMINADA 

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento identificou que a água utilizada no processo de produção da cervejaria Backer estava contaminada com a substância dietilenoglicol e a contaminação aconteceu dentro da fábrica, mas não consegue apontar a causa. Entre as hipóteses estão: sabotagem, vazamento ou uso indevido.

Segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, Glauco Bertoldo, e pelo coordenador-geral de Vinhos e Bebidas, Carlos Vitor Müller, foi identificado que a água usada para resfriar a cerveja durante a produção estava contaminada. Essa água era reutilizada para produção de cerveja.

Os técnicos da pasta ainda não identificaram em qual momento do processo a água foi contaminada. Como a água utilizada em toda a fábrica fica em apenas um tanque, o ministério justificou o fechamento da fábrica toda. Foram apreendidos de 139 mil litros de cerveja engarrafados e 8,480 litros de chope.

Segundo a apresentação do trabalho feito pelo ministério, em dois anos a cervejaria adquiriu 15 toneladas de monoetilenoglicol (que pode interagir quimicamente e resultar em dietilenoglicol). Não foi apresentado um parâmetro de consumo, mas o ministério considera uma aquisição incomum.

A investigação aponta que os controles de produção demonstram que os lotes já detectados como contaminados passaram por distintos tanques, afastando a possibilidade de ser um evento relacionado a um lote ou um tanque específico.

INVESTIGAÇÃO COMPLETA DOIS MESES SEM PRAZO PARA CONCLUSÃO

O caso Backer completou na  sexta-feira, 6 de março, dois meses de investigação e até agora não se sabe como o dietilenoglicol foi parar nos tanques de produção e nas garrafas de cerveja.

Resumo

•Uma força-tarefa da polícia investiga 34 notificações de pessoas contaminadas após consumir cerveja (seis delas morreram);

•O Ministério da Agricultura identificou 53 lotes de cerveja da Backer contaminados com dietileglicol, um anticongelante tóxico;

•A cervejaria foi interditada, precisou fazer recall e interromper as vendas de todos os lotes produzidos desde outubro;

•Diretora da cervejaria disse que não sabe o que está acontecendo e pediu que clientes não consumam a cerveja.

TÉRMINO DO INQUÉRITO: POLÍCIA CIVIL INDICIA 11 PESSOAS

Onze funcionários da cervejaria Backer foram indiciadas pela Polícia Civil de Minas Gerais após a intoxicação por dietilenoglicol em cervejas da marca. Entre os crimes, estão lesão corporal, contaminação de produto alimentício e homicídio.

Segundo o delegado Flávio Grossi, a Polícia Civil conseguiu comprovar, física e quimicamente, a existência de um vazamento no tanque de cerveja. As investigações comprovaram que o vazamento começou em setembro de 2019, quando foi adquirido o tanque JB10, que foi onde a polícia concentrou seus esforços, por ter demonstrado quimicamente alta concentração da substância. Para o Ministério da Agricultura, a contaminação começou ainda antes, em janeiro de 2019.

"Encontramos o vazamento dentro do tanque. O líquido ia para a cerveja. Achamos a comprovação física e visual da existência desse vazamento. Demonstramos quimicamente uma similaridade entre o produto retirado no tanque e o conteúdo do produto. Tinha a mesma composição. Comprovamos de forma química a existência desse vazamento", disse Grossi.

Ele também disse que foram encontrados outros pontos de vazamento na mesma adega. Um deles, na bomba do chiller, o resfriador dos líquidos. "A bomba do chiller vazando, o líquido se espalhava pela fábrica".

Fazem parte do grupo de indiciados:

•Testemunha que mentiu em seu depoimento (responderá por falso testemunho e obstrução)

•Chefe da manutenção (responderá por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício culposo)

•Seis pessoas do grupo gestor e responsáveis técnicos (responderão por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício doloso)

•Três pessoas do grupo societário (responderão de forma dolosa por não dar publicidade a produto que causa risco e por manter em depósito e colocar à venda esse produto)

"Esta investigação foi multifacetada, tivemos químicos, engenheiros, peritos da maior gama possível. Atuamos de forma extremamente centrada e, para iniciar a investigação, precisávamos entender como é feita a cerveja", disse Grossi.

O inquérito, que chegou a considerar 42 vítimas, foi concluído com 29 vítimas criminais, segundo a Polícia Civil. Sete morreram e 22 sobreviveram. "No decorrer das investigações, retiramos dez vítimas por fatores investigativos ou médicos. Ou laudo descartava ou deixava em dúvida. Três vítimas não desejaram fazer testes de exames", explicou.

Ele esclarece que outros 30 casos ainda serão analisados. De acordo com o delegado, se essas eventuais vítimas fossem anexadas às investigações neste momento, a solução do inquérito poderia ser adiada. "Essas pessoas não serão abandonadas".

USO DE PRODUTOS TÓXICOS: NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA

De acordo com o delegado, em nenhum momento, os técnicos da cervejaria atuaram com dolo. "Foi um fato acidental, sem sombra de dúvida, mas passível de punição", afirmou. Segundo ele, foram identificadas duas modalidades da culpa: negligência e imperícia.

Ele frisou que duas condutas levaram às intoxicações e mortes: o uso incorreto do equipamento, com substância tóxica, e o descontrole (vazamento) dessa substância. "Se tivessem interrompido qualquer uma dessas duas condutas, nada disso aconteceria", disse o delegado.

"O tanque exigia consumo de substância não tóxica e era usada substância tóxica. Chiller indicava também uso de substância não tóxica. Essas substâncias (não tóxicas) poderiam circular e, mesmo vazando, não haveria efeito danoso às vítimas. Não causariam nenhuma letalidade ou lesão às vítimas. Se os manuais dos fabricantes fossem seguidos, não estaríamos aqui. No máximo ocorreria diferença de sabor ou aumento de teor alcoólico. Se o álcool tivesse sido usado (em vez de dietilenoglicol), nós não estaríamos aqui hoje", disse Grossi.

O superintendente de Polícia Técnico-Científica, Thales Bittencourt, explicou que tanto o monoetilenoglicol quanto o dietilenoglicol são tóxicos e causam a síndrome nefroneural, com pequena diferença nos sintomas.

Mas as necropsias feitas em vítimas que perderam a vida constataram que a contaminação foi por dietilenoglicol:

"Em todas elas foram constatadas alterações macro e microscópicas compatíveis com contaminação por dietilenoglicol. E em todas também foi constatada a presença do tóxico dietilenoglicol. Cem por cento de produtividade nas necropsias", afirmou.

A forma como esse produto tóxico era adquirida pela Backer será alvo de uma segunda investigação, mas, segundo o delegado Flávio Grossi, ela não interfere na conclusão deste inquérito, que já constatou que o dietilenoglicol foi usado indevidamente e que houve vazamento dele para as cervejas que depois foram consumidas pelas vítimas.

Conforme os delegados, os laudos de todas as perícias feitas ao longo das investigações já foram entregues à Justiça, e agora o Ministério Público vai analisar as medidas que julgar cabíveis.

BALANÇO DE  VÍTIMAS

Inicialmente, até de 20 de janeiro, 21haviam apresentado insuficiência renal e alterações neurológicas com rápida evolução. Três mortes são investigadas por suspeita da doença. Um outro caso foi confirmado por intoxicação provocada pelo dietilenoglicol. 

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG)  foram notificados: quatro mortos  e 18 casos suspeitos por intoxicação exógena por Dietilenoglicol.

Desses, 16 pessoas são do sexo masculino e duas do feminino. Quatro casos foram confirmados e os 14 restantes continuam sob investigação, uma vez que apresentaram sinais e sintomas com relato de exposição.

Todos os 14 internados estão em estado grave e com risco de morte, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES). A informação foi dada pela infectologista e diretora do Hospital Eduardo de Menezes, Virgínia Antunes de Andrade. 

Em 20 de janeiro a Secretaria de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) divulgou  que subiu para 21 o número de casos suspeitos de intoxicação, sendo 19 pessoas são do sexo masculino e duas do feminino, e quatro morreram.

Em 23 de janeiro mais quatro pessoas foram incluídas na lista de casos suspeitos de intoxicação, com isso, o número de pacientes saltou para 26: 22 homens e quatro mulheres. As informações estão contidas em boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Em  15 de julho mais uma pessoa intoxicada pela ingestão de cerveja morreu em Belo Horizonte..

ASSISTÊNCIA ÀS VÍTIMAS

No final do inquérito, os sobreviventes relatavam que a empresa ainda não havia custeado qualquer tratamento médico.

Já a empresa se defendeu dizendo que seus bens estão bloqueados por ordem judicial e que caberá ao juiz decidir quem receberá uma indenização, após cada caso ser avaliado.

POSIÇÃO DA EMPRESA

Desde que as suspeitas de contaminação das cervejas Belorizontina vieram a público, a cervejaria Backer afirma que não utiliza dietilenoglicol em sua fábrica.

JUSTIÇA MINEIRA RECEBE DENÚNCIA CONTRA SÓCIOS DA CERVEJARIA BACKER

A Justiça de Minas Gerais informou em 16 de outubro, ter recebido denúncia contra sócios e funcionários da Cervejaria Três Lobos, empresa dona da marca de cervejas Backer, cujo consumo causou a morte de dez pessoas por intoxicação pela substância dietilenoglicol.

Com o recebimento da denúncia, 11 pessoas passaram à condição de réus. Dessas, três são sócios da cervejaria. Eles foram denunciados por vender chope e cerveja de forma que sabiam poder estar adulterados pelo uso de substância tóxica no seu processo de produção e por causarem dano irreparável à saúde pública, entre outros crimes previstos no Código de Defesa do Consumidor.

Outros sete funcionários da empresa, entre engenheiros e técnicos, foram denunciados por homicídio culposo, lesão corporal culposa e atitude omissiva, entre outros crimes. Segundo a denúncia, três desses engenheiros exerciam a profissão de modo irregular, sem registro no Conselho de Química e Engenharia.

Uma pessoa, funcionário de uma fornecedora de insumos para a cervejaria, responderá ao crime de falso testemunho, por ter apresentado informações falsas na fase de investigação do caso. Segundo a denúncia, ele pretendia prejudicar a empresa na qual trabalhava após desavenças trabalhistas.

Além de receber a denúncia, o juiz Haroldo André Toscano de Oliveira, da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, também retirou o sigilo sobre o processo. A partir de agora, a ação penal prosseguirá com o recebimento da defesa por escrito dos denunciados, informou a Justiça de Minas Gerais.

A denúncia havia sido apresentada em 4 de setembro pelo Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG). "Os engenheiros e técnicos responsáveis pela produção de cerveja assumiram o risco de fabricar produto adulterado, impróprio a consumo, que veio a causar a morte e lesões corporais graves e gravíssimas a inúmeras vítimas", diz a peça de acusação, assinada pela promotora de Justiça Vanessa Fusco.

A denúncia afirma que “o uso indevido dos produtos tóxicos aliado à precária condição de manutenção da linha de produção das bebidas alcoólicas causaram um dano irreparável à saúde pública”.

Fontes:  Tempo - 09/01/20 - 16h30; O Tempo 09/01/20 - 13h57 ;O Tempo - 10/01/20 - 19h13;O Tempo - 10/01/20 - 18h16; EM-11/01/2020 ; EM-12/01/2020; G1 Minas — BH , 13/01/2020; UOL, em Brasília-15/01/2020; O Tempo - 16/01/20 - 08h22; EM - 16/01/2020; O  Tempo - 17/01/20 - 11h49; O Tempo - 20/01/20 - 17h47; EM - 23/01/2020 18:56; G1 Minas — Belo Horizonte-06/03/2020 15h04; G1 Minas — Belo Horizonte-09/06/2020 10h39; Agência Brasil - 16/07/2020 - 15:34; Agência Brasil - 17/10/2020 - 10:54

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posted by ACCA@5:16 PM