Acidentes de trabalho na região de Ribeirão Preto
Os afastamentos motivados por acidentes de trabalho
causaram, em seis anos, um impacto previdenciário de R$ 248,1 milhões em toda a
região de Ribeirão Preto (SP), aponta um levantamento feito pelo G1 com base em
dados do Ministério Público do Trabalho (MPT).
Restaurantes, produção de açúcar e hospitais estão entre os
que alavancaram concessão de 28,5 mil auxílios por afastamentos, segundo
Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho.
Os números disponibilizados pelo Observatório Digital de
Segurança e Saúde do Trabalho contabilizam registros entre 2012 e 2017 e
referem-se à concessão de 28.550 auxílios-doença decorrentes de lesões
funcionais de empregados com carteira assinada em 66 cidades.
Superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de 25 cidades da
região, o montante total gasto pela União é quase equivalente, por exemplo, ao
que Colômbia (SP), município de 6,2 mil habitantes no nordeste paulista,
movimenta por ano em sua economia.
O valor também representa quase nove vezes mais do que
Taquaral (SP) gera em riquezas.
As cidades mais populosas da região – Ribeirão, Franca (SP),
Barretos (SP) e Sertãozinho (SP) – concentram a maior parte das ocorrências,
sobretudo relacionadas a fraturas nas mãos, mas são acompanhadas por municípios
menores, como Guaíra (SP).
Restaurantes, atendimento hospitalar e produção de açúcar,
etanol e calçados estão entre os que mais contribuíram para esses casos.
IMPACTO PREVIDENCIÁRIO DOS ACIDENTES DE TRABALHO
Os maiores resultados registrados entre 2012 e 2017 na
região de Ribeirão Preto
Fonte: Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho/MPT
Para a procuradora regional do Trabalho Regina Duarte da
Silva, os números resultam do descumprimento das normas reguladoras de
segurança nas empresas, que repercutem na falta de treinamentos adequados e de
equipamentos de proteção individual, além de jornadas excessivas.
"O acidente muitas vezes nem mereceria esse nome de
acidente, que é um fato inesperado. Às vezes é plenamente evitável se fossem
tomadas as medidas de segurança", analisa.
AFASTAMENTOS NO TRABALHO
Ribeirão Preto lidera a lista com indenizações da ordem de
R$ 54,2 milhões referentes a 6.643 afastamentos, sobretudo ocorridos em
restaurantes e redes de serviço, além de atendimentos hospitalares. As fraturas
nas mãos e nas pernas são as mais comuns.
"Em restaurantes e bares, a parte do corpo mais
utilizada são os membros superiores, as mãos, inclusive ele [funcionário] tem
contato com perfuro-cortantes, com faca, espeto. Não havendo cuidados
necessários são esses os órgãos que serão mais atingidos", afirma Regina.
Em seguida aparece Franca (SP), com despesas de R$ 29,2
milhões referentes 4.359 ocorrências que levaram o funcionário a deixar
temporariamente suas funções, sobretudo na indústria calçadista, que concentra
20% dos casos, em situações geralmente ligadas a fraturas nas mãos, pernas,
braços e ombros.
AS LESÕES MAIS COMUNS
Em Barretos (SP), as 1.785 ocorrências levaram a um impacto de R$ 26,8 milhões, principalmente em função de fraturas nos punhos e nas mãos e problemas de coluna cervical sofridas por pessoas que atuam no atendimento hospitalar (13,18%) e na fabricação de produtos de carne (10%).
A produção de açúcar bruto e a fabricação de equipamentos
industriais foram alguns dos segmentos que mais levaram às 1.823 ausências de
trabalhadores, que geraram gastos de R$ 12,4 milhões, também em função de
fraturas e ferimentos de punho, mão, além de pernas e antebraço.
Na sequência, destaca-se Guaíra, município de 40 mil habitantes
onde os 653 casos registrados pelo observatório geraram um impacto
previdenciário de R$ 11 milhões.
A fabricação de etanol, com 18% dos casos registrados, e a
moagem e fabricação de produtos de origem vegetal – com 16% - foram os
segmentos que mais concentraram afastamentos entre 2012 e 2017 na cidade.
Os números levantados pelo Observatório Digital, segundo a
procuradora, poderiam ser ainda maiores, já que não são contabilizados os
trabalhadores informais.
"Houve uma redução drástica no número de postos de
trabalho. Quando esse número começou a cair passou a ser trabalho informal e o
trabalho informal não é computado nesses índices. Então os acidentes são muito
grandes, continuam ocorrendo, mas na informalidade."
PREVENÇÃO E FISCALIZAÇÃO
Segundo a procuradora, a redução desses afastamentos passa
por programas de prevenção de acidentes e de avaliações médicas das empresas,
mas também depende do combate a práticas como a sobrejornada, recorrente na
recessão econômica.
"A sobrejornada é um fator importantíssimo para a
ocorrência de acidentes, porque toda vez que a gente trabalha cansado a gente
está mais desatento, menos propício a observar as regras de segurança."
O Ministério Público do Trabalho realiza fiscalizações nos
municípios, mas a demanda é extensa, diz Regina. “A gente não consegue. Acaba
que a gente fica trabalhando muito na tutela reparatória, que é depois que o
acidente aconteceu, e muito pouco na tutela preventiva.” Fonte: G1-29/03/2018
Marcadores: acidente, doença ocupacional, prevenção
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