Rios que foram enterrados com a urbanização de SP
Na cidade de São Paulo, não
importa o local, ninguém está a mais de 300 metros de distância de um curso
d'água, afirma o geógrafo Luiz de Campos Junior. A frase pode soar estranha em
uma metrópole acostumada com a selva de asfalto e concreto que deixa pouco
espaço para seus rios, córregos e riachos correrem a céu aberto. Mas eles estão
lá, no subterrâneo, correndo em galerias após serem tamponados.
A Prefeitura de São Paulo
tem, mapeados e nomeados, 280 cursos d'água. Esse número, porém, é muito maior,
diz Campos, um dos fundadores da iniciativa Rios e Ruas, que desde 2010 mapeia
os rios e córregos subterrâneos da capital paulista.
O grupo trabalha com uma
estimativa de 300 a 500 cursos d'água escondidos sob ruas e avenidas. Juntos,
eles somariam cerca de 3.000 quilômetros de extensão, outro número que também
pode ser maior que a estimativa.
DEDO DO HOMEM
Intervenções humanas na
natureza dos rios da capital existem desde pelo menos o século 19, quando já se
poluía o rio Tamanduateí, que nasce na serra do Mar e percorre a zona leste de
São Paulo.
Em 1894, teve início a
discussão do projeto de retificação do curso do rio, cuja obra seria concluída
em 1916. Foi o primeiro dos grandes rios da capital paulista a ser canalizado
para escoar o esgoto dos bairros localizados próximos a ele.
A partir dos anos 1920,
ganham força os projetos de canalização e retificação dos rios paulistanos. As
obras no rio Pinheiros têm início em 1928, seguindo até meados dos anos 1950.
Dez anos mais tarde, é a vez do rio Tietê, que só na década de 1970 ganharia a
"cara" que tem hoje.
O momento coincide com a
popularização do automóvel como meio de transporte da classe média paulistana,
que precisava de vias para melhorar o acesso às partes mais remotas da cidade.
A capital paulista estava em franca expansão e "engolia" municípios
vizinhos, como Santo Amaro.
TRATAMENTO
"Tem que pensar em como
não sujar a água. A gente teve uma política que enterrou completamente os rios.
Em vez de cuidar, enterrou tudo para o povo não poder usar", afirma o
geógrafo Campos Júnior. "Mesmo com os visíveis as pessoas não têm contato,
não chegam perto."
O ideal, segundo ele, seria
um tratamento que preserve o curso d'água a céu aberto e que mantenha alguma
sinuosidade do rio. "A pior maneira de canalizar um rio é o
tamponamento." Esse processo cria uma galeria ou tubulação enterrada que
recebe, junto com a água da chuva, toda a sujeita das ruas e até ligações de
esgoto. "Tudo isso ocorre sem que possamos ver ou ter contato com a
condição do rio", diz Campos.
Em tempos de crise hídrica,
esse contato é fundamental. Pensando nisso, o Rios e Ruas montou, em parceria
com outros grupos ligados a defesa dos rios, um programa piloto que vai
analisar a água de dez nascentes nas zonas norte e oeste da capital paulista.
Dois critérios serão
observados: a nascente precisa manter um fluxo constante de água e ser
acessível à população.
Após o teste, os locais serão
sinalizados para que os moradores conheçam os possíveis usos para a água
daquela nascente. Se a iniciativa der certo, a ideia é expandir o programa para
outras nascentes da cidade. Fonte: Folha de São Paulo - 04/05/2015
Marcadores: água, alagamento, inundação
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