Mais de um trabalhador da construção morre por dia
Mais
de uma morte acidental de trabalhadores da construção civil é registrada por
dia em canteiros de obras espalhados pelo Brasil, segundo dados do Ministério
da Previdência.
Em
todo o país, 438 trabalhadores da construção civil morreram em acidentes de
trabalho em 2010 (dado mais recente disponível). O setor foi o terceiro que
mais matou - a indústria de transformação, que perdeu 648 vidas, está em
primeiro lugar. Ao todo, foram 2.712 mortes por acidente de trabalho naquele
ano, segundo dados da Previdência.
ACIDENTES
SUBESTIMADOS
E
os números podem ser ainda maiores – o próprio governo os considera
subestimados, já que só levam em conta funcionários com carteira assinada e
deixam os informais de fora. Na construção civil, os informais são cerca de 40%
da mão de obra, de acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do
Estado de São Paulo (SindusCon-SP).
EXÉRCITO
DE INVÁLIDOS
Acidentes
na construção civil
Ano
|
Número de acidentes
|
Número de mortos
|
2009
|
55.670
|
407
|
2010
|
54.664
|
438
|
Fonte:
Ministério da Previdência
“Estamos
criando um exército de inválidos, com um custo altíssimo para o Estado e para as
famílias dessas pessoas”, diz Rubens Curado, gestor nacional do programa
Trabalho Seguro, do Tribunal Superior do Trabalho (TST). A situação levou o TST
a eleger a construção civil como tema deste ano do programa Trabalho Seguro,
que visa aumentar a conscientização de trabalhadores e empresas sobre a
necessidade de adotar medidas para evitar os acidentes.
A
construção civil foi responsável por 56.433 acidentes em 2010, número
considerado “irracional” e equivalente a 8% do total verificado no país
envolvendo trabalhadores (701.496). O governo precisa adotar ações urgentes
para reverter esse quadro. Uma delas seria investir na inclusão, nas escolas,
de disciplinas que ensinem as crianças a evitar acidentes, disse diz Rubens
Curado.
BOOM
DE OBRAS
O
número de trabalhadores formais no setor
aumentou de 1,5 milhão para 3,5 milhões entre 2006 e 2012, sem que houvesse
aumento proporcional no número de acidentes e mortes. As empresas de construção
investem em treinamento e conscientização de seus trabalhadores e que os
acidentes em obras acabam chamando a atenção por conta da gravidade e do
interesse da imprensa, disse o vice-presidente de Relações Capital-Trabalho do
SindusCon-SP, Haruo Ishikawa
CUMPRIMENTO
DE NORMAS
O
presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de
São Paulo (Sintracon-SP), Antonio de Sousa Ramalho, diz que o país dispõe de
boas normas de segurança que, se respeitadas, poderiam reduzir os acidentes e
mortes nos canteiros.
Para
que isso aconteça, diz ele, seria necessário aumentar a fiscalização. “Não
deveria existir acidente. Quando acontece, é por falta de prevenção e cuidado”,
diz Ramalho. “Aqui em São Paulo, paramos obras quase todo dia por desrespeito
às normas de segurança”, completou.
O
procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Brasília Valdir Pereira
da Silva concorda que os acidentes são resultado de falha no cumprimento de
normas de segurança. E diz que a situação só vai mudar com conscientização de
trabalhadores, além de fiscalização e repreensão, inclusive com multas altas
contra as empresas, que são as responsáveis pelo cumprimento das regras.
APLICAÇÃO
DAS NORMAS
“A
empresa é a responsável pela aplicação das normas e tem que fiscalizar e cobrar
dos seus trabalhadores o cumprimento delas. Jogar a culpa nos funcionários
quando ocorre o acidente, ou alegar que eles acontecem por conta da baixa
escolaridade, é uma visão simplista e injusta”, diz Silva.
TAXA
EM QUEDA
O
Ministério do Trabalho e Emprego informou que houve redução na taxa de
incidência de acidentes de trabalho na construção civil, de 11,54 para 9,06
acidentes por mil trabalhadores entre 2008 e 2010. No mesmo período, a taxa de
mortalidade no setor caiu de 8,10 mortes por 100 mil trabalhadores, para 7,03
mortes.
O
ministério informou que suas fiscalizações em canteiros de obras aumentaram de
25.706 em 2001 para 31.828 em 2011 e que a construção civil tem sido a
prioridade para os cerca de mil auditores-fiscais que realizam ações de
segurança no trabalho no país. “Os
agravos à saúde e à vida do trabalhador não podem ser resumidos a fatores
isolados, especialmente quando se pensa que as empresas não têm sido
fiscalizadas”, diz o ministério em nota.
“Precisamos
destacar é que a proteção à saúde e à vida dos trabalhadores precisa ser
elevada nas empresas, pelo menos, à mesma importância que a proteção aos
lucros.” Fonte:
G1- 23 de setembro de 2012
Comentário:
■
83% das empresas da construção civil afirmam que enfrentam dificuldades com a
falta de trabalhador qualificado;
■
59% das empresas da construção civil apontam a má qualidade da educação básica
como uma das principais dificuldades para qualificar os trabalhadores.
Consequências
de acidente
■
o sofrimento de muitas pessoas, causados por mortes e ferimentos, inclusive com
seqüelas físicas e/ou mentais, muitas vezes irreparáveis;
■
prejuízos financeiros, por perda de renda e afastamento do trabalho;
■
constrangimentos legais, por inquéritos policiais e processos judiciais, que
podem exigir o pagamento de indenizações e, até mesmo prisão dos responsáveis.
No
Brasil as normas de segurança são elaboradas
para serem cumpridas, implementadas, não levando em consideração o
tamanho da empresa e seus problemas para transformar essas normas em políticas
de segurança. O Ministério do Trabalho elabora as normas e seus auditores
fiscalizam o cumprimento dessas normas na medida do possível. As normas de
segurança brasileira lembram muito a história
da criação do camelo. Reuniram-se especialistas para estudar o perfil do
cavalo. O cavalo é o protótipo do animal com força muscular de explosão, ágil e veloz. Os
especialistas analisaram o cavalo e acharam que faltava alguma coisa. Mexe
daqui, mexe dali, surgiu o camelo. As normas são semelhantes, algumas perfeitas
como o cavalo e outras como o camelo, não se sabem onde utilizar ou são
difíceis de sua aplicação prática.
Nos
USA a agência de segurança do trabalho possui um programa de segurança
específica para empresas média e pequena, onde elas solicitam suas inscrições e
recebem treinamento para implementação do programa de segurança. Nesse período
a agência não aplica nenhum tipo de sanção.São enfoques diferentes para um
mesmo problema em relação à aplicabilidade das normas. Enquanto nos USA, a
agência procura disseminar a política de segurança através de palestras,
treinamento, cooperação entre as entidades representativas, aqui no Brasil, a
nossa mentalidade é inquisitorial, isto é, investigar o cumprimento das normas
e punir.
Marcadores: acidente, construção civil, prevenção, segurança
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