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segunda-feira, agosto 12, 2024

ÓRGÃO AMBIENTAL APURA MORTE DE TONELADAS DE PEIXES EM PIRACICABA

A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) apura suspeita de crime ambiental que pode ter resultado na morte de dezenas de toneladas de peixes em Piracicaba (a 157 km de São Paulo).

Na segunda-feira (15/07), a região do Tanquã, conhecida como mini Pantanal paulista, amanheceu coberta por um tapete formado por peixes mortos. 

O órgão ambiental ainda vai avaliar a quantidade exata de animais atingidos.

SUSPEITA, USINA DE ÁLCOOL

A suspeita é que a morte dos animais no rio do interior de São Paulo possa ter sido provocada por despejo irregular de substâncias pela Usina São José S/A Açúcar e Álcool.

A empresa, em nota, nega irregularidades.

"Após cinco inspeções realizadas pela Cetesb nas dependências da usina, nada foi informado à empresa formalmente que explique o motivo ou a origem da morte de peixes registrada nos últimos dias. Insinuações de envolvimento da usina nessa ocorrência são precoces e não têm, até agora, qualquer comprovação ou fundamento", diz a companhia.

"A empresa lembra que diversos incidentes envolvendo morte de peixes no rio Piracicaba vêm ocorrendo nos últimos anos, período este que a Usina São José estava inativa, tendo retomado suas atividades somente em maio deste ano."

MULTA

De acordo com a Cetesb, a multa aplicada pode chegar a R$ 50 milhões. O valor pode ser ainda maior se as análises indicarem agravamento do dano à natureza.

INSPEÇÃO

O órgão tem realizado coletas constantes de amostras da água para averiguar a situação do rio. Na  terça, técnicos retornaram ao Tanquã para realizar nova pesquisa.

Imagens do rio mostram uma grande quantidade de peixes, de diversas espécies, mortos na superfície da água. Segundo o órgão estadual, o fenômeno decorre de um descarte irregular que pode ter sido cometido pela usina de etanol e açúcar localizada no município de Rio das Pedras, na região de Piracicaba.

O Tanquã é abastecido pelo rio Piracicaba. Segundo a prefeitura do município, a mortandade de peixes é observada em alguns trechos do rio desde o último dia 7, quando teria ocorrido o descarte da substância.

Segundo a administração, somente na última quinta (11) foram recolhidas 2,9 toneladas de peixes. A ação antecedeu a nova onda de mortes no Tanquã. Na  quinta‑feira (18/07), a prefeitura pretende começar um novo trabalho de remoção por meio de contrato emergencial com empresa especializada.

LAUDO DA CETESB

Um laudo deve ser concluído pela Cetesb até sexta-feira (19/07), indicando a substância despejada na água e a penalidade a ser aplicada. A entidade também notificou a usina para que faça a retirada imediata dos peixes do Tanquã.

O diretor de licenciamento e controle do órgão, explica que o material descartado pela empresa é 20 vezes mais poluente que esgoto bruto e resulta em diminuição instantânea do oxigênio da água.

"A carga orgânica obtida pelas amostras é muito elevada, de modo que o próprio rio não dá conta de dissolver essa poluição, sobretudo na área do Tanquã, de águas calmas, menor profundidade e menor movimentação da água que, naturalmente, promove oxigenação através do contato com a atmosfera", diz o diretor.

As últimas amostras no rio indicam 3.000 mg de O2 (oxigênio) por litro. Já a oxigenação da água no local onde aconteceu a tragédia estava inferior a 1 mg de oxigênio por litro, quando o índice ideal para a água ser considerada boa é superior a 5 mg/l.

Segundo a Cetesb, a usina tem licença ambiental para realizar suas operações até 2025, mas estava com as operações paralisadas e retomou as atividades sem notificar o órgão.

Local do descarte

O descarte aconteceu no ribeirão Tijuco Preto, que deságua no rio Piracicaba. Entre o ponto de partida do material e o Tanquã, a substância deve ter percorrido cerca de 80 km, calcula o órgão ambiental.

"O estrago não foi maior pois em outras áreas o rio tem mais corredeiras e maior capacidade de dissolver o composto orgânico. O problema se agrava mesmo em áreas onde o produto se concentra e impede a reabilitação da natureza", destaca o diretor.

A Cetesb solicitou à empresa concessionária da usina hidrelétrica Salto Grande, em Americana, o vertimento de águas de seu reservatório, para um aumento no volume de água do rio Piracicaba que pode amenizar o problema e elevar a oxigenação.

Em nota, a prefeitura da cidade disse ainda que acionou o Ministério Público Estadual para apurar o caso e que pede que a prefeitura de Rio das Pedras seja responsabilizada pela contaminação. O órgão respondeu à imprensa, durante a tarde, que vai apurar o caso.

16.jul.2024 às 19h59

MULTA APLICADA

A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) multou em R$ 18 milhões a Usina São José S/A Açúcar e Álcool, suspeita de crime ambiental pela morte de dezenas de toneladas de peixes em Piracicaba (a 157 km de São Paulo).

A aplicação de multa pelo acidente no interior de São Paulo foi divulgada pelo órgão na manhã de sexta-feira (19/07).

SUBSTÂNCIA IDENTIFICADA

Os primeiros peixes mortos apareceram no rio Piracicaba entre os dias 7 —quando ocorreu a contaminação, segundo análises— e 10 de julho. No dia 11, a prefeitura do município removeu cerca de três toneladas de peixes mortos da água.

No dia 15, a substância, agora identificada como melaço de cana-de-açúcar, atingiu uma área de preservação ambiental, o Tanquã, conhecida como mini Pantanal paulista, resultando em nova mortandade de animais.

MORTANDADE DE PEIXES

Estima-se que a tragédia tenha resultado em mais de 20 toneladas de peixes mortos. Um número mais preciso será divulgado ao decorrer do trabalho de limpeza do rio.

"A estimativa que temos para o repovoamento daquela região [do Tanquã] é de que possa demorar dez anos. Nos próximos cinco anos, as comunidades que vivem da pesca não terão a mínima capacidade de explorar o rio, tampouco o turismo. A alternativa a isso é cadastrar essas famílias e, em conjunto com estado e União, obter recursos para ajudá-las", disse o prefeito de Piracicaba. "Teremos que soltar uma média de 100 mil alevinos por ano para recuperar o rio. Isso exige estratégia, estudos, análises. Não podemos apenas chegar e soltá-los."

INQUÉRITO POLICIAL

No inquérito policial instaurado para investigar a contaminação, a polícia indica que houve vazamento de melaço da usina para o ribeirão Tijuco Preto, afluente do rio Piracicaba. "O produto é espesso e de difícil diluição", descreve o documento.

O material, uma vez no rio, teria descido cerca de 80 km, partindo de Rio das Pedras (cidade onde a usina funciona) e chegado ao Tanquã. Segundo a Cetesb, a área onde ocorreu a maior mortandade de peixes tem características geográficas que facilitaram a tragédia.

"O Tanquã é uma região de águas paradas e menor profundidade, o que contribuiu para a desoxigenação da água. O estrago só não foi maior rio acima pois o rio tem corredeiras e maior movimentação de água, o que naturalmente promove oxigenação", disse o diretor de licenciamento e controle da Cetesb.

Já no Tanquã, uma espécie de tapete foi formada pelos peixes mortos boiando na superfície. Segundo relatos de moradores e pescadores locais, o odor durante toda a semana foi piorando.

A camada formada pelos peixes mortos impede a visualização da água e é apontada como um outro problema ambiental, uma vez que prejudica a recuperação natural do rio e a oxigenação da água. Fontes: Folha de São Paulo-17.jul.2024; Folha de São Paulo-19.jul.2024 


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posted by ACCA@4:38 PM