INCA LISTA AGENTES CANCERÍGENOS RELACIONADOS AO TRABALHO
O Instituto Nacional de
Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) listou em uma publicação os agentes
cancerígenos relacionados ao trabalho. O objetivo é ajudar os profissionais de
saúde a identificar os principais agentes químicos, físicos e biológicos
presentes no ambiente geral e ocupacional, que contribuem para o
desenvolvimento de câncer.
A epidemiologista Ubirani
Otero, chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Inca, disse à
Agência Brasil que os principais cânceres relacionados ao trabalho são os de
pulmão, bexiga e, mais recentemente, linfomas e de pele não melanoma. São 38
partes do corpo que podem desenvolver o câncer, o dobro do número elencado no
livro Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho,
organizado pelo Inca, em 2012.
Entre as 38 áreas mapeadas, a
epidemiologista Ubirani Otero citou ainda o câncer de pulmão relacionado à
exposição ao amianto, câncer de ovário, laringe, faringe, de glândulas
salivares, de fígado. Segundo a epidemiologista, a prevenção aos cânceres
relacionados ao ambiente do trabalho começa pela divulgação “ao máximo” das
informações e orientações para os trabalhadores sobre onde estão esses agentes
que oferecem maior risco para a saúde. “Esses produtos poderiam ser
substituídos por outros que oferecem menor risco à saúde”, destacou a médica.
CUSTOS : Por várias razões,
entretanto, entre elas o custo menor, as empresas acabam buscando produtos que
já foram proibidos em outros países. “Isso acontece, por exemplo, com agentes
químicos que já são obsoletos em outros países e nós, aqui, ainda estamos
convivendo com eles”. A solução é informar à sociedade, ao trabalhador e aos
empregadores e estabelecer medidas protetivas de saúde para reduzir essa
exposição.
O Inca vem alertando para
esse problema há alguns anos e participa de fóruns e audiências públicas,
divulgando informações. Segundo a epidemiologista, esses são fatores de risco
evitáveis, principalmente no que se refere aos agentes químicos.
No ano passado, o Inca
revelou resultados relacionados ao benzeno, que é um solvente utilizado na
gasolina e que afeta, em especial, trabalhadores de postos de combustíveis. A epidemiologista
Ubirani Otero disse que por meio de medidas simples por parte dos empregadores,
essa exposição dos trabalhadores ao benzeno pode ser bem reduzida. “O nosso
papel é informar e dar suporte à vigilância de saúde em estados e municípios,
dizendo onde estão esses agentes, quais os riscos a essas exposições, quais os
efeitos à saúde, além da questão regulatória”.
CONTAMINAÇÃO: Ela alertou que alguns pacientes detectados com
câncer de pulmão, por exemplo, podem ter sido contaminados por agentes
cancerígenos ao longo da vida de trabalho e, por falta de notificação, muitas
vezes, essa relação só é descoberta depois que eles se aposentam. Daí a
necessidade de recuperar o histórico ocupacional porque muitos cânceres não se
revelam imediatamente. É o caso do amianto. “É um tipo de câncer que leva mais
tempo para surgir, em torno de 40 a 50 anos, e é preciso acionar a empresa onde
ele trabalhou por muitos anos na construção civil, na fabricação de telhas ou
caixas d'água. Isso aparece no histórico ocupacional”.
No último dia 27 de abril, o
Inca firmou acordo com o Ministério Público do Trabalho para o desenvolvimento
de ações, estudos e projetos conjuntos em prol do meio ambiente e da saúde dos
trabalhadores.
A epidemiologista ressaltou que o acordo tem por meta planejar e
executar um projeto nacional de vigilância do câncer relacionado ao trabalho e
ao ambiente. “Nesse acordo, a gente pretende intensificar as orientações para
os profissionais de saúde, para peritos do INSS, os próprios procuradores da
República, ajudando a identificarem os agentes cancerígenos, os tipos de câncer
atrelados a esses agentes, para que a gente possa estabelecer medidas,
começando pela melhoria da notificação desses casos”.
FATORES OCUPACIONAIS : A
maior parte dos casos de câncer diagnosticados em todo o mundo apresenta uma
relação direta com fatores de riscos ambientais, incluindo o ambiente
ocupacional. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% do
total de casos de câncer podem ser atribuídos ao ambiente como um todo, e não
só ao ambiente do trabalho. A mais recente estimativa mundial aponta que, em
2018, ocorreram 18 milhões de novos casos de câncer.
O câncer não é causado apenas
por questões genéticas ou hereditárias, afirmou a epidemiologista. “Isso não é
verdade”. De forma geral, os cânceres atribuídos a fatores ocupacionais variam
de 5% a 8%, embora existam determinados tipos de câncer em que a relação pode
ser bem maior. É o caso do câncer de pulmão, que fica em torno de 20% a 21%. O
Inca destaca que cerca de 20% dos casos desse tipo de neoplasia em homens
poderiam ser evitados caso não houvesse exposição ocupacional a um grande
número de agentes presentes nos ambientes de trabalho, entre os quais amianto,
metais, sílica, radônio, produtos da exaustão de motores a diesel.
De acordo com o Inca, os
fatores de risco ambientais envolvem, além dos agentes químicos, físicos e
biológicos, os hábitos de consumo e comportamento e o ambiente social, que
incluem alimentação, uso de medicamentos, tabagismo, consumo de álcool,
sedentarismo e obesidade.
NOVOS CASOS: Para este ano, o
Inca estima 625 mil novos casos de câncer no Brasil. “É um número absurdo”,
disse a epidemiologista Ubirani Otero. Ele destacou que do total de óbitos
relacionados a trabalho no mundo, o câncer representa 32%. “É mais importante
do que acidentes do trabalho e violência na população ativa”.
Estatística da OMS mostra
que, considerando somente as doenças não transmissíveis relacionadas ao
trabalho, o câncer foi responsável por mais da metade dos óbitos registrados em
2018, alcançando 53%. Só perdeu para as doenças respiratórias. “Agora, quando a
gente fala de incapacidade na população economicamente ativa, o câncer gerou em
2018 mais de 10 milhões de incapacidades”, informou a médica do Inca.
Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que a cada ano, no mundo, acontecem 666 mil mortes de cânceres associados ao trabalho. Esse dado representa o dobro das mortes relacionadas aos acidentes laborais. O diagnóstico e a mortalidade por câncer associado ao trabalho têm aumentado em razão do crescimento da expectativa de vida e da redução gradual de outras causas de morte, como as doenças transmissíveis e acidentes em geral. Fonte: Agência Brasil - Rio de Janeiro - Publicado em 02/05/2021 - 15:22
LIVRO SOBRE O ASSUNTO: Ambiente, Trabalho e Câncer: Aspectos Epidemiológicos, Toxicológicos e Regulatórios
O objetivo deste livro é subsidiar com informações com informações técnico-científicas relacionadas a agentes cancerígenos químicos, físicos e biológicos presentes nos diversos ambientes, profissionais de saúde dos diferentes níveis de atenção e vínculos; profissionais de outras áreas do conhecimento interessados no tema; estudantes do ensino médio à pós-graduação, para o reconhecimento dos casos de câncer que podem ter ocorrido em decorrência da exposição ambiental e no ambiente de trabalho a um dos agentes abordados na publicação.
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Marcadores: acidente, doença ocupacional
