Proteção contra arcos elétricos: Mitos e realidades
A proteção contra arcos elétricos chegou a um ponto muito
importante na indústria, semelhante à proteção contra choques elétricos. Poucos
trabalhadores do setor elétrico considerariam trabalhar em um sistema de 13.8
kV sem luvas isolantes apropriadas para essa tensão.
Da mesma maneira, muitos locais de trabalho estão se valendo
de consultores, engenheiros elétricos, fabricantes de roupas e normas técnicas
para terem um ambiente mais seguro em relação a arcos elétricos. Entretanto,
existem vários mitos que devem ser esclarecidos:
MITO: As explosões por arcos elétricos não acontecem, porque
nunca vi uma.
REALIDADE: Sendo otimistas, a maioria dos trabalhadores do
setor nunca verá um acidente com arco elétrico. Entretanto, o trabalho elétrico
é perigoso por natureza, devido aos altos níveis de energia e ao fato de que,
até que o acidente ocorra, a eletricidade é inodora, incolor e invisível. Os
eletricistas escolheram a terceira profissão mais perigosa, de acordo com
recentes estatísticas do OSHA. Foram reportados mais de 10 incidentes de arco
elétrico, que implicam em mais de 2 mortes por dia nos EUA. Estudos indicam que
até 80% das lesões de trabalhadores do setor elétrico não são devidas a choques
elétricos (passagem de corrente pelo corpo) e sim a queimaduras externas
causadas pela intensa energia radiante de um arco elétrico.
MITO: Nada pode ser feito para se proteger contra a
exposição a um arco elétrico.
REALIDADE: Muito pode ser feito para evitar um arco elétrico
e para proteger as pessoas expostas a esse fenômeno. A NFPA desenvolveu a Norma
para a segurança elétrica em locais de trabalho, NFPA 70E, para reduzir o
número de acidentes em locais de trabalho. A norma fornece um guia para a
correta seleção de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) que podem reduzir
significativamente ou evitar lesões devido a um arco elétrico. Um programa de
segurança elétrica é semelhante às quatro pernas de uma cadeira.
Cada uma delas é indispensável para se manter um local de trabalho seguro.
Cada uma delas é indispensável para se manter um local de trabalho seguro.
■Eletricista:
Qualificado e capacitado para desenvolver a tarefa.
■Engenharia
de Controle: Projeto e ajustes dos sistemas para reduzir os níveis de perigo.
■Procedimentos
de Trabalho: Procedimentos e práticas seguras de trabalho que reduzam a
possibilidade ou gravidade de um acidente.
■Equipamento
de Proteção Individual: A última linha de defesa do trabalhador; incluindo
roupa, proteção facial e luvas para a proteção contra arcos elétricos.
Retirar qualquer das “pernas da cadeira” pode resultar em
lesões graves ou morte de trabalhadores.
MITO: A vestimenta de algodão ou de outras fibras naturais
me protegerá.
REALIDADE: O algodão e a lã são definitivamente fibras
inflamáveis que podem entrar em ignição ao serem expostas à intensa radiação de
um arco elétrico. Quando a roupa entra em ignição, continua queimando sobre o
corpo do usuário, agravando e aumentando as lesões com possíveis queimaduras de
segundo e terceiro grau. Dessa maneira, o usuário pode sofrer queimaduras em
partes do corpo que não foram expostas diretamente (inicialmente) ao arco
elétrico. Enquanto a combustão do algodão e outras vestimentas inflamáveis
continua avançando por outras áreas do corpo, as lesões devido às queimaduras
aumentam. As roupas Resistentes à Chama (RRC) que cumprem com os requerimentos
das normas ASTM F1506, ASTM F1959 e NFPA 70E não entram em ignição nem
continuam queimando sobre a pele, e proporcionam proteção térmica às áreas do
corpo cobertas por ela. As roupas contra arcos elétricos são feitas com
múltiplas camadas de tecidos leves, alcançando os níveis de proteção
necessários para cobrir o largo espectro de perigos elétricos. A norma NFPA 70E
fornece um guia para a correta seleção do EPI correspondente ao nível de perigo
determinado pela tarefa elétrica a ser desenvolvida.
MITO: Os óculos de segurança protegem contra a energia
liberada por arcos elétricos.
REALIDADE: Existem diversos tipos de óculos de segurança,
mas nenhum que proteja contra arcos elétricos. A superfície das lentes cobre
uma pequena parte do rosto, e por não ter um nível de proteção contra arcos
elétricos, o usuário não pode saber com que proteção conta. Só um protetor
facial ou capuz (com nível de proteção determinado e certificado) pode oferecer
proteção contra a energia térmica de um arco elétrico, e deve ser selecionado
quando supere o nível de perigo de arco elétrico da tarefa a realizar.
MITO: Basta usar um protetor facial.
REALIDADE: Isso depende do protetor facial e do perigo ao
qual seja exposto. No mercado existem protetores faciais que contam com um
nível de proteção ATPV (Valor de Proteção Térmica contra Arco), determinado em
cal/cm² (calorias por centímetro quadrado). O nível de proteção dos protetores
faciais para arco elétrico deve ser determinado segundo o protocolo de testes
da norma ASTM F2178.
Esses protetores devem ser utilizados em todos os trabalhos
elétricos onde o perigo é superior a 1,2 cal/cm² e não supera 8 cal/cm², ou
segundo a NFPA 70E, para as Categorias de Risco/Perigo (CRP) 0, 1 e para o
nível mínimo da categoria 2 (8 cal/cm²). Apesar disso, muitos ainda utilizam
protetores faciais claros para se proteger contra arcos elétricos.
Em 2003 a Oberon Company realizou pesquisas sobre os
protetores faciais claros (transparentes) de policarbonato com proteção UV
estendida. Nessa pesquisa determinou-se que esses protetores e as viseiras
claras utilizadas em alguns capuzes não oferecem nenhum grau significativo de
proteção durante um arco elétrico. Os relatos sobre o bom funcionamento de
protetores faciais claros são contraditórios.
É possível que em alguns casos o trabalhador não estivesse
diretamente em frente da fonte no momento do arco elétrico . Ou a área do rosto
pode ter sido exposta a níveis mais baixos de energia térmica que outras partes
do corpo, causando a falsa impressão de que a proteção se deveu ao protetor
facial. Em qualquer caso, os ensaios de arco elétrico em laboratório mostraram
que mesmo a um nível muito baixo de exposição (2,7 cal/cm²), os sensores
térmicos localizados nos olhos e boca do manequim de teste indicaram
queimaduras de segundo grau.
MITO: Se uso um protetor facial, não preciso usar um capuz
ou máscara.
REALIDADE: Um protetor facial para proteção contra arcos
elétricos, classificado em termos de cal/cm², protegerá efetivamente as áreas
que cobre, ou seja, o rosto e até certo ponto a parte frontal do pescoço.
Dependendo do desenho do protetor facial, a energia de convecção pode passar
por baixo do mesmo causando queimaduras no rosto, especialmente em níveis altos
de exposição a arcos elétricos. O protetor facial também não protege as costas
nem a parte posterior da cabeça e pescoço, ao passo que um capuz protege de
maneira uniforme a cabeça e o pescoço. Segundo a NFPA 70E, o uso de protetores
faciais está limitado às tarefas até o nível mínimo da CRP 2. Para trabalhos
dentro das CRP 2, 3 e 4 é exigido o uso de capuzes.
MITO: Todos os tecidos Resistentes à Chama (TRC) são iguais.
REALIDADE: Isso não é verdade, pois há dois tipos de
tecidos:
■Tecido
Resistente à Chama Tratado Quimicamente (FRT ou RLLT)
■Tecido
Intrinsecamente Resistente à Chama (IFR ou IRLL),
O tecido FRT é de algodão comum, resistente à chama devido
ao tratamento dado ao tecido.
Pesquisas sobre o uso desse tipo de tecido demonstraram os
seguintes resultados:
■Limitações
de lavagem e manutenção: Pode perder seu nível de proteção à medida que a roupa
é lavada.
■Peso
e Produtividade: Pesam 50% mais que as tecidos IFR, contribuindo assim para o
aumento da temperatura do corpo do usuário e diminuindo sua produtividade.
■Durabilidade:
Dura até 5 vezes menos que um tecido IFR
■Reação
Exotérmica: Protege até o ponto em que o sistema químico que apaga a flama se
ativa, isto é, quando as fibras se incendeiam. Quando isso ocorre há uma reação
exotérmica, ou seja, emissão de calor. Se superar o nível de proteção das
fibras, a reação exotérmica fará com que a energia emitida, em forma de gás
quente, cause queimaduras de 2 o e 3 o grau e infecções. Quando ocorre a
reação, os gases quentes do FRT, se abaixo do nível de proteção, apagam o fogo
das fibras. Mas, se o nível de proteção for excedido, gases nocivos serão
emitidos, podendo causar também problemas respiratórios dentro do capuz e
fazendo com que o trabalhador tenha que removê-lo ainda durante a situação de
risco.
A estrutura química das fibras do tecido IFR não permite que
este se queime, e por isso seus resultados são muito mais favoráveis do que os
demonstrados pelos FRT:
■Lavagem:
Jamais perdem o nível de proteção devido à lavagem.
■Peso
e Produtividade: Pesam 50% a menos que os FRT, permitindo ao usuário realizar
suas tarefas de forma mais conveniente e segura.
■Durabilidade:
Podem durar até 5 vezes mais que os tecidos FRT.
■Reação
Exotérmica: Não ocorre em tecidos IFR.
Além disso, os tecidos IFR foram desenvolvidos para roupas
contra arcos elétricos, sendo a única linha de EPIs, em âmbito mundial,
desenvolvida com materiais exclusivos para este fim. Por outro lado, as roupas
FRT utilizam tecidos provenientes de outras aplicações, adaptados à proteção
contra arcos elétricos, trazendo consigo os aspectos negativos mencionados
anteriormente.
MITO: ATPV = Proteção 100% .
REALIDADE: ATPV, ou “Valor de Proteção Térmica ao Arco”, é a
classificação dada aos tecidos, protetores faciais, uniformes e roupas contra
arcos elétricos. Sua unidade de medida é cal/cm². O recém aprovada método de
ensaios ASTM F1959 define ATPV como “a energia incidente sobre um tecido ou
material que cause uma transferência de energia através da amostra testada suficiente
para que haja 50% de probabilidade de que ocorram queimaduras de segundo grau”.
Não obstante, o novo método analítico de ensaios de arco elétrico da ASTM
F1959, fornece valores de energia incidente em cal/cm² que resultam em menores
probabilidades de queimaduras de segundo grau. Os valores de proteção
apresentados por este método variam entre 40% e 1% de probabilidade de
queimaduras. O usuário do EPI não deveria escolher a roupa com base em uma
probabilidade de 50% de ocorrerem queimaduras de segundo grau no momento do
acidente, e sim numa que não apresente possibilidade de queimaduras.
MITO: A vestimenta aluminizada é uma alternativa efetiva
para a proteção contra arcos elétricos.
REALIDADE: A vestimenta aluminizada é efetiva como barreira
contra a energia radiante em uma exposição a arco elétrico, mas por ser o
alumínio um bom condutor de eletricidade, o tecido aluminizado pode aumentar a
probabilidade de que aconteça um acidente de arco elétrico. A Oberon já
demonstrou em provas de arco realizadas no laboratório Kinectrics, que os
tecidos aluminizados podem dar início a um arco elétrico, reduzindo a distância
entre os eletrodos utilizados no método de prova ASTM F1959. Da mesma maneira,
os tecidos aluminizados podem causar o início de um arco elétrico ao reduzir o
espaço de ar (isolamento) entre os condutores de um equipamento ou sistema
elétrico.
MITO: Se consigo identificar a Categoria de Risco de minha
tarefa utilizando as Tabelas 130.7(C)(11) e 130.7(C)(9)(a) da NFPA 70E, então
posso usar esses resultados para determinar que EPI devo utilizar, e não
preciso fazer a análise de riscos de arco elétrico.
REALIDADE: Se todas as variáveis da Tabela 130.7(C)(9)(a)
forem idênticas às de sua rede elétrica, então você pode utilizar os
resultados. A Tabela 130.7(C)(11) de CRP e de valores de cal/cm², e a Tabela
130.7(C)(9)(a) de tarefas elétricas, foram incluídas na NFPA 70E como exemplo
para facilitar a seleção do EPI de acordo com a tarefa a ser realizada.
Infelizmente, na maioria dos casos os exemplos da norma não se assemelham aos
casos do dia-a-dia na indústria. É por isso que a NFPA 70E ressalva que em caso
de uma variável ser diferente (ex.: distâncias de trabalho, correntes de falha,
tempos de ação das proteções, etc.) os níveis de energia do arco elétrico podem
aumentar, tornando insuficiente o EPI recomendado na Tabela 130.7(C)(11), e
pondo em perigo o trabalhador.
A NFPA 70E recomenda que se faça uma análise de risco em
cada lugar de trabalho, utilizando as variáveis daquela instalação específica e
aplicando as fórmulas oferecidas pela norma. Para fazer a análise de risco,
existem as seguintes alternativas: utilizar uma planilha de cálculos baseada
nas fórmulas da NFPA 70E (IEEE 1584), contratar empresa especializada ou
utilizar um dos vários softwares disponíveis no mercado.
Há um ditado na indústria que diz: “A segurança não acontece
por acidente”, devemos obter o conhecimento, nos educar, treinar e utilizar o
EPI correto. Isso fará a diferença entre voltar para casa esta noite…ou não. Fonte: NFPA Journal Latinoamericano - Por Alejandro M. Llaneza,
Patricio M. Llaneza, Randell B. Hirschmann & Thomas E. Neal
Demonstração de arco elétrico
Marcadores: choque elétrico, elétrica, segurança
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