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quarta-feira, março 27, 2013

Soda cáustica em lotes do suco AdeS

Uma falha no processo de higienização fez com que a Unilever Brasil recolhesse lotes do produto AdeS maçã 1,5 litro. Segundo nota divulgada na quarta-feira, 13 de março, a falha causou alteração no produto devido ao envase de embalagens com solução de limpeza da máquina, que pode provocar queimadura. O lote em questão tem iniciais AGB, foi fabricado em 25 de fevereiro de 2013 e é válido até 22 de dezembro de 2013.

Os consumidores que tiverem produtos desse lote não devem consumi-lo e devem entrar em contato com o SAC (0800/707/0044), das 8h às 20h, ou sac@ades.com.br.

Os produtos do lote com problema foram distribuídos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Até o momento, oito pessoas relataram problema pelo SAC e, segundo a Unilever, cinco já receberam atenção médica adequada e estão sendo acompanhados, dois não aceitaram e um não relatou danos físicos.

CONSUMIDORES INGERIRAM O SUCO
Pelo menos catorze pessoas consumiram alguma unidade do lote contaminado com produto de limpeza do suco AdeS de maçã. Segundo a Unilever, dona da marca, os clientes foram atendidos por meio do Serviço de Atendimento do Consumidor (SAC) da empresa e doze deles receberam cuidados médicos e passam por acompanhamento. Dois consumidores que relataram o problema à empresa não quiseram ser atendidos.

FISCALIZAÇÃO
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitou que a Vigilância de Minas Gerais realize inspeção no local de fabricação do produto.

ANVISA SUSPENDE VENDA DE LOTES DE TODOS SABORES DO SUCO
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou em 18 de março, a suspensão da fabricação, distribuição, venda e consumo, em todo o Brasil, de lotes de 25 sabores dos sucos de soja AdeS. Os lotes foram produzidos em uma das 11 linhas de produção da fábrica da Unilever em Pouso Alegre (MG). Todos os lotes suspensos são de iniciais AG.  Em vez do suco, as caixas tinham sido envasadas com soda cáustica, o que pode causar queimaduras. Dessas, 36 caixas já foram recolhidas.

Segundo a Anvisa, embora a fabricante tenha relatado falha no processo de higienização das máquinas e problemas específicos no lote do suco de maçã, a agência decidiu suspender os lotes de todos os sabores produzidos na linha de produção em que foi identificada a falha até que tenha "mais informações sobre a verdadeira extensão do problema". A agência informou que a ação é "preventiva" e que o caso está em investigação.
Foram suspensas as vendas das embalagens de um litro de abacaxi, cereais com mel, chá verde com tangerina, chá verde com limão, chocolate clássico, chocolate com coco, frapê de coco, laranja, maçã, manga, maracujá, melão, morango, original, pêssego, shake morango, uva, vitamina banana, zero frapê de coco, zero laranja, zero maçã, zero original, zero pêssego, zero vitamina banana e zero uva. A medida atingiu ainda as embalagens promocionais de um litro (pague 900ml e ganhe outros 100ml) de laranja, uva e maçã. Também estão suspensas as vendas de 1,5 litro de maçã, uva, laranja e original. Em todos os casos, são as embalagens da série AG.

Em nota, a Unilever afirmou que iniciou o cumprimento das determinações da Anvisa, com a retirada do mercado das unidades da linha de produção interditada pela agência. Afirmou, ainda, que vai fornecer as informações necessárias para revogar a interdição. Segundo a Unilever, essa linha de produção está desativada e a distribuição ao mercado dos sucos fabricados nela não ocorre desde o dia 13.

MULTA
A Unilever pode ser multada em até R$ 7,7 milhões pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça (MJ), pela comercialização de embalagens do suco de maçã AdeS de 1,5 litro impróprias para o consumo. Depois de uma reunião de mais de duas horas com representantes da fabricante, na sede do MJ, a gerente-geral de alimentos da Anvisa, Suzany Moraes, afirmou que a empresa relatou falha humana e em equipamentos no episódio que levou ao envasamento de soda cáustica num lote de 96 caixas de suco de maçã, distribuídas em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Dessas, 36 foram recolhidas.

Segundo a gerente-geral de alimentos da Anvisa, Suzany Moraes, por parte da Anvisa, a multa pode chegar a R$ 1,5 milhão, se forem constatadas falhas no processo produtivo ou ausência das chamadas "boas práticas de fabricação". Já o Ministério da Justiça pode aplicar uma sanção de até R$ 6,2 milhões, se forem confirmadas violações às normas estabelecidas no Código de Defesa do Consumidor (CDC). O diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), Amaury Oliva, disse que, até o momento, a Unilever tomou a medida prevista em lei, de anunciar o recall, após receber reclamações de consumidores que teriam sofrido queimadoras após ingerir o alimento.

CASOS REGISTRADOS DE QUEIMADURA
■ A polícia de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, confirmou que na noite do último dia 8, uma semana antes do anúncio do recall da Unilever, uma dona de casa registrou, no 4º Distrito Policial da cidade, um boletim de ocorrência por lesão corporal, relatando que o filho de 17 anos sofreu queimadura e sangramento na boca após tentar beber suco de maçã AdeS. Segundo a advogada Renata Moreira da Costa, que representa a família, o adolescente precisou de atendimento médico após o incidente. Ela afirmou também que a consumidora, ao constatar a gravidade do problema, avisou à Vigilância Sanitária e entrou em contato com o Serviço de Atendimento ao Cliente da Unilever. Logo que colocou a bebida na boca, ele sentiu forte queimação na língua e na garganta, e cuspiu. A boca chegou a sangrar e a mãe, preocupada, levou o rapaz ao hospital. Agora, ele está se recuperando, mas não é impossível que fique com alguma sequela, como perda do paladar - informou Renata.

■ Na capital paulista, André Miranda, pai de um bebê de oito meses, também suspeita de que seu filho tenha sido vítima do AdeS contaminado com soda cáustica. A criança apresenta lesões, próximas à boca e em outras partes do corpo,que foram identificadas como queimadura ou urticária na emergência do hospital e pelo pediatra. Ele tomou, pela primeira vez, um suco AdeS neste fim de semana e no domingo as lesões apareceram. Como a única coisa diferente na dieta dele foi o AdeS os médicos acharam que seria a causa mais provável. Mas como o sabor era morango e, num primeiro comunicado, a empresa falava apenas no suco de maçã, não fizemos relação e nem ligamos para o SAC - conta Miranda, lamentando não ter guardado a embalagem para confirmar a suspeita.

VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE MG CONFIRMA PRESENÇA DE SODA CÁUSTICA
 A Secretaria de Saúde de Minas Gerais concluiu que houve falha no momento em que o líquido foi colocado na embalagem (envasamento) de 96 unidades de suco de soja AdeS, sabor maçã, na fábrica da Unilever Brasil em Pouso Alegre (390 km de Belo Horizonte). As unidades, segundo relatório divulgado pelo órgão no final da tarde de sexta-feira (22 de março), foram afetadas por hidróxido de sódio a 2,5% --soda cáustica diluída.

De acordo com o relatório, as equipes das duas vigilâncias sanitárias apontaram que a falha se deu durante o processo de envasamento da unidade de 1,5l do suco de maçã, no lote AGB 25, realizado no último dia 25 de fevereiro e com validade até 22 de dezembro deste ano.

Conforme a inspeção, o estoque de suco no tanque que alimentava a linha de envase estava reduzido, situação característica de fim do processo de envazamento e do momento em que ocorre a limpeza automática –procedimento chamado de CIP (Clean in Place).

De acordo com o relatório, 96 caixas de suco de 1,5 litro receberam hidróxido de sódio em vez de suco. Diz o relatório: "No entanto, o equipamento foi acionado novamente para o processo de envase. A solução de hidróxido de sódio a 2,5% é utilizada nesse processo de limpeza, e, considerando que existiam ainda embalagens na linha, foram envasadas 96 unidades com hidróxido de sódio, e não do (sic) suco alimento em soja --AdeS, sabor maçã de 1,5l. A empresa não constatou o desvio e o produto foi disponibilizado ao mercado".

MEDIDAS DE ENVASAMENTO IMPOSTAS À UNILEVER
A Secretaria de Saúde de Minas Gerais apontou cinco procedimentos que devem ser adotados pela Unilever e que foram colocados como condições para que a empresa possa voltar à produção da linha afetada.

Entre as medidas necessárias, estão;
1) a revisão completa "de todos os equipamentos, sensores, software do processo AdeS",
2) o aumento do número de amostras coletadas durante o processo de envase;
3) a alteração do período de retenção dos produtos acabados antes da liberação ao mercado; 
4) a revisão e implementação "de procedimento de liberação da produção após o sistema de higienização"
5) e a introdução "de dossiê diário de liberação de qualidade – liberação formal com assinatura dos gerentes."

HOUVE UMA CADEIA DE ERROS
Foi uma combinação de falha humana e mecânica.
■ Primeiramente, o operário não detectou o final da produção de um lote.
■ Depois, colocou o equipamento para funcionar de novo.
■ E o equipamento permitiu o envaze de uma solução de limpeza.
■ Por fim, o próprio operário percebeu o erro, e não recolheu os produtos.

50 UNIDADES CONTAMINADAS AINDA CIRCULAM
A Unilever Brasil informou que pelo menos 50 unidades de suco AdeS contaminadas pela solução de limpeza ainda estão em circulação em cidades dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. De acordo com o fabricante, 46 das 96 unidades atingidas pelo recall no último dia 14 foram retiradas do mercado.

A UNILEVER RECONHECE ERROS E PEDE DESCULPAS A CLIENTES
O envase de 96 unidades de suco AdeS com uma solução de soda cáustica foi resultado de uma combinação de falha humana e mecânica que durou 80 segundos, O operário não detectou o final da produção de um lote e colocou o equipamento para funcionar de novo. E o equipamento permitiu o envase de uma solução de higienização, disse  o presidente da Unilever, com Fernando Fernandez.
Temos que pedir desculpas. O AdeS no Brasil tem uma história de 15 anos que não merece um problema como esse. É a primeira vez em seus 83 anos no Brasil que a Unilever encara um problema de saúde pública, afirma Fernandez, que diz ter redobrado procedimentos de segurança.
Quatro mil pessoas, entre vendedores e operadores de estoque, foram mobilizadas para rastrear em três Estados (São Paulo, Rio e Paraná) as 96 unidades contaminadas -46 foram localizadas.

DEMORA PARA DIAGNOSTICAR O PROBLEMA
Após ter sido notificada por sua Central de Atendimento ao Consumidor, a Unilever demorou quatro dias para diagnosticar o problema.
A empresa recebeu e-mail de um cliente de Ribeirão Preto reclamando de ardência na boca no dia 7. Tentou contato no dia seguinte, mas só conseguiu localizar o consumidor e combinar o recolhimento do produto no dia 9.
A coleta foi feita no dia 11, e a análise, no dia 12. O anúncio público do recall e a retirada do produto das gôndolas viria no dia 13.

REGISTROS: CINCO CASOS DE ALIMENTOS COM PROBLEMAS DE FABRICAÇÃO

1) AdeS com gosma - novembro de 2012
O mesmo suco AdeS, que recentemente teve um lote interditado, foi vítima de outra polêmica, dessa vez com forte colaboração das redes sociais. A consumidora Ursula de Almeida postou uma foto onde mostrava uma "gosma" que havia saído de uma embalagem do produto. A foto gerou mais de 226 mil compartilhamentos no Facebook e obrigou empresa a se manifestar sobre o assunto. A Unilever analisou o lote do produto e disse que não verificou nenhuma irregularidade. Segundo a empresa, a embalagem pode ter recebido microfuros devido a transporte ou armazenamento inapropriados, o que pode levar à formação de bolor ou fungo.

2) Heinz com pelo de rato - Fevereiro de 2013
A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor - Proteste encontrou pelos de roedor no lote 2C30 do Tomato Ketchup Heinz, de 397 gramas. Segundo a entidade, os pelos foram detectados após análise microscópica em amostras compradas em um supermercado de São Bernardo do Sul, no interior paulista, no fim do ano passado. A Proteste pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a retirada preventiva do mercado do lote, mas o órgão considerou os laudos insatisfatórios. A Heinz negou as irregularidades e questionou os testes.

3) Chocolate com larvas - fevereiro e março de 2012
Em 2012, a Kraft Foods Brasil foi condenada a pagar indenização a três consumidores que encontraram larvas em chocolates Shot e Ouro Branco. No Rio de Janeiro, o problema rendeu indenização de R$ 30 mil a uma cliente.
No Estado de São Paulo, dois casos renderam uma indenização de R$ 5 mil cada. Em São Carlos, um cliente percebeu que uma barra do chocolate Shot continha larvas. O consumidor chegou a procurar um pronto-socorro por ter passado mal após a ingestão do produto.
Em São José dos Campos, uma cliente processou a Kraft após sua filha ter apresentado quadro de indisposição intestinal. A criança havia consumido um chocolate Ouro Branco.

4) Toddynho com detergente - setembro de 2011
A PepsiCo foi multada em R$ 420 mil após um lote de Toddynho ter causado ardência e irritação na mucosa de consumidores do Rio Grande do Sul. Análises indicaram um pH de 13,3 alcalino em cerca de 80 unidades do produto, considerado muito alto para um alimento. A empresa afirmou que, durante limpeza de equipamentos na fábrica, "uma das linhas envasou algumas embalagens" com uma mistura de água e detergente.

5) Molho de tomate com sapo - março de 2013
Uma moradora de Franca, no interior paulista, se deparou com um objeto estranho ao despejar o conteúdo de molho de tomate numa panela em seu interior. A dona de casa Solange Aparecida Borges procurou a Vigilância Sanitária. O objeto estranho foi identificado como sendo um sapo, mas os fiscais sanitários disseram que pouco poderiam fazer porque a embalagem já havia sido aberta. Segundo a empresa, o que pode ocorrer é entrar ar na embalagem, até mesmo quando ela já se encontra dentro do carrinho no supermercado. "Aí o ar causa bolor gerando um aspecto estranho", disse um funcionário. A hipótese de o corpo estranho ser um pedaço de sapo foi descartada pela empresa.

Fontes: O Globo, Gazeta do Povo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e UOL Noticias, 14 de março a 20 de março de 2013
  
Comentário
A empresa demorou 4 dias para diagnosticar o problema. Deixou por conta do SAC. A empresa não estava preparada para a crise que ocorreria.

A linha de produção de indústrias de bebidas vendidas em caixinha geralmente usa equipamento fornecido pela empresa de embalagens. No Brasil, a sueca Tetra Pak e a suíça SIG Combibloc dominam o mercado. Para garantir os padrões de qualidade, as fabricantes das máquinas dão uma série de recomendações às empresas.

Quando é preciso parar a produção de um produto e começar o envase de outro, de outro sabor, por exemplo, a máquina (de produção de bebidas em caixinha) precisa ser parada e passar por um processo de limpeza, no qual são usados produtos químicos como cloro e soda cáustica. Só fica resíduo se essa limpeza for mal feita ou em desacordo com as instruções do fabricante do equipamento.

Quarentena do produto
Além disso, a "flexibilização" das normas de produção pode explicar os problemas. A empresa dona do equipamento recomenda que o primeiro lote produzido depois da limpeza da máquina passe por uma espécie de "quarentena" de uma semana, de 72 horas ou de no mínimo 48 horas.
Parte desse primeiro lote, deve ir para laboratório para ser analisado. Nesse período, o produto fica em estoque e em observação.

Sistema CIP (Clean in place) – Limpeza em circuito fechado em equipamentos de esterilização e envase de produtos
 Na indústria de alimentos que envasam produtos líquidos como leite, sucos, cerveja e outras bebidas, O sistema CIP é um método usado nestas plantas de processamento de alimentos para a limpeza das máquinas de envase e equipamentos de processamento, como os tubos sanitários, tanques, tanques assépticos e trocadores de calor, etc. circulando-se e recirculando-se automaticamente detergentes e soluções de enxágue ate a limpeza total e sanitização em circuito fechado, ou seja, sem a mínima remoção de componentes do sistema para esta tarefa. O processo de lavagem consiste em diversos ciclos de lavagens que são recirculados através dos tanques, bombas, das válvulas e do outros equipamentos no fluxo do processo. Por tanto, trata-se de um sistema inteligente que faz ajustes contínuos nas operações de modo a garantir os mais elevados níveis de desempenho, com um sistema de automação com IHM e PLC de ultima geração, que reduz com precisão o risco de erro humano, sem nunca comprometer os níveis de segurança dos alimentos. Sendo necessário somente um ou dois detergentes para a limpeza. Possuindo em alguns casos 14 programas de limpeza totalmente ajustados às demandas de tempo, temperatura, concentração, fluxo e volume, etc. que poderão ser reprogramados segundo as necessidades de produção da indústria.  A limpeza CIP é um sistema concebido para limpar 100% o interior de equipamentos, tubulações e tanques de armazenamento, através da remoção de resíduos de alimentos e bactérias.

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posted by ACCA@4:47 PM