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sábado, dezembro 15, 2012

Dobra o número de empresas que exigem antidoping aos funcionários

Um teste de conhecimentos gerais, uma dinâmica em grupo, uma prova dissertativa e duas entrevistas. Depois disso, o processo de admissão para a vaga de engenheiro químico em uma indústria de fertilizantes em Cubatão (SP) parecia concluído. "Mas fui avisado de que deveria fazer o teste de drogas", lembra o então candidato, de 27 anos, que preferiu não se identificar.

EXIGÊNCIA POR EXAMES TOXICOLÓGICOS
A exigência por exames toxicológicos está cada vez mais comum entre empresas brasileiras. Levantamento feito pela Revista São Paulo  com dados do Laboratório de Análises Toxicológicas da USP e do Maxilabor -os únicos que realizam todo o procedimento em território nacional, inclusive para outros laboratórios- aponta que o número de empresas que monitoram o consumo de drogas entre funcionários e candidatos a vagas de emprego mais que dobrou neste ano em relação a 2011. Consequentemente, também cresceu o número de testes realizados e positivos flagrados em 2012.

NÃO É ETICAMENTE ACEITÁVEL
O aumento na procura dos exames motivou o Conselho Federal de Medicina a emitir, no mês passado, um parecer sobre o tema. "Não é eticamente aceitável", diz Hermann von Tiesenhausen, conselheiro e relator do parecer 26/12, que considera o exame "invasão de privacidade". O argumento também é defendido por juristas contrários ao antidoping corporativo.

EXAME TOXICOLÓGICO
Realizado por uma empresa brasileira pela primeira vez em 1992, o exame toxicológico é capaz de detectar a ingestão ou a exposição a substâncias tóxicas ou drogas, por meio de análise com fluidos corporais ou amostras biológicas. No país, os testes com urina, saliva e pelos são os mais usados. O consumo de até dez drogas pode ser verificado.

Até novembro, cerca de 500 empresas haviam contratado os serviços do Maxilabor e da USP. Em 2011, foram 230. Pelas contas de Maurício Yonamine, diretor do laboratório da USP, o Estado de São Paulo responde por 40% da demanda. "Principalmente as empresas de transporte rodoviário."

Além delas, a indústria e os setores de segurança e aviação são os que mais monitoram os empregados. Concursos públicos como o da Polícia Federal e o do Corpo de Bombeiros também exigem o antidoping.

USO DE COCAÍNA
"Precisei fazer o teste no pré-admissional", conta um piloto de avião, de 30 anos, que também preferiu manter o anonimato. "Uma semana antes [do teste], havia cheirado cocaína. Estava tenso. Achei que seria pego, mas não deu nada", diz ele, que foi contratado por uma empresa de aviação comercial que atua em São Paulo.

EXAME OBRIGATÓRIO- ANAC (AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL)
Uma resolução de 2011 da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) prevê exames antidoping para pilotos, mecânicos e outros profissionais do setor. As empresas têm até o segundo semestre de 2013 para iniciar os testes.

FLAGRANTE
Neste ano, 53.400 exames toxicológicos foram feitos no Brasil. Quantidade expressiva se comparada aos cerca de 20 mil feitos em 2011, mas pouco significativa em relação ao 1,5 milhão de exames anuais dos EUA, segundo o Instituto Brasileiro de Estudo e Avaliação Toxicológica. Como no caso do piloto e do engenheiro entrevistados, "cerca de 40% dos testes são feitos na admissão", afirma Anthony Wong, toxicologista e diretor do Maxilabor.

Apesar de não responderem pela maioria dos exames, os aspirantes a uma vaga são os mais flagrados --até 27% dos candidatos são descartados pelo uso de ilícitos. A incidência é bem inferior entre os funcionários submetidos ao antidoping rotineiro, 4,3%.

A cocaína e seus derivados (crack e oxi) lideram as ocorrências de flagrante. Entre os candidatos a uma vaga, 71% daqueles cujo resultado deu positivo são pegos com uma ou mais dessas substâncias. Já entre os contratados, a média é de 25%. "A maconha vem em segundo", diz Wong.

Para o presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, Claudio Peron Ferraz, o exame, para seleção, fere o direito do indivíduo. "Viola o direito à intimidade de cada um." No entendimento do jurista e de Estevão Mallet, professor de direito trabalhista da USP, esse antidoping quebra o sigilo médico do paciente.

Para Mallet, caso alguém seja flagrado, a informação pode ser repassada para profissionais não médicos. "Não há problema na comunicação entre médicos, mas outros profissionais podem saber [do resultado]", explica ele, que admite que a discussão sobre os exames é controversa.

Os laboratórios garantem o sigilo dos pacientes, já que a pessoa é identificada por um código de barras.

EXAME NÃO É ANTIÉTICO
"O exame não é antiético, porque não há uso seguro de droga. O impacto do uso individual reflete na coletividade", rebate Ana Cecília Marques, psiquiatra da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas. Parte da polêmica pode ser atribuída à falta de leis. "Nossa legislação trabalhista é um tanto defasada", diz Mallet. A lacuna jurídica também cria situações "delicadas".

COAÇÃO
Um empregado em uma metalúrgica de Piracicaba (SP) afirma que "mesmo não consumindo drogas" sente-se coagido. "Não posso negar. O que a empresa vai pensar caso não faça o teste?", diz ele, 43, que faz exames de urina rotineiramente.

Evitar a "coação" é outra justificativa do Conselho Federal de Medicina contra o exame. E, apesar da falta de amparo jurídico, o conselho diz que a exigência dos exames por médicos das empresas é passível de punição. "São cinco penas que podem ser aplicadas ao médico: advertência confidencial, censura confidencial, censura pública, suspensão do exercício profissional até 30 dias e a cassação do médico", explica Von Tiesenhausen.

O laboratório da USP, há 20 anos no mercado, e o Maxilabor, há 13 anos, contam que nunca foram acionados na Justiça por um flagrante. Ao contrário da atitude dos americanos, no Brasil o positivo não costuma resultar em demissão. Só uma pessoa, diz Wong, foi demitida após exame no Maxilabor.
Fonte: Folha de São Paulo - 09/12/2012

Comentar:
Esses exames são tão importantes, que deveriam ser tornados obrigatórios em todas as contratações e periodicamente  em datas sorteadas aleatóriamente. Leis deveriam ser criadas a fim de impedir que pessoas sob efeito de drogas pudessem pilotar, dirigir ou operar máquinas que pudessem provocar acidentes com vitimas. Silvano Campini

Os direitos privados,  individuais e confidenciais devem ser garantidos desde que não coloquem em riscos terceiros. A liberdade de um termina quando coloca em risco o outro.
A função da empresa não é social, pode ter políticas sociais para os trabalhadores gerados pelo resultado da empresa.
A própria justiça considera  que o drogado  em razão da dependência ou sob o efeito de drogas é  inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato. Como a empresa pode contratar  uma pessoa que não sabe avaliar o grau de risco que ela pode ocasionar a terceiros ou a equipe de trabalho?
Suponhamos que durante a contratação a empresa detecta que o trabalhador é viciado, a empresa deve contratar e encaminhar para tratamento? Ele é contratado por uma função, mas por causa do problema a empresa deve arranjar outra função?
Qual é o custo do empregado contratado, que ainda não produziu,  utilizar os  benefícios  médicos da empresa?
De quem é a responsabilidade de um trabalhador sob efeito de drogas causar acidente fatal?
De acordo com o Código Civil, o empregador responde pelos atos de seus empregados independentemente de culpa de sua parte.

Abuso de álcool e outras drogas no local de trabalho Impacto sobre os custos do seguro de indenização de Trabalhadores e os lucros da empresa
■75,2% dos usuários de drogas ilícitas estão empregados
■19,1 milhões de americanos atualmente são usuários de drogas ilícitas
■77,6% dos adultos classificados como usuários/dependentes de substâncias estão empregados
■35% dos funcionários já presenciaram ou ouviram falar do uso de drogas no local de trabalho
■11% dos funcionários já tiveram ofertas de drogas no trabalho
■Os resultados positivos em testes para detecção de anfetamina aumentaram 85% entre 2001 e
2005
■Em 2003, os resultados positivos em testes para detecção de anfetamina aumentaram 44% em relação a 2002
■48% de todas as emergências relacionadas com drogas nos hospitais envolveram pessoas de 35
a 44 anos de idade
■40% dos acidentes fatais e 47% dos ferimentos nas indústrias podem estar associados ao consumo de álcool e ao alcoolismo
■Familiares de pessoas alcoólatras usam 10 vezes mais licenças médicas que os membros de famílias em que o alcoolismo não está presente
■Estima-se que o abuso de drogas custe anualmente aos Estados Unidos entre US$ 60 bilhões e
US$ 100 bilhões
■Testes aleatórios diários e mensais identificam usuários de drogas em 93% das vezes
■Quando comparados com funcionários que não têm problemas de abuso de substâncias, os alcoólatras têm 2 vezes mais probabilidades de serem hospitalizados por ferimentos; os usuários de drogas, 3 vezes mais; e os usuários de álcool e drogas, 4 vezes mais.
O uso de álcool e outras drogas pelos funcionários custam ao empregador tempo de trabalho, produtividade, indenizações aos trabalhadores e prêmios de seguro-saúde mais altos e redução nos lucros.

Funcionários que consomem álcool ou outras drogas comprometem seu desempenho no trabalho. Comparado com o funcionário médio, o típico usuário de drogas “recreacionais”
no local de trabalho tem:
■2,2 vezes mais chances de pedir afastamento ou demissão precoce
■2,5 vezes mais chances de se ausentar do serviço por 8 (oito) dias ou mais
■3 vezes mais chances de chegar atrasado no serviço
■3,6 vezes mais chances de ferir-se ou ferir seus colegas no local de trabalho
■5 vezes mais chances de envolver-se em acidentes fora do local de trabalho
■5 vezes mais chances de entrar com pedidos de indenização
■Produtividade um terço menor
■Possibilidade de gerar custos médicos 300% mais altos

Resultados de um estudo de 5 anos sobre testes para Detecção de drogas no setor de construção civil
■A empresa de construção civil média observou uma redução de 51% nos acidentes de trabalho em um período de 2 anos da implementação de um programa de testes para detecção de drogas.
■As empresas de construção que utilizaram um programa de testes tiveram uma redução de 11,41% no fator de modificação do prêmio de seguro com base no histórico de indenizações de trabalhadores.
■O teste para detecção de drogas reduziu o fator de modificação do prêmio de seguro de forma mais eficaz nos primeiros 3 anos após a implementação do programa.
■ 72% dos participantes do estudo com programas de teste afirmaram que os benefícios superaram os custos do programa.
■  No geral, os executivos das empresas participantes acreditavam que o teste para detecção de drogas tivera um impacto positivo na imagem da empresa e que é um meio eficaz para prevenir o abuso de drogas.
■ A maioria dos que responderam ao estudo, quer tivessem ou não utilizado testes para detecção de drogas, concordava que o abuso de substâncias é um problema “razoavelmente sério” no setor da construção civil.
■ O estudo também revelou que as empresas de construção maiores têm probabilidade significativamente maior de adotar um programa de testes para detecção de drogas e álcool. Isso deixa as firmas menores, sem programas de teste, vulneráveis aos usuários de substâncias.
Fonte: The Arizona High Intensity Drug Trafficking Area (HIDTA)

Dados do Brasil
Informações fundamentais sobre drogas nas empresas
1. 15% dos profissionais brasileiros são dependentes de drogas e álcool.  
2.  Estes funcionários faltam o triplo do funcionário comum.  
3. A produtividade é até 30% menor que o funcionário comum.  
4. O risco de acidentes de trabalho é 5 vezes mais elevado.
5. “Empregados com esse perfil colocam em perigo os resultados do trabalho, a vida deles e de outras pessoas, e consequentemente a imagem da empresa”.  
6. O uso de drogas no ambiente de trabalho no Brasil representa um custo anual em torno de US$ 19 bilhões,em termos de perdas patrimoniais,furtos,acidentes e despesas médicas.
7.   65% dos acidentes de trabalho estão relacionados ao uso de drogas.
10.  Os resultados da prevenção e tratamento indicam redução de 91% de faltas, diminuição de 88% de problemas disciplinares, 93% menos erros de trabalho e   redução de 97% de acidentes de trabalho.  Fonte: Revista Brasileira de Toxicologia 

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posted by ACCA@12:06 PM