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terça-feira, julho 17, 2012

Riscos na produção de carvão vegetal

Todos os sentidos do observador são tocados ao se aproximar de uma carvoaria. Em um local plano, escolhido por exigência do processo em meio à mata, depara-se com a fileira de fornos semelhantes a iglus envolvidos pela fumaça, cujo cheiro forte faz arder os olhos e impregna tudo e todos ao redor. Pilhas de madeira esperam a vez de ir para o forno e montes de carvão, às vezes, ainda fumegantes, pelo ensacamento. Os trabalhadores, geralmente seminus, têm o corpo coberto pela fuligem e deles, muitas vezes, somente se vêem os olhos e os dentes.

A maneira pela qual os carvoeiros organizam o trabalho é variável: individual e solitário, ou em duplas. As principais funções no processo são as de forneiro-carvoeiro e de carbonizador-barrelador. No sistema de produção familiar, as crianças desde muito cedo, aos quatro, cinco anos, quando começam a andar com mais desenvoltura, acompanham os pais, especialmente as mães, às carvoarias e “brincam” de ajudar a encher o forno. Em torno de seis a sete anos, algumas delas já conhecem todo o processo, e aos 12, 13 anos assumem todas as tarefas, sem distinção de sexo. As mulheres são, geralmente, poupadas de algumas tarefas como o esvaziamento do forno; porém, observaram-se adolescentes do sexo feminino e mulheres jovens desempenhando todas as funções, além de acumularem as responsabilidades pelas tarefas domésticas, caracterizando uma dupla jornada de trabalho.

Nas carvoarias volantes, os trabalhadores moram ou ficam alojados próximos aos fornos, em instalações improvisadas, cobertas por lonas, dormem em catres e não dispõem de condições mínimas de higiene e saneamento básico. É comum uma família e alguns agregados dividirem o trabalho e a moradia.
O fluxograma da produção do carvão vegetal está representado na Figura.

O processo compreende seis fases principais, que podem ser desdobradas em etapas ou subfases. A rigor, o plantio e o cultivo do eucalipto também devem ser considerados como fases do processo; todavia, não foram detalhados neste estudo, pois, naquele momento, não estavam sendo processados na região. Entretanto, muitos dos trabalhadores entrevistados participaram dessa fase e a descreveram como desconfortável e perigosa para a saúde, notadamente pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, destacando o emprego de crianças.

Corte e transporte da madeira
De modo esquemático, o processo de produção de carvão se inicia com o corte da madeira
da mata nativa ou de florestas homogêneas de eucalipto, utilizando ferramentas manuais como foice e machado, ou mecânicas como a moto-serra, dependendo dos recursos do empregador ou contratador do trabalho. Cortada a lenha, ela é “lerada”, ou seja, os galhos são retirados deixando os troncos roliços e dispostos para secar e, assim, diminuir o seu peso. Após um
intervalo de 15 a 30 dias, a lenha é “embraçada”, formando feixes e transportada até próximo ao forno, com o auxílio de animais de tração pelos “muleteiros” ou do trator, dependendo do porte da carvoaria, e aí armazenada em pilhas.

Abastecimento ou enchimento do forno
Para o abastecimento do forno, o trabalhador executa as seguintes atividades:
(a) preparo do forno;
(b) transporte manual da madeira estocada na área externa até a porta do forno;
(c) transporte manual da madeira da porta do forno até o interior do mesmo;
(d) enchimento do forno, organizando cuidadosamente as madeiras e;
(e) fechamento do forno. No preparo do forno, o trabalhador limpa o interior do mesmo, retirando completamente o carvão produzido no processo anterior, utilizando garfo, pá, enxada, “raspelo” e rodo.

A seguir, ele dispõe folhas secas pelo chão, preparando uma espécie de “tapete”, para diminuir as perdas de calor para o solo. Continuando, as peças de madeira que estão estocadas na parte externa do forno são transportadas manualmente e deixadas perto da abertura ou “boca” do forno. Uma vez preenchida a abertura do forno, recomeça o transporte manual da madeira para o interior do mesmo. Dessa forma, o trabalhador transporta a mesma peça de madeira duas vezes.
A produtividade do forno depende do processo de enchimento. Se a carga é mal feita, a produção será menor do que a capacidade do forno, acarretando prejuízo. A presença de galhos ou folhas perturba a combustão “ótima”, alterando a qualidade do carvão.

Durante a operação de enchimento do forno, o trabalhador assume posturas penosas. Ele sobe e permanece sobre a pilha de toras de madeira e as lança ao solo, o mais próximo possível da entrada do forno. À medida que o processo avança, e a “pilha” de madeira diminui, a retirada de
uma “tora” faz com que as outras rolem pelo solo, aumentando o risco de acidentes. O empilhamento das “toras” na entrada do forno não é aleatório. Existe uma seleção cuidadosa
das mesmas, e sua disposição é feita de modo a aproximá-las do espaço do forno que será preenchido naquele momento. O empilhamento prossegue até uma altura tal que permite apenas a passagem do trabalhador da área externa para o interior do forno. Ele se deita sobre as “toras” empilhadas e desliza sobre elas, chegando ao interior do forno e iniciando o processo de enchimento propriamente dito.

Pela segunda vez, as “toras” são transportadas manualmente pelo trabalhador, respeitando uma
organização minuciosa das madeiras, dispostas de forma centrípeta, ou seja, o espaço próximo às paredes é preenchido primeiro, avançando para o centro do forno. Uma vez no centro, a disposição obedecerá a outro padrão: da parte interna para a externa, no sentido da porta. Como o forno possui o formato de uma “oca”, o trabalhador dispõe as “toras” em posição vertical para, em seguida, fazer o chamado “chapéu” do forno, colocando as “toras” de menor dimensão em sentido horizontal, sobre aquelas postas em sentido vertical. Este modo operatório tem o objetivo de garantir a qualidade do carvão exigida pelas siderúrgicas, que depende da combustão. Durante a observação sistemática realizada, o trabalhador transportou a madeira para a entrada do forno e em seguida para o interior do mesmo, seis vezes, até que o forno estivesse completamente abastecido.

PROCESSO PENOSO
A operação de abastecimento do forno apresenta exigências físicas e cognitivas para o trabalhador. As exigências físicas decorrem das condições de trabalho e do esforço muscular
despendido. Os deslocamentos são numerosos e exigem movimentos coordenados dos membros superiores e inferiores; posturas penosas, com torção e flexão do tronco; movimentos repetitivos e uso de força para o transporte manual da carga. É importante destacar que o esforço físico se dá em condições de desconforto térmico, como será discutido mais adiante.

O trabalhador leva 41 minutos e 24 segundos para completar a tarefa, transportando cerca 7.357kg. O enchimento do forno é realizado em dois ciclos caracterizados pelo transporte da madeira até a porta e, a seguir, desta para o interior, transportando a mesma madeira duas vezes.
Nas situações analisadas, no conjunto das carvoeiras visitadas, não existe água potável disponível. Ao longo das observações sistemáticas, das primeiras horas do dia até o almoço, isto é, entre sete e onze horas da manhã, os trabalhadores que estavam abastecendo um forno não ingeriram água, apesar do esforço físico realizado e da intensa sudorese.

Questionados a respeito, os trabalhadores responderam que preferem tomar água apenas no período da tarde. Posteriormente, revelaram a crença de que a ingestão de água, nas condições de exposição ao calor, poderia “cozinhar as tripas” ou provocar “constipação”. A dieta básica dos trabalhadores era composta basicamente de carboidratos, arroz, feijão e macarrão. Não havia banheiros para higiene pessoal e as condições de moradia eram, sempre, muito precárias.

Quanto às exigências cognitivas da operação de abastecimento do forno, observou-se que, na maioria dos casos analisados, os trabalhadores eram analfabetos e a aquisição dos conhecimentos necessários à realização das tarefas obtida empiricamente. Assim, o conhecimento é incorporado por intermédio de sinais perceptivos em que os índices e os parâmetros utilizados pertencem à propriedade da matéria, como aspecto, forma, odor etc.

ABASTECIMENTO DO FORNO
Os trabalhadores sabem como fazer, ainda que não conheçam as propriedades físico-químicas da combustão. Este “saber-fazer”, expressão traduzida do francês savoir-faire, é constituído por um conjunto de percepções, astúcias e truques adquiridos na prática, no aprender-fazendo. O trabalhador não possui conhecimentos formalizados e sistematizados, mas “incorpora” competências, não facilmente verbalizáveis, que ele mobiliza diante da variação das situações.

Entre as exigências cognitivas para a realização do abastecimento do forno está, por exemplo, o conhecimento específico sobre a disposição das “toras” no interior do mesmo. Durante o transporte das “toras” da parte externa para a porta do forno, o trabalhador seleciona-as de acordo com o espaço do forno que está sendo preenchido. Ele se orienta no espaço e no tempo, fazendo um planejamento que se expressa nas características das “toras” que são escolhidas. 

Por exemplo, é preciso separar aquelas mais curtas e mais largas para o “chapéu” do forno, deixando as mais compridas e estreitas para a base. Esta seleção é feita para preencher corretamente o forno, impedindo espaços livres entre uma “tora” e outra, que levam a uma supercombustão da madeira e interfere na qualidade do carvão. Existe um planejamento da ação para a seleção e disposição da “tora” mais adequada a um determinado lugar no forno, evitando a perda de calor e garantindo a qualidade do carvão. Finalizando, o forneiro ateia o fogo através de uma pequena abertura na porta, deixada especialmente para este fim, fechando o forno com tijolos e barrela, uma mistura aquosa de terra vermelha e água.

CARBONIZAÇÃO

A queima ou combustão da madeira dura geralmente três dias. Durante o cozimento da madeira, o carbonizador supervisiona o processo, no mínimo de hora em hora. Através da liberação e oclusão dos orifícios do forno, denominados “tatus” e “baianas”, controla a entrada de oxigênio e dessa forma, a intensidade da combustão. Segundo os trabalhadores, esta operação é importante para garantir a qualidade do carvão. Para isso, consideram índices e parâmetros construídos na prática, como a cor e o volume de fumaça que sai pelos orifícios do forno. A fumaça de cor azul indica a conclusão do processo de cozimento da madeira. O principal cuidado do carbonizador é impedir que o forno “embale”, produzindo um superaquecimento capaz de provocar a ruptura da cinta que sustenta a abóbada do forno, fazendo desmoronar toda a estrutura, com perda do produto ou carga.

Os carbonizadores consideram o seu cargo como “de confiança”, a função mais especializada, profissionalizada e de maior prestígio na atividade carvoeira. É uma tarefa penosa, vista por alguns trabalhadores como a “pior função” no carvão, por implicar trabalho noturno, já que o forno funciona ininterruptamente.
O barrelador tem a função de “sufocar” o forno, com o auxílio da barrela lançada sobre o forno para impedir a entrada de ar através de pequenas frestas e aberturas, que alimentam a combustão. Desta forma o forno é desligado e resfriado. O barrelador deve repetir este procedimento até que o fogo se extinga.

ESVAZIAMENTO DO FORNO OU RETIRADA DO CARVÃO
Após o reconhecimento do “bom momento” e interrompida a combustão, o forno é deixado para esfriar, sendo então aberto e esvaziado. Os procedimentos adotados pelo trabalhador para a retirada do carvão são os seguintes:
(a) quebra da parede do forno, no mesmo local onde foi fechado, para abri-lo;
(b) transferência do carvão da parte interna para a “grade” colocada na porta do forno;
(c) transporte da “grade” contendo o carvão, da porta do forno para a área externa, e derramamento deste no solo.

Dependendo do ponto de “cozimento” do carvão, os trabalhadores lançam água sobre ele, para acelerar o processo de esfriamento e impedir a perda do produto. A tarefa é feita manualmente. Com a ajuda de um “garfo”, que pesa cerca de quatro quilos, o trabalhador retira o carvão do forno, despejando-o na grade. Esta é um artefato metálico, medindo cerca de dois metros, fabricada com um trançar de arames, semelhante a uma gaiola, com duas alças em cada uma das extremidades, improvisadas com toretes. Quando a “grade” está cheia, o trabalhador pede a ajuda de um colega, e ambos, cada um segurando uma das alças da grade, transportam-na até uma área situada cerca de dois a três metros da porta do forno, despejando o carvão na terra para permitir o resfriamento, facilitar o transporte e ensacamento. A grade cheia pesa cerca de 50kg.

EXPOSIÇÃO A ALTAS TEMPERATURAS
A análise da atividade mostra que a retirada do carvão é a fase mais crítica no que se refere à exposição a altas temperaturas e aos gases originados na combustão da madeira, sob exigência de esforços físicos importantes. Além disso, estão presentes riscos de acidentes como queimaduras. Em algumas situações, dependendo da urgência do pedido, do estado do “cozimento da madeira”, ou das exigências de qualidade do produto, o carvão é retirado ainda aquecido, aumentando a sobrecarga térmica e o risco de queimaduras corporais.

A atividade de esvaziamento do forno apresenta exigências físicas e cognitivas importantes. São necessários movimentos repetidos, com a pá ou o garfo, e adoção de posturas de flexão do tronco e suporte de cargas. A repetitividade da tarefa e as condições climáticas e de conforto desfavoráveis contribuem para a penosidade. A exposição combinada, ambiental e ocupacional, ao calor ou às altas temperaturas é significativa. O calor emitido para o meio ambiente de trabalho pelos fornos, no processo de carbonização da madeira, interage com o calor natural, importante na região e o calor corporal interno, ou seja, os deslocamentos numerosos e fatigantes levam ao aumento do metabolismo corporal e, como decorrência, ao aumento da produção interna de calor, explicando a intensa sudorese observada nos trabalhadores, durante a realização do trabalho.

Na literatura especializada não foram encontrados estudos abordando a sobrecarga térmica na produção do carvão, em que o problema sobressai tanto na observação direta quanto na fala dos trabalhadores. Gripes e resfriados freqüentes são atribuídos pelos trabalhadores à exposição às diferenças de temperatura: elevada, próximo aos
fornos, e baixa, no ambiente, nas madrugadas.

ENSACAMENTO E TRANSPORTE
A etapa de resfriamento do carvão exige um controle atento porque este pode entrar em combustão espontânea, causando a perda do produto. O carvão resfriado é ensacado e/ou colocado no caminhão para ser transportado e comercializado.

Em estudo realizado com trabalhadores de empresas de reflorestamento e produção de carvão no Vale do Aço, em Minas Gerais, Timóteo (1999:40) descreve a atividade de esvaziamento dos fornos como a pior tarefa do processo, recusada por muitos dos trabalhadores:
■ Os trabalhadores consideram o “pior no trabalho com o carvão”, o esforço físico em 53,1%
dos casos,
■ Seguido pela temperatura dentro do forno por 46,9%, e
■ Pela poeira de carvão por 44,9% dos entrevistados.

Na opinião do engenheiro responsável por uma carvoaria industrial visitada, o carvão ideal apresenta as seguintes características: 72% de carbono fixo, 5% de umidade e resistência mecânica de modo que origine o mínimo possível de “finos”. Para que se alcance esta especifica
ção, o carvão deverá ser “carbonizado” por inteiro, garantindo suas propriedades de resistência. Isto exige que o trabalhador saiba analisar e interpretar os sinais da combustão da madeira; reconhecer o carvão de boa qualidade, consoante critérios informais como aspecto e cor, eliminando a madeira que não cozinhou ou “tiço”; retirar o carvão com a ajuda da pá para evitar quebra desnecessária e avaliar a necessidade de umedecer o carvão, e o momento para fazê-lo.

No conjunto, pode-se afirmar que, apesar da aparente simplicidade, cada uma das etapas do processo tem embutido um “saber fazer” essencial para garantir a qualidade do carvão.

CONDIÇÕES DE SAÚDE E SEGURANÇA
A carga de trabalho decorre das possibilidades que o sujeito/agente trabalhador terá, de acordo com as suas características individuais e aquelas da organização produtiva, para evitar a intensidade e a duração da exposição à nocividade das situações laborais, com repercussões importantes sobre suas condições de saúde e segurança.

RISCOS POTENCIAIS
Também estão presentes os problemas de saúde relacionados com o trabalho, identificados na da elaboração do Mapa de Risco na Produção do Carvão.
Os riscos potenciais de traumatismos e picadas por animais peçonhentos, sobretudo cobras, escorpiões e aranhas estão presentes em todas as fases do processo.

O uso da moto-serra, além de ferimentos e traumatismos de gravidade variável, pode causar a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), contribuir para os efeitos extra-auditivos do ruído, entre eles, a hipertensão arterial, problemas gastrointestinais, distúrbios de sono, além de doenças músculo-esqueléticas e vasculares decorrentes da exposição à vibração. O manuseio de machados e facões pode ocasionar lesões graves, em decorrência do despreparo do trabalhador, às vezes muito jovem, e do estado de conservação e adequação das ferramentas.

Nas fases de preparo e enchimento do forno, foram relatados acidentes envolvendo a queda das toras, atingindo os trabalhadores e provocando lesões de gravidade variável, de simples escoriações a traumatismos graves e fraturas.
O esforço físico excessivo e o trabalho em posições forçadas, bem caracterizados pela análise ergonômica, estão presentes em todas as etapas do processo de trabalho. Como assinalado anteriormente, em 41 minutos e 24 segundos, o trabalhador transportou cerca de 7.357kg para encher o forno, realizando movimentos repetitivos de torção e flexão do tronco.

PESO E MOVIMENTOS REPETITIVOS
A retirada do carvão do forno configura uma situação crítica, observando-se um sinergismo entre o esforço físico despendido, a repetitividade dos movimentos, as condições climáticas adversas, a exposição a altas temperaturas e a falta de condições mínimas de higiene e conforto. As queixas de lombalgias e problemas relacionados à coluna vertebral são muito freqüentes.

Os problemas lombares aparecem como a segunda causa de demanda de consulta médica na rede de serviços de saúde, sendo expressivo o número de trabalhadores precocemente incapacitados para o trabalho. O esforço físico intenso e continuado, particularmente em jovens, é responsável pelo desenvolvi mento de hérnias inguinais e escrotais, observação confirmada na literatura.

INALAÇÃO DE FUMAÇA
A fumaça que sai dos fornos irrita os olhos e as vias aéreas superiores, impregnando a pele e tudo que está ao redor. No processo de carbonização da madeira são produzidos subprodutos da pirólise e da combustão incompleta, como o ácido pirolenhoso, gases de combustão, Alcatrão, Metanol, Ácido Acético, Metanol, Acetona, Acetato de Metila, Piche, Dióxido de Carbono, Monóxido de Carbono, Metano, que escapam dos fornos através dos orifícios e podem provocar lesões das vias aéreas e intoxicação.

Possíveis efeitos neurológicos e hematológicos, teratogênicos e carcinogênicos dessas substâncias, descritos na literatura necessitam ser mais bem investigados.
As condições de trabalho são inadequadas, sem o mínimo conforto, os equipamentos e instrumentos de trabalho são arcaicos e/ou sem proteção, o trabalho é monótono e sob tensão, sobremaneira, na fase de “vigiar” o forno. As exigências de grande esforço físico, a exposição ao ruído e vibração pelo uso da moto-serra, à radiação solar excessiva, ao calor emitido pelos fornos, às substâncias químicas produzidas na combustão da madeira e à picada por animais peçonhentos são algumas das condições de risco para saúde identificadas no estudo. Considerando a fase de crescimento e desenvolvimento biológico e emocional das crianças e adolescentes trabalhadores, a exposição a essas condições de risco, sem a adoção de medidas de controle ou de segurança poderá comprometer sua saúde de modo irreversível.

CONCLUSÃO
É difícil falar de conclusões em um estudo dessa natureza. Pode-se simplesmente propor que a atividade carvoeira nessa modalidade seja extinta, pois é intolerável que adolescentes ou crianças, homens e mulheres vivam e trabalhem sob as condições observadas. A consciência de que o Brasil exporta com o ferro gusa, a biodiversidade do Cerrado, madeira, o trabalho e a saúde dos trabalhadores, incluindo crianças e adolescentes deve nortear uma melhor distribuição dos lucros na cadeia produtiva do aço e reordenar os processos produtivos de modo a minimizar ou abolir algumas de suas conseqüências negativas, na direção de um desenvolvimento humano sustentável
A realidade é complexa e convoca ao esforço de aprofundamento da questão e à busca de soluções. Entre os desafios está o de se conseguir melhorar as condições de trabalho, pela mecanização das fases mais agressivas, protegendo, contudo, o emprego e os trabalhadores. Quanto às crianças e adolescentes, para além da atuação de fiscalização e punição das transgressões da lei, são necessários programas específicos como o da “bolsa-escola” e outros similares, que permitam às famílias que vivem em situação de carência extrema “liberar” seus filhos para o estudo, dando-lhes outra perspectiva de vida.

Além dessas e de outras iniciativas no campo da saúde e educação, são necessárias políticas públicas de mais longo alcance capazes de corrigir os efeitos deletérios do “desenvolvimento” da produção de carvão vegetal no país, que destroem o cerrado e as florestas.

Fotos: mostram uma carvoaria que utiliza madeira ilegal para produção de carvão vegetal. O trabalhador carrega madeira extraída ilegalmente da floresta amazônica em um forno para produção de carvão vegetal , 8 de junho de 2012, em Rondon do Pará, Estado do Pará, Brasil. O carvão vegetal de madeira ilegal é usada principalmente no Brasil, nas fundições de ferro-gusa, que é usado para fazer aço para as indústrias, incluindo os EUA na fabricação de automóveis. Fonte: The Big Picture Boston

Artigo publicado no blog
Criança trabalhando em carvoaria

Fonte: Resumo do estudo: Processo de trabalho e saúde dos trabalhadores na produção artesanal de carvão vegetal em Minas Gerais, Brasil. Autores: Elizabeth Costa Dias, Ada Ávila Assunção, Cláudio Bueno Guerra, Hugo Alejandro Cano Prais, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais e Agência Terra.

Vídeo:

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posted by ACCA@6:00 AM

2 Comments:

At 5:31 PM, Blogger Eduardo said...

Não tem som no video...

 
At 11:00 PM, Blogger Unknown said...

Eu sofro com esse cheiro sufocador a quatro anos .
pois morro na zona rural de uma cidade chamada pombos localizada no interior de Pernambuco .
Vários vizinhos meus fazem carvão e o cheiro da fumaça e muito forte aqui e está prejudicando muito a minha saúde detalhe a qui tem crianças e idosos que estão tendo problemas por conta da fumaça. não sei o que fazer pois cada ano que passa eles dobram as quantides de cavueras aqui.

 

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