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sábado, janeiro 14, 2012

Região Serrana: Um ano após a tragédia

Em janeiro de 2011, a avalanche de lama provocada pelas chuvas foi destruindo casas em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, sem distinguir áreas rurais e urbanas, ricos e pobres, crianças, adultos, velhos e animais. Muita gente dormia quando, entre 3h e 4h de 12 de janeiro, suas casas desabaram sob a força das águas carregadas de terra e entulho, sem dar, para muitos, qualquer chance de fuga. Famílias inteiras morreram soterradas em suas próprias casas.

Com o deslizamentos de barreiras e morros, as galerias de águas pluviais foram totalmente obstruídas por terra trazida das encostas, entulho e lixo, o que piorou as inundações. Estradas e pontes foram destruídas e bairros inteiros ficaram isolados.

Somente na noite da quarta-feira (12) equipes de resgate começaram a chegar a algumas das áreas mais atingidas, já sem luz e sem sinal de telefonia, e encontraram destruição, morte, e moradores perambulando pelas ruas cheia de lama sem saber o que fazer - cenário de uma praça de guerra. Além de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, os municípios de Areal, Bom Jardim, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto também sofreram com as chuvas de janeiro.

Um ano após os temporais que provocaram 777 pontos de deslizamentos em sete municípios da Região Serrana, a maioria dos pontos não recebeu obras de contenção. O subsecretário de Interior do governo do estado estimou que R$1 bilhão ainda terão que ser gastos nas encostas para torná-las seguras. Ele não incluiu os investimentos para recuperar áreas consideradas de menor risco, por estarem em locais isolados. Na conta também estão fora os R$147 milhões que estão sendo investidos em 30 pontos considerados prioritários.

PETRÓPOLIS
Cidade com pouco mais de 296 mil habitantes, Petrópolis teve os estragos concentrados no distrito de Itaipava --onde está o vale do rio Cuiabá, localidade rural que concentrou as mais de 70 mortes do município.

Ao lado de montes de areia retirados do rio, uma retroescavadeira parada desperta a ira e incredulidade dos vizinhos.

TERESÓPOLIS,
Segundo município mais afetado, Teresópolis teve quase 400 mortes em bairros urbanos e rurais.

Quem chega ao bairro da Posse, em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, ouve logo de início o aviso dos moradores e dos raríssimos comerciantes do local: depois das 19h ou 20h não é bom ficar de bobeira na rua. O lugar, eles garantem, virou “um fantasma.

Já perto dali nem é preciso ser avisado: é fácil perceber que pouco sobrou do bairro de Campo Grande, mais da metade dizimado com o deslizamento de pedras cujo tamanho e quantidade, a olhos vistos, ainda impressiona.

Às margens do vale de pedras em que se transformou Campo Grande, os poucos moradores que sobreviveram estão em casas próximas a um riacho formado após a tragédia e na direção de morros de onde as pedras deslizaram em janeiro de 2011.

Na cascata do Imbuí, por exemplo, o tradicional point de turistas deu lugar a ruas enlameadas e uma paisagem assustadora de encostas nuas e água escura de barro. Ao redor da cascata, e nas ruas próximas, obras de contenção ainda no começo, ou pela metade.

Ainda nas proximidades, casas --dentre as quais, algumas mansões-- que eram escondidas por muros gigantes jazem à mostra com objetos na parte externa e muito mato.

Pelo caminho de várias ruas, pedras de até dois metros de altura que deslizaram há um ano persistem: algumas poucas cortadas a máquina, mas a maioria lembrada por vizinhos como a causa de bairros quase totalmente destruídos --caso de Campo Grande.

NOVA FRIBURGO
Em Nova Friburgo, cidade onde os primeiros deslizamentos foram registrados já na noite de 11 de janeiro, os estragos ainda são bem visíveis em áreas da zona urbana --tão explícitos quanto o centro turístico-- e da zona rural.

Principal ponto turístico da cidade, o teleférico está parado há um ano e a praça do Suspiro, onde ele está localizado, não teve em 12 meses finalizada a obra de pavimentação e outras benfeitorias.

“Isso aqui vivia cheio, era uma felicidade só. Agora é triste demais de ver, mas as obras do município estão muito lentas”, observa o vigia Deni Oliveira, 40, na praça. Ainda no centro, na rua Cristina Aziedi, a localidade classe média deu lugar a um ponto em que predominam casas interditadas, esqueletos de construções e obras de contenção ainda longe de terminarem.

Para a comerciante Eliane Moura, 60, moradora da rua, pouca coisa mudou desde janeiro de 2011. “Retiraram entulhos e interditaram várias casas. Eu mesma até hoje tenho que deixar meu carro na rua por causa das restrições que impuseram, mas a situação aqui mostra bem a inércia e a inoperância dos governos: foram mais de sete meses para começar as obras, que são lentas, e basta chover para a gente ter medo e monitorar nível da água, essas coisas --e para quê? Para se sentir num lugar aterrorizante. É isso que virou”.

Apesar dos recursos que foram destinados pelos governos federal e estadual, a demora na recuperação das áreas atingidas é ponto comum nas sete cidades. A dragagem e correção de margens dos rios - alguns tiveram sua largura quadruplicada após a torrente - acontece de maneira lenta e, em alguns locais, sequer começou. Projetos como a construção de parques fluviais para impedir a ocupação irregular das margens dos rios não foram levados adiante e os radares meteorológicos prometidos logo após a tragédia ainda não têm previsão concreta de instalação. Apenas uma das 75 pontes que o governo estadual prometeu construir ou reconstruir após a tragédia está concluída, na cidade de Bom Jardim.

PREJUÍZOS NA ECONOMIA
■A Região Serrana é o mais importante pólo de produção agrícola do estado do Rio. Com a destruição, estima-se que 17 mil famílias que se sustentavam da atividade agropecuária tenham sido afetadas.
■No comércio, 84% dos empresários da região foram afetados pelas chuvas de janeiro e os prejuízos estimados pela Fecomércio foram de R$ 469 milhões.
■Na indústria, do total de 278 empresas do Sistema Firjan, 68% foram afetadas, a maioria em Nova Friburgo. Os prejuízos estimados pela Firjan foram de R$ 153 milhões.
■O turismo da região foi abalado pelas chuvas de janeiro. Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis tiveram baixa procura para o réveillon de 2011, segundo informação da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ)..

DESAPARECIDOS
Ainda restam 215 pessoas desaparecidas, deixando 918 mortos confirmados.
Atualizados no início de janeiro, os números do PIV (Programa de Identificação de Vítimas) indicam;
■ Teresópolis tem 137 pessoas desaparecidas
■ Nova Friburgo tem 44,
■ Petrópolis 18
■ Sumidouro uma;
■ e outros 15 desaparecidos não tiveram a localidade informada.

PÓS-TRAGÉDIA: DISTÚRBIOS PSICOLÓGICOS
Sintomas de estresse pós-traumático, a depressão e a síndrome do pânico são os principais distúrbios psicológicos que atingem as pessoas afetadas pelas enchentes e pelos desmoronamentos ocorridos na região.

Fontes: UOL Notícias, Folha.com, BBC Brasil, G1 RJ, Bom Dia Brasil, Rede Brasil Atual, O Globo – período de 11 a 13/01/2012

Comentário
Conforme dados do Núcleo de Pesquisa e Aplicação de Geotecnologia em Desastres Naturais e Eventos Extremos do INPE (Instituo Nacional de Pesquisa Espacial) ocorreram no país 150 registros de desastres no período 1900-2006. Do total ocorrido, 84% foram computados a partir da década 70, demonstrando um aumento considerável de desastres nas últimas décadas. Como conseqüência, foram contabilizados 8.183 vítimas fatais e um prejuízo de aproximadamente 10 bilhões de dólares.
Os tipos de desastres mais freqüentes foram as inundações, representadas pelas graduais e bruscas, com 59% dos registros, seguidas pelos escorregamentos (14%). A maioria dos desastres no Brasil (mais de 80%) está associada às instabilidades atmosféricas severas, que são responsáveis pelo desencadeamento de inundações, vendavais, tornados, granizos e escorregamentos.

Nota-se pelo gráfico, que os desastres acompanham o crescimento populacional e tornam-se mais visíveis para a população devido a ocupação do solo (fundação de cidades, fronteiras agrícolas, desmatamento, etc).
A ocupação do solo no decorrer dos séculos teve como etapa inicial a retirada da cobertura florestal original, pois era considerada uma barreira para o desenvolvimento (fundação de cidades, agricultura, uso e comércio da madeira, etc)

O desastre natural nada mais é do que a retomada da parte territorial que foi retirada pela ação do homem. A natureza tem sua própria lei de destruição.

Existe no Brasil registros de eventos de Mega-desastres que já ocorreram e que deveriam servir de alerta e que poderiam ser prevenido no futuro, mas a historia de desastre no país demonstra que esses eventos se repetem e as lições são esquecidas.
Uma catástrofe é sempre resultante de uma série de eventos não previstos e da convergência de fatores adversos e aparentemente independentes que, num determinado momento, se somam para provocá-la (Peter Alouche).

Quais são os fatores adversos?
■ uso e ocupação do solo
■crescimento urbano e populacional
■ falta de planejamento urbano
■ desmatamento e más práticas agrícolas
■ A maioria das cidades está as margens dos rios, parte das cidades ocupando a várzea ou área de remanso dos rios ou fundo de vale. Ob: Inundações são causadas pelo afluxo de grandes quantidades de água que, ao transbordarem dos leitos dos rios, lagos, canais e áreas represadas, invadem os terrenos adjacentes, provocando danos..
■ Desmatamento e assoreamento dos rios ao longo do século

Observa-se no Brasil que a Defesa Civil é mais um órgão de distribuição de doações do que de prevenção de desastre. A finalidade da Defesa Civil é preventiva e deveria ter a função principal de alocar os recursos necessários quanto ao desastre. No pós-desastre várias ações são executadas por outros órgãos sem nenhuma coordenação. Não há banco de dados de desastre a fim de; executar e planejar obras com finalidade de atenuar os efeitos adversos, conscientização da população quanto os riscos existentes na região, construção de uma rede de comunicação entre as cidades com potencialidades de desastres.

As principais causas de inundação seriam:
■ A morfologia da cidade a região tem relevo altamente acidentado, formado por serras, morros, fundo de vale, e encostas íngremes.
■ O clima: chove torrencialmente na época do verão
■ Uso e ocupação do solo de maneira desordenada
■ Não há mapeamento das áreas inundáveis quanto a:
1-Conhecimento da relação cota x risco de inundação
2- Definições dos riscos de inundação de cada superfície
3- Incorporação a Legislação Municipal de uso e ocupação do solo em zona de risco
4- Falta de uso de Sistema de Informações Geográficas na análise de projetos de edificações e equipamentos urbanos. Os riscos devem ser avaliados por meio de perspectivas técnicas capazes de antecipar possíveis danos à saúde humana e ao meio ambiente. O uso de um Sistema de Informações Geográficas contribuiria nas atividades de prevenção e preparação para riscos, possibilitando a diminuição dos desastres, e, em caso de ocorrências, tendo um caráter logístico, determinando como uma população atingida por tais eventos poderia ser evacuada e protegida. Seria a ferramenta ideal para a Defesa Civil efetuar o gerenciamento do desastre a fim de alocar os recursos necessários para minimizar os efeitos do desastre.
5- Controle público da ocupação regular e irregular
■ a prática legalizada da construção ilegal e construção de obras públicas que não respeita o ecossistema.
■ O aumento da vulnerabilidade é atribuível ao uso do solo e da água que é muitas vezes ainda não considera as limitações impostas pela hidrogeologia. Em conseqüência disso há uma ocupação desordenada do solo, principalmente construções, desmatamento, etc

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posted by ACCA@3:14 PM