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quinta-feira, setembro 16, 2010

Trem arrasta ônibus e mata 9 pessoas em Americana.

O acidente aconteceu por volta de 22h30 de quarta-feira, 8 de setembro, quando o ônibus, que fazia o trajeto Mathiense-Antonio Zanaga, tinha acabado de sair do terminal e ao atravessar a linha de trem foi atingido pela composição que seguia sentido Americana-Nova Odessa.

CHOQUE
O ônibus municipal da Viação VCA foi atingido em cheio pelo trem de carga e arrastado por cerca de 100 metros. O ônibus partiu ao meio e os destroços se espalharam por uma área de cerca de 100 metros.

LOCAL DO ACIDENTE
A área pela qual passa o trem é uma das mais movimentadas da cidade de Americana, município com cerca de 205 mil habitantes a 133 quilômetros da capital paulista. Ao lado da linha férrea estão lojas e casas, além de um terminal urbano de ônibus por onde passam aproximadamente 20 mil pessoas por dia.

VÍTIMAS:
O ônibus transportava 28 pessoas incluindo o motorista e o cobrador. Morreram no local do acidente nove pessoas, 15 pessoas foram levadas ao hospital, sendo três após dar entrada no Hospital Municipal da cidade morreram. Oito já foram liberadas e sete, incluindo o motorista do ônibus, ainda estão internadas.

TREM
A composição, que pertence à ALL (América Latina Logística) e levava milho, soja e açúcar ao porto de Santos, tem quatro locomotivas e 77 vagões, cada um pesando 100 toneladas.

DEPOIMENTO DO MOTORISTA
O delegado pretende indiciar o motorista do ônibus, Alonso de Carvalho, por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Carvalho prestou depoimento no Hospital São Francisco, onde está internado, na sexta-feira, 10 de setembro. Ele disse que a sinalização na linha férrea foi tardia. O motorista explicou à polícia que só ouviu o apito quando o veículo estava com a roda dianteira sobre os trilhos e que não houve tempo para passar pelo cruzamento. Segundo ele, a composição que estava parada não interferiu na decisão de cruzar a linha férrea.

TESTEMUNHAS
■ Sobrevivente de uma das maiores tragédias urbana de Americana, segundo avaliação do Corpo de Bombeiros, a estudante Suelen, de 19 anos, ainda levará um tempo para aprender a lidar com o trauma do acidente que culminou na morte de nove pessoas anteontem à noite, na região central do município.
"Ainda ouço os gritos das pessoas pedindo socorro e o alarme do trem. É uma tragédia que nunca pensei em ver", afirmou. A jovem estava sentada em um dos bancos de trás do ônibus juntamente com dois amigos. Os três haviam acabado de sair da Escola estadual João 23. "O sinal estava vermelho e o trem já dava para ser visto, mas mesmo assim e não sabemos o porquê, o motorista tentou atravessar a linha férrea. De repente, o trem estava praticamente em cima do ônibus e todo mundo começou a gritar: 'O trem, o trem'", afirmou.
Suelen disse que com o impacto ela se agarrou nos bancos. "Vi aquela luz do trem em cima de mim e gritei para minha amiga: morri". O ônibus foi arrastado por cerca de cem metros. "Quando o ônibus parou só se via pertences e cacos de vidros espalhados pelo chão. Uma das portas abriu e meu amigo saiu. Logo em seguida foi a vez de uma amiga minha, depois a porta fechou", contou. Suelen e os amigos só sofreram algumas escoriações.

Também sentado na parte traseira do coletivo, o servente Adailton, 37 anos, disse que estava cochilando quando o trem atingiu o ônibus. "Acordei com o impacto e me agarrei nos bancos. Quando o ônibus parou ouvi uma mulher do lado do cobrador pedindo ajuda porque suas pernas estavam presas. Corri para ajudá-la e de repente já havia vários bombeiros", contou.

■ Um guarda municipal que prestou depoimento na quarta-feira, 15 de setembro, na Polícia Civil de Americana presenciou o acidente.Ele disse que viu o ônibus ser arrastado pelo trem, pessoas pulando para fora do veículo pelos vidros que foram quebrados e outras caindo feridas pelos lados e o ônibus sendo destroçado, conforme ia sendo empurrado pela composição férrea. O depoimento do guarda, Bonifácio Santana Filho, foi avaliado pela equipe do 1º Distrito Policial como o mais importante. Prestaram depoimento também dois policiais militares, que atenderam a ocorrência, mas chegaram a linha férrea às 0h20, quando já havia várias viaturas e as vítimas estavam sendo socorridas.

O guarda municipal Bonifácio tem posto de trabalho no Terminal Urbano e no dia do acidente iniciou sua jornada de trabalho por volta das 22h50. Ele disse que por volta das 22h50 viu um trem que vinha no sentido Centro-Interior e parou na estação ferroviária. Em depoimento, o guarda disse que estava ao lado do posto de serviço e notou que um ônibus passou no terminal e saiu de lá por volta das 23h20, após o mesmo descarregar e pegar passageiros. O veículo 141 saiu e poucos instantes depois ouviu o alerta da passagem de nível avisando que o trem estava se aproximando. Ele afirmou que ouviu uma buzina de trem se aproximar e acredita que era da composição que estava parada no sentido Capital-Interior.

Em seguida, o guarda que ouviu outra buzina mais distante, que acredita que seria do trem que seguia no sentido Interior-Capital. O guarda civil disse que logo depois ocorreu o estrondo e viu fagulhas vindo da passagem de nível. Ele acreditou ser da rede elétrica ou um trem descarrilado.
"Temeu que os vagões poderiam vir em sua direção e correu mais adiante no terminal. Logo depois ouviu vários gritos e pedidos de socorro e viu fagulhas. Pensou ser algum trem que poderia ter atingido o ônibus", consta no depoimento de Bonifácio.
Ele disse ter se aproximado do alambrado ao lado do posto da guarda e de lá viu o ônibus sendo empurrado pelo trem. Bonifácio foi quem telefonou para a Guarda Municipal solicitando apoio. O guarda municipal declarou na polícia que o "motorista não respeitou a sinalização sonora e luminosa".

AVISO DE PASSAGEM DE TREM
A ALL informou que quando o maquinista estava a 200 metros do cruzamento onde ocorreu o acidente ele acionou a buzina da locomotiva e mais três silvos em seguida. Segundo a empresa, quando o trem estava a 15 metros da passagem de nível o ônibus avançou sobre os trilhos e não houve espaço suficiente para frear a composição a tempo de evitar a colisão.
O maquinista ao avistar o ônibus acionou o botão de emergência que leva 500 metros para parar totalmente o trem. Como a distância era de 15 metros mesmo o trem trafegando a 30 quilômetros por hora se chocou contra o ônibus, que ainda bateu na composição que estava parada no pátio de manobras ficando completamente destruído.

SINALIZAÇÃO DO LOCAL
A ALL (América Latina Logística) defende que o ônibus atravessou a passagem de nível sem parar, no momento do cruzamento entre os trens, e que "testemunhas que presenciaram o acidente informam que a sinalização sonora e luminosa do cruzamento estava acionada, alertando para a preferencial e passagem do trem, mas não foi respeitada pelo motorista".
A empresa disse, em nota, que o maquinista seguiu os procedimentos de segurança e acionou a buzina e os freios da composição, "mas não foi possível parar a tempo de evitar a colisão, uma vez que o trem leva mais de 500 metros para parar totalmente após o acionamento da frenagem".
Segundo a ALL, o Código Nacional de Trânsito dá sempre preferencial à linha férrea e transpô-la é considerado infração gravíssima.

INQUÉRITO
Laudo sobre acidente deve sair dentro de 30 dias. A análise preliminar do IC (Instituto de Criminalística) aponta que o motorista se confundiu ao tentar atravessar a passagem de nível da Rua Carioba, já que um outro trem estava parado no local. O perito chefe da Polícia Técnico-Científica de Americana, Edvaldo Messias Barros, acredita inicialmente que o motorista viu a locomotiva parada e pensou que a sinalização se referia a este trem, não notando um segundo trem que se aproximava. Edvaldo esteve no local do acidente e fez a perícia técnica.

Fonte: O Liberal, Americana, 09 de setembro a 16 de setembro de 2010

Comentário:

O QUE DIZ AS NORMAS
■ A norma 215 do Regulamento Geral de Operação Ferroviária, deve-se tocar a buzina da locomotiva antes de iniciar a movimentação, ao se aproximar de túneis, viadutos ou de uma passagem de nível. No caso de cruzamentos, é preciso começar a tocar a buzina a não menos de 200 metros do local.
Considerando que são poucos os motoristas que cumprem a lei de trânsito e param antes de cruzar a linha férrea, a buzina passa a ser um instrumento imprescindível na passagem do trem.
■ Código de trânsito - Art. 212 - Deixar de parar o veículo antes de transpor linha férrea: Infração - gravíssima; Penalidade - multa.

As falhas humanas são as principais causas dos desastres. Nesse cenário de acidente, poderemos indagar, como é simples parar num cruzamento ferroviário ou numa rua ou avenida, olhar para os lados e seguir em frente. Mas existe outros fatores que envolvem nesse ato simples de parar, tornando-o mais complexo, o comportamento humano.
O comportamento humano nem sempre é constante e racional, e, portanto não segue padrões rígidos pré-estabelecidos. Nesse caso, à noite, depois de várias viagens, o motorista deve pensar, um trem de carga aproximando, vou perder muito tempo aqui, ele faz a avaliação se deve cruzar a linha ou não. Mas no local tinha um fator de risco adicional um trem parado, ele deve ter confundido quais dos trens estava sinalizando, quando percebeu já era tarde. Um trem com 4 locomotivas e 77 vagões, com quase 900 m de comprimento, com velocidade de 20 km/h. Quanto tempo o trem levará para passar o cruzamento? De três a quatro minutos. Ele pensou vou perder esse tempo esperando e fez a avaliação, pensou que iria dar para atravessar o cruzamento e houve a colisão.

Entre as falhas humanas, as principais são; deficiência de julgamento, aspectos psicológicos e indisciplina.

Nos Estados Unidos, as estatísticas mostram que aproximadamente a cada duas horas ocorre um acidente de trem em que um pedestre ou veículo é atingido por um trem. Em 2007, houve 13.067 acidentes ferroviários relacionados, de acordo com a Agência Americana Federal (Federal Railroad Administration Office). Estes acidentes resultaram em 851 mortes e 8.801 acidentes não fatais. Das mortes, 338 ocorreram em passagens de nível de estrada e 473 foram resultado de cruzamento de nível em regiões urbanas.
As estatísticas mostram que as lesões de acidente ferroviário em 2007, 1031 aconteceu em passagens de nível da estrada e 398 das lesões ocorreu em cruzamentos em regiões urbanas.

As principais causas de acidentes e de descarrilamentos, que resultaram em mortos e feridos em 2007 foram:
■ Fatores Humanos, 38,2% dos acidentes ferroviários;
■ Defeitos de linha férrea - 34,94% dos acidentes ferroviários;
■ Várias causas - 12,81% dos acidentes ferroviários;
■ Equipamentos com defeitos - 12,27% dos acidentes de estrada de ferro, e
■ Sinalização com defeitos - 1,76% dos acidentes de estrada de ferro.

De janeiro a março de 2008, houve um número recorde de acidentes ferroviários. Estes acidentes feriram quase 2.000 pessoas e 200 vítimas fatais. Mais da metade desses acidentes ferroviário foram causados por colisões em cruzamentos ou passagem de nível e mais de 60 por cento das lesões foram sofridos por trabalhadores da ferrovia.

As vítimas de acidentes ferroviários sofrem lesões semelhantes aos acidentes rodoviários. Lesões comuns, como resultado de acidentes ferroviários incluem trauma craniano e lesões na medula espinhal, concussões e lesões na cabeça, entorses, fraturas, escoriações, queimaduras e lesões de tecidos moles e internos.

Vídeo:
Colisao: Americana


Vídeo:
Mostra que a maioria dos veículos e pessoas não obedecem a sinalização e aproximação do trem


Vídeo:
Recomendações de segurança para travessia de linha férrea
Regras de travessia de linhas férreas:
■ Sempre assumir que um trem está vindo
■ Nunca deve tentar dirigir ou contornar uma cancela abaixada.
■ Nunca tenta atravessar a ferrovia antes do trem
■ Nunca deve atravessar a linha férrea sem espaço suficiente para travessia
■ Prestar atenção para um segundo trem
■ Atravessar a linha férrea nos locais indicados
■ Permaneça fora das pontes e túneis da linha férrea
■ Se o veiculo parar na linha férrea, saia imediatamente e peça ajuda.

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posted by ACCA@4:33 PM