Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Riscos de inundação

PODEMOS INDAGAR;
■ Por que as inundações acontecem? E as técnicas que podem ser usadas para diminuírem os prejuízos das edificações e pessoas que vivem nos locais inundados.
■ O que provoca uma inundação? Por que elas ocorrem sempre nos mesmos lugares? As inundações estão associadas com o desenvolvimento econômico? Os moradores da região têm parte na culpa?
■ O que acontece com o solo quando recebe água por um tempo prolongado?
■ Que atitudes artificiais poderiam prevenir ou poderiam protelar as inundações?
■ De que forma poderia resolver o problema das inundações num certo local? O que podemos fazer?
■ Que locais geográficas são mais propícios a inundações?
■ Deveria existir um método de vigilância nos locais onde costuma ocorrer inundações? Como ele funcionaria?
■ De que forma as pessoas podem se prevenir contra inundações?
■ Que aspectos da infra-estrutura de um da região podem ser afetados por uma grande inundação?
■ Em que época do ano costumam ocorrer inundações na sua cidade?

Essas indagações são importantes para que a empresa possa delinear através de um plano de emergência, quais as medidas a serem tomadas diante de um alagamento ou inundação

ORIGEM DA INUNDAÇÃO
Do ponto de vista físico, as chuvas que provocam as inundações são precipitações de grandes volumes de água em um curto período de tempo em uma área relativamente pequena. Este fenômeno tem sua ocorrência ligada a causas remotas, como a mudança global do regime de chuvas provocada pelo desmatamento indiscriminado, a poluição atmosférica pelos gases de combustão (gases carbônicos) além de possíveis fenômenos telúricos cíclicos (El Niño, La Niña, etc.).

A área propensa à inundação é uma área geralmente na proximidade de um rio, córrego, lago, baía ou mar, a qual pode ser inundada sob condição adversa. Uma condição adversa pode originar de várias causas, capaz de danificar estruturas ou edifícios.
A inundação ocorre quando o nível d´água eleva-se acima do nível normal, tal como; inundação de um rio, inundação de áreas não normalmente alagáveis (áreas secas sujeitas à inundação).

O rio é o principal cenário quando a vazão da água ultrapassa o nível normal. Quando a água do mar ultrapassa o nível mais baixo da costa litorânea, geralmente não coberta pela ação da maré, ocorre à inundação da costa. A maioria das causas de inundação é a incidência de chuva, quando os fatores propícios combinam-se e interagem para maximizar a superfície de escoamento.

PODEMOS DIVIDIR OS DANOS CAUSADOS POR ÁGUA EM:
■ transbordamento de rio, próximos a empresa.
■ refluxo de água através do sistema de esgoto e água pluvial, devido ao transbordamento de córregos e rios.
■ transbordamento conjugado de maré alta e rio (índice pluviométrico elevado)

No caso de região urbana podemos considerar dois fatores: Drenagem Urbana e Inundações Ribeirinhas

O escoamento pluvial pode produzir inundações e impactos nas áreas urbanas devido a dois processos, que ocorrem isoladamente ou de forma integrada:

1-INUNDAÇÕES DE ÁREAS RIBEIRINHAS:
Os rios geralmente possuem dois leitos, o leito do rio onde a água escoa na maioria do tempo e a várzea o leito maior, que foi ocupado por população ou por obras viárias.
Os córregos e rios que cruzam a cidade não podem ser vistos apenas como receptores de esgotos e águas servidas. Eles formam o elemento principal do sistema de escoamento das águas pluviais. Assim, uma diminuição da seção da calha destes rios e córregos diminui a capacidade de escoamento, e aumenta a probabilidade de alagamento das zonas ribeirinhas.

2-INUNDAÇÕES (ALAGAMENTOS) DEVIDO À URBANIZAÇÃO:
Outra conseqüência das chuvas fortes são as enxurradas torrenciais e alagamento. A elevada taxa de impermeabilização do solo urbano é um dos fatores que amplia o volume de água a ser escoado pelo sistema de captação da cidade.
As áreas internas aos terrenos de residências, e mesmo de edifícios públicos, costumam ser totalmente impermeabilizadas por cerâmicas, lajotas, cimentados comuns, etc., o que impede a infiltração da água da chuva e sobrecarrega o sistema de captação.

E a pouca arborização da área urbana, com ruas pavimentadas e terrenos todos ocupados, concorrem para a formação de zonas de baixa pressão atmosférica (ilha de calor) que funcionam como um “ralo” para as nuvens carregadas. Dependendo da altura da coluna dos cúmulos (tipo de nuvem) e de sua carga de água, torna-se inevitável à precipitação de enormes índices pluviométricos.
A quantidade de chuva por unidade de tempo (intensidade) e o total do tempo da chuva (duração) são importantes para determinar a intensidade da inundação.
Chuvas localizadas, intensos temporais podem criar condições de inundação em pequenas bacias de drenagem. Locais próximos aos rios, riachos ou litorais são geralmente susceptíveis para inundação, particularmente se a elevação do solo é quase próxima ou a mesma da fonte de inundação ameaçadora (exemplo, as várzeas dos rios que foram extintas nas grandes cidades pela construção de avenidas ou edificações).

Um local com superfície relativamente plana, independente se está acima da elevação de um volume de água, pode facilmente tornar-se alagado por chuvas intensas. Quando, riacho ou rio transborda após uma chuva intensa ou prolongada, a extensão dos danos da inundação depende principalmente da topografia, da característica do curso d´água e a extensão da inundação. Deslizamento de terra, canal obstruído ou precipitação pesada pode causar somente inundação em local montanhoso e fundo de vale.
Essas condições anormais combinada com elevada precipitação de chuva que provoca aumento do nível d'água próxima à foz do rio e do córrego.

Os índices elevados de precipitação pluviométrica saturam o solo e a água controla o percurso d`água anormal existente (a água flui para o leito anteriormente existente , rios temporários). O transbordamento de rios e córrego resulta em alagamentos.

ATENUAÇÃO DA ÁREA IMPERMEABILIZADA
Incentivar a preservação ambiental, fundamental para a melhoria da qualidade de vida. O incentivo ao uso de cobertura vegetal ao invés de materiais impermeáveis em áreas externas das residências pode significar um acréscimo de área permeável em torno de 10% a 15% da área urbana, diminuindo o volume de água a ser escoado pelo sistema de drenagem.

MEDIDAS CONTRA INUNDAÇÃO
A empresa deve obter junto aos órgãos públicos (serviço de meteorologia) os meses onde ocorrem as maiores precipitações pluviométricas, para que possa tomar as medidas necessárias durante a época dessas ocorrências.
O histórico anterior de inundação de uma certa área indica fortemente a susceptibilidade de inundação.
Se esta situação for previsível pelo serviço meteorológico ou pela constatação que o sistema de escoamento de água pluvial está demorando em escoar a água da chuva, a empresa deve estar preparada para acionar o sistema de emergência contra inundação.

ALGUMAS MEDIDAS QUE PODEM MINIMIZAR OS DANOS:

1-Caso haja córrego, próximo à empresa, solicitar ao órgão público, a limpeza e a dragagem do córrego ou a sua canalização
2-Tomar cuidado com “ralos" ou caixa de gordura no interior do prédio, que em caso de transbordamento, poderá haver refluxo de água. É necessário colocar um dumper nas caixas.
3-Colocar barreiras contra inundação (porta elevatória com guia e contrapeso), que em caso de transbordamento, poderá ser acionada, funcionando como barreira (comporta), principalmente nas aberturas (portas).
4-A empresa em conjunto com órgão público (prefeitura) deve através de campanhas educativas procurar conscientizar a comunidade sobre o lixo urbano jogado nos leitos dos rios. Um programa educacional junto à população pode, portanto, ajudar a prevenir enchentes. O hábito de jogar lixo nas ruas, deixar restos de cimentos de obras nas calçadas ou depositar com muita antecedência em frente à casa o lixo a ser coletado faz com que todo este lixo acabe por ser arrastado pela chuva para os bueiros, entupindo-os e fazendo com que as enxurradas nas ruas se tornem violentas, podendo arrastar pessoas, casas e automóveis. É importante também envolver os meios de comunicação disponíveis na cidade, as organizações sociais, clubes de futebol, igrejas, sociedades de bairros, etc.

À PROVA DE INUNDAÇÃO
Á prova de inundação inclui projeto ou modificação do edifício ou característica do local para reduzir o potencial de danos de inundação. As proteções passivas podem incluir construção de diques secos, barreiras de contenção e comportas.
As barreiras de contenção e diques geralmente são utilizadas para grandes áreas, entretanto, eles também podem ser práticos e econômicos para um pequeno número de estruturas ou uma única estrutura.
As barreiras de contenção são geralmente construídas de alvenaria ou de concreto. Os diques geralmente são aterros de terra com inclinação baixa ou moderada.
A vantagem dos diques e paredes de contenção é que eles podem proteger algum tipo de estrutura, se forem construídas adequadamente (piscinão). A vedação em porta ou em qualquer outro tipo de abertura com material resistente a água (existe no mercado internacional, dispositivos apropriados, denominados de flood barriers, para esse tipo de proteção).
As medidas de controle de contingência para alagamento exigem algum tipo de instalação ou preparação antecipada. As proteções de alagamento, portas com vedação ou outro dispositivo de proteção deve ser colocado imediatamente, ou antes, do alagamento (adotar procedimento quando a empresa encerrar o expediente a obrigatoriedade de todos os sistemas existentes de proteção contra alagamento esteja ativado).
A principal desvantagem com esse tipo de proteção é confiar na intervenção humana durante a situação de emergência extremamente grave.

Se uma nova instalação está sendo construída ou projetada em uma área de provável alagamento, a empresa deveria levar em consideração esse problema, construindo ou projetando o piso inferior para ser o piso acima do nível da base do alagamento, isto é, elevação do piso acima do nível máximo de alagamento existente. Aterros, pilares e estaqueamento podem ser usados para elevar a estrutura.

As necessidades de proteção de emergência contra alagamento devem ser capaz de colocar imediatamente avisos nas áreas de riscos. As atividades devem ser cuidadosamente antecipadas e planejadas.
As medidas de emergência incluem a construção de diques com sacos com areia ou com terra e execução de aterro (ensecadeira de terra). Os diques de contenção são construídos de terra ou areia, utilizando sacos plásticos ou de aniagem que seriam enchidos durante o alagamento (os sacos seriam enchidos durante a iminência do alagamento ou transbordamento).
As proteções com aterro e barreiras de contenção (modular flood barrier) são paredes provisórias executadas com placas de madeira, que pode ser deixada ao longo de canais tal como “slot” de concreto (estrutura de concreto, onde será fixada ou encaixada as placas de madeira).

As condições de alagamento são impostas quase sempre pela ação imediata. Por esta razão é essencial que todo material e plano para operação preventiva adequada deve ser colocado em prática antecipadamente.

OS PRINCIPAIS PROBLEMAS PROVOCADOS PELA INUNDAÇÃO SÃO:
■ prejuízos de perdas materiais e humanas;
■ interrupção da atividade econômica das áreas inundadas;
■ contaminação por doenças de veiculação hídrica como leptospirose, cólera, entre outros;
■ contaminação da água pela inundação de depósitos de material tóxico, estações de tratamentos entre outros.

PERDAS MATERIAIS
No caso de inundação, a água contaminada provoca danos corrosivos em máquinas e em equipamentos elétricos que ficaram imersos. A fim minimizar os danos da corrosão, é necessário que se faça imediatamente à ação preventiva (manutenção e limpeza) dos equipamentos e máquinas afetadas.
Os elementos mais comuns causadores da oxidação e corrosão são o equipamento exposto à água e ao oxigênio.

Os principais danos provocados pela inundação:
■ motores, os geradores, os controladores, os acionadores de partida, os painéis de distribuição de ligações, etc
■ motores diesel, as engrenagens de redução, máquinas girantes, sistema hidráulico, etc
■ matéria prima e mercadoria (dependendo do tipo, perda total)
O processo de ação preventiva (limpeza e manutenção) deve ser imediato para reduzir as perdas devido à exposição a sais ácidos ou da água contaminada aos metais e/ou equipamentos elétricos.

MEDIDAS DE SEGURANÇA
O desastre natural, diferente do incêndio é impossível de evitá‑lo previamente. Portanto, quanto à medida é essencial minimizar os danos e mesmo havendo danos, restaurar o mais rápido possível.
O comitê de segurança (responsável pela elaboração de normas relacionadas a segurança e sua execução), deve preparar as normas de medidas de segurança, com relação a desastres naturais (vendaval e inundação) e manual de procedimentos dos funcionários.
Nos manuais devem ter regras como se preparar caso haja a possibilidade de ocorrência de vendaval, tromba d'água, inundação, etc.
Por outro lado é essencial diminuir o tempo de paralisação de operação e minimizar seu prejuízo, deixando em alerta os funcionários, encarregados da execução do plano de restauração de operação após desastre e mantendo o material necessário para esta emergência (bomba de sucção, lonas plásticas, materiais utilizados na secagem de equipamentos).

CHECK LIST - INUNDAÇÃO
A gerência da empresa deve assegurar que as seguintes atividades foram executadas:
1-Revisão de todas as exposições possíveis que podem afetar a instalação durante a inundação , por exemplo, instalação vizinha, armazenagem ao ar livre (pátio), interrupção de serviços básicos (água, energia, gás, etc) e problemas de acesso em potencial
2-Revisão do plano de emergência da instalação, se necessário, atualizar.
3-Assegurar que as edificações, muros (muros e edificações apresentam sem problemas na parte estrutural, rachaduras ou trincas) e barreiras de contenção estão bem conservados.
4-Assegurar que as aberturas no nível do solo (portas) que foram construídas com barreiras fixas (patamar com escada) estão intactas.
5-Checar as condições de barreiras de contenção e assegurar que elas estão acessíveis e prontas para instalar.
6-Revisão da localização e checar as condições de válvulas operadas manualmente, que foram instaladas em tubulações para impedir o refluxo através do sistema de drenagem ou de esgoto.
7-Testar e checar que as bombas de esgotamento estão bem conservadas e funcionando.
8-Avaliar a necessidade de proteção adicional para equipamentos vitais
9-Ter em reserva sacos de areia para proteger possível entrada de água e para proteção de equipamento vital. Garantir que os sacos para enchimento de areia estão em boas condições.
10-Assegurar que os membros da equipe de emergência conhecem os procedimentos de seus serviços durante a emergência de inundação.
11-Efetuar exercícios com os membros da equipe nas instalações, tais como; barreiras de contenção, checagem de bombas e fechamento das válvulas operadas manualmente.

Quando a inundação está ameaçando a instalação, a equipe de emergência e os empregados devem empenhar-se nas seguintes atividades (onde é adequado):
1-A pessoa indicada está monitorando as condições de inundação (nível de inundação, obter informação junto ao órgão público sobre o índice pluviométrico, a elevação do rio por hora) e mantendo o líder da emergência informado.
2-Sacos estão sendo preenchidos com areia e colocados nos possíveis pontos de entrada e em equipamento de vital importância (bomba de incêndio, equipamentos caros, etc).
3-As barreiras de contenção estão sendo instaladas.
4-Os empregados estão realocando as seguintes mercadorias /equipamentos para locais seguros;
4.1-estoque de itens de valores elevados ou aqueles críticos para continuar a operação
4.2- equipamentos, tais como; equipamentos eletrônicos móveis, computadores, dispositivos de controle de qualidade e de testes, matrizes e moldes, etc.
4.3-alguns veículos que serão necessários depois da inundação, tais como; caminhões, empilhadeiras, trailers, etc.
4.4-Qualquer armazenagem externa ou equipamento que não poder ser transferido para outro local está protegido.
4.5-Tanques de armazenagem vazios, incluindo de superfície e aterrado devem ser preenchidos para impedir a flutuação.
4.6-Empregados estão protegendo as máquinas estacionarias de grande porte com lubrificantes que protege contra corrosão e repelente a água (lubrificante cria um filme, que dificulta a penetração de água e evitando a corrosão), graxa repelente a água ou lonas plásticas.
4.7-Telhado, piso e pátio que drenam água foram checados para verificar, se eles estão limpos, e assim continuamente monitorado para garantir que estão limpos
4.8-Empregados fecham quaisquer válvulas operadas manualmente, conectadas as tubulações, para impedir o refluxo através do sistema de drenagem ou de esgoto.
4.9-Bombas de esgotamento, deram a checagem final para garantir o funcionamento delas.
4.10-Sistema de líquidos inflamáveis foi interrompido
4.11-A equipe de recuperação de salvados está em alerta e preparada para executar as ações descritas no plano de emergência
4.12-Equipe de reparos de equipamentos (já identificado no plano) está em posição de alerta
4.13-Para reduzir a probabilidade de ocorrência de incêndio durante a inundação, o plano também está levando em consideração as seguintes etapas:
4.13.1-Eletricidade e gás foram interrompidos para prevenir curto circuito de equipamento elétrico e diminuir o risco de incêndio ou ruptura da canalização de gás. Se a bomba de incêndio é elétrica, ter uma bomba a diesel disponível como reserva.
4.13.2- Barreiras foram instaladas em volta da canalização principal do sistema de sprinkler (conjunto de válvula de governo, alarme, dreno) para protegê-la contra detritos, entulhos flutuantes.

O líder do plano de emergência deve esforçar-se para manter em funcionamento o sistema de proteção contra incêndio durante a inundação.

Assim que possível, depois da inundação a equipe de emergência (equipe de recuperação de salvados) e demais funcionários devem iniciar o procedimento de recuperação;
1-Equipamento deve ser limpo e secado, com as partes vitais recebendo atenção especial (estes devem ser identificados no plano)
2-Permanecendo água nas instalações, removê-las
3-Áreas úmidas são desumidificadas
4-Materiais molhados e entulhos da inundação são removidos da instalação
5-Sistema de proteção contra incêndio é mantidos em serviço. Isto é vital, depois da limpeza, pode resultar acúmulo de materiais combustíveis (entulho, material inservível, etc).
6-Todo reparo de corte e solda deve ser conduzido de acordo com a permissão de autorização de corte e solda.

Fonte: Tokyo Marine Insurance, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Impactos devido às inundações ribeirinhas, IRI Sentinel – Third Quartier – 1997 - “Flood”, FM – Record – Effective action against flood – First Quarter - 1995

DADOS HISTÓRICOS

Moradores e empresários passaram o dia tentando remover lama e entulho
Moradores, comerciantes e empresários da região do Ipiranga, na zona sul da capital, tiveram muito trabalho para conseguir limpar a sujeira deixada pela enchente de 12 de Janeiro de 2000.

Ruas, casas e empresas estavam cheias de entulho e lama.
Na lanchonete de propriedade de José Pereira de Souza, a água chegou a quase 2 metros no interior do seu estabelecimento. Mesmo assim, na manhã de sexta-feira, 14 de janeiro, Souza tinha esperanças de fazer funcionar a geladeira, que comprou em 12 parcelas. O esforço de nada adiantou. "Só consegui salvar alguns copos de água mineral", disse.

Metalúrgica e prejuízo
Os funcionários da metalúrgica Bernadini passaram sexta-feira, 14 de janeiro, tentado limpar e retirar a lama espalhada pelos 22 mil metros quadrados do local. A força da água da chuva foi tão grande que derrubou uma das paredes da empresa, por onde a água entrou.
Mesmo com o sol brilhando dentro da metalúrgica, a água alcançava quase 2 metros de altura. "Em apenas um dia não dá para limpar tudo", disse o gerente-industrial. Ele afirmou que o prejuízo é de aproximadamente R$ 6 milhões (US$ 3,2 milhões).
Além da dor de cabeça de limpar a sujeira, a metalúrgica teve de pôr funcionários de prontidão na fábrica, pois havia pessoas tentando entrar no local, pela parede derrubada, para retirar objetos.
A empresa informou que vão entrar com um processo na Justiça contra a prefeitura e o governo do Estado pedindo indenização pelos danos causados pela enchente.
Dia de limpeza geral e máquinas paradas na região ABCD

O temporal que atingiu a região do ABC no início da noite de quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000, causou enormes prejuízos às indústrias localizadas em Diadema.

A maioria das empresas foi alagada
Das 50 maiores empresas metalúrgicas instaladas no bairro de Piraporinha e arredores, principal foco de concentração de fábricas, pelo menos 20 foram invadidas pelas águas e tiveram que paralisar suas produções para retirada de lama, lixo e realização de reparos em equipamentos.

Causa do alagamento
A causa do alagamento que atingiu Autometal e TRW, entre outras empresas, é velha conhecida dos industriais da região. O Ribeirão dos Couros, um córrego que passa por trás das fábricas, não suporta o volume de água e transborda em poucos minutos sempre que a, chuva é muito forte.

Limpeza e retirada de lama
O proprietário da Autometal (empresa do ra­mo de autopeças) passou por um dos momentos mais tristes na vida desde a inauguração da sua fábrica, há 36 anos.
"Poucas vezes eu vi tanta água e sujeira em um mesmo lugar", diz. Das 18h00 de quarta-feira às 6h00 de quinta-feira, os 350 funcionários que deve­riam trabalhar no turno da madrugada ficaram parados.
Quem conseguiu chegar colaborou com a retirada de lama e água que dominaram 70% da planta da fábrica. O nível d'água ultrapassou 20 cm de altura e chegou a afetar alguns equipamentos. "Só com a paralisação da produção de peças terei um prejuízo de R$ 200 mil (US$ 110 mil)", lamenta o empresário. O empresário ainda calculava as perdas com horas de mão-de-obra paradas e os custos de manutenção para recolocar parte de seu parque industrial em operação.

Seguro
Para se proteger das enchentes o recorre ao seguro que garante ao conserto, ou mesmo a reposição, de máquinas e peças que venham a ser afetadas. "Já pensei em acionar a prefeitura, mas conclui que o gasto e a lentidão para receber indenizações não compensam."

Mudança para fugir das enchentes
Há empresas que conseguem conviver com alguns dias de cheia no ano, mas nem sempre a economia no aluguel de um galpão desvalorizado compensa. "É possível investir em obras civis, como diques e comportas, mas os pequenos transtornos e paradas da produção atrapalham demais", diz o diretor da Weril, fábrica de instrumentos musicais que saiu de Mairiporã para se instalar em Franco da Rocha.
"Nós muda­mos para o alto de um morro, bem acima do nível da represa, só por causa da lembrança dos seis anos que sofremos com enchentes", diz.
Segundo o diretor, sair dos locais de risco é a melhor solução. "Há mui­tos galpões vazios na Grande São Paulo", diz o empresário, que começou a se mudar no final de 1987. O diretor lembra-se de ver suas máquinas cobertas 1,7 metros de água e lama. "Era preciso desmontar tudo para limpar peça por peça, mas sempre sobrava um pouco de bar­ro." A empresa não perdia matéria‑prima, pois a maior parte da matéria-prima era latão, que não estraga em contato com a água como o aço.

Prejuízos elevados, a mudança foi a melhor solução
As enchentes do verão passado, também pesaram na decisão de mudança da Indústria Nacional de Aços Laminados (Inal), empresa do grupo da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Em setembro, a fábrica foi transferida de Guarulhos para Mogi das Cruzes.
A Inal perdeu R$ 16 milhões (US$ 9 milhões) com a chuva de 10 de fevereiro de 1999 e levou mais de um mês para colocar toda a linha de produção em funcionamento normal.

Construção de diques, não foram suficientes
A Inal ficava entre a via Dutra e o rio Tietê, em Guarulhos. Para contornar enchentes, que costumavam atingir meio metro de altura, a Inal construiu diques. No entanto, eles foram insuficientes na noite do dia 10, quando Guarulhos recebeu 121 milímetros de chuvas. Uma carga excepcional, na opinião da pesquisadora Neide Oliveira, do 7o Distrito de Meteorologia.
A fábrica e os escritórios do térreo foram tomados por 1,5 metros de água e lama do rio. As lâminas e bobinas de aço, que seriam usadas para fazer latas para embalar alimentos e autopeças, tiveram de ser inutiliza­das por causa da oxidação.

Causa do alagamento
Devido à crise política e administrativa de Guarulhos, a manutenção dos rios e córregos não foi feita por dois anos. A atual administração está fazendo a manutenção dos canais e há duas outras obras antienchentes sendo feitas pelo governo estadual: a canalização do córrego Cabuçu e a contenção de encostas ao lado das pontes das rodovias, O assoreamento dos cursos d'água é agravado pelo crescimento urbano desordenado. Guarulhos cresce 4,3% ao ano. A migração acrescenta 43 mil novos moradores por ano, que invadem terrenos ou compram lotes clandestinos. As casas surgem de forma in­controlada e provocam erosão.

Vídeo:
Mostra um sistema automático de barreira contra inundação

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posted by ACCA@5:00 AM