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terça-feira, setembro 09, 2008

Trabalhadores do porto de Manaus carregam o dobro do peso em carga


Foto - Antonio Batista, 1,65 metro e 64 quilos, carrega 120 kg de açúcar nas costas para abastecer barco. Trabalhador com sandália que não tem tração ou poderá escorregar, provocando contusão na coluna.

Trabalhadores do Porto de Manaus carregam nas costas o dobro do próprio peso para encher navios que abastecem cidades a até dez dias de viagem pelo Rio Negro. Os trabalhadores chegam a trabalhar até nove horas por dia.

Para chegar aos navios, os trabalhadores descem uma escada de 30 degraus que termina em uma ponte estreita, sem corrimão e que “dança” sobre o Rio Negro. Da ponte, saltam para o cais, onde andam com a carga nas costas por até 150 metros, dependendo de onde o barco está atracado.

Foto - Francinei Batista Martins, de 60 kg, carrega 80 kg nas costas, seu recorde é de 120 kg.
Trabalhadores
■ Francinei Batista Martins, 36 anos, tem 1,60 metro e pesa 60 quilos. Em geral, carrega cargas de 80 quilos entre os caminhões das transportadoras e os barcos atracados no porto. Mas é comum carregar 120 quilos, principalmente quando a carga é de açúcar.
Martins trabalhar nove horas por dia no transporte de mercadorias das 7h às 18h, com duas horas para almoço e descanso.
Há três anos no emprego, ele ganha R$ 500 por mês e disse nunca ter sentido dores nas costas. “Nunca tive. Mas um dia pode dar, não é?” Ele afirmou não procurar outro emprego. “Vou até onde for”, declarou.
■ O carregador Antônio Batista, 1,65 metro e 64 quilos, trabalha entre sete horas e nove horas por dia no transporte de cargas. Seu recorde foi 140 quilos nas costas. Ele estava carregando 120 quilos em fardos de açúcar.
Aos 43 anos, Batista trabalha com transporte de cargas há três meses, por falta de opções. “É duro, mas fazer o quê?” Ele já havia trabalhado no porto antes, por três anos, mas havia deixado o trabalho.

Fonte: G1 – 09 de setembro de 2008

Comentário:
No Brasil, o que as leis ou normas especificam em relação ao limite de peso no transporte manual de carga:
■ No artigo 198 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho de 2005), do Brasil, é de 60 kg (sessenta quilogramas) o peso máximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as disposições especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher.
■ A Norma Regulamentadora NR-17 no item 7.2.2, diz: “Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador, cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança”.

Na Alemanha, já na década de 80, o limite de levantamento e transporte manual de carga era de 30 Kg, para adultos (homens).

Critérios NIOSH (National Institute for Ocupational Safety and Health) dos Estados Unidos,
1. Cargas superiores a 23 kg (este é o máximo de carga a ser levantado em condições ideais);
2. Freqüência de levantamento da carga acima mais que uma vez a cada 5 minutos;
3. Distância da carga ao corpo do trabalhador. Quanto mais longe estiver, pior para a coluna. Distâncias superiores a 25 cm são problemáticas;
4. Ângulo de rotação do tronco no plano sagital. São consideradas críticas para as facetas da coluna lombar e para os discos as pegadas que exigem movimentos lateralizados e em diagonal. Ângulos de rotação acima de 30º são críticos;
5. Pegar cargas em altura superior a 1,20 m do chão ou à distâncias menores que 75 cm do chão;
6. A pessoa, ao pegar uma carga, não consegue dobrar os dedos próximos de 90º debaixo da carga.

Hoje, recomenda-se no máximo de carga 20 kg.

As atividades de manusear cargas pesadas, sem considerar as limitações do ser humano, podem trazer sérios riscos à saúde. O sistema circulatório, em especial o coração, podem ser afetados, especialmente no que diz respeito ao ritmo cardíaco e pressão sangüínea.

Os problemas mais freqüentes, advindos do manuseio e movimentação de cargas são:
■ hemorragias cerebrais em pessoas com arterioscleroses (endurecimento das artérias);
■ em pessoas frágeis uma mudança de pressão repentina pode provocar hérnia abdominal ou outros problemas dos órgãos abdominais (ptose: queda de um órgão pelo relaxamento dos ligamentos viscerais ou das paredes abdominais).
Este problema acontece quando a pessoa faz este tipo de atividade de forma esporádica, e sem os cuidados necessários .

Trabalhos freqüentes
Os trabalhadores que realizam um duro trabalho físico, freqüentemente apresentam diversas artroses nas articulações das vértebras, joelhos e tornozelos, devido aos repetidos microtraumatismos.

Crianças e adolescentes
No trabalho freqüente com cargas excessivas, principalmente quando é iniciado com pouca idade, a tensão e esforço constante em músculos, ligamentos, articulações, e ossos podem causar deformações, tais como,
■ escolioses e cifosis vertebrais,
■ deformação do arco do pé e um estado inflamatório e
■ doloroso dos músculos e bolsas articulares, tais como miositis e bursites
No caso de crianças e adolescentes, este tipo de trabalho poderá afetar seu desenvolvimento físico, especificamente o esquelético, podendo-se produzir deformações na coluna vertebral, pelvis e tórax.

Problemas lombares continuam aumentando
Os problemas lombares dos trabalhadores, em geral, continuam aumentando. Segundo estudo realizado na Holanda (Hildebrandt, 1995), no qual realizou- se um levantamento com 8748 trabalhadores de ambos os sexos e diferentes profissões e ofícios, verificou-se que 26,6% apresentam dores nas costas de forma freqüente.

Observou-se também que as atividades que apresentam maior grau de incidência são as relacionadas com o transporte e manuseio de materiais (construção civil, serventes, estivadores, transportadores de peso em geral).

Assim, manuseio e movimentação de cargas têm como principal risco os problemas da coluna, que são dolorosos e reduzem a mobilidade e a vitalidade dos trabalhadores. A incidência destes problemas é responsável pelas altas taxas de absenteísmo, pela incapacidade precoce e desgaste excessivo dos trabalhadores.

É importante deixar claro que, problemas na coluna não são exclusivos das pessoas que manuseiam cargas pesadas. A automatização e a mecanização industrial causaram o aumento de número de postos na posição sentada, sendo que houve um aumento da incidência de lombalgias para os trabalhadores que devem permanecer sentados por longos períodos, devido à adoção de posturas penosas impostas pelas exigências das tarefas. Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina - Eugenio Andrés Díaz Merino.

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posted by ACCA@11:14 PM