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sexta-feira, julho 11, 2008

Um chamado de alerta para os riscos da nanotecnologia

No mundo pós-moderno, há um "fascínio da criatividade". Tudo precisa ser pequeno, rápido, eficiente e com potencialidade de armazenamento de informações. Nessa linha, está a pesquisa com as nanotecnologias. Uma célula humana tem cerca de 20 micrômetros de diâmetro: um micrômetro é um milionésimo de um metro. Já um nanômetro é um bilionésimo de um metro, cerca de três ordens de grandeza menor do que a célula. É nessa ordem que se tem uma melhor aproximação com a movimentação celular, e a interferência viabiliza um maior grau de precisão dos resultados. Possibilita o surgimento de novas propriedades, bem distintas das que se mostram nos tamanhos atualmente conhecidos.

Tecnociência e dano à saúde
A nanotecnologia, ao lado da biotecnologia, é a tecnociência da hora. Engenheiros do mundo todo estão de olho comprido em materiais projetados na escala do bilionésimo de metro (ou milionésimo de milímetro). Sua estrela são os nanotubos de carbono, mas ela foi mais uma vez embaçada pela suspeita de que possa vir a causar câncer.
Nanotubos são folhas enroladas de átomos de carbono arranjados numa geometria de hexágonos encaixados, similar à de uma tela de galinheiro.
Um material leve como plástico, mas resistente como aço. Estudam-se múltiplas aplicações, de veículos para remédios a eletrônica avançada, com mercado potencial de US$ 2 bilhões dentro de 4 a 7 anos.
Há vários tipos de nanotubos. Um dos mais usados tem várias camadas concêntricas (tubos dentro de tubos) e é longo. Em inglês, recebeu como apelido a sigla MWNT (de "multiwalled nanotubes").
Não é de hoje que se investiga a hipótese de que nanomateriais causem dano à saúde. Por conterem partículas diminutas, são mais facilmente assimiláveis por estruturas como células. Para o bem (se forem remédios) ou para o mal (se forem tóxicas).

Suspeita de causar câncer
As fibras de MWNT se assemelham às de amianto, material mineral da natureza vinculado a um tipo de câncer (mesotelioma) no pulmão. Células de defesa do corpo, como os macrófagos, não conseguem tirar da superfície interna do órgão todas as minúsculas fibras de amianto aspiradas. Segue-se eventualmente uma reação inflamatória, que pode dar origem ao tumor.
Dada a semelhança entre fibras de MWNT e de amianto, pesquisadores dos EUA e do Reino Unido decidiram investigá-las. Liderados por Kenneth Donaldson, da Universidade de Edimburgo (Escócia), injetaram fibras longas e curtas tanto de amianto quanto de MWNT na cavidade abdominal de camundongos, que tem uma camada de revestimento (mesotélio) similar à do pulmão.
Constatou-se que os nanotubos longos, assim como as fibras idem de amianto, desencadeiam a reação inflamatória precursora do mesotelioma. Não ficou provado, portanto, que MWNTs causem câncer, mas o resultado recomenda com ênfase que se façam mais pesquisas para avaliar melhor esse risco.
"Ainda não sabemos se os nanotubos de carbono se tornarão aerossóis e serão inalados, ou se, caso de fato alcancem os pulmões, poderão encontrar o caminho até o revestimento sensível mais externo", ressalva Donaldson em comunicado do Projeto sobre Nanotecnologias Emergentes. "Mas, se acabarem chegando lá em quantidade suficiente, há uma chance de que algumas pessoas venham a desenvolver câncer, talvez décadas depois de respirar a coisa."
A boa notícia, do ponto de vista da promissora nanotecnologia, é que a reação pré-tumoral não ocorre com fibras MWNT mais curtas, ou curvas. Para Donaldson, conhecer essas propriedades dos nanotubos facilitará também a pesquisa sobre como evitar seus danos à saúde humana.

"Não podemos nos permitir não explorar esse material incrível, mas tampouco podemos nos permitir usá-lo erradamente como fizemos com o amianto", afirma Andrew Maynard, consultor do projeto e co-autor do trabalho, “Projeto sobre Nanotecnologias Emergentes”.

Fonte: Folha de São Paulo - São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008 e Zero Hora - 26 de maio de 2008
Vídeo
A Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma) foi constituída em outubro de 2004. Atualmente, compõe-se de 30 membros de 21 instituições.
A Renanosoma é uma rede de pesquisas que procura incentivar a discussão sobre nanotecnologia paralelamente ao seu desenvolvimento. O foco concentra-se nas mudanças ambientais, aspectos sociais e econômicos que ela produzirá em cada caso.
São sete documentários "Nanotecnologia - O Futuro é Agora", produzido pelo Instituto Renanosoma e Produtora Último Ato.

Você também pode assistir todos os vídeos pelo site da Renanosoma.
http://nanotecnologia.incubadora.fapesp.br/portal/video-nano-futuro

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posted by ACCA@8:02 AM