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sexta-feira, março 21, 2008

Contaminação de produtos orgânicos por pesticidas na Holanda


Um caso de verduras contaminadas por pesticidas está causando comoção na próspera indústria de alimentos orgânicos. O caso ilustra que os controles são lenientes demais. Aparentemente, assim também são as legislações européias.

As pequenas plantas de funcho da Holanda entregues a Bernd Kugelmann em junho de 2007 pareciam sadias e ele tinha finalmente transformado seu negócio de agricultura em uma operação inteiramente orgânica. Conseguiu entrar para a Bioland, maior associação de agricultores orgânicos da Alemanha, e ser fornecedor da Lidl, uma das maiores redes de supermercados do país. Entretanto, as mudas que comprara pareciam limpas demais para serem verdadeiramente orgânicas.

Análise das plantas
Kugelmann comprara as mudas, milhares delas, da West Plant Group, na cidade holandesa de Venlo. Como também havia observado manchas evidentes de cor turquesa, pediu a um especialista da Bioland que testasse as plantas em laboratório. O resultado foi devastador: as mudas de funcho, aparentemente, tinham sido mergulhadas em pesticidas.
Kugelmann imediatamente entregou-se na Bioland e informou à Lidl sobre o problema. A gigante de supermercados imediatamente retirou as verduras de Kugelmann das prateleiras e cancelou o seu contrato.

Terra contaminada, perda de clientes
Nas semanas seguintes, Kugelmann não apenas perdeu mais clientes, mas também sua fé nas pessoas que trabalham na indústria de orgânicos. Ele teve que destruir parte de sua produção e não pôde mais usar a terra que havia sido contaminada com pesticidas e também a alface e o aipo já estavam contaminados.

Prejuízos e desilusão
O advogado de Kugelmann estimou os danos em torno de 650.000 euros (cerca de R$ 1,8 milhão). Kugelmann ficou com a impressão que a honestidade de fato não é recompensada, nem mesmo na eco-comunidade.
E a grande expansão de orgânicos que a Alemanha está vendo neste momento? "Não chegou a mim", diz Kugelmann, cuja operação se baseia na cidade alemã de Kandel, no Sudeste, perto da fronteira com a França.

Ressarcimento de danos
Até hoje, ele não recebeu um centavo em compensação pelos danos causados por seus fornecedores holandeses. Para piorar, um representante da West Plant Group recentemente disse na Biofach, Feira Mundial de Comércio Orgânico em Nuremberg, que todas as mudas compradas por Kugelmann tinham deixado a empresa em perfeitas condições ecológicas. Kugelmann, diz que agora está em dificuldades financeiras e teve que pedir aos seus fornecedores para pagar apenas depois da próxima colheita.

Falta de fiscalização, falha na legislação, monitoração e certificação
O caso de Kugelmann ilustra claramente um problema fundamental dentro da indústria de orgânicos, que rapidamente se transformou em um negócio de muitos bilhões de euros: com seu crescimento rápido, os inspetores não conseguem corresponder à demanda. Quando conseguem testar uma amostra, os inspetores têm as mesmas dificuldades que os fiscais esportivos tentando pegar um ciclista profissional por doping: os pesticidas modernos se degradam depois de alguns dias e quase não deixam traços.

Seu caso também expõe os problemas das políticas da União Européia para a agricultura orgânica, que permitem que produtos convencionais sejam plantados junto com produtos orgânicos em uma única estufa. Na Holanda, onde uma única instituição, Skal, tem autorização para certificar produtos orgânicos, o processo de monitoração é particularmente fraco, disse o especialista do Greenpeace Martin Hofsetter. "O fato que não haverá conseqüências para os perpetradores em uma situação como essa é um escândalo", diz ele.

A análise química demonstrou resíduos de pesticidas
As evidências em favor das alegações de Kugelmann parecem sólidas. Com um representante do West Plant Group ao seu lado, inspetores do conselho de controle da Bioland, Acbert, tiraram amostras de funchos orgânicos recém-chegados da Holanda. A análise química demonstrou "nível significativo" de resíduos de pesticidas. Com 1,4 mg por quilo, a quantidade de tolclofos-methyl, um fungicida agressivo, excedeu o máximo permitido em 14.000%. As sementes encontradas pelos inspetores também continham outras substâncias proibidas. Testes conduzidos em uma segunda fazenda orgânica na parte Sul do Estado da Renânia-Palatinado, na Alemanha, revelaram resultados similares.
Depois de ser informado pela Acbert, o serviço de inspeção holandês Skal decidiu avaliar por si mesmo. Ele encontrou "alta concentração" de tolclofos-metil em plantas de funcho dentro de uma estufa da West Plant. O diretor da Skal, Jaap de Vries, insistiu que até aquele ponto eles nunca tinham tido "qualquer problema" com seu cliente, mas, no verão passado, ele teve que retirar a licença de um produtor. "Encontramos plantas convencionais e orgânicas crescendo lado a lado".

Predomina o interesse econômico no mercado de orgânicos
O advogado de Kugelmann, Hanspeter Schmidt, chamou o relatório da Skal de "bastante vago" e salientou que a Skal recusa-se a compartilhar dados detalhados de sua análise. Schmidt entrou com acusações de fraude contra a West Plant, mas a promotoria pública na cidade próxima de Roermond, na Holanda, não identificou crime e encerrou o processo.
De acordo com as diretrizes da UE, os serviços de inspeção agrícola nos dois países devem cooperar em tais casos, mas, de fato, têm pouco contato entre si.
"Falamos muito sobre o mercado comum, mas aqui vemos o quanto isso tudo é apenas um show", disse o presidente da Bioland Thomas Dosch.
Para o agricultor Kugelmann, o futuro ainda é sombrio. O jornal do setor "Gemüse" não quis falar de seu caso - advogados da West Plant exerceram considerável pressão, alegando que Kugelmann não haviam oferecido qualquer evidência de contaminação química. Bart Verhalle, diretor da West PLant, cancelou sua entrevista nem quis responder perguntas escritas; basicamente escondeu-se, usando a certificação da Skal como seu escudo protetor.
Pelo menos esta não parece estar ameaçada. Como salienta o diretor da Skal, não foram encontrados erros sistemáticos em sua empresa.

Fonte: UOL Mídia Global - Der Spiegel – 13 de março de 2008

Comentário:
O produto orgânico é cultivado sem o uso de adubos químicos ou agrotóxicos. É um produto limpo, saudável, que provém de um sistema de cultivo que observa as leis da natureza e todo o manejo agrícola está baseado no respeito ao meio ambiente e na preservação dos recursos naturais. O solo é a base do trabalho orgânico. Vários resíduos são reintegrados ao solo; esterco, restos de verduras, folhas, aparas, etc., são devolvidos aos canteiros para que sejam decompostos e transformados em nutrientes para as plantas.

Selo de Certificação de Produtos Orgânicos
O selo é a sua garantia de estar consumindo produtos orgânicos.Este selo só é conferido após rigorosos exames de controle de qualidade de solo, água, reciclagem de matéria orgânica, dentre outros.
A certificação verifica a conformidade dos produtos orgânicos e biodinâmicos com normas nacionais e internacionais. A certificação de uma produção vegetal, animal ou industrial, indica que foram realizados os seguintes trabalhos:
■ visitas periódicas de um inspetor no local de produção;
■ avaliação do relatório de inspeção por um conselho formado por agricultores, processadores, acadêmicos, técnicos e representantes de consumidores;
■ análise residual para verificar o nível de pureza do produto;
■ aprovação da unidade de produção, dentro dos padrões de qualidade orgânica ou biodinâmica. Fonte: Ambiente Brasil

Hoje no Brasil são produzidos alguns produtos orgânicos, tais como; soja, hortaliças, café, frutas, cana de açúcar e palmito.
O Brasil não possui atualmente um programa nacional de monitoramento de resíduos de pesticidas em alimentos, e são escassos os dados de resíduos em alimentos prontos para serem consumidos.
A indústria de produtos orgânicos não está imune ao recall ou chamamento ou recolhimento de produtos. Atualmente existe uma onda mundial de recall por falha de controle de qualidade do produto, principalmente na área de alimentos.
Agora, temos de tomar cuidado com as fontes de origem dos produtos (alimentos, brinquedos, eletrônicos, etc), pois acabou a era da produção verticalizada da empresa, sendo substituída por uma cadeia de fabricantes de terceiros (custo menor) que produz determinado produto para a empresa detentora da patente ou da comercialização. Não existe controle total das etapas de fabricação do produto, pois a cadeia de fornecedores é muito grande e diversificada.

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posted by ACCA@8:39 AM