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segunda-feira, fevereiro 02, 2015

História:Tornado destrói e mata 15 pessoas em Itu

Caso histórico: Um dos piores tornados, que ocorreu no Estado de São Paulo na segunda-feira, 30 de setembro de 1991, às 18 h 50 min.

Um tornado raro e violento, com ventos a 120 km/h, varreu uma faixa de 400 metros de largura por 30 quilômetros de extensão na região de Itu  e deixou um rastro de destruição.
Ouvi um assobio forte e achei que era um avião voando baixo. Quando o vento chegou, a poeira se levantou do chão e não vi mais nada. Um dos fornos da cerâmica estava aceso e corri para lá. Fiquei perto da entrada do forno, o calor queimava minhas costas e tudo parecia desmoronar. Quando acabou, não tinha sobrado quase nada: o telhado estava caído, a chaminé arrancada, um caminhão virado de cabeça para baixo, as paredes derrubadas. Nem eu acreditei que estava vivo, disse Júlio Quitério,  operário da Cerâmica Telhatex de Itu. Ele presenciou no início da noite de segunda-feira um fenômeno que deixou um rastro de destruição.

ÔNIBUS ARRASTADO
"A sensação foi gente estivesse num avião decolando. Depois foi só estrondos, tudo rodando quebrando, um monte de gente presa nas ferragens” contou o tecnólogo Roberto da Mata, recordando o acidente com o ônibus da Viação Nardelli que levava estudantes de Salto para Sorocaba e que foi apanhado pelo vendaval. Mata estava na enfermaria da Santa Casa de Sorocaba, com a perna quebrada. O ônibus estava com  quase 40 passageiros e seguia devagar. Apesar de suas 22 toneladas, o ônibus foi atirado para o acostamento da outra pista, a 30 metros.

BARULHO INFERNAL
A dona de casa Maura Célia Dutra Pessoa, de 26 anos, descreveu assim o que aconteceu com sua casa, em Itu: "Eu, meu marido e as duas filhas estávamos na sala quando o vento chegou. As telhas foram a primeira coisa a voar. Em seguida. as paredes tremeram e começaram a ruir. Nós jogamos debaixo da mesa de fórmica, na sala”.
 “O barulho era infernal na escuridão. Foi tudo muito rápido. Quando o vento passou, a casa estava em ruínas e pedaços do teto e da parede estavam em cima de nós. Minha filha de 1 ano, Viviane, teve a perna quebrada. Não sei onde vamos morar agora." Tudo isto em apenas três minutos.

CIDADES ATINGIDAS COM MENOS INTENSIDADE
O vendaval atingiu também Salto, Indaiatuba, Porto Feliz e Cabreúva.
A cidade de Indaiatuba (110 km a noroeste de São Paulo) ficou sem eletricidade e com o fornecimento de água prejudicado por causa da queda de quatro torres de alta tensão derrubadas pelo vendaval na estrada que liga Salto a Itu.
Em Salto (102 km a noroeste) e em Porto Feliz (120 km a noroeste) houve blecaute depois que o vendaval derrubou 12 torres da rede distribuidora de energia elétrica.
Em Rio Claro (175- km a noroeste), foi decretado estado de emergência. O vendaval deixou cerca de duas mil casas destelhadas, segundo Celso Cresta, diretor do Departamento de Serviços Municipais da Prefeitura.

OBJETOS VOAVAM NO HOTEL SAN RAPHAEL
Eram 18h25, quando houve a aproximação do vento. Pratos, copos e talheres que estavam sobre as mesas do restaurante voavam pelos ares, os quadros se soltavam das paredes e os móveis se amontoavam uns sobre os outros.
No estacionamento, dois carros haviam sido lançados a 20 metros do local onde estavam parados. As cadeiras da piscina foram atiradas no telhado do Centro de Convenções, onde os 60 hóspedes, executivos que participavam de uma palestra, reuniam-se no momento da passagem do tornado.
As grades da quadra de tênis estavam retorcidas, formando um emaranhado confuso.
Poucas telhas resistiram nos telhados. Portas de vidro se transformaram num monte de cacos. Janelas foram arrancadas. Muros, árvores e postes de luz foram derrubados e arrastados pelo vento.
Um posto de gasolina em frente ao hotel foi totalmente destruído. Um caminhão que estava parado ali foi lançado do outro lado da rua pela força do vento. As bombas de combustíveis formavam um amontoado de ferros retorcidos. Dois carros ficaram sobre os escombros.

TORRES DA ELETROPAULO TOMBARAM NO VENTO
Dez torres de transmissão de energia elétrica da Eletricidade de São Paulo S.A. (Eletropaulo), construídas para resistir a ventos de até 180 km/hora, foram derrubadas pelo tornado por volta de 18h50. A empresa divulgou comunicado em que considera essa ocorrência "sem precedentes" em seus 91 anos de história.
Outras 20 torres, quatro das quais pertencem a Furnas e 16 à Companhia Energética de São Paulo (Cesp), também caíram, deixando sem luz parte da região. 
A queda das torres desligou também a estação da Cesp em Cabreúva, o que interrompeu o fornecimento de energia para a 60% da Capital durante 10 minutos (das 18h55 até 19h05).
Segundo o diretor de operações da Eletropaulo, ainda não havia previsão para término dos reparos. Os prejuízos também não haviam sido calculados pelas empresas. Algumas localidades dos municípios de Itu, Salto, Porto Feliz e Indaiatuba, ainda estavam sem luz.

MORTES E FERIMENTOS
A situação era mais dramática na Santa Casa de Itu, onde foram atendidos 350 feridos.
O pior desastre aconteceu com o ônibus da viação Nardelli, onde nove pessoas morreram. O veículo estava lotado, com quase quarenta passageiros, e seguia devagar sob a chuva. Os estudantes eram alunos das faculdades de Tecnologia e Ciências Contábeis de Sorocaba, faziam o mesmo percurso todo o dia.

PREFEITURA
O prefeito decretou estado de calamidade pública no município. Ele acionou a Comissão Estadual de Defesa Civil. O governo estadual liberou 400.000 dólares para as obras de reconstrução da cidade.

CIDADE DE ITU
A cidade de Itu, de 150 mil habitantes, ficou sem energia elétrica e abastecimento até o meio-dia do dia seguinte. A comunicação telefônica era precária e o fornecimento de energia foi restabelecido parcialmente apenas à tarde de terça-feira.

ESTIMATIVA DE PREJUÍZO: 
A prefeitura estima em 2 milhões de dólares os prejuízos ocasionados pelo tornado.

SALDO DO DESASTRE DE ITU
■Dano pessoal: 15 mortos, 176 feridos e 05 desaparecidos.
■Dano à propriedade:
desabamento de 280 residências e destelhamento do Hotel San Raphael Country
10 torres de transmissão de energia elétrica da Eletropaulo foram derrubadas pelo vento.
16 torres de transmissão de energia elétrica da CESP foram derrubadas pelo vento.
04 torres de transmissão de energia elétrica de Furnas foram derrubadas pelo vento
Numa faixa de 5 Km de comprimento por 500 m de largura a devastação foi completa (zona sul e oeste de Itu)
■Dezenas de postos e milhares de árvores foram derrubadas. Em uma plantação de eucaliptos, o vento abriu uma clareira de três quilômetros de extensão.
■O teto da Faculdade de Direito de Itu desabou.
■A Escola Agrícola "Martinho Di Ciero", com quase mil alunos ficou destruída.


FENÔMENO É RARO, BRUTAL E RÁPIDO
O tornado que abriu uma calha de destruição na região de Itu é do tipo definido pelos meteorologistas como vento ciclônico ou tempestade tropical.
É rápido, violento e raro. Com essa intensidade e volume de estragos eu nunca vi nada igual no Brasil, disse o diretor do Centro de Pesquisas em Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Hilton Silveira Pinto.
A inexistência de estações meteorológicas nas cidades atingidas pelo tornado impede a determinação precisa da velocidade dos ventos, mas se estima que ela foi de 120 km.
Apesar de desconhecer tempestade tropical tão forte quanto esta, no Brasil, o professor da Unicamp explicou que  os ventos ciclônicos acontecem com freqüência desde a primavera até o final do verão, embora com intensidade muito menor, algumas vezes associamos a chuvas de granizo.

As causas desse tornado podem ser atribuídas a quatro condições climáticas:
1.entrada de frente fria ou quente;
2.ocorrência de pré-frontal (antes da entrada de uma frente de baixa pressão atmosférica com temperatura alta);
3.oclusão (encontro de uma frente fria com uma frente quente, causando baixa pressão atmosférica muito forte em determinada região)
4.ou chuva de convecção local (temporal violento, localizado, típico de verão).
O que aconteceu em Salto e Itu, segundo o professor da Unicamp, foi uma oclusão, ou seja, violenta queda da pressão atmosférica causada pelo encontro frentes fria e quente na região.  Fonte : O Estado de São Paulo – 1991

Comentário:
TERMINOLOGIA DOS VENTOS
Algumas definições do tipo de vento:

Vento: Termo genérico que identifica o ar em movimento, independente da velocidade.
Brisa:   Vento de pouca intensidade, com velocidade inferior a 54 km/h.

Rajada:  Acontece quando os ventos que provocam a formação de nuvens (cúmulos nimbos), que normalmente se dispersam em varias direções, retornam a superfície terrestre em sentido único e alta velocidade (a partir de 100 km/h). É provocado por uma combinação de fatores como choque de temperaturas e alta umidade.

Tornado: Deslocamento de ar em círculos que se assemelha a um furacão, com a diferença de ter menor velocidade (de 100 a 200 km/h) e percurso curto de 100 metros a 10 quilômetros. O tornado deixa vegetação e estruturas metálicas retorcidas no sentido de seu deslocamento.

Furacão ou tufão: Fenômeno de grande intensidade que se origina em mares quentes e provoca grande destruição nas regiões por onde passa. Percorre centenas de quilômetro a mais de 200 km/h. Ao atingir o continente, o furacão se extingue em função da diminuição da umidade no ar sobre a superfície terrestre.

CLASSIFICAÇÃO DA INTENSIDADE DOS FURACÕES

Categoria 1
Causa poucos danos, com ventos de 118 a 152 km/h e pressão barométrica mínima igual ou superior a 980 milibares.
Não causa danos a estruturas de construções. Pode arrastar trailers, arbustos e árvores. Também pode causar pequenas inundações em vias costeiras e pequenos danos em marinas

Categoria 2
Causa danos moderados, com ventos de 153 a 178 km/h. Pressão barométrica mínima de 965 a 979 milibares.
Provoca danos consideráveis em árvores, arbustos, trailers, letreiros e anúncios. Pode destruir parcialmente telhados, portas e janelas e causa poucos danos em construções. Ruas e estradas próximas à costa podem ser inundadas. As marinas ficam inundadas e é obrigatória a retirada dos moradores das áreas costeiras.

Categoria 3
Causa muitos danos, com ventos de 179 a 209 km/h e pressão barométrica mínima de 945 a 964 milibares.
Normalmente ramos de árvores são arrancados e árvores grandes são derrubadas. Anúncios e letreiros são arrastados pelo vento. Causa danos em telhados, portas e janelas de casas e na estrutura de edifícios pequenos.
Trailers são destruídos. Seqüências de ondas com altura de 2,8 a 3,7m acima do normal inundam a área costeira e destroem casas próximas ao litoral. Prédios são danificados por causa das ondas. É exigida a retirada dos moradores das áreas costeiras.

Categoria 4
Causa danos extremos, com ventos de 211 a 250 km/h e pressão barométrica mínima de 920 a 944 milibares.
As árvores são arrastadas pelo vento e placas são arrancadas ou destruídas. Causa grandes danos nos telhados, janelas e portas das casas. Algumas paredes e tetos de residências são completamente destruídos.
A água do mar avança cerca de 9,6 km continente adentro. As avenidas e estradas de emergência, escolhidas para a retirada de moradores, são interditadas. É obrigatória a retirada total de todas as pessoas que morem próximo à costa e que vivam em terrenos baixos, a uma distância de 3.2 km do mar.

Categoria 5
Causa danos catastróficos, com ventos superiores a 250 km/h e pressão barométrica mínima abaixo de 920 milibares.
Árvores grandes são arrancadas desde a raiz e telhados de casas e edifícios são completamente danificados. Placas são arrancadas ou destruídas e levadas pelo vento a longas distâncias, provocando mais estragos.
As paredes e os tetos de residências são completamente destruídos. A água do mar atinge cerca de 9,6 km continente adentro. As avenidas e estradas de emergência, escolhidas para a retirada de moradores, são interditadas por 3 a 5 horas, antes da chegada do centro do furacão.
É obrigatória a retirada massiva de todas as pessoas que morem perto da costa, e que vivam em terrenos baixos a uma distância de 3,2 km do mar. Fonte: Centro Nacional de Furacão dos EUA - National Hurricane Center (NHC).

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posted by ACCA@9:00 AM

7 Comments:

At 10:30 AM, Blogger Unknown said...

há como eu me lembro.
só que algumas informações equivocadas:
-os ventos foram de 300km hora e ná de 150km.
-não foi um vendaval e sim um tornado.
-a escala fujita está totalmente desatualizada.
-o tornado foi o mais forte do Brasil até hoje (2018).
-a palavra certa usada é cumulunimbus.
mas ótima matéria pelo ano de 1991.

 
At 3:41 PM, Blogger ACCA said...

A escala Fujita para tornado foi desenvolvida em 1971 por T. Theodore Fujita da Universidade de Chicago . Em 2006 a escala foi alterada incluindo mais detalhes de danos materiais por uma equipe de meteorologistas e de engenheiros, para avaliar a categoria do tornado .
O tornado de Itu não atingiu a velocidade de 300 km/h, pois nesta velocidade as edificações sofreriam colapso total.
Fonte: NOAA (The National Oceanic and Atmospheric Administration), Wind Science and Engineering Center Texas Tech University
No Brasil não temos banco de dados sobre eventos naturais extremos. Veja o que a revista de Climatologia analisa sobre o assunto; As ocorrências de tornados e de outros eventos atmosféricos extremos sempre aconteceram no território brasileiro. Entretanto, somente nos últimos anos têm advindo maiores enfoques e pesquisas relacionadas a esse fenômenos no País. Ainda não foi possível afirmar se o incremento na frequência e intensidade de tornados está vinculado a maior divulgação dada pelos meios de comunicação ou as mudanças globais. Essa incógnita existe em decorrência da ausência de um banco de dados para as ocorrências de eventos extremos no Brasil.

 
At 2:44 AM, Blogger Unknown said...

Hora 261km hora 299km.... sim eu vivi isso e estudo Até hj esse fenômeno

 
At 2:16 PM, Blogger RealDumb said...

Esse tornado foi categorizado F4, portanto com ventos a muito mais do que 120km/h

 
At 8:20 PM, Blogger Rogério said...

O ônibus citado fazia o percurso Salto-Sorocaba. Nenhum dos estudantes era de Itu.
O abastecimento de água, em diversas regioes da cidade, demorou cerca de dois dias.

 
At 4:37 AM, Blogger Geane de Paula said...

Tão triste. Perdi um amigo naquele ônibus.

 
At 10:02 PM, Blogger Blog do vhs said...

Eu tinha 08 anos de idade,essa lembrança nunca sai da minha cabeça:meus pais e eu na sala,tudo escuro e o barulho do vento era ensurdecedor! E olha que moro em salto(cidade vizinha),as janelas sacudiam tanto que meu pai achou que iam quebrar no meio..alguns amigos da epoca chegaram a ver o funil passando pela rodovia! Essa dúvida que tenho atw hoje: houve um funil ou somente vendaval?

 

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