História:Tornado destrói e mata 15 pessoas em Itu
Caso histórico: Um dos piores tornados, que ocorreu no
Estado de São Paulo na segunda-feira, 30 de setembro de 1991, às 18 h 50 min.
Um tornado raro e violento, com ventos a 120 km/h, varreu
uma faixa de 400 metros de largura por 30 quilômetros de extensão na região de
Itu e deixou um rastro de destruição.
Ouvi um assobio forte e achei que era um avião voando baixo.
Quando o vento chegou, a poeira se levantou do chão e não vi mais nada. Um dos
fornos da cerâmica estava aceso e corri para lá. Fiquei perto da entrada do
forno, o calor queimava minhas costas e tudo parecia desmoronar. Quando acabou,
não tinha sobrado quase nada: o telhado estava caído, a chaminé arrancada, um
caminhão virado de cabeça para baixo, as paredes derrubadas. Nem eu acreditei
que estava vivo, disse Júlio Quitério, operário da Cerâmica Telhatex de Itu. Ele
presenciou no início da noite de segunda-feira um fenômeno que deixou um rastro
de destruição.
ÔNIBUS ARRASTADO
"A sensação foi gente estivesse num avião decolando.
Depois foi só estrondos, tudo rodando quebrando, um monte de gente presa nas
ferragens” contou o tecnólogo Roberto da Mata, recordando o acidente com o
ônibus da Viação Nardelli que levava estudantes de Salto para Sorocaba e que
foi apanhado pelo vendaval. Mata estava na enfermaria da Santa Casa de
Sorocaba, com a perna quebrada. O ônibus estava com quase 40 passageiros e seguia devagar. Apesar
de suas 22 toneladas, o ônibus foi atirado para o acostamento da outra pista, a
30 metros.
BARULHO INFERNAL
“O barulho era
infernal na escuridão. Foi tudo muito rápido. Quando o vento passou, a casa
estava em ruínas e pedaços do teto e da parede estavam em cima de nós. Minha
filha de 1 ano, Viviane, teve a perna quebrada. Não sei onde vamos morar
agora." Tudo isto em apenas três minutos.
CIDADES ATINGIDAS COM MENOS INTENSIDADE
A cidade de Indaiatuba (110 km a noroeste de São Paulo)
ficou sem eletricidade e com o fornecimento de água prejudicado por causa da
queda de quatro torres de alta tensão derrubadas pelo vendaval na estrada que
liga Salto a Itu.
Em Salto (102 km a noroeste) e em Porto Feliz (120 km a
noroeste) houve blecaute depois que o vendaval derrubou 12 torres da rede
distribuidora de energia elétrica.
Em Rio Claro (175- km a noroeste), foi decretado estado de
emergência. O vendaval deixou cerca de duas mil casas destelhadas, segundo
Celso Cresta, diretor do Departamento de Serviços Municipais da Prefeitura.
OBJETOS VOAVAM NO HOTEL SAN RAPHAEL
Eram 18h25, quando houve a aproximação do vento. Pratos,
copos e talheres que estavam sobre as mesas do restaurante voavam pelos ares,
os quadros se soltavam das paredes e os móveis se amontoavam uns sobre os
outros.
No estacionamento, dois carros haviam sido lançados a 20
metros do local onde estavam parados. As cadeiras da piscina foram atiradas no
telhado do Centro de Convenções, onde os 60 hóspedes, executivos que participavam
de uma palestra, reuniam-se no momento da passagem do tornado.
As grades da quadra de tênis estavam retorcidas, formando um
emaranhado confuso.
Poucas telhas resistiram nos telhados. Portas de vidro se
transformaram num monte de cacos. Janelas foram arrancadas. Muros, árvores e
postes de luz foram derrubados e arrastados pelo vento.
Um posto de gasolina em frente ao hotel foi totalmente
destruído. Um caminhão que estava parado ali foi lançado do outro lado da rua
pela força do vento. As bombas de combustíveis formavam um amontoado de ferros
retorcidos. Dois carros ficaram sobre os escombros.
TORRES DA ELETROPAULO TOMBARAM NO VENTO
Outras 20 torres, quatro das quais pertencem a Furnas e 16 à
Companhia Energética de São Paulo (Cesp), também caíram, deixando sem luz parte
da região.
A queda das torres desligou também a estação da Cesp em
Cabreúva, o que interrompeu o fornecimento de energia para a 60% da Capital
durante 10 minutos (das 18h55 até 19h05).
Segundo o diretor de operações da Eletropaulo, ainda não havia
previsão para término dos reparos. Os prejuízos também não haviam sido
calculados pelas empresas. Algumas localidades dos municípios de Itu, Salto,
Porto Feliz e Indaiatuba, ainda estavam sem luz.
MORTES E FERIMENTOS
A situação era mais dramática na Santa Casa de Itu, onde
foram atendidos 350 feridos.
O pior desastre aconteceu com o ônibus da viação Nardelli,
onde nove pessoas morreram. O veículo estava lotado, com quase quarenta passageiros,
e seguia devagar sob a chuva. Os estudantes eram alunos das faculdades de
Tecnologia e Ciências Contábeis de Sorocaba, faziam o mesmo percurso todo o
dia.
PREFEITURA
O prefeito decretou estado de calamidade pública no
município. Ele acionou a Comissão Estadual de Defesa Civil. O governo estadual
liberou 400.000 dólares para as obras de reconstrução da cidade.
CIDADE DE ITU
A cidade de Itu, de 150 mil habitantes, ficou sem energia
elétrica e abastecimento até o meio-dia do dia seguinte. A comunicação
telefônica era precária e o fornecimento de energia foi restabelecido
parcialmente apenas à tarde de terça-feira.
ESTIMATIVA DE PREJUÍZO:
A prefeitura estima em 2 milhões de dólares os prejuízos
ocasionados pelo tornado.
SALDO DO DESASTRE DE ITU
■Dano pessoal: 15 mortos, 176 feridos e 05 desaparecidos.
■Dano à propriedade:
desabamento de 280 residências e destelhamento do Hotel San
Raphael Country
10 torres de transmissão de energia elétrica da Eletropaulo foram
derrubadas pelo vento.
16 torres de transmissão de energia elétrica da CESP foram
derrubadas pelo vento.
04 torres de transmissão de energia elétrica de Furnas foram
derrubadas pelo vento
Numa faixa de 5 Km de comprimento por 500 m de largura a
devastação foi completa (zona sul e oeste de Itu)
■Dezenas de postos e milhares de árvores foram derrubadas.
Em uma plantação de eucaliptos, o vento abriu uma clareira de três quilômetros
de extensão.
■O teto da Faculdade de Direito de Itu desabou.
■A Escola Agrícola "Martinho Di Ciero", com quase
mil alunos ficou destruída.
FENÔMENO É RARO, BRUTAL E RÁPIDO
O tornado que abriu uma calha de destruição na região de Itu
é do tipo definido pelos meteorologistas como vento ciclônico ou tempestade
tropical.
É rápido, violento e raro. Com essa intensidade e volume de
estragos eu nunca vi nada igual no Brasil, disse o diretor do Centro de
Pesquisas em Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Hilton
Silveira Pinto.
A inexistência de estações meteorológicas nas cidades
atingidas pelo tornado impede a determinação precisa da velocidade dos ventos,
mas se estima que ela foi de 120 km.
Apesar de desconhecer tempestade tropical tão forte quanto
esta, no Brasil, o professor da Unicamp explicou que os ventos ciclônicos acontecem com freqüência
desde a primavera até o final do verão, embora com intensidade muito menor,
algumas vezes associamos a chuvas de granizo.
As causas desse tornado podem ser atribuídas a quatro
condições climáticas:
1.entrada de frente fria ou quente;
2.ocorrência de pré-frontal (antes da entrada de uma frente
de baixa pressão atmosférica com temperatura alta);
3.oclusão (encontro de uma frente fria com uma frente
quente, causando baixa pressão atmosférica muito forte em determinada região)
4.ou chuva de convecção local (temporal violento,
localizado, típico de verão).
O que aconteceu em Salto e Itu, segundo o professor da
Unicamp, foi uma oclusão, ou seja, violenta queda da pressão atmosférica
causada pelo encontro frentes fria e quente na região. Fonte : O Estado de São Paulo – 1991
Comentário:
TERMINOLOGIA DOS VENTOS
Algumas definições do tipo de vento:
Vento: Termo genérico
que identifica o ar em movimento, independente da velocidade.
Brisa: Vento de pouca
intensidade, com velocidade inferior a 54 km/h.
Rajada: Acontece
quando os ventos que provocam a formação de nuvens (cúmulos nimbos), que
normalmente se dispersam em varias direções, retornam a superfície terrestre em
sentido único e alta velocidade (a partir de 100 km/h). É provocado por uma
combinação de fatores como choque de temperaturas e alta umidade.
Tornado: Deslocamento de ar em círculos que se assemelha a
um furacão, com a diferença de ter menor velocidade (de 100 a 200 km/h) e
percurso curto de 100 metros a 10 quilômetros. O tornado deixa vegetação e
estruturas metálicas retorcidas no sentido de seu deslocamento.
Furacão ou tufão: Fenômeno de grande intensidade que se
origina em mares quentes e provoca grande destruição nas regiões por onde
passa. Percorre centenas de quilômetro a mais de 200 km/h. Ao atingir o
continente, o furacão se extingue em função da diminuição da umidade no ar
sobre a superfície terrestre.
CLASSIFICAÇÃO DA INTENSIDADE DOS FURACÕES
Categoria 1
Causa poucos danos, com ventos de 118 a 152 km/h e pressão
barométrica mínima igual ou superior a 980 milibares.
Não causa danos a estruturas de construções. Pode arrastar
trailers, arbustos e árvores. Também pode causar pequenas inundações em vias
costeiras e pequenos danos em marinas
Categoria 2
Causa danos moderados, com ventos de 153 a 178 km/h. Pressão
barométrica mínima de 965 a 979 milibares.
Provoca danos consideráveis em árvores, arbustos, trailers,
letreiros e anúncios. Pode destruir parcialmente telhados, portas e janelas e
causa poucos danos em construções. Ruas e estradas próximas à costa podem ser
inundadas. As marinas ficam inundadas e é obrigatória a retirada dos moradores
das áreas costeiras.
Categoria 3
Causa muitos danos, com ventos de 179 a 209 km/h e pressão
barométrica mínima de 945 a 964 milibares.
Normalmente ramos de árvores são arrancados e árvores
grandes são derrubadas. Anúncios e letreiros são arrastados pelo vento. Causa
danos em telhados, portas e janelas de casas e na estrutura de edifícios
pequenos.
Trailers são destruídos. Seqüências de ondas com altura de
2,8 a 3,7m acima do normal inundam a área costeira e destroem casas próximas ao
litoral. Prédios são danificados por causa das ondas. É exigida a retirada dos
moradores das áreas costeiras.
Categoria 4
Causa danos extremos, com ventos de 211 a 250 km/h e pressão
barométrica mínima de 920 a 944 milibares.
As árvores são arrastadas pelo vento e placas são arrancadas
ou destruídas. Causa grandes danos nos telhados, janelas e portas das casas.
Algumas paredes e tetos de residências são completamente destruídos.
A água do mar avança cerca de 9,6 km continente adentro. As
avenidas e estradas de emergência, escolhidas para a retirada de moradores, são
interditadas. É obrigatória a retirada total de todas as pessoas que morem
próximo à costa e que vivam em terrenos baixos, a uma distância de 3.2 km do
mar.
Categoria 5
Causa danos catastróficos, com ventos superiores a 250 km/h
e pressão barométrica mínima abaixo de 920 milibares.
Árvores grandes são arrancadas desde a raiz e telhados de
casas e edifícios são completamente danificados. Placas são arrancadas ou
destruídas e levadas pelo vento a longas distâncias, provocando mais estragos.
As paredes e os tetos de residências são completamente
destruídos. A água do mar atinge cerca de 9,6 km continente adentro. As
avenidas e estradas de emergência, escolhidas para a retirada de moradores, são
interditadas por 3 a 5 horas, antes da chegada do centro do furacão.
É obrigatória a retirada massiva de todas as pessoas que
morem perto da costa, e que vivam em terrenos baixos a uma distância de 3,2 km
do mar. Fonte: Centro Nacional de Furacão dos EUA - National Hurricane Center
(NHC).Marcadores: Meio Ambiente, tornado, vento
7 Comments:
há como eu me lembro.
só que algumas informações equivocadas:
-os ventos foram de 300km hora e ná de 150km.
-não foi um vendaval e sim um tornado.
-a escala fujita está totalmente desatualizada.
-o tornado foi o mais forte do Brasil até hoje (2018).
-a palavra certa usada é cumulunimbus.
mas ótima matéria pelo ano de 1991.
A escala Fujita para tornado foi desenvolvida em 1971 por T. Theodore Fujita da Universidade de Chicago . Em 2006 a escala foi alterada incluindo mais detalhes de danos materiais por uma equipe de meteorologistas e de engenheiros, para avaliar a categoria do tornado .
O tornado de Itu não atingiu a velocidade de 300 km/h, pois nesta velocidade as edificações sofreriam colapso total.
Fonte: NOAA (The National Oceanic and Atmospheric Administration), Wind Science and Engineering Center Texas Tech University
No Brasil não temos banco de dados sobre eventos naturais extremos. Veja o que a revista de Climatologia analisa sobre o assunto; As ocorrências de tornados e de outros eventos atmosféricos extremos sempre aconteceram no território brasileiro. Entretanto, somente nos últimos anos têm advindo maiores enfoques e pesquisas relacionadas a esse fenômenos no País. Ainda não foi possível afirmar se o incremento na frequência e intensidade de tornados está vinculado a maior divulgação dada pelos meios de comunicação ou as mudanças globais. Essa incógnita existe em decorrência da ausência de um banco de dados para as ocorrências de eventos extremos no Brasil.
Hora 261km hora 299km.... sim eu vivi isso e estudo Até hj esse fenômeno
Esse tornado foi categorizado F4, portanto com ventos a muito mais do que 120km/h
O ônibus citado fazia o percurso Salto-Sorocaba. Nenhum dos estudantes era de Itu.
O abastecimento de água, em diversas regioes da cidade, demorou cerca de dois dias.
Tão triste. Perdi um amigo naquele ônibus.
Eu tinha 08 anos de idade,essa lembrança nunca sai da minha cabeça:meus pais e eu na sala,tudo escuro e o barulho do vento era ensurdecedor! E olha que moro em salto(cidade vizinha),as janelas sacudiam tanto que meu pai achou que iam quebrar no meio..alguns amigos da epoca chegaram a ver o funil passando pela rodovia! Essa dúvida que tenho atw hoje: houve um funil ou somente vendaval?
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