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quarta-feira, outubro 17, 2012

Crianças intoxicadas por leite em Santa Catarina

Desde sexta-feira, 21 de setembro, pelo menos 23 crianças de até três anos apresentaram suspeita de intoxicação por leite contaminado. Das vítimas, ao menos cinco permanecem internadas. O caso mais grave está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Pequeno Anjo, de Itajaí, mas respira sem a ajuda de aparelhos e não corre risco de morte.

Outras três estão sendo tratadas no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão, Sul do Estado. Há mais um caso no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Navegantes, Litoral Norte. Além disso, de acordo com boletim da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive), quatro apresentaram diagnóstico, mas não chegaram a ser internadas (três em Florianópolis e uma em Balneário Camboriú).

INTERDIÇÃO DA EMPRESA
Após os casos de intoxicação, a Vigilância Sanitária de Santa Catarina, junto com o Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina), interditou provisoriamente a fábrica Papenborg Laticínios Ltda e todos os produtos da marca "Holandês" no mercado. Os lotes do leite de número 0687 e 0689 também foram recolhidos e inutilizados por suspeita de contaminação. A recomendação é que as pessoas que possuam tal produto em casa não o consumam.

QUADRO CLÍNICO
As crianças estavam com o mesmo sintoma: apresentavam a região peitoral arroxeada, mãos, boca e pés, também arroxeadas.

DIAGNÓSTICO
Na noite de sexta-feira (21), foi confirmado o diagnóstico de metemoglobinemia (vide explicação) - uma alteração no sangue que pode levar à morte e que, geralmente, é provocada pelo consumo de algum produto.

LAUDOS PRELIMINARES
Laudos preliminares produzidos em laboratório pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontaram presença de nitrito até dez vezes superior ao máximo tolerado em amostras de leite pasteurizado produzido pela empresa.

INTOXICAÇÃO POR NITRITO
Entre os sintomas da intoxicação por nitrito estão arroxeamento da região em volta dos lábios e falta de ar. A substância induz a oxidação do ferro da hemoglobina, o que impede o sangue de transportar oxigênio.
A substância não deveria estar presente no leite, a não ser em quantidade muito pequena, porque ela até pode ser encontrada em adubos que, no pasto, são consumidos pelos animais.
A intoxicação por nitrito é grave e pode levar à morte. "Os casos notificados até agora têm sido relativamente leves, mas as pessoas precisam estar atentas e procurar rapidamente os serviços médicos no caso de algum sintoma. O que chama a atenção é o fato de que, entre os casos de internamento, há cinco crianças com menos de 6 meses e que deveriam estar sendo alimentadas exclusivamente por leite materno, explicou o médico infectologista Fábio Gaudenzi, diretor de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina.

INTERDIÇÃO TOTAL DA EMPRESA E INSPEÇÃO
Inicialmente, as autoridades sanitárias haviam determinado a retirada do mercado de dois lotes do leite Holandês, mas uma nova reunião realizada na tarde de sábado, 22 de setembro,  determinou a apreensão e a inutilização de todos os estoques do produto, produzidos até a última sexta-feira, 21 de setembro.  Com prazo de validade de até cinco dias, o leite teria distribuição restrita a algumas regiões de Santa Catarina.
A fábrica está lacrada, sem produção de laticínios. Um grupo de técnicos está fazendo um pente fino no local. Nossa orientação para as autoridades locais nos municípios e o para o comércio em geral é para que o leite não seja vendido e seja inutilizado. Os demais produtos da empresa, como queijos, iogurte e nata, também devem ser retirados das áreas de exposição para venda e retidos em estoque até segunda ordem, informou  a diretora da Vigilância Sanitária de Santa Catarina, Raquel Ribeiro Bittencourt..

LIMPEZA E SANITIZAÇÃO DE TUBULAÇÃO E EQUIPAMENTOS
A suspeita das autoridades de saúde de Santa Catarina é de que a contaminação por nitrito tenha sido causada por uma falha em um dos equipamentos da empresa. A substância seria utilizada no processo de limpeza das máquinas.
De acordo com o médico-veterinário da empresa Holandês, Luiz Carlos Simas Custódio, a suspeita é que houve mesmo um problema de resíduo no processo de limpeza de uma das tubulações da pasteurização do leite. A falha, segundo ele, não foi humana.

INUTILIZAÇÃO DE PRODUTOS
Desde o fim de semana pelo menos 35 toneladas de derivados e 27,5 toneladas de leite foram inutilizados pelas equipes de vigilância sanitária de Santa Catarina.

CONFIRMAÇÃO DE CONTAMINAÇÃO
Os laudos das 177 amostras coletadas no último fim de semana, 10 confirmaram a presença de nitrito e de nitrato além do padrão aceitável em lotes de queijos, leite e iogurtes produzidos entre 18 e 21 de setembro.
Pelos testes realizados em amostras colhidas em leite e derivados foi constatada a presença de nitrito e nitrato e problemas na limpeza do equipamento de pasteurização do leite. Desde então, 35 toneladas de derivados e 27,5 toneladas de leite foram descartados.

EMPRESA E INFRAÇÕES
Diariamente, a empresa produz 30 mil litros de derivados e 20 mil litros de leite, proveniente de 660 produtores de Santa Catarina. A empresa não revelou o prejuízo em reais e poderá ainda ser multada pelas intoxicações causadas. A Cidasc instaurou dois processos administrativos para analisar a ocorrência e tem 90 dias para a conclusão.

HOSPITALIZAÇÃO
Das vítimas, 17 apresentaram boa evolução clínica e foram liberadas durante o fim de semana e  segunda-feira, 24 de setembro. Apenas duas crianças permanecem internadas. Uma delas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Pequeno Anjo, de Itajaí.

PREJUÍZOS DA EMPRESA
Quatorze dias parados, 62,5 toneladas de leite e derivados jogados fora e pelo menos R$ 2 milhões em prejuízo. Estas foram às consequências de um descuido na higienização do equipamento que realiza a pasteurização do leite.

RETORNO AS ATIVIDADES
Com as irregularidades detectadas e corrigidas, a fábrica foi desinterditada na quinta-feira, 04 de outubro,  pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e Vigilância Sanitária de SC. A investigação analisou 233 coletas, destas 8% estava contaminada e todos os resultados depois do dia 21 foram negativos para nitrato e nitrito, o que possibilitou a retomada dos serviços da empresa.
O médico-veterinário da fábrica, Luiz Simas Custódio, diz que a produção voltará à normalidade ainda esta semana, envolvendo 80 funcionários, que estavam sem trabalhar por conta do problema, e 660 produtores de leite que fornecem a matéria-prima à fábrica. A produção diária de 30 mil litros de derivados e 20 mil litros de leite, segundo ele, será retomada imediatamente.

MEDIDAS ADOTADAS PARA EVITAR NOVAS CONTAMINAÇÕES
 ■Inutilização de 35 mil toneladas de derivados como queijos e iogurtes produzidos de março a 21 de setembro.
■Inutilização de 27,5 mil toneladas de leite produzidos de março a 21 de setembro.
■Alterações no controle de produção. As inspeções serão diárias por um inspetor da empresa, quinzenais pela Cidasc que também fará uma auditoria por mês.

PROBLEMAS DETECTADOS DURANTE A INVESTIGAÇÃO
■Falha no processo de higienização do equipamento de pasteurização do leite.
■Falta de água no dia da contaminação contribuiu para a alta concentração de nitrato e nitrito no leite.
■Falha na vedação de uma borracha que deveria impedir a passagem do nitrato e nitrito ( presentes nos produtos de limpeza) para o leite.

INSPEÇÃO E FISCALIZAÇÃO NO RETORNO DAS ATIVIDADES
Com a adoção de novas medidas preventivas, a expectativa da Cidasc é de que o mesmo problema não volte a acontecer.
Duas assessorias foram contratadas, uma para auxiliar na produção e outra no manejo dos equipamentos. As inspeções serão diárias por um inspetor da empresa e quinzenais pela companhia, que também fará uma auditoria por mês. A Cidasc instaurou dois processos administrativos para analisar a necessidade de se aplicar uma multa à empresa.

— Este controle permitirá que acidentes como este não voltem acontecer em nenhuma fábrica de laticínio do Estado até porque este tipo de contaminação é raro — diz o gerente estadual de inspeção da Cidasc Sergio Silva Borges.

Todos os produtos com data de fabricação a partir deste dia 4 de outubro estão liberados para o consumo.

Fontes: Diário Catarinense, G1 e UOL Notícias,  24 de setembro a 04 de outubro.

Comentário:   
Metemoglobinemias tóxicas: Definição: não é uma intoxicação nem tão pouco é  causada por um agente específico, mas é uma condição que ocorre em  intoxicações causadas por agentes metemoglobinizantes. Estes são substâncias capazes de induzir a oxidação do ferro da hemoglobina. Esta oxidação resulta em um pigmento chamado metemoglobina, que é incapaz de transportar oxigênio. Por exemplo: alimentos com concentração elevada de nitrito e nitrato de sódio.
Quadro agudo: Cianose central (mantendo ou não normalidade cárdiorespiratória), cefaléia, vômitos, mal estar geral, diarréia, dispnéia, dores anginóides, hemólise, sangue cor de chocolate, pulso rápido, pele úmida e fria, agitação, tremores, cefaléia persistente, convulsões, coma e morte. Fonte: Secretaria da Saúde do Paraná

Não é fatalidade, mas sim, falha humana operacional. Antes de colocar a tubulação em operação  verificar eventuais resíduos de limpeza e sanitização. Criar procedimento para verificar se a tubulação está isento de solução alcalina ou outro tipo de produtos químicos usados para higienização.

Na essência o que faltou para a empresa é a visão de gerenciamento de riscos no processo. Em segurança alimentar utiliza o  HACCP  (Hazard  Analysis  of  Critical  Control  Points    Análise  de  Risco  de  Pontos  Críticos  de  Controle)  que é  um  sistema  de  detecção,  análise  e eliminação de  riscos.    Perigos  são  possíveis  riscos  que  podem  levar  dano  para a  saúde  do  consumidor.    O  risco  acontece  em  etapas  ao  longo  do processo e/ou  cadeia  de  suprimentos.    Essas  etapas,  do  ponto de  vista  dos  procedimentos,  precisam  ser  avaliadas/identificadas  e  analisadas.

Em relação à alimentação, o risco implica um potencial impacto sobre os consumidores. Os possíveis riscos nos alimentos devem-se a microrganismos infecciosos, substâncias químicas, como os contaminantes (p.ex. detergentes de limpeza), ou agentes físicos (como vidro). 

Vídeo: HACCP

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posted by ACCA@10:40 AM

1 Comments:

At 1:09 PM, Blogger Jorge Ramiro said...


As empresas devem ter mais cuidado com as condições de higiene em que os seus produtos são fabricados. E eles devem ser responsabilizados por qualquer acidente. Eu trabalho em um radiologia centro e medicina e vejo muitos casos de intoccicación por alimentos.

 

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