Crianças intoxicadas por leite em Santa Catarina
Desde
sexta-feira, 21 de setembro, pelo menos 23 crianças de até três anos
apresentaram suspeita de intoxicação por leite contaminado. Das vítimas, ao
menos cinco permanecem internadas. O caso mais grave está na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) do Hospital Pequeno Anjo, de Itajaí, mas respira sem a ajuda de
aparelhos e não corre risco de morte.
Outras
três estão sendo tratadas no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão,
Sul do Estado. Há mais um caso no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em
Navegantes, Litoral Norte. Além disso, de acordo com boletim da Diretoria de
Vigilância Epidemiológica (Dive), quatro apresentaram diagnóstico, mas não
chegaram a ser internadas (três em Florianópolis e uma em Balneário Camboriú).
INTERDIÇÃO
DA EMPRESA
Após
os casos de intoxicação, a Vigilância Sanitária de Santa Catarina, junto com o
Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina),
interditou provisoriamente a fábrica Papenborg Laticínios Ltda e todos os
produtos da marca "Holandês" no mercado. Os lotes do leite de número
0687 e 0689 também foram recolhidos e inutilizados por suspeita de
contaminação. A recomendação é que as pessoas que possuam tal produto em casa
não o consumam.
QUADRO
CLÍNICO
As
crianças estavam com o mesmo sintoma: apresentavam a região peitoral arroxeada,
mãos, boca e pés, também arroxeadas.
DIAGNÓSTICO
Na
noite de sexta-feira (21), foi confirmado o diagnóstico de metemoglobinemia (vide
explicação) - uma alteração no sangue que pode levar à morte e que, geralmente,
é provocada pelo consumo de algum produto.
LAUDOS
PRELIMINARES
Laudos
preliminares produzidos em laboratório pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) apontaram presença de nitrito até dez vezes superior ao máximo
tolerado em amostras de leite pasteurizado produzido pela empresa.
INTOXICAÇÃO
POR NITRITO
Entre
os sintomas da intoxicação por nitrito estão arroxeamento da região em volta
dos lábios e falta de ar. A substância induz a oxidação do ferro da
hemoglobina, o que impede o sangue de transportar oxigênio.
A
substância não deveria estar presente no leite, a não ser em quantidade muito
pequena, porque ela até pode ser encontrada em adubos que, no pasto, são
consumidos pelos animais.
A
intoxicação por nitrito é grave e pode levar à morte. "Os casos
notificados até agora têm sido relativamente leves, mas as pessoas precisam
estar atentas e procurar rapidamente os serviços médicos no caso de algum
sintoma. O que chama a atenção é o fato de que, entre os casos de internamento,
há cinco crianças com menos de 6 meses e que deveriam estar sendo alimentadas
exclusivamente por leite materno, explicou o médico infectologista Fábio
Gaudenzi, diretor de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina.
INTERDIÇÃO
TOTAL DA EMPRESA E INSPEÇÃO
Inicialmente,
as autoridades sanitárias haviam determinado a retirada do mercado de dois
lotes do leite Holandês, mas uma nova reunião realizada na tarde de sábado, 22
de setembro, determinou a apreensão e a
inutilização de todos os estoques do produto, produzidos até a última
sexta-feira, 21 de setembro. Com prazo
de validade de até cinco dias, o leite teria distribuição restrita a algumas
regiões de Santa Catarina.
A
fábrica está lacrada, sem produção de laticínios. Um grupo de técnicos está
fazendo um pente fino no local. Nossa orientação para as autoridades locais nos
municípios e o para o comércio em geral é para que o leite não seja vendido e
seja inutilizado. Os demais produtos da empresa, como queijos, iogurte e nata,
também devem ser retirados das áreas de exposição para venda e retidos em
estoque até segunda ordem, informou a
diretora da Vigilância Sanitária de Santa Catarina, Raquel Ribeiro Bittencourt..
LIMPEZA
E SANITIZAÇÃO DE TUBULAÇÃO E EQUIPAMENTOS
A
suspeita das autoridades de saúde de Santa Catarina é de que a contaminação por
nitrito tenha sido causada por uma falha em um dos equipamentos da empresa. A
substância seria utilizada no processo de limpeza das máquinas.
De
acordo com o médico-veterinário da empresa Holandês, Luiz Carlos Simas
Custódio, a suspeita é que houve mesmo um problema de resíduo no processo de
limpeza de uma das tubulações da pasteurização do leite. A falha, segundo ele,
não foi humana.
INUTILIZAÇÃO
DE PRODUTOS
Desde
o fim de semana pelo menos 35 toneladas de derivados e 27,5 toneladas de leite
foram inutilizados pelas equipes de vigilância sanitária de Santa Catarina.
CONFIRMAÇÃO
DE CONTAMINAÇÃO
Os
laudos das 177 amostras coletadas no último fim de semana, 10 confirmaram a
presença de nitrito e de nitrato além do padrão aceitável em lotes de queijos,
leite e iogurtes produzidos entre 18 e 21 de setembro.
Pelos
testes realizados em amostras colhidas em leite e derivados foi constatada a
presença de nitrito e nitrato e problemas na limpeza do equipamento de
pasteurização do leite. Desde então, 35 toneladas de derivados e 27,5 toneladas
de leite foram descartados.
EMPRESA
E INFRAÇÕES
Diariamente,
a empresa produz 30 mil litros de derivados e 20 mil litros de leite,
proveniente de 660 produtores de Santa Catarina. A empresa não revelou o prejuízo
em reais e poderá ainda ser multada pelas intoxicações causadas. A Cidasc
instaurou dois processos administrativos para analisar a ocorrência e tem 90
dias para a conclusão.
HOSPITALIZAÇÃO
Das
vítimas, 17 apresentaram boa evolução clínica e foram liberadas durante o fim
de semana e segunda-feira, 24 de
setembro. Apenas duas crianças permanecem internadas. Uma delas na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Pequeno Anjo, de Itajaí.
PREJUÍZOS
DA EMPRESA
Quatorze
dias parados, 62,5 toneladas de leite e derivados jogados fora e pelo menos R$
2 milhões em prejuízo. Estas foram às consequências de um descuido na
higienização do equipamento que realiza a pasteurização do leite.
RETORNO
AS ATIVIDADES
Com
as irregularidades detectadas e corrigidas, a fábrica foi desinterditada na quinta-feira,
04 de outubro, pela Companhia Integrada
de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e Vigilância Sanitária
de SC. A investigação analisou 233 coletas, destas 8% estava contaminada e
todos os resultados depois do dia 21 foram negativos para nitrato e nitrito, o
que possibilitou a retomada dos serviços da empresa.
O
médico-veterinário da fábrica, Luiz Simas Custódio, diz que a produção voltará
à normalidade ainda esta semana, envolvendo 80 funcionários, que estavam sem
trabalhar por conta do problema, e 660 produtores de leite que fornecem a
matéria-prima à fábrica. A produção diária de 30 mil litros de derivados e 20
mil litros de leite, segundo ele, será retomada imediatamente.
MEDIDAS
ADOTADAS PARA EVITAR NOVAS CONTAMINAÇÕES
■Inutilização de 35 mil toneladas de derivados
como queijos e iogurtes produzidos de março a 21 de setembro.
■Inutilização
de 27,5 mil toneladas de leite produzidos de março a 21 de setembro.
■Alterações
no controle de produção. As inspeções serão diárias por um inspetor da empresa,
quinzenais pela Cidasc que também fará uma auditoria por mês.
PROBLEMAS
DETECTADOS DURANTE A INVESTIGAÇÃO
■Falha
no processo de higienização do equipamento de pasteurização do leite.
■Falta
de água no dia da contaminação contribuiu para a alta concentração de nitrato e
nitrito no leite.
■Falha
na vedação de uma borracha que deveria impedir a passagem do nitrato e nitrito
( presentes nos produtos de limpeza) para o leite.
INSPEÇÃO
E FISCALIZAÇÃO NO RETORNO DAS ATIVIDADES
Com
a adoção de novas medidas preventivas, a expectativa da Cidasc é de que o mesmo
problema não volte a acontecer.
Duas
assessorias foram contratadas, uma para auxiliar na produção e outra no manejo
dos equipamentos. As inspeções serão diárias por um inspetor da empresa e
quinzenais pela companhia, que também fará uma auditoria por mês. A Cidasc
instaurou dois processos administrativos para analisar a necessidade de se
aplicar uma multa à empresa.
—
Este controle permitirá que acidentes como este não voltem acontecer em nenhuma
fábrica de laticínio do Estado até porque este tipo de contaminação é raro —
diz o gerente estadual de inspeção da Cidasc Sergio Silva Borges.
Todos
os produtos com data de fabricação a partir deste dia 4 de outubro estão
liberados para o consumo.
Fontes:
Diário Catarinense, G1 e UOL Notícias, 24
de setembro a 04 de outubro.
Comentário:
Metemoglobinemias
tóxicas: Definição: não é uma intoxicação nem tão pouco é causada por um agente específico, mas é uma
condição que ocorre em intoxicações
causadas por agentes metemoglobinizantes. Estes são substâncias capazes de
induzir a oxidação do ferro da hemoglobina. Esta oxidação resulta em um
pigmento chamado metemoglobina, que é incapaz de transportar oxigênio. Por
exemplo: alimentos com concentração elevada de nitrito e nitrato de sódio.
Quadro
agudo: Cianose central (mantendo ou não normalidade cárdiorespiratória),
cefaléia, vômitos, mal estar geral, diarréia, dispnéia, dores anginóides,
hemólise, sangue cor de chocolate, pulso rápido, pele úmida e fria, agitação,
tremores, cefaléia persistente, convulsões, coma e morte. Fonte: Secretaria da
Saúde do Paraná
Não
é fatalidade, mas sim, falha humana operacional. Antes de colocar a tubulação
em operação verificar eventuais resíduos
de limpeza e sanitização. Criar procedimento para verificar se a tubulação está
isento de solução alcalina ou outro tipo de produtos químicos usados para higienização.
Na
essência o que faltou para a empresa é a visão de gerenciamento de riscos no
processo. Em
segurança alimentar utiliza o HACCP (Hazard
Analysis of Critical
Control Points – Análise
de Risco de
Pontos Críticos de
Controle) que é um sistema de
detecção, análise e eliminação de riscos.
Perigos são possíveis
riscos que podem
levar dano para a saúde
do consumidor. O
risco acontece em
etapas ao longo do
processo e/ou cadeia de
suprimentos. Essas etapas,
do ponto de vista
dos procedimentos, precisam
ser avaliadas/identificadas e
analisadas.
Em
relação à alimentação, o risco implica um potencial impacto sobre os
consumidores. Os possíveis riscos nos alimentos devem-se a microrganismos
infecciosos, substâncias químicas, como os contaminantes (p.ex. detergentes de
limpeza), ou agentes físicos (como vidro).
Vídeo: HACCP
Marcadores: contaminação, responsabilidade civil

1 Comments:
As empresas devem ter mais cuidado com as condições de higiene em que os seus produtos são fabricados. E eles devem ser responsabilizados por qualquer acidente. Eu trabalho em um radiologia centro e medicina e vejo muitos casos de intoccicación por alimentos.
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