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sábado, março 01, 2008

Lesões do raio no corpo humano

Este artigo analisa de maneira sucinta as conseqüências do raio quando atinge o corpo humano. O estudo foi efetuado em relação aos alpinistas, nos Alpes franceses, Mont Blanc, pelo hospital Chamonix, que é especializado em prevenção em medicina e traumatologia de montanha.

Principais conseqüências da queda de raio
E preciso diferenciar as conseqüências diretas (atingido por um raio) das conseqüências indiretas neste ambiente de risco que é a montanha. Na verdade, às lesões traumáticas devido à queda após o acidente.

Conseqüências diretas:
1-Queimaduras: por arco ou por lampejo (flash), se o trajeto do raio não atravessa o corpo, nesse caso, as conseqüências são moderadas. Essas queimaduras devem ser diferenciadas das queimaduras eletro‑térmicas profundas e graves, por efeito Joule, quando a corrente elétrica passa pelo corpo. A corrente elétrica preferencialmente utiliza o caminho de menor resistência, isto é, o sistema vascular nervoso.
2-Efeito neurológico: O estado de coma não é raro, não importando o grau, superficial ou profundo. O estado de amnésia devido ao acidente, pela passagem da corrente elétrica na estrutura encefálica é freqüente. A paralisia induzida por raio, lesão periférica acompanhada de distúrbios vasomotores pode ocorrer nas primeiras 24 horas. As seqüelas de todo tipo são freqüentes (hemiplegia, atrofia cortical, síndrome extrapiramidal, lesões medulares e de nervos periféricos).
3-Lesões Cardiovasculares: A parada pode ocorrer por assistolia ou fibrilação ventricular. O miocárdio pode ser atingido diretamente (efeito joule), uma contusão miocárdica por onda de choque, trombose das artérias coronarianas e/ ou periféricas podem ser detectadas. Os distúrbios tardios do ritmo necessitam de monitoramento cardíaco por 48 horas. Uma hipovolemia pode ser de duas origens: esmagamentos (edemas extensos) ou eventual lesão traumática associada.
4-Lesões Respiratórias: Pode ocorrer o estado de tetanizaçao de curta duração dos músculos respiratórios, ou devido ao fato do sistema nervoso central (SNC) ter sido atingido, ruptura brônquica ou pleural por efeito direto, lesão da membrana alvéolo-capilar quando o ar superaquecido explode.
5-Efeitos Neurosensorial: lesões oculares devido ao descolamento de retina e probabilidade de catarata devem ser examinadas. Podem ocorrer também as lesões auditivas, incluindo ruptura timpânica (perfuração do ouvido), distúrbios do equilíbrio (por labirintite).
6-Efeitos musculares: lesão muscular extensa no caminho da corrente elétrica, com necrose profunda e rabdomiólise (síndrome causada por danos na musculatura esquelética resultando em extravasamento para o plasma do conteúdo de células musculares (mioglobina, potássio, fosfato, etc.).).
7-Efeitos renais: Existem essencialmente três conseqüências; tubulopatia devido a lise muscular (alteração do metabolismo); trombose arterial e lesão traumática.
8-Efeitos cutâneos: queimaduras de vários graus, em particular nos pontos de entrada do raio (cirurgia reparadora é freqüente e necessária) e nos locais de contato com peças metálicas (como o material de escalada, jóias,), formato de folha de samambaia.

Conseqüências indiretas:
Antes de ser atingido: o pânico numa atmosfera de tempestade é freqüente. Apenas sentindo o ruído ou o relâmpago, pode causar decisões precipitadas expondo o alpinista a manobras perigosas que conduzem a acidentes.
Durante e após a queda do raio: se a vítima não estiver adequadamente presa e seguro, o choque pode resultar em queda fatal ou ser lançado no vazio.

Consequentemente. lesões traumáticas devem ser procuradas, especialmente, lesões cranianas, raquidianas e lesões pelo cinto. Toda vitima de acidente com raios é suspeita de politraumatismo.
Finalmente, se o resgate não é imediato (tempestades costumam atrasar a busca), a hipotermia pode rapidamente aparecer nesses casos..

Procedimento no local
Assegurar e garantir as funções vitais. Dependendo do ambiente, os principais procedimentos são: intubar , perfundir, sedar e imobilizar. Ter atenção caso haja hipotermia ou traumatismo associados. Para evitar insuficiência renal uma reposição precoce de cristalóides é administrada, o mais rapidamente possível. Muitas vezes isso fica apenas na teoria, devido as condições adversas do ambiente e dificuldades de vôos de resgate. Na maioria das vezes, a remoção rápida é a única solução.

No hospital
Vítima ilesa ou levemente ferida: Um agravamento do quadro é sempre possível após um intervalo de várias horas. Toda vítima deve ser monitorada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) nas primeiras 24h. Se a cabeça foi atingida deve ser realizado acompanhamento oftalmológico para avaliação precoce de complicações (catarata).

Paciente com lesões graves: O check-up deve ser completo para detectar lesões associadas (quadro abaixo).
ECG (eletrocardiograma)de repetição, CPK-MB (Creatino fosfoquinase), ecocardiograma.
Função Renal, mioglobinúria, CPK TOTAL (creatinofosfoquinase).
Raio X de crânio e coluna (outros quando necessario), eletromiografia.
Raio-X do abdomen (perfuração de orgãos).
Exames completos, oftalmológico, das cavidades timpânicas e labirintite.

A reanimação deve ser feita o mais rápido possível para evitar mioglobinúria (saída da proteína mioglobina pela urina, urina com cor escura) por reposição de cristalóides, que garanta um débito urinário de pelo menos 1,5ml/Kg/ h.
Em relação a condição cardíaca é evitar problemas graves de condução e de excitabilidade e sinais de isquemia. A utilização de anticoagulantes para evitar a trombose é discutível, devido ao risco de hemorragia. Operação de emergência é indicada em alguns casos tais como; fasciotomia (incisão cirúrgica), remoção de tecidos necrosados...

Conclusão
O raio atinge raramente os alpinistas. É uma possibilidade, pois a mortalidade nestes casos é de 50%. Se a vítima sobrevive, o prognóstico é bom, se a evacuação é rápida. Na verdade, as diferentes lesões causadas pelo raio diminuem a capacidade de resistência do organismo de adaptação ao ambiente montanhoso, frio e altitude.
Cada vítima atingida por um raio é suspeita de ter outras lesões e deve ser internado na UTI durante pelo menos 24h.
O quadro clínico pode ser favorável, mas a terapia sintomática e preventiva das diferentes lesões (especialmente renal), tem mostrado excelentes resultados. As seqüelas são essencialmente neurológicas e tróficas (atrofias musculares) , sendo muitas vezes incapacitantes.

Fonte: O Hospital Chamonix, foi construído em 1994, e é conhecido como referência por tratar patologias de montanha, sejam elas de caráter clínico ou cirúrgico. Sua especialização é a cirurgia ortopédica. Ele reúne médicos de diversas especialidades que tem interesse comum na pesquisa, avaliação, prevenção e informação em trauma e medicina de montanha.

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posted by ACCA@6:25 AM

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