Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia
quarta-feira, novembro 13, 2024
PESQUISA QUESTIONA BENEFÍCIO DAS MESAS PARA TRABALHAR DE PÉ
Pelo menos no que diz
respeito a doenças circulatórias, ficar muito tempo em pé não é melhor do que
passar longos períodos sentado, concluem cientistas.
Ficar sentado por muito tempo
não é bom, e por isso muitas pessoas estão recorrendo às mesas para trabalhar
de pé, seja no home office, seja no escritório.
No entanto, um estudo recente
conduzido por cientistas da Universidade de Sydney, na Austrália, descobriu
que, pelo menos no que diz respeito a doenças circulatórias, ficar muito tempo
em pé não é melhor do que ficar muito tempo sentado.
Os autores do estudo
coletaram dados de mais de 83 mil adultos do Reino Unido ao longo de sete anos
e, em alguns casos, oito anos. Os participantes do estudo usaram dispositivos
em seus pulsos para registrar seus movimentos e não tinham nenhuma doença
cardíaca no início do estudo.
EFEITOS NEGATIVOS DE FICAR
MUITO TEMPO DE PÉ
"No geral, nossos
resultados indicam que aumentar o tempo em pé não reduz o risco de doenças
cardiovasculares graves", escrevem os autores do estudo. Em outras
palavras: ficar em pé no trabalho não serve para compensar um estilo de vida
sedentário.
Pelo contrário, ficar muito
tempo em pé pode até mesmo ter vários efeitos negativos: mais de duas horas por
dia aumenta o risco de quedas repentinas na pressão arterial, varizes,
insuficiência venosa crônica e trombose venosa.
Portanto, de acordo com o
estudo, "as estratégias que aconselham a simples substituição da posição
sentada prolongada pela posição em pé, por exemplo com o uso de mesas para
trabalhar em pé nos escritórios, podem não atingir seu objetivo."
ENTÃO SENTAR É MELHOR DO QUE
FICAR EM PÉ?
Mas quem fica sentado por
mais de dez horas por dia corre os mesmos riscos. Além disso, ficar sentado por
muito tempo aumenta o risco de doenças cardiovasculares graves, principalmente
doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca e AVC.
Um dos autores do estudo, o
cientista Matthew Ahmadi, da Universidade de Sydney, já havia publicado, com
outros cientistas, um outro estudo sobre ficar sentado em meados deste ano.
Num estudo com mais de 73 mil
adultos, os pesquisadores investigaram até que ponto o comportamento sedentário
afeta o risco de se morrer de uma doença cardiovascular. Eles chegaram à
conclusão de que pessoas que ficam muito tempo sentadas correm um risco maior.
BOM MESMO É SE EXERCITAR
A equipe também queria saber
quanta atividade física é necessária para reduzir esse risco. Mais
especificamente, os pesquisadores determinaram as seguintes fórmulas:
Quem tem um trabalho
sedentário, mas diariamente pratica;
·uma atividade
física vigorosa por pelo menos seis minutos,
·ou uma atividade
física intensa por pelo menos 30 minutos,
·ou uma hora de
atividade física moderada,
·ou então pelo menos
uma atividade física leve por mais de uma hora e meia,
reduz o seu risco de morte por doença cardiovascular.
Pessoas que passam um tempo
muito longo sentadas, ou seja, mais de 11 horas por dia, precisam se exercitar
ainda mais intensamente.
Portanto, ir a pé ou de
bicicleta para o trabalho é muito melhor do que ter uma mesa para trabalhar de
pé no escritório. E uma caminhada no intervalo do almoço também ajuda a manter
a saúde física. Fonte: Deutsche Welle – 28/10/2024
O 'SERVIÇO DE EMERGÊNCIA' NO FUNDO DO OCEANO QUE MANTÊM A INTERNET FUNCIONANDO
Pouco
depois das 17h do dia 18 de novembro de 1929, o chão começou a tremer.
Ao longo da costa da
Península de Burin, ao sul da ilha de Terra Nova, no Canadá, um terremoto de magnitude
7,2 perturbou a paz daquela noite. Inicialmente, os moradores notaram apenas
alguns danos — algumas chaminés derrubadas.
No mar, no entanto, uma força
invisível estava se movendo. Por volta de 19h30, um tsunami de 13 metros de
altura atingiu a costa da Península de Burin. No total, 28 pessoas morreram em
decorrência de afogamentos ou ferimentos causados pelas ondas.
O terremoto foi devastador
para as comunidades locais, mas também teve um efeito duradouro no mar. O abalo
sísmico desencadeou um deslizamento de terra submarino.
As pessoas não perceberam
isso na época, sugerem os registros históricos, porque ninguém sabia que tais
deslizamentos de terra subaquáticos existiam.
Quando os sedimentos são
agitados por terremotos e outras atividades geológicas, a água fica mais densa,
gerando um fluxo descendente, como uma avalanche de neve montanha abaixo. O
deslizamento de terra submarino — chamado corrente de turbidez —– fluiu a mais
de 1.000 km de distância do epicentro do terremoto, a uma velocidade entre 11 e
128 km/h.
Embora o deslizamento de
terra não tenha sido notado na época, deixou uma pista reveladora. Na sua rota,
estava o que havia de mais moderno em tecnologia de comunicação da época: cabos
submarinos transatlânticos. E esses cabos se romperam. Doze deles foram
partidos em 28 lugares no total.
Algumas das 28 rupturas
aconteceram quase simultaneamente com o terremoto. Mas outras 16 ocorreram ao
longo de um período muito mais longo, à medida que os cabos se rompiam um após
o outro, em uma espécie de padrão misterioso de ondas, de 59 minutos após o
terremoto até 13 horas e 17 minutos depois, e a mais de 500 quilômetros de
distância do epicentro.
Se todos tivessem sido
rompidos pelo terremoto em si, os cabos teriam se rompido ao mesmo tempo — então
os cientistas começaram a se perguntar: por que não se romperam? Por que se
romperam um após o outro?
Só em 1952 que os pesquisadores
descobriram por que os cabos se romperam em sequência, ao longo de uma área tão
grande e em intervalos que pareciam diminuir com a distância do epicentro. Eles
descobriram que um deslizamento de terra os atingiu, e que os cabos que se
rompiam traçaram seu movimento pelo fundo do mar.
Até então, ninguém sabia da
existência das chamadas correntes de turbidez.
Como esses cabos se romperam
e havia um registro do momento em que se partiram, eles ajudaram a entender os
movimentos oceânicos acima e abaixo da superfície. Eles motivaram um trabalho
de reparo complexo, mas também se tornaram instrumentos científicos acidentais,
registrando um fenômeno natural fascinante que estava fora do alcance da vista
humana.
Nas décadas seguintes, à
medida que a rede global de cabos de águas profundas se expandiu, seu reparo e
manutenção resultaram em outras descobertas científicas surpreendentes, abrindo
mundos totalmente novos, e nos permitindo espiar o fundo do mar como nunca
antes, além de nos permitir comunicar em velocidade recorde.
Ao mesmo tempo, nossa vida
cotidiana, rendimentos, saúde e segurança também se tornaram cada vez mais
dependentes da internet — e, em última análise, desta complexa rede de cabos
submarinos. Mas, afinal, o que acontece quando eles se rompem?
COMO NOSSOS DADOS TRAFEGAM
Há 1,4 milhão de quilômetros
de cabos de telecomunicações no fundo do mar, abrangendo todos os oceanos do
planeta.
Estendidos de uma extremidade
à outra, estes cabos — responsáveis pela transferência de 99% de todos os
dados digitais — poderiam dar uma volta ao redor do Sol. Mas para algo tão
importante, são surpreendentemente finos — muitas vezes, com pouco mais de 2 cm
de diâmetro, ou aproximadamente a largura de uma mangueira.
Uma repetição do rompimento
de cabos em massa de 1929 teria impactos significativos na comunicação entre a
América do Norte e a Europa.
No entanto, "em grande
parte, a rede global é notavelmente resistente", diz Mike Clare, consultor
ambiental marinho do Comitê Internacional de Proteção de Cabos, que pesquisa os
impactos de eventos extremos em sistemas submarinos.
"Há de 150 a 200 casos de
danos à rede global a cada ano. Portanto, se compararmos com 1,4 milhão de
quilômetros, não é muito e, na maioria das vezes, quando esses danos ocorrem,
eles podem ser consertados com relativa rapidez."
Mas como a internet funciona
com cabos tão finos e evita panes desastrosas?
EVENTOS AMBIENTAIS EXTREMOS
Desde que os primeiros cabos
transatlânticos foram instalados no século 19, eles têm sido expostos a eventos
ambientais extremos, desde erupções vulcânicas submarinas até tufões e
inundações. Mas a principal causa dos danos que sofrem não é natural.
MAIORIA DAS FALHAS
A maioria das falhas — de 70
a 80%, dependendo do lugar no mundo — está relacionada a atividades humanas
acidentais, como lançar âncoras ou redes de pesca de arrasto, que acabam
ficando presas nos cabos, diz Stephen Holden, chefe de manutenção da Europa,
Oriente Médio e África na Global Marine, uma empresa de engenharia submarina
que atua na reparação de cabos submarinos.
Em geral, estes acidentes
acontecem em profundidades de 200 a 300 metros (mas a pesca comercial está
avançando para águas cada vez mais profundas, em alguns lugares, chegando a
1.500 metros no nordeste do Atlântico).
Somente de 10% a 20% das
falhas nos cabos a nível mundial estão relacionadas a ameaças naturais e, na
maioria das vezes, estão relacionadas ao desgaste dos cabos em locais onde as
correntes fazem com que eles resvalem contra as rochas, causando o que é
chamado de "falhas de derivação", diz Holden.
A ideia de que os cabos se
rompem porque são mordidos por tubarões é hoje uma espécie de lenda urbana,
acrescenta Clare.
"Houve casos de danos
causados por mordidas de tubarões, mas isso já acabou, porque a indústria dos
cabos utiliza uma camada de Kevlar (tipo de fibra sintética) para
reforçá-los."
No entanto, os cabos devem
ser mantidos finos e leves em águas mais profundas para ajudar na recuperação e
no reparo. Transportar um cabo grande e pesado ao longo de milhares de metros
abaixo do nível do mar colocaria uma enorme pressão sobre ele. Os cabos mais
próximos da costa tendem a ser mais blindados, porque têm mais chance de serem
danificados por redes de pesca e âncoras.
UM EXÉRCITO DE NAVIOS DE
REPARO A POSTOS
Se uma falha for encontrada, um navio de reparo é enviado.
Um navio a partir do qual os cabos submarinos são consertados
"Todas essas embarcações
estão estrategicamente posicionadas ao redor do mundo para que o trajeto entre
a base e o porto seja de 10 a 12 dias", explica Mick McGovern,
vice-presidente adjunto de operações marítimas da Alcatel Submarine Networks.
"Você tem esse tempo
para descobrir onde está a falha, carregar os cabos [e os] amplificadores de
sinal" — que aumentam a força de um sinal à medida que ele trafega pelos
cabos.
"Em essência, quando você
pensa no tamanho do sistema, não é preciso esperar muito", ele acrescenta.
Embora tenha demorado nove
meses para consertar o último cabo submarino danificado pelo terremoto de 1929,
McGovern diz que um reparo moderno em águas profundas deve levar uma ou duas
semanas, dependendo da localização e do clima.
REDUNDÂNCIA
"Quando você pensa na
profundidade da água e onde está, não é uma solução ruim."
Isso não significa que um
país inteiro vai ficar sem internet por uma semana. Muitas nações possuem mais
cabos e mais largura de banda dentro desses cabos do que a quantidade mínima
exigida, de modo que, se alguns forem danificados, os outros possam compensar.
Isso é chamado de redundância no sistema.
Devido a essa redundância, a
maioria de nós nunca perceberia se um cabo submarino fosse danificado — talvez
este artigo demorasse um ou dois segundos a mais para carregar do que o normal.
Em eventos extremos, pode ser
a única coisa que mantém um país online.
O terremoto de magnitude 7 na
costa de Taiwan, em 2006, rompeu dezenas de cabos no Mar do Sul da China — mas
alguns permaneceram online.
Para reparar o dano, o navio
utiliza um arpéu, ou gancho, para levantar e cortar o cabo, puxando uma
extremidade solta até a superfície, e enrolando-a na proa com grandes tambores
motorizados.
A parte danificada é então
arrastada até uma sala interna e analisada em busca de falhas, reparada,
testada (enviando um sinal para terra firme a partir do barco), selada e, em
seguida, presa a uma boia enquanto o processo é repetido na outra extremidade
do cabo.
Uma vez que as duas
extremidades são consertadas, cada fibra óptica é emendada sob microscópio para
garantir que haja uma boa conexão — e, na sequência, são vedadas com uma junta
universal que é compatível com o cabo de qualquer fabricante, facilitando a
vida das equipes de reparo internacionais, explica McGovern.
Os cabos reparados são
colocados de volta na água e, em águas mais rasas, onde pode haver mais tráfego
de barcos, são enterrados em valas. Veículos subaquáticos operados remotamente
(ROV, na sigla em inglês), equipados com jatos de alta potência, podem abrir
trilhas no fundo do mar para a instalação dos cabos.
Em águas mais profundas, o
trabalho é feito por arados equipados com jatos, arrastados ao longo do leito
marinho por grandes embarcações de reparo acima.
Alguns arados pesam mais de
50 toneladas e, em ambientes extremos, são necessários equipamentos ainda
maiores.
McGovern se lembra de um
trabalho no Oceano Ártico, que exigiu que um navio arrastasse um arado de 110
toneladas, capaz de enterrar cabos de 4 metros e penetrar no permafrost.
OUVIDOS NO FUNDO DO MAR
A instalação e o reparo dos
cabos levaram a algumas descobertas científicas surpreendentes — a princípio de
forma acidental, como no caso dos cabos rompidos e do deslizamento de terra, e
mais tarde, intencionalmente, quando os cientistas começaram a usar os cabos de
propósito como ferramentas de pesquisa.
Essas lições das profundezas
do mar começaram quando os primeiros cabos transatlânticos foram instalados no
século 19.
Os operadores de cabos
notaram que o Oceano Atlântico ficava mais raso no meio, descobrindo sem querer
a cordilheira Dorsal Mesoatlântica.
Hoje, os cabos de
telecomunicações podem ser usados como "sensores acústicos" para
detectar baleias, barcos, tempestades e terremotos em alto mar.
Os danos causados aos cabos
oferecem à indústria "uma nova compreensão fundamental sobre os perigos
que existem no fundo do mar", diz Clare.
"Nunca saberíamos que
havia deslizamentos de terra no fundo do mar após erupções vulcânicas se não
fosse pelos danos causados (nos cabos)".
Em alguns lugares, as
mudanças climáticas estão tornando as coisas mais desafiadoras. As inundações
na África Ocidental estão causando um aumento no deságue de sedimentos dos
cânions no Rio Congo, que ocorre quando grandes volumes de sedimentos fluem
para um rio após uma inundação. Estes sedimentos são então despejados da foz do
rio no Oceano Atlântico, e podem danificar os cabos.
"Agora sabemos que
devemos colocar os cabos mais longe do estuário", diz McGovern.
Alguns danos serão
inevitáveis, preveem os especialistas.
ERUPÇÃO VULCÂNICA
A erupção vulcânica do Hunga
Tonga-Hunga Ha'apai, em 2021 e 2022, destruiu o cabo submarino de internet que
conectava a nação insular de Tonga, no Pacífico, ao resto do mundo.
Levou cinco semanas até a
conexão com a internet voltar a funcionar totalmente, embora alguns serviços
tenham sido restabelecidos após uma semana.
No entanto, muitos países
contam com vários cabos submarinos, o que significa que uma falha — ou até
mesmo várias falhas — pode não ser percebida pelos usuários da internet, pois a
rede pode recorrer a outros cabos em uma crise.
"Isso realmente mostra
por que é necessário haver uma diversidade geográfica das rotas de cabo",
acrescenta Clare.
"Especialmente no caso
das ilhas pequenas, em lugares como o Pacífico Sul, onde há tempestades
tropicais, terremotos e vulcões, elas são particularmente vulneráveis e, com as
mudanças climáticas, diferentes áreas estão sendo afetadas de maneiras
diferentes."
À medida que a pesca e o
transporte marítimo se tornam mais sofisticados, pode ficar mais fácil evitar
danos aos cabos.
O advento do sistema de
identificação automática (AIS, na sigla em inglês) no transporte marítimo levou
a uma redução nos danos causados pela ancoragem, diz Holden, porque algumas
empresas agora oferecem um serviço em que é possível seguir um padrão definido
para reduzir a velocidade e ancorar.
No entanto, em regiões do
mundo onde os barcos de pesca tendem a ser menos sofisticados e operados por
equipes menores, os danos provocados pelas âncoras ainda acontecem.
Nesses locais, uma opção é
informar às pessoas onde estão os cabos, e aumentar a conscientização, afirma
Clare. Fonte: BBC Future - 26 outubro 2024