ENTENDA POR QUE USO DE AR-CONDICIONADO SEM MANUTENÇÃO CAUSA INCÊNDIOS
O verão, com temperaturas chegando a recordes com as ondas de calor, faz aumentar o consumo de energia, e em boa parte o motivo está no uso de aparelho de ar-condicionado ou de ventiladores.
O manuseio desses equipamentos, no entanto, exige cuidados para evitar incêndios que podem ser provocados pelo excesso de carga elétrica. Uma importante recomendação é verificar se o imóvel tem capacidade elétrica para suportar os equipamentos, principalmente o ar-condicionado, que consome mais energia.
O professor de Engenharia
Elétrica do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) Edson
Watanabe explica que nos imóveis de construções antigas a preocupação maior era
com a iluminação e a preparação para receber poucos aparelhos, bem diferente da
atualidade, em que cada vez mais aumenta a quantidade de eletrônicos em um
mesmo imóvel, e que ainda exigem maior carga de energia. “Tem muitos lugares
com microondas, air fryer, fogão de indução magnética. Quem vai aumentando
estas cargas têm que tomar cuidado”, alertou .
FALTA DE CAPACIDADE ELÉTRICA
Watanabe revelou que pediu a
uma turma de alunos que verificasse se as instalações estavam corretas em suas
casas, e a metade relatou problemas. “Quando um vai tomar banho outro não pode
ligar o ar-condicionado, porque um vai derrubar o outro”, disse se referindo a
falta de capacidade elétrica do imóvel para suportar uma carga maior de consumo
ao mesmo tempo.
“A dica principal é contratar
um profissional da elétrica para conferir se o quadro de energia da sua casa
está compatível na dimensão, se suporta realmente o aumento de equipamentos
como o ar-condicionado”, recomenda o porta-voz do Corpo de Bombeiros do Rio de
Janeiro, major Fábio Contreiras.
O curto circuito que costuma
ser vilão em alguns casos de incêndios, segundo o professor Edson Watanabe, é
uma ocorrência rara e normalmente quando acontece os disjuntores costumam
proteger o local desligando o sistema. “É raro isso não acontecer, ou seja, a
proteção não funcionar. Curto circuito não é o problema, o que acontece é que
em muitos lugares a instalação é antiga e foi feita em uma época em que o
ar-condicionado era raro. Tinha previsão de ar‑condicionado em dois lugares, na
sala e um quarto, o resto não tinha. Esse é o primeiro ponto. O outro é que o
condutor, o fio, tem que ter capacidade de aguentar o aparelho de ar‑condicionado
que é totalmente diferente de lâmpadas e mesmo os ventiladores, que em geral
têm o consumo bem pequeno comparado ao ar-condicionado”, explicou.
MAL CONTATO
O longo período em que os
aparelhos ficam desligados merece cuidados quando entram novamente em uso. De acordo
com o professor Watanabe, no caso de ar-condicionado residencial de 12 mil BTU
o consumo pode crescer 10 a 20 vezes na comparação com o ventilador. “O
problema é que em alguns casos os fios não estão preparados para isso. Além
disso, deixar por muito tempo ligado na
tomada é um risco, sem o uso do
aparelho”, alertou.
“Isso pode resultar em mal
contato se só for utilizado no ano seguinte. O mau contato é muito ruim porque,
em geral, não se nota. Quando tem o mal contato, a tomada começa a esquentar,
em alguns casos derrete e pega fogo. Isso é bastante comum. O bom é tirar da
tomada quando não está usando o aparelho”, recomendou, acrescentando que é
importante também manter a limpeza da tomada.
Outra recomendação é não instalar o ponto elétrico próximo do chão e perto de materiais inflamáveis, o que também pode causar incêndios. “Está pedindo para pegar fogo. É melhor não ajudar”, ironizou, sugerindo ainda que a pessoa veja depois de uma hora de funcionamento do aparelho se a tomada está aquecendo.
“Se estiver quente chama um
eletricista e pede para ele revisar o circuito. Se o disjuntor estiver
desarmando sozinho, também tem problema. É bom conferir se o fio está na
dimensão correta. Se não estiver, e ele pegar fogo, o prejuízo é muito grande”.
MANUTENÇÃO
Além de uma manutenção anual
feita por um profissional especialista em ar-condicionado, o professor lembra
que é bom também manter o filtro do aparelho limpo, mas nesse caso é por uma
questão de saúde por causa do acúmulo de poeira. “Fica lá juntando poeira o ano
inteiro e quando liga vai tudo para o espaço e para cima da gente”.
O professor Watanabe lembrou
que os aparelhos mais modernos, “os inverter”, têm um sistema diferente. “É um
pouco mais caro, mas em geral não têm pico de partida, são mais suaves,
controlados eletronicamente e mais eficientes. Teoricamente são melhores”.
TOMADA BENJAMIN
Para o professor Watanabe, os
riscos ocorrem por falta de conhecimento. “O bom seria que a população soubesse
um pouquinho de eletricidade. As tomadas normais de casa têm dois tipos. Uma delas tem 10
amperes. Se ligar um carregador de celular está muito abaixo de 1 ampere, mas
se colocar mais de quatro ventiladores pode ser problema. O ar-condicionado não
tem jeito. Tem que ser só ele e não ter nada pendurado com o ar-condicionado,
que em geral é em 20 amperes”, disse.
Em mais uma recomendação para
evitar acidentes, o major Contreiras destacou que ao comprar um equipamento é
necessário observar a voltagem e a amperagem de cada um. Caso o imóvel não
tenha a capacidade é preciso chamar o eletricista para fazer a conversão no
quadro de energia. “É um ponto importante. Muitas vezes a pessoa quer colocar um
equipamento de 20 amperes em uma tomada de 10. Isso pode dar sobrecarga e pode
incendiar por não conseguir suportar a temperatura”, explicou.
CAUSAS ELÉTRICAS
O porta-voz do Corpo de
Bombeiros informou que grande parte dos atendimentos feitos pelos bombeiros no
país tem causas elétricas provocadas por sobrecarga, curto circuito por defeito
no equipamento e contato imperfeito que ocorre nas tomadas que soltam faíscas.
“Em contato com uma cortina, um lençol, uma cama isso pode se incendiar
rapidamente. São as três causas mais comuns nos incêndios”, alertou.
INCÊNDIOS POR CAUSA ELÉTRICA
O major disse que em casos de
incêndios por causa elétrica a principal recomendação é que a pessoa não tente
apagar imediatamente com um copo ou com balde de água, por exemplo. “A gente
sabe que a corrente elétrica passa muito pela água e a pessoa vai tomar um
choque e pode até morrer. A primeira coisa a fazer é desligar a rede elétrica
da casa para deixar de alimentar o fogo. Quando desliga o disjuntor ou a chave
geral, onde quer que esteja, já ajuda a evitar que o incêndio ganhe proporção”,
recomendou.
Se o imóvel tiver um extintor
de incêndio, também pode ser usado para combater o fogo, desde que seja o
equipamento apropriado. “Em geral no mercado são dois tipos de extintores que
se usa. O de gás carbônico ou o que pó químico seco. São os dois que podem apagar
um incêndio como esse, mas se não tem nada o mais importante é sair de casa,
tirar as pessoas com segurança e chamar o Corpo de Bombeiros pelo número 193
para que a gente possa realmente fazer esse atendimento”, explica, destacando
que caso a pessoa consiga afastar o aparelho eletrônico que está em chamas,
como um ferro de passar, e levá-lo para fora de casa é importante para evitar a
propagação do incêndio.
"Para fazer isso é importante
também ter muito cuidado para não se expor ao fogo. Em geral é sempre
recomendável chamar o Corpo de Bombeiros para fazer o combate e jamais usar
água”, reforçou.
BATERIAS
“Todas as baterias a base de íon de lítio, em situações de ondas de calor, são perigosas, porque esses equipamentos se forem expostos a altas temperaturas, por exemplo, dentro de um veículo trancado com muito sol em dia de muito calor, elas podem se danificar e em alguns casos mais extremos podem até se incendiar. A recomendação que a gente sempre dá é nunca deixar baterias e equipamentos específicos dentro de veículos fechados ou dentro de casa. Devem ficar sempre em locais ventilados, bem arejados, longe do sol também. Então muito cuidado com equipamentos elétricos em dias de muito calor. Apesar deles, estarem preparados para suportarem altas temperaturas é sempre bom ter a prevenção”, observou. Fonte: Agência Brasil - Rio de Janeiro - Publicado em 25/12/2023
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