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domingo, setembro 17, 2023

O ENORME CUSTO AMBIENTAL E ECONÔMICO DAS ESPÉCIES INVASORAS

Homem deslocou milhares de espécies pelo planeta, e muitas provocam mais danos que ganhos. Entre elas, mexilhões que entopem tubulações, mosquitos que transmitem doenças e plantas aquáticas que prejudicam a pesca.

Áreas de pesca sufocadas por jacintos-de-água. Ovos de aves nativas devorados por ratos. Tubulações de usinas elétricas entupidas por mexilhões-zebra. Fios de eletricidade derrubados por cobras marrons.

Esses são alguns exemplos dos problemas causados por espécies invasoras, cuja disseminação em todo o mundo tem custo econômico anual de pelo menos 423 bilhões de dólares (R$ 2 trilhões), cifra que quadruplicou a cada década desde 1970, informaram pesquisadores nesta segunda-feira (04/09).

Uma equipe de 86 especialistas de 49 países analisou durante quatro anos os impactos globais de cerca de 3.500 espécies invasoras prejudiciais. O relatório estima que essas espécies desempenham um papel central em 60% das extinções registradas de plantas e animais.

Apesar de algumas espécies terem sido introduzidas em outros ambientes de propósito, com o objetivo de produzirem efeitos benéficos para os humanos, o relatório conclui que muitas têm impactos negativos expressivos para a natureza e para os próprios humanos.

"Esse é um problema que ficará muito, muito pior", disse a ecologista Helen Roy, copresidente da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos da ONU (IPBES).

O QUE SÃO ESPÉCIES INVASORAS

O caranguejo "Eriochier sinensis", nativo da Ásia, é um exemplo de espécie invasora na Europa e na América do Norte

Espécies invasoras são plantas ou animais, geralmente deslocados pela atividade humana, que se instalam em um ambiente e provocam efeitos negativos, como a morte da vida selvagem nativa, danos à infraestrutura e ameaças à saúde e aos meios de subsistência humanos, em especial para comunidades tradicionais e povos indígenas.

Os impactos geralmente demoram a se materializar, mas podem ser catastróficos. Os incêndios florestais devastadores no Havaí em agosto foram potencializados por gramíneas invasoras inflamáveis trazidas da África como pasto para o gado.

O peixe-leão, carnívoro, tem grande capacidade de adaptação e já é encontrado em uma longa faixa do litoral brasileiro

No Brasil, há preocupação crescente com o peixe-leão, originário do Indo-Pacífico e que vem se alastrando pela costa brasileira, colocando em risco 29 espécies de peixes nativos brasileiros.

Espécies invasoras de mosquitos também podem disseminar doenças como dengue, malária e zika. Em agosto, as autoridades de saúde de Paris fumigaram áreas da capital francesa pela primeira vez para tentar conter a proliferação do Aedes albopictus, o mosquito-tigre-asiático.

"As espécies invasoras estão afetando não apenas a natureza, mas também as pessoas e causando grande perda de vidas", disse o copresidente do relatório, Anibal Pauchard, do Instituto de Ecologia e Biodiversidade do Chile.

ERRADICAÇÃO É DIFÍCIL, MAS POSSÍVEL

Cerca de três quartos dos impactos negativos causados por espécies invasoras ocorrem em terra, especialmente em florestas, bosques e áreas cultivadas.

Embora os invasores possam se apresentar de várias formas, incluindo micróbios, invertebrados e plantas, os animais geralmente causam o maior impacto ambiental, especialmente os predadores, disse Roy.

Nas ilhas, muitas espécies evoluíram sem predadores e, portanto, têm poucas defesas e são "muito ingênuas", afirmou Pauchard. "Os pássaros da Nova Zelândia não tinham experiência com ratos até que os humanos chegaram e trouxeram os ratos. Seus ninhos ficam no nível do solo."

É difícil se livrar de espécies invasoras depois que elas se estabelecem. Algumas ilhas da Polinésia Francesa tiveram sucesso na erradicação de ratos e coelhos invasores com armadilhas e envenenamentos. Mas populações maiores que se reproduzem rapidamente podem ser complexas de lidar. E plantas invasoras geralmente deixam suas sementes dormentes no solo por anos.

Segundo os cientistas, as medidas de prevenção por meio de biossegurança nas fronteiras e controles de importação são as mais eficazes. Um exemplo de sucesso é a redução da ocorrência do percevejo-fedorento na Oceania. "Uma das mensagens mais importantes do relatório é que é possível obter progressos ambiciosos ao lidar com espécies invasoras", disse o professor Peter Stoett, do Canadá.

Em dezembro passado, governos de diversos países do mundo comprometeram-se a reduzir a introdução e o estabelecimento de espécies invasoras prioritárias em pelo menos 50% até 2030, ao assinarem o Marco Global para a Diversidade.

Segundo o relatório apresentado nesta segunda-feira, 80% dos países têm metas relacionadas ao gerenciamento de espécies invasoras, mas apenas 17% têm leis ou normas específicas para lidar com o tema. Além disso, 45% dos países não destinam recursos para o gerenciamento de espécies invasoras. Fonte: Deutsche Welle – 04.09.2023

OBSERVAÇÃO

RESUMO DOS PRINCIPAIS FATOS AMBIENTAIS DO RELATÓRIO

-37.000: espécies exóticas estabelecidas em todo o mundo

-200: novas espécies exóticas registradas em  cada ano

-3.500: espécies exóticas invasoras registradas globalmente, incluindo 1.061 plantas (6% de todas as espécies de plantas exóticas), 1.852 invertebrados (22%), -461 vertebrados (14%) e 141 micróbios (11%)

-37%: proporção de espécies exóticas conhecidas relatadas desde 1970

-36%: aumento previsto de espécies exóticas até 2050 em comparação com 2005, num cenário que não há mudanças

-35%: proporção de peixes exóticos de água doce na bacia do Mediterrâneo que surgiram da aquicultura

IMPACTOS

-34%: proporção de impactos relatados nas Américas (31% Europa e Ásia Central; 25% Ásia-Pacífico; 7% África

-75%: impactos relatados no âmbito terrestre (principalmente em florestas temperadas e boreais e florestas e áreas cultivadas)

-14%: proporção de impactos relatados em ecossistemas de água doce

-10%: proporção de impactos relatados no domínio marinho

-60%: proporção de extinções globais registadas para as quais contribuíram espécies exóticas invasoras

-16%: proporção de extinções globais registadas em que espécies exóticas invasoras foram a única causa

-1.215: extinções locais de espécies nativas causadas por 218 espécies exóticas invasoras (32,4% eram invertebrados, 50,9% vertebrados, 15,4% plantas, 1,2% micróbios)

-27%: espécies exóticas invasoras impactam espécies nativas através de mudanças nas propriedades do ecossistema (24% através de competição interespecífica; 18% através de predação; 12% através de herbivoria)

-90%: extinções globais em ilhas atribuídas principalmente a espécies exóticas invasoras

-US$ 423 bilhões: custo econômico anual estimado de invasões biológicas, 2019

-92%: proporção dos custos económicos das invasões biológicas atribuídas a espécies exóticas invasoras que prejudicam as contribuições da natureza para as pessoas e a boa qualidade de vida (com os restantes 8% dos custos relacionados com a gestão das invasões biológicas)

-2.300: espécies exóticas invasoras documentadas em terras administradas, usadas e/ou de propriedade de povos indígenas

-4x: aumento do custo económico das invasões biológicas em cada década desde 1970

POLÍTICA E GESTÃO:

-80% (156 de 196): países com metas em estratégias nacionais de biodiversidade e planos de ação para gestão de invasões biológicas

-200%: aumento na última década no número de países com listas nacionais de verificação de espécies exóticas invasoras, incluindo bases de dados (196 países em 2022)

-83%: países sem legislação ou regulamentação nacional específica sobre espécies exóticas invasoras

-88%: taxa de sucesso dos programas de erradicação (1.550) realizados em 998 ilhas

-60%: taxas de sucesso de programas de controle biológico para plantas exóticas invasoras e invertebrados.  Fonte: IPBES Global Assessment Report

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