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terça-feira, janeiro 18, 2022

SÍNDROME DE BURNOUT É RECONHECIDA COMO FENÔMENO OCUPACIONAL PELA OMS

 A síndrome de Burnout passou a ser reconhecida como um fenômeno relacionado ao trabalho pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A assunção dessa condição passou a valer neste mês de janeiro, com a vigência da nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11).

A síndrome é definida pela OMS como “resultante de um estresse crônico associado ao local de trabalho que não foi adequadamente administrado”.

Conforme a caracterização da entidade, há três dimensões que compõem a condição.

1.      A primeira delas é a sensação de exaustão ou falta de energia.

2.      A segunda são sentimentos de negativismo, cinismo ou distância em relação ao trabalho.

3.      A terceira é a sensação de ineficácia e falta de realização.

A OMS esclarece que a síndrome de Burnout se refere especificamente a um fenômeno diretamente vinculado às relações de trabalho e não pode ser aplicada em outras áreas ou contextos de vida dos indivíduos.

Segundo o advogado trabalhista Vinícius Cascone, no Brasil, o Ministério da Saúde reconhece desde 1999 a síndrome como condição relacionada ao trabalho.

RECONHECIMENTO DOS SINTOMAS: Caso um trabalhador reconheça os sintomas, deve buscar um médico para uma análise profissional. O médico avalia se o funcionário deve ou não ser afastado de suas funções. A empresa deve custear o pagamento caso o afastamento seja de até 15 dias.

Depois deste período, o empregado será submetido a uma perícia do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para que o órgão analise e, confirmando o diagnóstico, arque com o custeio do afastamento durante mais tempo. É preciso também abrir uma comunicação de acidente de trabalho.

Cascone explica que se o empregador não der o encaminhamento em caso de afastamento, o trabalhador pode buscar diretamente o INSS ou entrar com ação judicial caso ocorra uma negativa do órgão.

Para o psiquiatra e psicanalista João Salla diz perceber que medidas relativamente simples, como palestras, têm efeito positivo sobre os trabalhadores. Separar um momento para falar do assunto permite que aqueles que compartilham o mesmo ambiente de trabalho possam se identificar uns nos outros.

"O problema é que a pessoa não fala e o assunto costuma ser ignorado. Quando o funcionário é acometido pelo burnout, ele vai ser visto como um empregado ruim, mas ele é uma pessoa adoecida e é assim que ele tem que ser tratado."

Para João Marcio Souza, diretor-executivo da Talenses Executive, que trabalha com recrutamento e seleção de mão de obra, somente uma revisão mais profunda e, portanto, mais demorada, do modo como as empresas funcionam pode ter efeito sobre os casos de burnout.

"Antes de tudo é necessária uma mudança mais estrutural do capitalismo e da busca por lucro ou as pessoas continuam sofrendo diante do modelo de sucesso das organizações", diz.

"Estamos vivendo um excesso de presente, de realidade. As pessoas caem no estresse de correr atrás de metas, de crescimento. Já era um modelo agressivo e ainda vem uma pandemia", afirma o executivo.

Na avaliação de Souza, somente uma mudança de comportamento a partir do topo das empresas pode evitar que "se enxugue gelo". O psicanalista João Salla concorda: "a tônica de qualquer mudança [de políticas para um ambiente de trabalho mais humanizado] é que ela tem que ser de cima para baixo."

Com a nova classificação, o trabalhador que decidir buscar a Justiça do Trabalho em busca de reparação terá mais facilidade? Não necessariamente, segundo o advogado Matheus Cantarella Vieira, da área trabalhista do Mello e Torres Advogados, para quem o maior efeito da reclassificação é aumentar a atenção em relação à doença.

"De qualquer forma, na Justiça, como qualquer doença, é necessário demonstrar a culpa da empresa, que pode ser por não ter feito nada ou por ter feito algo específico", diz. "Nesse sentido, não ter metas abusivas, barrar jornadas longas, respeitar períodos de férias e permitir que a pessoa fique desconectada do trabalho são fatores de proteção."

Para o diretor-executivo da consultoria de marcas iN, Fábio Milnitzky, as organizações já sabiam da importância da saúde física como parte da própria produtividade de seus funcionários. "Agora é necessário que elas também compreendam a necessidade de se desenvolver um ambiente seguro, transparente, de escuta ativa, para que as trocas passem a fazer parte da natureza corporativa."

A nova CID em vigor desde o dia 1º também trouxe outras alterações, como a reorganização dos transtornos que fazem parte do espectro do autismo, e a reclassificação da transexualidade, que saiu dos distúrbios mentais, e agora está no índice de saúde sexual, sob o nome de "incongruência de gênero".

As empresas ou indivíduos interessados em levantar o potencial para o acometimento da síndrome de burnout podem usar adaptações da MBI (Maslach Burnout Inventory), uma escala criada pelo pesquisador que dá nome ao questionário.

É importante usar o teste apenas como uma referência, um parâmetro, o que não substitui uma avaliação médica ou psicológica. Ele não representa um diagnóstico, mas pode ajudar o trabalhador a refletir sobre o que está vivendo.

COMO USAR O QUESTIONÁRIO

Atribua uma pontuação de 0 a 5 para cada afirmação abaixo. Quando terminar, some os números.​​

Características psicofísicas em relação ao trabalho

1 Sinto-me esgotado(a) emocionalmente em relação ao meu trabalho

2 Sinto-me excessivamente exausto ao final da minha jornada de trabalho

3 Levanto-me cansado(a) e sem disposição para realizar o meu trabalho

3 Envolvo-me com facilidade nos problemas dos outros

4 Trato algumas pessoas como se fossem da minha família

5 Tenho que desprender grande esforço para realizar minhas tarefas laborais

6 Acredito que eu poderia fazer mais pelas pessoas assistidas por mim

7 Sinto que meu salário é desproporcional às funções que executo

8 Sinto que sou uma referência para as pessoas que lido diariamente

9 Sinto-me com pouca vitalidade, desanimado(a)

10 Não me sinto realizado(a) com o meu trabalho

11 Não sinto mais tanto amor pelo meu trabalho como antes

12 Não acredito mais naquilo que realizo profissionalmente

13 Sinto-me sem forças para conseguir algum resultado significante

14 Sinto que estou no emprego apenas por causa do salário

15 Tenho me sentido mais estressado(a) com as pessoas que atendo

16 Sinto-me responsável pelos problemas das pessoas que atendo

17 Sinto que as pessoas me culpam pelos seus problemas

18 Penso que não importa o que eu faça, nada vai mudar no meu trabalho

19 Sinto que não acredito mais na profissão que exerço

RESULTADOS:

De 0 a 20 pontos: nenhum indício de burnout

De 21 a 40 pontos: possibilidade de desenvolver burnout, procure trabalhar as recomendações de prevenção da síndrome.

De 41 a 60 pontos: fase inicial de burnout, procure ajuda profissional para debelar os sintomas e garantir, assim, a qualidade no seu desempenho profissional e a sua qualidade de vida.

De 61 a 80 pontos: burnout começa a se instalar. Procure ajuda profissional para prevenir o agravamento dos sintomas.

De 81 a 100 pontos: você pode estar em uma fase considerável de burnout, mas esse quadro é perfeitamente reversível. Procure o profissional competente de sua confiança e inicie o quanto antes o tratamento.  Fonte: questionário adaptado por Chafic Jbeili, a partir do Maslach Burnout Inventory

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) informou que o início da vigência da nova lista de doenças demandará atualização de normativos internos, o que ocorrerá “aos poucos”.

Conforme o órgão, o direito a benefícios associados ao afastamento temporário é garantindo a quem comprovar incapacidade de realizar o trabalho. Fonte: Agência Brasil - Brasília - Publicado em 16/01/2022 ; Folha  de São Paulo - 15.jan.2022

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posted by ACCA@3:31 PM