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terça-feira, março 31, 2020

SOLDADORES TÊM DO CORPO QUEIMADO EM INCÊNDIO EM BETIM

Um incêndio em uma distribuidora de combustíveis deixou duas vítimas em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, no fim da tarde de sábado (7 de março).

REPARO DE SOLDA
De acordo com o Corpo de Bombeiros, dois operários realizavam um reparo com solda em um duto de passagem de álcool anidro, em uma empresa localizada na BR-381, próximo à Petrobras, quando aconteceu uma súbita explosão gerando um princípio de incêndio, que foi controlado pelos brigadistas e pelo sistema preventivo da empresa.

ACOMPANHAMENTO DAS MEDIDAS DE SEGURNÇA
O técnico em segurança do trabalho contou aos militares que acompanhava o procedimento e todas as medidas de segurança foram adotadas. No momento da explosão não havia combustível na tubulação.

VÍTIMAS
Um dos soldadores teve 90% do corpo queimado e o outro entre 60 e 70%. Eles foram conduzidos pela aeronave Arcanjo ao João XXIII.

CORPO DE BOMBEIROS
Cinco viaturas atenderam a ocorrência e permaneceram no local até o estancamento de um vazamento que surgiu após o acidente.

HOSPITALIZAÇÃO E FALECIMENTO
O soldador G. S  que teve 90% do corpo queimado não resistiu aos ferimentos e faleceu no  domingo (8). O outro operário que ficou ferido continuava internado no CTI , mas o estado de saúde não foi informado. Fonte: O Tempo - 07/03/20  e 09/03/2020

Comentário:
SOLDAGEM EM TUBULAÇÕES INDUSTRIAIS CONTAMINADAS COM FLUIDOS INFLAMÁVEIS, 

Na indústria de petróleo escoam predominantemente fluidos inflamáveis, sendo exigidas condições adicionais de segurança operacional para a realização de operações de manutenção. Nestes casos, observa-se no interior das tubulações, mesmo depois de efetuar a purga do fluido, atmosfera potencial de alto risco de explosão decorrente da emanação de vapores residuais, principalmente em operações que envolvam o aquecimento das tubulações como corte e ou soldagem a quente. A

II – PROCEDIMENTO ATUAL
Em instalações industriais, nas tubulações onde escoam fluidos, são freqüentes as operações de manutenção visando algum tipo de inserção ou substituição de segmentos de tubulação ou de dispositivos acessórios tais como válvulas ou flanges, onde é necessário bloquear o escoamento do fluido e liberar, de modo seguro, um segmento para executar a operação. Em particular, em tubulações na indústria de petróleo escoam predominantemente fluidos inflamáveis, sendo exigidas condições adicionais de segurança operacional para a realização de operações de manutenção. Nestes casos, observa-se no interior das tubulações, mesmo depois de efetuar a purga do fluido, atmosfera potencial de alto risco de explosão decorrente da emanação de vapores residuais, principalmente em operações que envolvam o aquecimento das tubulações como soldagem a quente.
Uma das técnicas usualmente empregadas para o preparo de tubulações que sofrerão trabalhos de manutenção e de soldagem a quente é o da inertização, mediante a aplicação de uma purga
positiva com um gás inerte ou vapor. Esta operação é efetuada ao longo de todo o segmento da tubulação sujeito ao risco potencial de haver acúmulo de vapores inflamáveis. Em algumas situações, inertiza-se toda a extensão de uma tubulação para se realizar uma operação de manutenção e de soldagem, devido ao fato de não haver pontos de bloqueio mais próximos do segmento específico onde se vai operar.

Tal fato pode causar sérios transtornos para a operação de manutenção, pois, normalmente, a inertização de uma grande extensão de tubulação requer tempo prolongado para sua execução. Deve-se também mencionar que, nessas situações, é necessário o uso de um grande volume de gás inerte ou de vapor para a execução da inertização.

O procedimento de inertização acarreta elevados custos, por se manterem no local por um tempo prolongado equipes técnicas e maquinário apropriado durante todo o transcurso das operações de inertização, até que a tubulação possa ser liberada de forma segura para as atividades subseqüentes de manutenção.

Todas as vezes que uma operação de inertização é efetuada, há a necessidade de se monitorar a composição dos fluidos no interior da tubulação, de modo a garantir que não haja presença de gases inflamáveis no interior da dita tubulação e, somente após a confirmação da ausência de gases indesejáveis dá-se por concluída a etapa de inertização.

As condições de segurança no interior de uma tubulação, no que se refere às emanações de vapores residuais potencialmente inflamáveis, são usualmente verificadas por meio de sensores específicos. Uma tubulação só pode ser liberada para operações de manutenção quando não mais existirem resíduos de constituintes inflamáveis em seu interior.

Na técnica, são conhecidos diversos tipos de sensores, alguns com sinalização sonora e visual, os quais são capazes de monitorar de modo seguro o potencial de explosão em ambientes confinados, por exemplo, em seções de tubulações que precisam de manutenção e/ou soldagem.
Fonte: Petrobras

PREVENÇÃO DE RISCOS

Muitos acidentes ocorreram porque equipamentos, embora corretamente bloqueado do processo, não estavam inteiramente livres de produtos perigosos ou a pressão interna não estava completamente aliviada, e os operários executando os  reparos não estavam bem informados disso.

EQUIPAMENTOS NÃO PURGADOS DE GASES
Antes da permissão para iniciar os trabalhos é freqüente o uso de explosímetro para a testar a presença de gases ou vapores inflamáveis, especialmente quanto a serviços com soldas e outros trabalhos a quente.

Os seguintes acidentes mostram o que pode acontecer se tal teste não for feito:

(a)  Uma explosão aconteceu em um tanque de estocagem de 4.000 m-' na Sheffield Gas Works, Inglaterra, em outubro de 1973. Morreram 6 pessoas e 29 foram feridas. O teto foi lançado ao ar, revirou-se e caiu no fundo do tanque.

O tanque havia estocado nafta leve e não fora bem lavado antes do início dos trabalhos. Com efeito, foi enchido com água e em seguida esvaziado, mas alguma nafta permaneceu nas fendas e recantos (pode, por exemplo, ter penetrado nos suportes ocos do teto, por meio de rachaduras ou furos). Não foram feitos testes com explosímetro.

Supõe-se que os vapores inflamaram-se durante soldagem próxima a um vent aberto. O corpo de um dos trabalhadores foi achado ainda segurando seu arco de solda, no topo de um gasômetro próximo, a 30 metros de altura.

De acordo com o relatório do acidente não havia uma clara definição de responsabilidade entre o pessoal da fábrica e a empreiteira contratada para os reparos.
"Onde - como nesse caso - um risco especial pode estar presente devido à natureza do trabalho a ser executado (e quem opera as instalações tem um conhecimento mais completo sobre elas), os proprietários da empresa devem administrar os controles para que os empregados da empreiteira estejam apropriadamente protegidos dos riscos.

(b) A tampa de uma boca-de-visita baixa foi retirada de um tanque vazio, porém, ainda contendo vapores de gasolina. Esses vapores escaparam pela abertura e se inflamaram. À medida que a combustão se manteve, houve sucção de ar para o interior até transformar seu conteúdo em mistura explosiva, a qual acabou detonando o tanque.

(c) Durante uma parada, uma solda tinha que ser executada no tubo de descarga de uma válvula de segurança. A válvula, com seu tubo de descarga, foi desconectada do processo.
Quatro horas mais tarde, a extremidade do tubo foi testada com um explosimetro. Ele foi enfiado no tubo, até onde era possível, e nenhum gás foi detectado. A permissão foi emitida. Quando o flange da válvula começou a ser escarificado para a solda, ocorreram um flash e um tiro na outra extremidade do tubo. Felizmente ninguém foi ferido.

Acontece que algum gás ficou retido no tubo de descarga, que tinha 20 metros e muitas curvas, e não se detectou esse gás pela extremidade aberta do tubo.
Antes de permitir soldas - ou operações similares - em tubulações que contiveram ou que poderiam conter gases ou líquidos inflamáveis, deve-se:
 (1) purgar a linha com vapor ou nitrogênio de extremidade a extremidade;
(2) testar com explosímetro no ponto onde o trabalho vai ser executado. Se necessário, deve-se fazer um furo na tubulação.

AS CONDIÇÕES PODEM MUDAR ANTES DA EXECUÇÃO DOS TESTES
Como já foi mencionado, é usual o teste com explosímetro antes do início da manutenção, especialmente para soldas ou outros trabalhos a quente. Muitos acidentes ocorreram porque os testes foram feitos horas antes dos trabalhos e, nesse intervalo, as condições no local mudaram.

Trecho extraído do livro : O que houve de errado? Casos de desastres em indústrias químicas, petroquímicas e refinarias. Autor : Trevor A. Kletz

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posted by ACCA@10:03 PM