Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

sexta-feira, janeiro 03, 2020

PRINCIPAIS EMPRESAS DE TECNOLOGIA SÃO ACUSADAS POR EXPLORAÇÃO DE TRABALHO INFANTIL NA MINERAÇÃO DE COBALTO

Apple, Google, Tesla e Microsoft estão entre os nomes citados em uma ação judicial movida nos Estados Unidos que as acusa as empresas de "ter conhecimento" de que o cobalto usado em seus produtos pode estar relacionado à exploração do trabalho infantil.
O caso foi apresentado pela organização International Rights Advocates em nome de 14 famílias congolesas.
Os autores solicitam indenização pelas mortes e ferimentos de crianças nas minas de cobalto na República Democrática do Congo.
Segundo a associação, as mortes ocorreram nos túneis de extração ou por conta da queda de paredes das minas.
No entanto, a extração está há anos sob os holofotes da comunidade internacional, que aponta irregularidades diversas, como violações de direitos humanos, mineração ilegal e corrupção.

CRIANÇAS TRABALHANDO
O Unicef, fundo das Nações Unidas para a infância, estima que existam aproximadamente 40 mil crianças trabalhando em minas no sul da República Democrática do Congo.
A International Rights Advocates argumenta que as empresas não regulam suas cadeias de suprimentos como deveriam.

MINERAL ESSENCIAL
O mineral é um componente essencial das baterias de íon-lítio que alimentam dispositivos eletrônicos, como computadores, smartphones e carros elétricos.
Também pode ser encontrado em motores de aviões, foguetes, usinas nucleares, turbinas, ferramentas de corte e até próteses de quadril. É um mineral essencial da vida moderna.
A combinação com outros metais produz ligas extremamente resistentes e estáveis sob temperaturas extremas.

O PREÇO DO COBALTO
De 2016 a 2018, o preço do cobalto disparou de cerca de US$ 26 mil (cerca de R$ 105 mil) por tonelada para mais de US$ 90 mil (R$ 365 mil), embora em 2019 os preços tenham caído acentuadamente.
Além disso, a União Europeia e os Estados Unidos rotularam o cobalto como uma matéria‑prima essencial.

UM DÓLAR OU DOIS POR DIA
"O avanço tecnológico causou uma explosão na demanda por cobalto, mas em um dos contrastes mais extremos imagináveis dessa situação o cobalto é extraído na República Democrática do Congo - em condições extremamente perigosas - por crianças que recebem um ou dois dólares por dia ", diz o processo que corre na Justiça americana.



Essa extração serve "para fornecer cobalto para a fabricação de dispositivos de algumas das empresas mais ricas do mundo", acrescenta o texto.

Outras empresas listadas no processo são a fabricante de computadores Dell e duas empresas de mineração, a Zhejiang Huayou Cobalt e a Glencore, proprietárias dos campos onde as famílias congolesas afirmam que seus filhos trabalhavam. A Glencore disse em comunicado ao jornal The Telegraph, no Reino Unido, que "não compra, processa ou comercializa qualquer mineral extraído artesanalmente".

Ela acrescentou que também "não tolera nenhuma forma de trabalho infantil, forçado ou obrigatório".
Os documentos judiciais, aos quais o jornal britânico The Guardian teve acesso, dão vários exemplos de crianças que foram enterradas vivas ou sofreram ferimentos após  desabamento de túneis.
As 14 famílias congolesas querem que as empresas as compensem pelo trabalho forçado, pelo estresse emocional e pela negligência na supervisão da cadeia de produção.
Em resposta ao Telegraph, a Microsoft afirmou estar comprometida com a compra responsável de minerais e que sempre investiga quaisquer violações de seus fornecedores e toma as medidas cabíveis. A BBC também solicitou um posicionamento do Google, Apple, Dell e Tesla.
Fonte: BBC-17/12/2019  

Comentário:
A MAIOR BOLSA DE METAIS DO MUNDO ESTÁ LEVANDO A SÉRIO O TRABALHO INFANTIL  

A maior Bolsa de Metais do mundo está mudando suas regras para combater o trabalho infantil, lavagem de dinheiro, suborno e corrupção.
A Bolsa de Metais de Londres exigirá que os produtores que operam em zonas de alto risco e conflito demonstrem que seus produtos são fornecidos com responsabilidade até 2022.
É uma grande mudança de política para a Bolsa em 142 anos, que até agora certificava metais para o comércio apenas avaliando qualidades como forma, peso e composição química. Agora, está tentando garantir que o metal que utiliza em carros ou em  dispositivos eletrônicos seja de origem ética.

"Os consumidores globais exigem, com razão, ações sobre fornecimento responsável - e nossa indústria deve ouvir", disse o CEO Matthew Chamberlain em comunicado.
Ele disse que a bolsa está adotando os padrões porque "é a coisa certa a fazer" e porque "o valor do nosso mercado é baseado no fornecimento de metal aceitável para esses consumidores".
A Bolsa de Metais de Londres está sob crescente pressão depois que um relatório da Anistia Internacional de 2017 constatou abusos de trabalho infantil e direitos humanos em minas de cobalto na República Democrática do Congo.

Muitas empresas estão tentando garantir que suas cadeias de suprimentos estejam livres de minerais de conflito e trabalho infantil.  A Volkswagen, por exemplo, acaba de lançar um programa piloto que usa a tecnologia blockchain para rastrear a matéria prima até seu  ponto de origem.

A MUDANÇA CHEGA À BOLSA DE METAIS DE LONDRES
As empresas que produzem metais negociados na Bolsa deverão executar suas próprias avaliações de "bandeira vermelha", com base nas diretrizes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico até o final de 2020. A Bolsa analisará as avaliações.
Os produtores com bandeiras vermelhas serão auditados pela Bolsa até o final de 2022. A partir de 2024, a mudança exigirá que os produtores publiquem suas avaliações.
A Bolsa informou  que deseja trabalhar com as empresas de forma voluntária, mas acrescentou que seu "poder principal" é suspender ou remover as empresas que se recusam a cooperar.

A Global Witness disse que os novos requisitos são um passo na direção certa. Sophia Pickles, pesquisadora da cadeia de suprimentos da Global Witness, disse que a decisão de exigir que as marcas relatem publicamente os riscos de crimes financeiros e corrupção é particularmente importante. No entanto, ela disse que a mudança deve tomar medidas adicionais. "A Bolsa de Metais de Londres  também deve ir além quando se trata de combater os impactos de suas marcas no planeta ... [e] exige que as empresas relatem também riscos ambientais e climáticos", acrescentou. Fonte: CNN Business - April 23, 2019

O QUE DIZ A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
O trabalho infantil é ilegal e priva crianças e adolescentes de uma infância normal, impedindo-os não só de frequentar a escola e estudar normalmente, mas também de desenvolver de maneira saudável todas as suas capacidades e habilidades. Antes de tudo, o trabalho infantil é uma grave violação dos direitos humanos e dos direitos e princípios fundamentais no trabalho, representando uma das principais antíteses do trabalho decente. 
O trabalho infantil é causa e efeito da pobreza e da ausência de oportunidades para desenvolver capacidades. Ele impacta o nível de desenvolvimento das nações e, muitas vezes, leva ao trabalho forçado na vida adulta. Por todas essas razões, a eliminação do trabalho infantil é uma das prioridades da OIT.

FATOS E NÚMEROS GLOBAIS
Fonte: Estimativas globais de trabalho infantil: resultados e tendências 2012-2016
·   Em 2016, 152 milhões de crianças entre 5 e 17 anos eram vítimas de trabalho infantil no mundo - 88 milhões de meninos e 64 milhões de meninas.
·   Quase metade dessas crianças (73 milhões) realizavam formas perigosas de trabalho, sendo que 19 milhões delas tinham menos de 12 anos de idade.
·   O maior número de crianças vítimas de trabalho infantil foi encontrado na África (72,1 milhões), seguida da Ásia e do Pacífico (62 milhões), das Américas (10,7 milhões), da Europa e da Ásia Central (5,5 milhões) e dos Estados Árabes (1,2 milhões).
·   O trabalho infantil está concentrado principalmente na agricultura (71%), seguida do setor de serviços (17%) e do setor industrial (12%).
·   O fato de que a maior parte (58%) das crianças vítimas de trabalho infantil eram meninos pode refletir uma subnotificação do trabalho infantil entre as meninas, principalmente com relação ao trabalho doméstico infantil.

Marcadores: ,

posted by ACCA@8:00 AM