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quarta-feira, janeiro 15, 2020

CHUVA FORTE CAUSA DESTRUIÇÃO EM SÃO CARLOS

A chuva forte que atingiu São Carlos no final da tarde de domingo (12) causou alagamentos e transtornos em diversos pontos
Novamente as inundações atingiram nas áreas de risco da cidade como baixada do mercado municipal, rotatória do Cristo, kartódromo, Praça Itália e pontilhão da Travessa‑8. A Prefeitura de São Carlos solicitou ajuda para a Defesa Civil do Estado de São Paulo, que imediatamente enviou uma equipe para a cidade. O mesmo local já tinha sido atingido por outro temporal no dia 4 de janeiro.

VOLUME DE CHUVA
Segundo a Defesa Civil de São Carlos, a chuva começou por volta de 17h45 e terminou por volta de 20h50, com volume de 167,8 milímetros.
O local mais castigado novamente foi a região do Mercado Municipal. A água atingiu 1,50 metros invadindo 120 lojas. Na Rotatória do Cristo a água ultrapassou 2,50 metros.
Na avenida Comendador Alfredo Maffei, a água invadiu a concessionária da Chevrolet e o McDonald's, onde 30 pessoas ficaram ilhadas e tiveram que ser resgatadas pelo Corpo de Bombeiros

EQUIPES DE EMERGÊNCIAS E DE RESGATE
Equipes da Defesa Civil, Guarda Municipal, Transporte e Trânsito, Serviços Públicos, Cidadania e Assistência Social e Segurança Pública, bombeiros e PM estão nas ruas atendendo as ocorrências e fazendo o levantamento de todas as áreas atingidas, interditando e sinalizando os locais com problemas.

COMUNICADO DA PREFEITURA
"A Prefeitura solicita para que as pessoas evitem transitar neste momento na região da baixada do mercado municipal, rotatória do Cristo, Praça Itália, kartódromo, prolongamento da Avenida Trabalhador Sãocarlense e no pontilhão da Travessa 8, na Vila Prado", disse a prefeitura em nota.

DANOS MATERIAIS
A Secretaria de Cidadania e Assistência Social atendeu 40 famílias que tiveram as casas parcialmente invadidas pela chuva, principalmente na região do CDHU.

ESTIMATIVA DE PREJUÍZOS
O diretor da Defesa Civil de São Carlos, Pedro Caballero, informou que a chuva atingiu 22 pontos da cidade e destruiu 120 lojas no Centro. Além disso, na rotatória do Cristo, três estabelecimentos comerciais também foram atingidos e tiveram prejuízos.
Segundo Caballero, as perdas financeiras na região do Cristo atingem mais de R$ 500 mil e na região central R$ 1 milhão, podendo chegar a R$ 2 milhões no total.
Somente na região do centro e da rotatória do Cristo, o prejuízo da iniciativa privada é estimado em R$ 2 milhões.  .

TESTEMUNHAS DO EVENTO
A região central foi uma das mais atingidas pelos alagamentos. Diversas lojas foram invadidas pela água. O mesmo local já tinha sido atingido por outro temporal no dia 4 de janeiro.
§Na manhã desta segunda-feira, os comerciantes limparam as lojas e começaram a contabilizar prejuízos. “O sentimento é de desanimo e tristeza. Chorei a noite inteira”, disse a manicure Dulcineide, dona de um salão na Rua Geminiano Costa, no Centro.
§A gerente de uma perfumaria contou que muitos produtos foram levados pela chuva. Os funcionários chegaram às 7h desta segunda-feira para ajudar na limpeza da loja.
“Na chuva da semana passada, tivemos perda de produtos, mas menos do que neste domingo. Já vi o calçadão encher, mas na proporção de ontem foi a primeira vez”, disse Liliane Simolini Finato.
§O lojista Cid Zacarin contou que a comporta instalada no comércio não foi suficiente para conter a água, que invadiu a loja e molhou de 2,5 mil a 3 mil pares de calçados.

COMÉRCIO FECHADO
Segundo a Acisc, cerca de 70 lojas foram atingidas, sobretudo na Avenida Comendador Alfredo Maffei, Rua Geminiano Costa, Rua Episcopal e Rua Nove de Julho.
Algumas lojas estão abertas, mas funcionários estão fazendo a limpeza. Segundo a Defesa Civil foi a pior chuva na cidade nos últimos nove anos.

COMÉRCIO VOLTA FUNCIONAR  DOIS DIAS APÓS CHUVA  DEPOIS
A maior parte do comércio na região central da cidade voltou a abrir na terça-feira (14).
A Associação Comercial e Industrial de São Carlos (Acisc) informou que o comércio funciona normalmente, exceto grande parte das lojas que foram afetadas pela enchente.
Para diminuir o prejuízo causado pela chuva que molhou e levou produtos, os comerciantes apostaram nas promoções.

TRÂNSITO NA CIDADE
Segundo a Defesa Civil de São Carlos, algumas vias já foram liberadas para a passagem de veículos e outras continuam interditadas para obras das equipes. Fontes: G1 São Carlos e Araraquara- 12 a 14/01/2020, São Carlos Agora - 13 JAN 2020 

Após a chuva


COMENTÁRIO:

Cenário: Hidrografia da Sub-bacia do Córego Gregório
Nascendo na área rural de São Carlos ao leste da cidade a aproximadamente 900 m de altitude, o córrego do Gregório constitui um importante curso de água da cidade.

Seu percurso se dá no sentido leste-oeste, desaguando no Rio Monjolinho na rotatória da marginal região onde  localiza-se a praça com a imagem do Cristo, próxima ao shopping. A sua extensão é de aproximadamente 7 km com maior inclinação na face Sul. É abastecido por águas subterrâneas e por água fluvial. Com relação aos corpos hídricos que compõem a bacia, nota-se que os afluentes do córrego do Gregório só estão presentes em um dos lados.
Os outros afluentes foram suprimidos pela ação antrópica, ou estão totalmente canalizados de forma que não constam nas cartas topográficas. É o caso do Córrego do Simeão, que se une ao Gregório na região central, que também influencia os eventos de enchentes.

O Córrego é abastecido de duas maneiras:
§Por água subterrânea, proveniente dos lençóis freáticos;
§Pelas chuvas, que caem no Córrego e pelas águas provenientes do escoamento da chuva que não penetrou no solo.

RETIFICAÇÃO E CANALIZAÇÃO
Seu traçado foi alterado na região central da cidade, a mudança mais visível foi à mudança de seu traçado onde ficou praticamente retilíneo e a canalização de suas águas em algumas regiões. A planície de inundação na região do mercado foi aterrada para a construção da piscina municipal, Praça dos Voluntários e Mercado Municipal. A terra foi utilizada para elevar o nível das ruas Alexandrina, Episcopal e da Avenida São Carlos. Essas modificações tornaram o córrego mais veloz (por tornar reto o seu traçado) e juntamente com a impermeabilização do solo propício a inundações.

A Sub‑bacia do córrego do Gregório, situada no Município de São Carlos-SP, é uma região caracterizada pela frequente ocorrência de inundações. Nesta sub‑bacia os processos sociais, ambientais e tecnológicos podem ser observados no contexto das inundações que, ao afetar diretamente a população que ali reside ou trabalha, se constituem em desastre que afeta a vida social do município, pois, se trata de uma região central com predominância comercial.

A Bacia do Córrego do Gregório está localizada no município de São Carlos e possui área total de 15,6 km². Seu clima é o Tropical de Altitude, com verões chuvosos e invernos secos, com seis meses quentes e úmidos e seis meses frios e secos. A temperatura diária máxima anual é de 26,9ºC e a mínima anual de 16,2ºC.

AS INUNDAÇÕES NO CÓRREGO DO GREGÓRIO: ASPECTOS HISTÓRICOS E DANOS MATERIAIS E IMATERIAIS
O Córrego do Gregório, desde a fundação do município, sofreu intervenções humanas que, associadas a crescente urbanização e impermeabilização da micro bacia, acarretaram e ainda acarretam várias enchentes na região central da cidade, no entorno do Mercado Municipal.

O primeiro registro de inundação do Córrego do Gregório na área região central do município data do ano de 1905, o ano em que se começa a registrar este tipo de evento, ou seja, mesmo antes desse ano é possível que se tenha tido outros casos de enchentes no local.
Em 1974 teve-se a construção de avenidas marginais ao córrego, que contou com a adaptação da hidrografia ao sistema de mobilidade urbana, fazendo com que de maneira geral o córrego sofresse várias intervenções e retificação de seus meandros. A intensa ocupação adjacente ocorreu no período de 1950 a 1970. Contudo já em 1940 as margens já apresentavam considerável ocupação.

De acordo com levantamento histórico realizado sobre registros de inundações ou alagamentos na área no período de 1940 a 2004, os anos de 1947, 1953, 1955, 1957, 1960, 1965, 1968, 1970, 1972, 1973, 1974, 1976, 1977, 1978, 1981, 1987, 1988, 1989, 1990, 1996, 2002, 2003 e 2004 apresentaram esses eventos. Ou seja, em um período de 64 anos, em 23 deles alagamentos foram registrados, sendo que em alguns desses, foram observados mais de um alagamento, mostrando que a área é bem suscetível a enchentes e que esse é um problema antigo que, mesmo com todos os projetos de contenção e minimização das enchentes, persiste.
O levantamento do histórico das inundações ocorridas no período de 2007 – 2013 foram contabilizado 14 eventos.

Fonte: Levantamento histórico e relatos de inundações do córrego do Gregório na região central do município de São Carlos – SP, Revista EIXO, Brasília - DF, v.3 n.1, Janeiro – Junho de 2014, UFSCar - Universidade Federal de São Carlos.

Esse um padrão de urbanismo que ainda predomina nas cidades, encaixar um rio num leito retificado, com as margens impermeabilizadas e muretas. Ao longo do rio ou córrego constrói avenidas e edificações. O rio perde toda sua característica natural, ficando engessado numa calha artificial Suas margens e regiões limítrofes são modificadas por construções, avenidas, de maneira desordenada.

Quando há chuvas torrenciais o rio procura sua forma anterior, natural, para escoar a água ou manter a vazão do rio de modo continuo. Com esse engessamento do rio, acrescido pela vazão do rio virtual provocado pela impermeabilização do solo e desmatamento, ele forçosamente sairá de seu leito artificial construído pelo homem, para aliviar a pressão e volume de água existente nesse leito que não comporta esse volume de água.
A cidade vai crescendo, mais impermeabilização, mais água é direcionado ao rio, que mantém a mesma vazão anterior numa situação crescente de ocupação urbana, sem ao menos aumentar o leito do rio, que se torna inviável devido a ocupação de suas margens por infraestrutura urbana.

As principais causas de inundação seriam:
■ O clima: chove torrencialmente na época de verão
■ Uso e ocupação do solo de maneira desordenada
■ Não há mapeamento das áreas inundáveis quanto a:
1-Conhecimento da relação cota x risco de inundação
2- Definições dos riscos de inundação de cada superfície
3- Incorporação a Legislação Municipal de uso e ocupação do solo em zona de risco
4- Uso de Sistema de Informações Geográficas na análise de projetos de edificações e equipamentos urbanos.
5- Controle público da ocupação regular e irregular
■ a prática legalizada da construção ilegal e construção de obras públicas que não respeita o ecossistema.
■ O aumento da vulnerabilidade é atribuível ao uso do solo e da água que é muitas vezes ainda não considera as limitações impostas pela hidrogeologia. É comum no país como padrão, canalizar córrego, retificar e construção de avenidas ao logo das margens dos córregos e rios. Em conseqüência disso há uma ocupação desordenada do solo, principalmente construções, aumentando ainda mais a impermeabilização do solo.

Infelizmente a historia de desastre natural demonstra que tais acidentes se repetem após um ciclo de poucos anos, repetirão os mesmos erros. A natureza tem suas próprias leis para provocar desastre.

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posted by ACCA@3:40 PM