Coral-sol avança pelo litoral e vira motivo de preocupação
Foto:Apelidado de "sol" pelo formato e cores amarela
e laranja, esse coral pode ser comparado a uma "erva daninha" do
mar, por suprimir outros corais e proporcionar perda em funções do
ecossistema
Bonito para contemplação em mergulhos, mas um vilão para o
ambiente marinho. Assim pode ser definido o coral-sol, espécie nociva que vem
ganhando cada vez mais espaço na costa brasileira e preocupa especialistas por
sua rápida proliferação.
Apelidado de "sol" pelo formato e cores amarela e
laranja, esse coral pode ser comparado a uma "erva daninha" do mar,
por suprimir outros corais e proporcionar perda em funções do ecossistema.
"É o típico exemplo de que as aparências enganam. É
muito bonito, mas também muito malvado para o habitat marinho", diz Kelen
Luciana Leite, chefe em Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, do núcleo de
gestão integrada do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade).
Por não ser nativo, explica, o coral-sol não faz integração
com outros animais marinhos e causa uma das mais graves consequências, que é a
quebra da cadeia alimentar.
Segundo Kelen, os corais estão na base dessa cadeia. Quando
algo se altera, todo o ciclo é prejudicado. "O coral-sol se prolifera
absurdamente mais rápido que os demais tipos e domina o sistema que serve de
alimentação para várias espécies, incluindo peixes e tartarugas."
Algumas áreas do litoral norte paulista já estão infestadas
pelo animal, que se reproduz liberando larvas. Essas larvas buscam costões
rochosos para se estabelecer e, como se multiplicam numa velocidade maior do
que as demais, em pouco tempo dominam o espaço.
NAVIOS
De acordo com Augusto Alberto Valero Flores, pesquisador do
Cebimar (Centro de Biologia Marinha), da USP, as duas espécies de coral-sol que
foram registradas no Brasil estavam inicialmente restritas ao Arquipélago das
Galápagos, no Indo-Pacífico.
Não se sabe como os corais chegaram à costa brasileira.
"O mais provável é que tenha sido através da incrustação de cascos de
embarcações comerciais ou grandes estruturas rebocadas, como plataformas de
petróleo."
O pesquisador diz que dentre as áreas mais afetadas está a
Ilha Grande (RJ). Também há registros no litoral da Bahia, do Espírito Santo e
de Santa Catarina. No litoral norte paulista, os locais com maior incidência
são as ilhas de Búzios e Vitória, em Ilhabela.
Ambientalistas tentam evitar que o mesmo aconteça com outras
áreas, como o Arquipélago de Alcatrazes, em São Sebastião, conhecido por ser
uma área preservada e onde já estão instaladas muitas colônias do coral
invasor.
Para evitar avanço maior, expedições são realizadas para
retirar as colônias. Segundo Kelen, as ações são difíceis e caras, mas
importantes. Cada colônia forma outras cinco a cada três meses. Fonte: Folha de São Paulo - 02/05/2017
Comentário:
O Brasil tem mais de 50 espécies invasoras marinhas. Esse
número deve aumentar, já que não se sabe como barrar a chamada bioinvasão, que
pega carona no lastro de navios em 55% dos casos.
O dado é do Ministério do Meio Ambiente, que aponta a água
de lastro das embarcações internacionais como a principal vilã do problema.
Para aumentar a estabilidade quando descarregados, os navios
se enchem de água num tanque que atua como lastro. Entre um porto e outro,
espécies viajam clandestinas nos tanques e chegam aos novos habitats.
Isso acarreta perda da biodiversidade na costa, pois as
espécies nativas, forçadas a concorrer com as invasoras, podem acabar extintas.
Desde 1600, 39% das extinções com causas conhecidas estavam relacionadas à
competição com espécies invasoras.
Com os barcos trazendo espécies marinhas para cá e para lá,
a biodiversidade também diminui. "É uma homogeneização, podemos acabar
tendo uma biota global", diz Rosa de Souza, bióloga da Universidade
Federal Fluminense, que apresentou os dados no encontro da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência, em Natal.
Os biólogos estão preocupados, porque há espécies invasoras
especialmente problemáticas, como algas tóxicas que afloram em praias
turísticas ou espécies que causam danos à saúde, como a bactéria do cólera.
No Brasil, o caso mais famoso é o do mexilhão-dourado,
espécie asiática que chegou ao país em 1998 e, sem predadores, virou praga. Ele
gruda nos equipamentos das usinas hidrelétricas, atrapalhando o fluxo de água.
"Há mais de dez anos os países procuram soluções",
diz o biólogo Flávio da Costa Fernandes, do Instituto de Estudos do Mar
Almirante Paulo Moreira, da Marinha.
CONVENÇÃO
Em 2004,
a Organização Marítima Internacional propôs uma
convenção sobre a água de lastro, com medidas como fazer com que os navios
renovem o conteúdo dos tanques no meio do oceano. No entanto, mesmo essa troca
não eliminaria totalmente o problema, já que muitos organismos resistiriam a
ela.
Outra sugestão seria obrigar os barcos a tratar a água de
lastro. "Mas ainda não há tecnologia desenvolvida para isso", diz
Fernandes.
A convenção já foi ratificada por 26 países (inclusive o
Brasil), mas precisa de pelo menos 30 para entrar em vigor. O Brasil já
obriga os navios que passam pelos seus portos a fazer a troca oceânica, entre
outras exigências.
A bioincrustação (acúmulo de organismos no casco) também
leva espécies pelo mundo. O uso de tintas especiais poderia evitar o problema,
mas muitos navios não fazem a pintura periódica.Fonte: Folha de São Paulo
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Marcadores: Meio Ambiente, Oceanos
2 Comments:
Olá, de quem são essas fotos? gostaria de utiliza-las, gostaria de saber a quem devo dar os créditos
Folhapress /Leo Francini /02/05/2017
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