Lembrança:Engavetamento na rodovia Castelo Branco
Um engavetamento que envolveu pelo menos 20 veículos deixou
mortos na madrugada de 05 de julho de 2002, na rodovia Castelo Branco, na
região de Sorocaba (100 km a oeste de SP).
CAUSA:
Segundo a Polícia Rodoviária, o Corpo de Bombeiros e a
empresa concessionária Rodovia das Colinas, a forte neblina causou uma série de
acidentes na pista, no sentido São Paulo, envolvendo carros de passeio,
caminhões, carretas e uma ambulância.
Segundo testemunhas, tudo começou quando o motorista da
carreta perdeu o controle e acabou batendo em outro caminhão, no quilômetro 82,
por volta das 5h30m. Minutos depois, uma ambulância da PM bateu na carreta. A
seguir outros veículos se chocaram, entre eles um carro da PM.
Em seguida, cinco caminhões se envolveram em um acidente na
pista contrária devido a forte neblina.
O acidente foi o mais grave da história da rodovia,
inaugurada no fim da década de 1960. As duas pistas foram interditadas. Do
alto, o trecho ficou parecido com um cenário de guerra.
NEBLINA E FUMAÇA
De acordo com o tenente Gilberto Bento Dias; "Nesse
trecho é comum ter esse problema de neblina, mas parece que hoje estava muito
pior, independentemente da fumaça."
"Não dava para enxergar nada a dez metros de
distância", afirmou o policial rodoviário Carlos Henrique Carvalho, que
passava no local no momento do acidente.
Tudo por causa da neblina incomum e da fumaça provocada por
uma queimada ao lado da pista interior-capital. “Não sabemos a origem desse
incêndio”, explicou o capitão Alves, que comandava o resgate. “Mas a neblina
estava muito forte.”
Francisco Peres, gerente de operações da concessionária
Colinas, que administra esse trecho da rodovia, informou que havia incêndios
nas margens da Castelo, fora da área sob controle da empresa.
FORMAÇÃO DA NEBLINA
Segundo a meteorologista Neide Oliveira, do 7.º Distrito do
Instituto Nacional de Meteorologia, a partir de agora a intensidade e a
freqüência dos nevoeiros vai aumentar até setembro, quando começa a decrescer.
"Isso ocorre porque essa é uma época em que nossa região é coberta por uma
massa de ar seco e frio", diz. "São fatores que favorecem a formação
de neblina. Além disso, é preciso um pouco de umidade e vento fraco."
Neide explica que a massa de ar seco deixa o céu claro, o
que faz a terra ir se aquecendo durante o dia. A partir das 16 horas, a
intensidade do sol começa a diminuir. Como o ar está seco não há a formação de
nuvens, que ajudariam a manter esse calor. A terra passa, então, a perdê-lo
rapidamente.
Assim, no início da manhã seguinte, é a hora em que a
temperatura está mais baixa, o que ajuda a aumentar a umidade que há nas
regiões mais propensas a nevoeiros. "A camada de ar próxima à superfície
fica, então, mais fria e úmida que a imediatamente acima", explica a
meteorologista. "Mas isso não basta para criar a neblina. É necessário
ainda um leve vento, que causa uma pequena instabilidade, misturando as duas
camadas. A umidade do ar transforma-se, então, em gotículas e está formada a
neblina."
Assim se explica porque os nevoeiros são mais freqüentes e
intensos em alguns trechos, como o topo da Serra do Mar, na altura da
interligação das Rodovias Anchieta e Imigrante. Ali é frio, por causa da
altitude, e úmido, por causa da vegetação abundante. O mesmo ocorre, na região
da Barra do Turvo, no trecho entre os km 523 e 557, da Régis Bittencourt. Lá,
além desses dois fatores, a umidade é aumentada pela existência de vários
pequenos rios. Nesses trechos todo cuidado é pouco.
ENGAVETAMENTO
O engavetamento, que tinha uma extensão de 300 m, envolveu
13 caminhões, quatro carretas e oitos carros de passeio.
Num dos carros de passeio, um homem, uma criança, e uma
mulher grávida morreram carbonizados quando o veículo pegou fogo ao ser
atingido por um caminhão no engavetamento.
INTERDIÇÃO DA ESTRADA
A rodovia ficou interditada nos dois sentidos. Funcionários
da concessionária e da Polícia Rodoviária orientaram os motoristas na região do
acidente para utilizarem as estradas
alternativas.
As pistas foram liberadas à tarde.
CONCESSIONÁRIA DA RODOVIA
A Rodovia das Colinas é a concessionária responsável pelo
trecho da Castelo Branco na região de Boituva, onde aconteceram os acidentes.
RESGATE
A operação para resgate das vítimas contou com 50
funcionários da concessionária Rodovia das Colinas, 40 policiais militares
rodoviários, 15 policiais civis e militares, 30 homens do Corpo de Bombeiros de
Tatuí e Sorocaba, 20 funcionários das concessionárias ViaOeste e Spvias, além
de ambulâncias e guinchos.
HOSPITAIS
Os feridos na série
de colisões foram levados por bombeiros, carros de polícia e particulares para
o Hospital Regional de Sorocaba, Santa Casa de Itu, hospitais de Tatuí e de
Boituva. Mas muitas pessoas com ferimentos leves recusaram o atendimento
médico.
VÍTIMAS
12 pessoas morreram, sendo seis policiais e 41 ficaram
feridas
TESTEMUNHAS DA TRAGÉDIA
O sargento da Polícia Rodoviária Estadual Nelson Martins dos
Santos estava no km 88 da Castelo Branco na hora dos acidentes. "A neblina
era tanta que não deu para enxergar nada. Só deu para escutar o forte barulho
da batida."
Ele chegou ao local pouco antes do engavetamento. "Eu
ia atender à batida de uma ambulância contra um caminhão no km 82 quando
avisaram pelo rádio que a situação era crítica no km 88, por causa da
neblina." Ele chegou ao local pouco antes da batida. "Começaram os
barulhos de batida logo atrás. Corri para o meio do mato. Nunca vi nada
igual."
O também policial rodoviário Carlos Henrique Carvalho, 43,
seguia num ônibus para São Paulo quando houve o acidente com a ambulância no km
82. "Estava ajudando as vítimas quando vi o clarão na estrada causado pela
explosão do Voyage", disse.
O soldado, então, foi para o km 88. "Estava um caos,
com pessoas gritando, espalhadas pela pista. Vi os ocupantes do Voyage morrerem
pegando fogo. Foi horrível. Jamais vou esquecer."
Seu maior choque foi o estado de Daiane Cristina Godoy
Nicolina, 11, que seguia na ambulância para o Incor (Instituto do Coração),
onde seria operada.
Carvalho diz ter feito massagem cardíaca na menina antes de
ela ser levada para o Hospital Regional de Sorocaba. Daiane acabou morrendo no
hospital.
O caminhoneiro José dos Santos, 43, envolvido no
engavetamento, disse que foi atingido por outro caminhão quando um amigo, que
estava mais à frente, o avisava pelo rádio da batida. "Acabei batendo no
carro à minha frente. Não dava para enxergar nada."
1-Um Voyage e uma carreta se chocam. O carro ficou
carbonizado. Três pessoas morreram no
local
2-Ambulância bate na traseira de uma carreta. Uma criança
morre no hospital
3-12 caminhões, 2 carretas e 6 carros se envolveram em
engavetamento. Um morto no local
4- Carro da Policia Militar bate em caminhão. Seis mortos no
local.
PONTOS CRÍTICOS DA ESTRADA
A Polícia Rodovia Estadual mapeou os pontos de maior
incidência de neblina na Castelo Branco. Os trechos onde ocorreram os acidentes
que deixaram 13 pessoas mortas, ontem, aparecem na relação. Na baixada do km
82, passa o Córrego Cajuru e há um lago utilizado como pesqueiro, que ajudam a
formação de nevoeiro. No km 88, a neblina se forma na várzea do Ribeirão
Caguaçu.
Nesse local, já ocorreram vários acidentes graves. O
relatório da polícia alerta também para um longo trecho de nebulosidade entre
os quilômetros 118 e 124 da rodovia, correspondentes aos terrenos do Rio
Sorocaba.
Nos quilômetros 132, onde passa o Rio Guarapó, e 143, onde o
Ribeirão Aleluia margeia a pista, são comuns os nevoeiros nas noites do
inverno.
Outro ponto crítico, do km 181 ao 200, corresponde à Cuesta
de Botucatu (Alto da Serra), região de pequenas serras. Não há sinalização
específica alertando para o perigo. A Polícia
Rodoviária tem recomendado aos motoristas para reduzirem a
velocidade e usarem luz baixa ao passar pelo trecho de neblina. Também deve ser
mantida distância do veículo que segue à frente.
De agora em diante até setembro, a neblina é mais um motivo
para que os motoristas redobrem os cuidados ao trafegar pelas rodovias de São
Paulo. Nas 10 principais estradas que saem da capital há, somados, pelo menos
32 trechos onde os nevoeiros são mais freqüentes e intensos. Eles ocorrem nas
regiões mais úmidas, de vales, topos de serras, cortadas por rios, com lagos ou
represas e vegetação abundante.
Fonte: @ZR, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal da
Tarde e O Globo, período de 5 a 6 de Julho de 2002.
Comentário:
Existe extensa literatura internacional sobre o estudo do
comportamento da fumaça e da neblina em estradas, principalmente nos Estados
Unidos. Nos USA as principais Agencias Federais de Segurança, tais como; EPA
(Environmental Protection Agency) e NTSB( National Transportation Safety
Board), possuem normas e estudos para as condições mínimas de visibilidade, em
que os responsáveis pela manutenção das estradas devem seguir.
Pelas informações de algumas pessoas envolvidas no acidente
a visibilidade não ultrapassava a 10 m. Pelas normas americanas, o tráfego de
veículos deveria ser interrompido.
O que diz a EPA, em relação à neblina
A distância aceitável de visibilidade é baseado no limite
de velocidade e na característica da estrada (estrada separada por faixa ou
estrada separada por canteiro central ou defensa). Os limites são obtidos
através de uma fórmula que inclui o tempo de reação do indivíduo e a distancia
percorrida pelo carro (tempo de reação para parar)
Tabela
Limite de velocidade
|
Visibilidade Mínima Aceitável (VMA)
|
20 km
|
8 m
|
25 km
|
15 m
|
30 km
|
23 m
|
40 km
|
33 m
|
50 km
|
44 m
|
55 km
|
56 m
|
65 km
|
71 m
|
70 km
|
86 m
|
80 km
|
103 m
|
90 km
|
121 m
|
100 km
|
163 m
|
Obs: Para estradas de mão única (separada por faixa de
rolamento), o limite de visibilidade aceitável deverá ser dobrado, devido à
colisão frontal. Um monitor de fumaça (equipamento de visibilidade) deverá
monitorar a visibilidade em relação aos objetos de uma distância aparente (estudo das condições de
visibilidade).
O Departamento de Serviço Florestal e de Agricultura dos
Estados Unidos, alerta para as queimadas próximas as estradas que podem
provocar fumaça densa e quando misturado com a neblina ao entardecer ou durante
a madrugada, pode reduzir a visibilidade a zero, criando condições perigosas
para tráfego de veículos.
Procedimentos para atenuação das situações de visibilidade
Considerando uma série de etapas para atenuar à redução da
visibilidade quando a estrada está afetada pela neblina ou fumaça. As ações
apresentadas em ordem decrescente de visibilidade, por exemplo à implementação
da etapa 3, significa que as etapas 1 e 2 já foram executadas.
1 – Sinalizar a estrada, quando a visibilidade da estrada é
o dobro ou menos da visibilidade mínima aceitável (VMA), por exemplo, a
distancia visual (campo visual do motorista) é reduzida para 65 m e a
velocidade indicada é de 40 km (pela tabela é de 33 m).
2 – Reduzir a velocidade limite indicada, quando a
visibilidade é o valor de VMA ou menos, por exemplo a distancia visual é
de 33m e a velocidade indicada é de 70
km (VMA, 86m), entretanto o limite de velocidade indicada deve ser reduzida
para 40 km ou menos.
3 – Efetuar o comboio com carro líder (polícia), para
tráfego parado por fechamento da estrada, quando a proporção de visibilidade atual para o VMA é a metade
ou inferior, por exemplo, a distância visual é de 15 m e o limite de velocidade
indicada é de 40 km, mas pela tabela do VMA a distância é de 33 m. No sistema
Anchieta-Imigrantes, a polícia rodoviária utiliza desse método há vários anos,
quando a distância visual está crítica.
4 – Quando a proporção da visibilidade atual para o VMA é
inferior a 35 m, fechamento total da estrada (quando não existe comboio, com
carro líder)

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