Anatomia do desastre – Incêndio no túnel Palermo-Punta Raisi
RESUMO
No dia 18 de março de 1996 ao longo do túnel rodoviário Palermo-Punta
Raisi, Itália, um caminhão tanque transportando 2.500 litros de GLP envolveu-se
em acidente. O caminhão foi atingido por um ônibus, cuja parte superior
penetrou na traseira do caminhão, provocando vazamento do gás e em questão de
minutos pegou fogo. As labaredas do GLP
aquecia internamente o tanque e causou um “Bleve” (Boiling liquid
expanding vapour and explosion” que significa: explosão do vapor líquido em
ebulição, onde o líquido se evapora rapidamente, transformando se em vapor e se
inflamando). No momento do acidente, havia 22 carros e um microônibus no túnel,
além do ônibus causador da colisão, com um total de 50 pessoas.
O tempo de demora entre a ignição do gás e a explosão permitiu que
numerosos passageiros escapassem. Entretanto, cinco pessoas morreram queimadas
e 25 com ferimentos graves (queimaduras). Dez pessoas apresentaram queimaduras
superficiais e outros traumas.
Foram analisados os seguintes aspectos:
■A dinâmica do acidente
■A dinâmica da operação de resgate
■Acompanhamento das vítimas com queimaduras graves tratadas no Hospital
para Queimaduras, na cidade de Palermo
O desastre do túnel de Palermo, com terrível dinâmica, confirma a tese
que o único caminho para neutralizar a impossibilidade de predizer esse tipo de
acidente é através de uma ação de
coordenação de um plano de emergência para todos os níveis, desde a população
em geral, médicos, enfermeiros, grupos de voluntários, defesa civil, policia,
bombeiros, etc, que devem ser treinados adequadamente, com campanhas educativas
para prevenir desastres de incêndio em túneis.
Este acidente, o primeiro caso descrito de um “Bleve” no meio ambiente
restrito e fechado, pode fornecer informações valiosas para estudo e discussão
no intuito de buscar soluções, avaliação
das operações e treinamento, com vista à execução de um plano de preparação de
desastre com maior segurança.
CENÁRIO DO DESASTRE
O túnel com
148 m de comprimento, com sentido de mão única de direção para Punta Raisi –
Palermo. No meio do túnel, há uma curva
para direita de 25 graus. A pista possui uma inclinação da esquerda para
direita para facilitar o escoamento de água para o sistema de drenagem. A uma
distancia de 100 metros da entrada do túnel, há sinais de tráfego, limitando a
velocidade no túnel
em 80 km/h. O
túnel não possui avisos de emergências (painéis que informam ao motorista sobre
quebra de veículos ou colisão ou sinais de perigo). Próxima à entrada do túnel
há sinais advertindo motorista sobre a presença de radares.
Paralelo ao
túnel existe outro com mesmo comprimento e com sentido contrário de tráfego
(figura 1). Eles estão interligados por uma passagem de 5 m por 10m. O túnel
está a 10 km de Palermo e 7 km do aeroporto de Punta Raisi . As saídas mais
próximas da rodovia são : Carini, Capaci e Isola delle Femmine. As cidades mais
próximas com hospitais são :
■Carini –
distante 4 km, com um pequeno hospital
■Palermo – distante
10 km, com hospital especializado em
queimaduras e os hospitais de emergência de Villa Sofia e G. Cervello.
Diariamente aproximadamente 40.000 veículos trafegam em
cada sentido da estrada, atingindo o pico na época de verão e algumas vezes ao
dia (acima de 10.000 veículos por hora). No momento do desastre (14h30min), o
tráfego estava intenso, com muitas
pessoas retornando das regiões próximas em direção à cidade ou vice versa. Naquele instante, havia
vários ônibus escolares e inúmeros vôos charter tinham aterrissado no aeroporto
de Punta Raisi.
Os dois túneis paralelos,
envolvidos no desastre. O fogo estava no túnel à direita
DINÂMICA DO DESASTRE
No dia 18 de março de 1996 estava chovendo na região. Cerca
de 14h 30 min, devido à pista estar escorregadia ou devido à velocidade
excessiva, um carro derrapou e bateu no guard-rail e capotou na pista. Outros
veículos atrás, incluindo um microônibus envolveram‑se no acidente e o túnel
ficou bloqueado (seis veículos envolvidos). No instante do acidente, aproximava
o caminhão tanque transportando 2.500 litros de GLP.
O motorista conseguiu
parar o caminhão sem provocar colisão. Ele imediatamente acionou o pisca alerta
para avisar os demais veículos sobre o perigo na pista. Entretanto, um ônibus
com 14 pessoas a bordo, não estava tão próximo, mas o motorista não conseguiu
controlá‑lo, derrapando para esquerda e batendo violentamente no caminhão
tanque. Imediatamente, após a batida do ônibus, sucessivas colisões foram
ocorrendo. Dezenove carros, um
microônibus, um ônibus de passageiros e um caminhão tanque estavam parados no
túnel com cerca de 50 pessoas.
Reconstituição do desastre no túnel
1 – ônibus bate e derrapa para esquerda e bate no caminhão
2 – caminhão tanque parado
3 – passagem de interligação
4 – local da primeira batida, que obstruiu a pista e
provocou o desastre
O impacto entre o ônibus e o caminhão tanque foi violento.
Como resultado, havia vazamento de gás do tanque devido ao dano provocado na
parte superior, que rompeu (testemunhas notaram uma névoa branca de vapor acima
do tanque). Após segundos, de acordo com informações de testemunhas, houve a
primeira explosão. Provavelmente, devido à ignição da nuvem de gás, provocada
por alguma fagulha de um motor em funcionamento ou devido ao contato com o
motor quente ou com a mistura do ar mais
o gás. As testemunhas disseram que foram envolvidos por uma bola de fogo que
causou queimaduras horríveis nas partes expostas do corpo, sem causar muito
dano nos veículos, onde estava a maioria das pessoas.
O fogo envolveu principalmente o ônibus de passageiros, que
se incendiou.. O motorista, mais tarde, informou que ele viu de repente uma
nuvem negra e um grande “flash” no lado externo do ônibus e gritou
imediatamente aos passageiros para se moverem para trás. Ele não conseguiu a
abrir a porta do ônibus. Alguns passageiros quebraram o vidro traseiro e
escaparam.
O túnel estava completamente envolvido por uma fumaça negra
e muito provável cinco pessoas que estavam à esquerda do ônibus, não conseguiram
escapar da fumaça. O fogo continuava
alimentar a queima de gás, que escapava do tanque. Após 6 a 7 minutos,
quando a maioria conseguiu escapar do túnel (exceto para as quatro pessoas que
não conseguiram escapar da fumaça, os corpos foram encontrados completamente
carbonizados e um foi encontrado entre o caminhão tanque e o ônibus), ocorreu
uma tremenda explosão com chamas violentas com fumaça negra e ondas de choque
para as saídas do túnel e também para o túnel adjacente.
A segunda explosão foi provavelmente um caso de “Bleve”
causado pela ação direta do calor do tanque. Isto poderia conduzi à ebulição do
gás líquido, devido à formação de mais gás e o aumento de pressão e como
conseqüência, o rompimento do tanque, com vazamento de GLP ainda em estado líquido,
que imediatamente evaporou. A nuvem de
gás e o pequeno vazamento de GLP podem pegar fogo imediatamente, causando a
explosão do tanque .
COMO OCORRE O BLEVE ?
Um Bleve ocorre quando há ruptura
de um tanque sob pressão.
Mas que fenômeno físico ocorre?
Para compreender o fenômeno,
devemos levar em consideração os seguintes fatores:
1-A pressão interior do
reservatório
2-Quando o reservatório está
aquecido, há um aumento de pressão no seu interior.
3-Quantidade de líquido
Quando o
reservatório está aquecido, a substância em seu interior se transforma do
estado líquido em estado gasoso. Há uma diminuição da quantidade de líquido no
reservatório, aumentando bruscamente a temperatura bem acima do ponto de
ebulição.
4-Superfície
exposta
O líquido
no interior do tanque pode absorver uma parte do calor das paredes do
reservatório e diminui a velocidade de seu enfraquecimento. Porém a quantidade
de líquido diminui e a superfície do reservatório, exposta e sem defesa,
aumenta a sua temperatura.
5-Resistência material do reservatório
A superfície do reservatório superaquece gradativamente, a
resistência do reservatório diminui cada vez mais. A 400o C o aço perde 30% de sua resistência . A 700o
C o aço perde 90% de sua resistência.
Em geral a superfície do reservatório superaquece
e perde suas propriedades mecânicas, levando à ruptura. Quando a pressão
interior aumenta além do que pode suportar o tanque, ele se rompe e o Bleve ocorre. É preciso igualmente compreender
quanto menor o tanque, mais rapidamente ocorrerá o Bleve, devido à facilidade
de aquecimento, a pressão aumentará no seu interior e as paredes do tanque
enfraquecerão.
O Bleve pode ocorrer em pequenos
reservatórios
Dimensões do reservatório
|
Tempo de resistência do
reservatório antes que ocorra o BLEVE
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400 litros
|
3 – 4 minutos
|
4000 litros
|
5 – 7 minutos
|
40.000 litros
|
8 – 12 minutos
|
Fonte : Université Queen’s,
Kingston – Ontário – Canadá – A.M. Birk
– pesquisador
Pesquisa financiada por Transport
Canadá, direction du transport dês marchandises dangereuses – 1996
As conseqüências do BLEVE são as
seguintes:
BOLA DE FOGO
Se o conteúdo do tanque é
inflamável, há nesse caso uma ignição da substância e o resultado será uma bola
de fogo. Dos ensaios experimentais efetuados com reservatório contendo propano
foram produzidas bolas de fogo com as seguintes características:
Dimensões do reservatório
|
Raio da bola de fogo
|
400 litros
|
18 metros
|
4000 litros
|
38 metros
|
40.000 litros
|
81 metros
|
Fonte : Université Queen’s,
Kingston – Ontário – Canadá – A.M. Birk
– pesquisador
Pesquisa financiada por Transport
Canadá, direction du transport dês marchandises dangereuses - 1996
É igualmente possível que uma substância não se inflame,
após o BLEVE e se disperse sob a forma de nuvem na direção do vento. Ela pode
se inflamar, subitamente, a qualquer momento, com conseqüências catastróficas.
Se o conteúdo do reservatório não é inflamável (por exemplo, um cilindro de
oxigênio líquido) não haverá bola de fogo.
RADIAÇÃO TÉRMICA
Se uma bola de fogo for gerada
durante o BLEVE, uma importante radiação térmica será produzida. Os
intervenientes devem respeitar as distancias mínimas em relação ao reservatório
a fim de evitar a radiação. Esta distancia é estabelecida quatro vezes o raio
da bola.
Dimensões do reservatório
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Raio da bola de fogo
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400 litros
|
Mais ou menos 90 metros
|
4000 litros
|
150 metros
|
40.000 litros
|
320 metros
|
Fonte :
Université Queen’s, Kingston – Ontário – Canadá – A.M. Birk – pesquisador
Pesquisa
financiada por Transport Canadá, direction du transport dês marchandises
dangereuses - 1996
ONDA DE
CHOQUE
O Bleve sendo uma explosão é acompanhada de uma detonação e deslocamento de ar.
A única
maneira de não ser afetado pela onda de choque é manter se afastado mais longe
possível do local da explosão. Respeitando as normas mínimas de
aproximação, os intervenientes
permanecem fora de alcance dos efeitos da detonação.
PROJEÇÃO DE FRAGMENTOS
Uma das
conseqüências mais perigosas do Bleve é a projeção ou lançamento de fragmentos
ou estilhaços. A única constatação que os testes podem estabelecer em face de
projeção de fragmentos é que estes são impulsionados principalmente para o lado
das extremidades do reservatório. Esta projeção é tão imprevisível e poucas vezes atingem grandes proporções.
Mas nesses ensaios, os fragmentos podem atingir a cerca de 230 metros do local do BLEVE. Um acidente que ocorreu no
Texas – USA, os fragmentos foram encontrados a mais de 1 quilômetro. É necessário lembrar, mesmo que os intervenientes
respeitem as distancias mínimas de aproximação , os fragmentos podem atingi
los. A melhor solução é portanto
proceder à evacuação para uma zona estabelecida como segura a 22 vezes o raio
da bola de fogo.
Dimensões do reservatório
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Raio de evacuação
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400 litros
|
400 metros
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4000 litros
|
800 metros
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40.000 litros
|
1800 metros
|
Fonte :
Université Queen’s, Kingston – Ontário – Canadá – A.M. Birk – pesquisador
Pesquisa
financiada por Transport Canadá, direction du transport dês marchandises
dangereuses - 1996
Em
resumo, as conseqüências de um BLEVE são devastadores. A melhor solução de se
proteger dos seus efeitos é afastar quanto mais longe possível.
Análise
de vulnerabilidade
■Danos
físicos: avaliação de morte e ferimentos
Causas predominantes: radiação térmica, onda de choque e efeitos tóxicos
■ Danos
materiais: danos a equipamentos, instalações, etc
Causas
predominantes: ondas de choque e radiação térmica
Após
exames de quatro pedaços do tanque encontrados após o desastre, foi confirmado
que a explosão ocorreu no interior do tanque, na parte central ( fig. 3a, 3b e
3c)
O fogo propagou-se por todo o túnel e foi finalmente extinto pelos bombeiros após duas horas (fig. 4a, 4b, 4c e 4d)
O Bleve durou 5 a 6 segundos alcançando a temperatura
de 1000º C. Testemunhas disseram que após a colisão entre os veículos, o fogo
iniciou em um dos veículos (o motorista do caminhão tanque disse que tentou
extingui‑lo com extintor). Seis ou sete minutos mais tarde, quando os
sobreviventes deixaram o túnel, houve uma segunda grande explosão, com grandes
chamas, uma
grande onda de choque e também uma fumaça negra, em direção às saídas do túnel e também no
outro túnel (Bleve).
SITUAÇÃO DO HOSPITAL ESPECIALIZADO EM QUEIMADURAS NO
MOMENTO DO DESASTRE E A PREPARAÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA
O Centro para Queimadura de Palermo possui 12 camas para
cuidados intensivos, 18 camas para
pacientes com queimaduras menos sérias, para convalescença ou para pós
operatório e, adjacente, o centro de operação de emergência . O centro está localizado no segundo
piso de um novo edifício, no qual o primeiro andar é ocupado pelo centro
de operação plástica (com 50 camas). Na unidade de terapia intensiva (UTI) as
camas estão localizadas aos pares, em seis alas, cada uma delas, climatizadas com unidades autônomas.
Cada paciente é monitorada visualmente através de uma
estação de enfermagem por meio de
circuito de TV.
O monitoramento das demais funções do paciente é também
centralizado e controlado por uma estação de enfermagem.
A unidade de terapia intensiva (UTI) é cercado por um
corredor externo, de onde os visitantes podem ver os pacientes através de
janelas e conversar por intercomunicadores. Essa área é auto-suficiente, tem
laboratório para análise química e farmácia. Por um elevador pode se acessar o centro de
operação. Oito camas da UTI ocupam a outra metade do andar.
No terceiro andar localiza se o complexo operacional para
funcionamento do departamento.
Há também uma sala de operação para tratamento de
queimadura e duas salas de operação para
as atividades de operação plástica.
No térreo é o setor de emergência, com duas salas de
operação de emergência, escritório e biblioteca. O centro de reabilitação se
localiza no subsolo.
Utilizando equipamentos de alta tecnologia, o Centro para
Queimadura de Palermo é reconhecido como um dos mais modernos da Itália.
As 14h 40 min o
Centro para Queimadura foi alertado para
a possível chegada de inúmeras vítimas de queimaduras (Tabela I)
Tabela I – Seqüência cronológica do
desastre e esforços do resgate
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|
14: 15 min
|
Inicia o engavetamento de veículos no túnel
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14 : 25 min
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O ônibus colide com o caminhão tanque
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14: 26 min
|
Primeira explosão e ignição da nuvem de gás 32 queimados e feridos
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14: 30min
|
Parte dianteira do ônibus pega fogo
|
14: 32min
|
Polícia chega ao local e avisa ao comando geral
|
14: 36 min
|
Bleve
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14: 37 min
|
Corpo de Bombeiros, polícia, hospital especializado para
queimadura, outros hospitais e serviços de emergência são alertados
|
14: 40 min
|
Os feridos com menos gravidade são levados pela policia e
por veículos particulares para os hospitais mais próximos (Carim - 4 km,
Cervello - 7 km)
|
14: 45
|
Mais três
carros da policia chegam ao local e os feridos são levados aos hospitais mais
próximos
|
14: 50 min
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Duas
ambulâncias chegam ao local
|
14: 55min
|
Mais de dez
ambulâncias chegam ao local e também o Corpo de Bombeiros
Primeira ambulância do Centro para Queimadura de Palermo chega ao local ,seguidas de outras ambulâncias |
15: 40 min
|
Primeira
ambulância chega ao Centro para Queimadura
Centro com dois pacientes
|
15: 45min
|
Mais dois pacientes
chegam ao Centro
|
15: 50 min
|
Mais
sete pacientes chegam ao Centro
|
15: 55 min
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Mais
cinco pacientes chegam ao Centro
|
16: 30 min
|
Mais dois pacientes chegam ao
Centro e são dispensados após medicados
|
17: 00
|
Mais dois pacientes chegam ao
Centro e são dispensados após medicados
|
18: 15 min
|
Mais
dois pacientes com queimadura, envolvidos em outro acidente
(explosão
de cilindro de gás), chegam ao Centro
|
19: 00
|
Mais
dois pacientes com queimaduras e feridos chegam ,provocados por acidentes de
fogueira
|
Ao todo, 24
pessoas com ferimentos chegaram em 4 horas e 20 foram hospitalizados.
Desses 20 feridos, 16 eram do desastre
no túnel
|
Logo que as notícias do desastre chegaram no Centro para
Queimadura (14h50min), o plano de emergência para tal evento foi colocado em
execução. Naquele momento havia três médicos em serviço no departamento e
outros médicos foram chamados. O chefe do departamento foi comunicado
imediatamente e outros seis médicos foram colocados em sobreaviso. Os leitos dos setores de Unidade Terapia
Intensiva e pós-operatório foram colocados à disposição. As chefes das enfermeiras foram avisadas e os
grupos de enfermagem foram reforçados.
Todas as roupas esterilizadas em conjunto com outros equipamentos
necessários para utilização em pacientes foram transferidos do departamento
para o Centro para Queimaduras. A
farmácia do hospital foi instruída para agilizar o envio de medicamentos
básicos para pacientes com queimaduras. O pronto socorro do hospital foi
instruído para agilizar o procedimento necessário para admissão dos feridos e
atendimento dos primeiros socorros (profilaxia).
Dos quatro médicos em serviço no pronto socorro, dois
permaneceram no local e outros dois foram deslocados para o centro para
queimaduras.
As 15h 40 min chegaram os dois primeiros pacientes (sendo
um deles, com cinqüenta por cento do corpo com queimaduras e outro com apenas
quinze por cento). Ambos tinham
queimaduras na face, mãos e outras partes do corpo. Eles foram levados
imediatamente para o Centro para Queimaduras. Eles disseram, que inalaram gases
quentes e fumaça. Os pacientes foram examinados para checar o grau de
queimadura. O tratamento médico foi iniciado imediatamente.
Às 17h 30min, todos os pacientes (16) foram examinados e efetuados exames clínicos.
DISCUSSÃO
Sobre a análise básica dos fatores que combinaram para
causa o acidente, isto é, a colisão inicial e sua conseqüência (engavetamento),
o tipo de explosão (Bleve), o lugar onde o acidente ocorreu (túnel), o número
de pessoas envolvidas (mais de 50) e a operação resgate (imediata, situação de
emergência), podemos efetuar as seguintes considerações:
1.O engavetamento no túnel bloqueou considerável quantidade
de veículos (22) e pessoas (mais de 50) no meio ambiente fechado e pessimamente
iluminado.
2. Todos as pessoas permaneceram próximas ou no interior
dos respectivos veículos, esperando o tráfego se mover novamente. Ninguém
pensou em sair do túnel, pois estava chovendo. Ninguém considerou a paralisação
total do tráfego.
3. Ao longo do túnel, próximo à metade, entre os carros
bloqueados na pista estava um caminhão tanque transportando 2.500 litros de
GLP.
4. As pessoas perceberam o iminente risco somente após a
primeira explosão, com a ignição da nuvem de gás e a visão das chamas
envolvendo a parte superior do ônibus.
5. A ignição do gás, as testemunhas descreveram como uma
rajada de vento quente, causando queimaduras graves nas partes expostas do
corpo (rosto e mãos) em 14 pessoas, algumas distantes do foco inicial, porém
sem causar nenhum dano aos veículos. Muito provável, como o dia estava frio e
chuvoso, as pessoas estavam usando agasalhos,
que evitou danos mais graves no
corpo. (Figs 5a, b, c, d)
6. As duas pessoas gravemente queimadas foram o motorista
do ônibus e do caminhão tanque, que estava muito próximo do fogo. O motorista
do ônibus foi a última pessoa a deixar o veículo, pois estava ajudando os
passageiros; o motorista do caminhão tanque, inicialmente percebeu o tráfego
parado, viu o ônibus se aproximando e desgovernado, moveu se em direção à saída, mas estava
envolto em chamas.
7. Após a primeira explosão, todas as pessoas tiveram tempo
suficiente para escapar do túnel em direção a uma das duas saídas, numa
distancia máxima de 70 m do centro do túnel.
8. O Bleve foi extremamente violento, ocorrendo não mais do
que 6 a 7 minutos após a primeira explosão (todas as opiniões concordaram com
isso) e os danos físicos comprovaram esse efeito (cinco corpos foram totalmente carbonizados). O dano ao túnel foi
considerável. A onda de choque enviou fumaça direta para a galeria de conexão
com outro túnel adjacente, que ficou totalmente enegrecido. Tudo que estava no
túnel, onde o BLEVE ocorreu ficou totalmente
destruído. Lembramos que 1 kg de gás líquido produz 500 litros de gás,
que misturado com o ar, torna-se altamente explosivo.
9. O serviço de resgate e de emergência foi rápido e
efetivo. O carro patrulha em serviço na estrada
acionou inicialmente o alarme,
comunicando ao quartel central e ao serviço de emergência e resgate, que
alertou o Centro para Queimaduras e dois outros hospitais em Palermo. O serviço
de emergência também foi alertado pelos motoristas através de celulares.
10. As pessoas com ferimentos leves foram levados para o hospital em Carini (distando 4 km) e outros
hospitais mais próximos em Palermo.
11. Várias pessoas ajudaram a polícia, comunicando ou entrando em contato com os
familiares e amigos das vítimas.
12. As primeiras
ambulâncias (4) chegaram ao local em 35 minutos e outras (10) demoraram
mais de 45 minutos. As chegadas das ambulâncias foram facilitadas pelas proximidades das cidades à estrada.
13. Dezesseis feridos foram levados para o Centro para
Queimaduras de Palermo. Não havia
atendimentos básicos durante o trajeto.
14. O primeiro paciente em estado grave chegou ao Centro em
70 minutos após o acidente e o último no máximo em duas horas. Após duas horas
e trinta minutos, os feridos graves estavam recebendo no hospital tratamento
adequado.
15. O Centro para Queimados foi capaz lidar com a chegada
de inúmeras vítimas, devido à existência de um plano de emergência, que foi
testado em várias ocasiões e
principalmente do grau de conhecimento e estado de preparação do plano de
emergência para desastre por parte das
equipes médicas e de enfermagem.
Fonte: @ZR, Annals of
Burns and Fire Disasters , 1997 - Fire
disaster in a motorway tunnel-Masellis Michele., laia A., Sferrazza G., Pirillo
E., D'Arpa N., Cucchiara P., Sucameli M., Napoli B., Alessandro G., Giairni S.; Divisione Chirurgia Plastica e Terapia delle Ustioni,
Ospedale Civico, Palermo, ltaly
Conclusão :
Não há dúvida, que o desastre de incêndio que ocorreu no
túnel da rodovia Palermo-Punta Raisi, houve uma combinação de fatores
circunstanciais, fortuitos e sorte e tudo isso limitado ao número de vítimas.
Tal episódio fornece informações direcionadas
à análise e formulação de hipóteses, avaliação de resultados e
treinamento contínuo em busca de melhor nível de preparação do plano de
emergência .
No acidente de Palermo, por exemplo, estava presente o Bleve
em meio ambiente fechado e reduzido (extensão túnel), que poderia ter
conseqüências catastróficas se o túnel fosse mais extenso e se as pessoas não
tivessem tempo para escapar.
Outro aspecto é a prevenção de cargas perigosas. Explosões
de tanques de GLP têm causado vários desastres em diferentes partes do mundo e
uma análise dessa dinâmica tem conduzido para numerosas medidas no plano
internacional para regulamentação de materiais altamente perigosos. Entretanto,
os acidentes continuam ocorrer e a causa mais comum é a colisão.
Tem sido proposto que os caminhões tanques deveriam ser
obrigados a seguir uma rota especial, todavia, se um acidente ocorresse, o meio ambiente circunvizinho sofreria
considerável dano. É indispensável que todo país ou estado ou cidade tenha planos de emergência para esse tipos de
desastres e que esses planos conduzam
à melhoria do nível técnico em
geral, à preparação logística e também à preparação da comunidade. É extremamente importante que
esses planos não permaneçam apenas no papel, mas sejam continuamente testados
na prática, reforçados por cursos e atualização de informações,
envolvendo especialistas, médicos,
enfermeiros, organizações
voluntárias, bombeiros, polícia e público em geral.
Comentário :
Este artigo focalizou, de maneira objetiva, a dinâmica de
desastre em túnel, desde o seu início (colisão e engavetamento), até a
primeira explosão e a corrida das pessoas para alcançarem a saída do
túnel, que era por sinal um túnel pequeno e finalmente o Bleve. Tudo isso em
questão de minutos.
E no Brasil, especificamente no Estado de São Paulo, temos
as rodovias Anchieta e Imigrantes, com vários túneis ao longo do percurso, por
onde transitam diariamente inúmeros caminhões transportando produtos altamente
perigosos.
Se ocorresse um acidente em um dos túneis, envolvendo
incêndio e explosão comum em caminhão tanque transportando GLP líquido ou outro
tipo de produtos inflamáveis, as empresas responsáveis pela administração da
rodovia em conjunto com as autoridades públicas, teriam um plano de
emergência para atender esse tipo de
desastre ?
E os hospitais especializados em queimaduras teriam leitos suficientes para atenderem esse
tipo de desastre?
Os hospitais estariam preparados para atenderem
simultaneamente inúmeras vítimas?
Os hospitais teriam planos de emergência para esse tipo de
situação ?
Os acidentes ocorrem e sempre ocorrerão. Portanto, os
responsáveis deverão estar preparados com um plano de emergência definido,
envolvendo todos os setores da comunidade, desde a população em geral, médicos,
enfermeiros, grupos de voluntários, defesa civil, policia, bombeiros, etc, que
devem ser treinados adequadamente,
incluindo campanhas educativas para prevenir desastres em túneis.
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