Os perigos ocultos do cheiro de carro novo
O chamado “cheiro de carro novo” tem um efeito quase
inebriante para algumas pessoas – e não é à toa que concessionárias abusam
desse recurso para incentivar as compras.
O odor é genuíno e vem de uma combinação de vários tipos de
substâncias químicas usadas na fabricação de veículos: solventes, colas,
plásticos, borracha e tecidos, por exemplo.
COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS (COVs)
O único problema: muitas delas são altamente intoxicantes.
Isso porque contêm compostos orgânicos voláteis (COVs), que podem até ser
letais dependendo da quantidade.
“Trata-se de um coquetel químico feito com um monte de
toxinas”, explica Jeff Gearhart, diretor de pesquisa do Ecology Center, dos
Estados Unidos, entidade que monitora e testa os níveis de substâncias químicas
no interior de carros.
Segundo o especialista, essa quantidade diminuiu nos últimos
anos. “Mas ainda há muito trabalho a fazer nesse sentido”, afirma. “Encontramos
mais de 200 substâncias químicas dentro de veículos, e como esses compostos não
são regulamentados, os consumidores não têm como saber sobre os riscos a que
estão expostos.”
DE DOR DE GARGANTA A CÂNCER
Só a lista dessas substâncias já é suficiente para fazer com
que o interior de um carro se pareça mais com um desfile de materiais
perigosos. Benzeno, tolueno, formaldeído e metais pesados fazem parte do mix.
E, dependendo da sensibilidade do usuário do veículo, as
consequências da exposição rápida a esses químicos vão da dor de garganta ou
dor de cabeça a tontura, náuseas e reações alérgicas.
Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos,
o contato permanente com essas substâncias pode até provocar alterações
hormonais, afetar o sistema reprodutivo, causar danos ao fígado, aos rins e ao
sistema nervoso central, ou até levar ao câncer.
É com essa exposição a longo prazo que os especialistas em
saúde estão preocupados.
“As pessoas passam,
em média, mais de uma hora por dia em seus veículos”, lembra Gearhart. “O
contato prolongado com as toxinas desse ambiente afeta adultos, crianças e
animais de estimação.”
CARRO NOVO:PERIGO
O perigo é maior quando o carro é novo e é mais fácil notar
o odor. Nessa fase, os compostos ainda estão instáveis e propensos a liberar
vapores químicos lentamente, em um processo conhecido como desgaseificação.
O aquecimento provocado pela exposição do carro ao sol piora
o problema, pois acelera as reações químicas. O risco diminui com o passar do
tempo, melhorando a partir de seis meses da fabricação.
REAÇÃO DAS MONTADORAS
A boa notícia é que algumas das grandes montadoras já anunciaram
que estão adotando medidas para reduzir o nível de COVs no interior de seus
carros, assim como outras substâncias de risco.
Segundo elas, isso é possível com o uso de materiais,
revestimentos e colas diferentes durante a fabricação.
POLICLORETO DE POLIVINILA (MAIS CONHECIDO COMO PVC).
Um conhecido agente cancerígeno que deve ser retirado da
produção de carros é o policloreto de polivinila (mais conhecido como PVC). Em
2006, o Ecology Center descobriu que a substância era utilizada em praticamente
todos os carros novos.
Em 2012, esse número havia caído para 73%. Os fabricantes
afirmam que o uso do PVC continua em declínio. Apenas uma montadora, a Honda,
alega que já eliminou totalmente a substância da maioria de seus modelos. As
montadoras também dizem que melhoraram os sistemas de ventilação e filtragem da
cabine.
MUDANÇAS
Algumas, como a Ford, destaca ter passado a utilizar mais
fibras naturais e espuma à base de soja em seus bancos. Mas ainda se espera o
veredicto sobre os efeitos desses materiais alternativos a longo prazo.
Muitas dessas mudanças ocorreram depois que a União Europeia
aprovou maiores restrições ao uso de substâncias químicas. Há relatos de que a
China também estaria desenvolvendo legislações nessa área, enquanto o Estado
americano da Califórnia já aprovou medidas nesse sentido.
DICAS DE ESPECIALISTAS
■ Enquanto países começam a discutir o assunto,
especialistas recomendam que os donos de carros novos tentem diminuir ao máximo
sua exposição às substâncias tóxicas, mantendo o interior dos veículos bem
ventilados, principalmente nos primeiros seis meses.
■ Estacionar na sombra, com as janelas abertas (se for
seguro), ou pelo menos tentar ventilar o carro antes de entrar nele,
especialmente nos dias quentes, também ajuda.
■Outras medidas incluem evitar permanecer no carro quando
estiver estacionado e utilizar vidros temperados para diminuir a incidência de
sol.
■ O Ecology Center também recomenda limpar o interior do
veículo com uma toalha de microfibra e um detergente não tóxico. “As
substâncias químicas tendem a permanecer na poeira”, afirma Gearhart.
■ Para aqueles que são particularmente sensíveis a
substâncias químicas, o especialista sugere observar se surgem sintomas durante
o test drive com o carro novo.
■ Se a sensibilidade for extrema, diz Gearhart, “em última
instância, talvez seja melhor até comprar um carro usado”. Fonte:@ZR, BBC
Brasil - 30 março 2016Marcadores: Meio Ambiente, produtos quimicos

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