NBR e o Ato Inseguro
Interessante está circulando em alguns fóruns de segurança
na internet, abaixo assinado, para
eliminação do Ato Inseguro, agora na NBR da ABNT, parece que o famigerado termo politicamente correto já se infiltrou
na segurança do trabalho.
Temos de perguntar ao finado trabalhador que termo ele
prefere, ato inseguro ou comportamento inseguro ou falhas ativas ou erros, etc.?
Através da Portaria n° 84/09, o Ministério do Trabalho
corrigiu um antigo erro. A expressão “ato inseguro”, contida na alínea “b” do
item 1.7 da NR 1, foi retirada da regulamentação, assim como os demais subitens
que atribuíam ao trabalhador a culpa pelo acidente de trabalho. Por acaso houve
redução dos acidentes pertinentes as falhas humanas?
Como explica o abaixo
assinado; Em 2009, após muitas críticas, debates, protestos e lutas de
trabalhadores, o Ministério do Trabalho e Emprego finalmente retirou da
legislação de Saúde e Segurança do Trabalho esta que era uma das mais típicas
figuras do entulho autoritário: o “Ato Inseguro”. Desde quando o ato inseguro é
um entulho autoritário? Deve ser o modismo de engenharia social? Parece que a
engenharia no Brasil deixou de ser safe, safety, human engineer, para ser
social e preocupar apenas com glossário técnico ou social.
Devemos eliminar também os termos;
1) negligência: desleixo, descuido, desatenção, menosprezo,
indolência, omissão ou inobservância do dever, em realizar determinado
procedimento, com as precauções necessárias;
2) imperícia: falta de técnica necessária para realização de
certa atividade;
3) imprudência: falta de cautela, de cuidado, é mais que
falta de atenção, é a imprevidência a cerca do mal, que se deveria prever,
porém, não previu.
Enquanto isso no Brasil real, os acidentes acontecem e estão
acontecendo enquanto redijo. Daqui a pouco não existe mais pobre no país, tudo
mundo é da classe média? Ou a classe média se tornará a pobreza latente? Talvez
com a eliminação do Ato Inseguro, acontecerá a mesma coisa, a causa mortis do
trabalhador não terá no atestado o entulho autoritário do Ato Inseguro.
“No creo en brujas, pero que las hay, las hay”
Por que esses grupos que estão tão preocupados com a
prevenção dos trabalhadores não retiram da NR e CLT os dinosssauros dos
adicionais ; periculosidade, insalubridade, etc. Não existem esses adicionais em país
civilizados que praticam a prevenção de riscos. Esses adicionais se tornaram
monetização do risco a saúde do trabalhador. É muito pior do que o entulho do
Ato Inseguro.
Por acaso sabemos os custos de acidentes por atividades ou
ocupações das empresas no país?
Quais são os acidentes mais comuns por ramo de atividade?
Se o profissional quiser aprofundar na área de segurança
temos consultar bibliografias estrangeiras, sites, etc. Para obter dados e
tentar adaptar a realidade brasileira.
Que tal se preocupar com o nível de escolaridade do
trabalhador brasileiro? A maioria tem menos de 8 anos de estudo.
Alguns comentários que já fiz em alguns fóruns sobre o
assunto:
ATO INSEGURO: DEMONIZAR OU EXORCIZAR
Esse problema de ato inseguro em que alguns querem demonizar ou exorcizar , lembra na década de
80, o método Taylor. O método de Taylor é apenas lembrado como aumentar carga de trabalho do operário, pois
o método através de medições de tempos aferia o tempo gasto por determinado
tipo de tarefa. Mas essa aferição fazia parte de um trabalho mais amplo, a
organização de tarefa e planejamento de produção. Como fazer um trabalho de
modo quase perfeito sem perda de tempo. Mas ele é apenas lembrado como carrasco do operário. Hoje na
área de segurança a ordem de serviço ou um manual técnico, nada mais do que o
método do Taylor, como fazer de modo à tarefa
com eficiência sem interrupção no sistema (acidente/falha). Em todas as
atividades usamos a essência do método
de Taylor sem saber. Hoje o esporte utiliza esse método de forma mais avançado,
através de filmagem fotograma por fotograma, é analisada a performance do
esportista, passo a passo, como ele pisa, como respira, etc., para aumentar o
seu desempenho
Com o ato inseguro acontece à mesma coisa, o pessoal analisa
o ato em si, mas sem levar em conta os fatores relacionados ao elemento humano
que convergem para produzir o ato inseguro. Para estudar o acidente, temos duas
vertentes o ato inseguro e condições inseguras. Voltamos a essência do método
de Taylor, se fracionarmos todas as etapas que dão origem à falhas humana,
podemos estudá-la com mais detalhe e
atuar onde a probabilidade de ocorrer
uma falha no sistema ou anomalia é mais freqüente. Os fatores/erros
relacionados ao elemento humano são
semelhantes a quaisquer tipos de atividade.
Hoje, com os avanços no conhecimento e na tecnologia
aumentaram consideravelmente a
complexidade de sistema. Devido sua combinação singular de processos,
interações tecnológica e humana, surgem
também riscos inevitáveis, que às vezes, alguma coisa sairá errado. E uma das
coisas mais difíceis é mudar o comportamento do elemento humano, pois não é
padronizado, ao contrário das máquinas em que podemos alterar o ritmo de
produção e de segurança.
Uma visão interessante da causa de acidente utilizado por
especialistas no campo aeronáutica e
nuclear é o modelo do queijo suíço (cheio de buraco). A condição ideal é separar o perigo da perda potencial, mas na
prática parece mais como fatias de queijo suíço. As lacunas estão abrindo e
fechando continuamente (sistema de defesa), ao mesmo tempo mudando de posição.
O perigo sério aumenta quando um conjunto de linhas de buracos permite uma
abertura momentânea de oportunidade para
o acidente. Aí estão as falhas ativas e latentes. Para isso devemos criar
barreiras de segurança e de proteção.
O sistema de segurança ideal seria como o processador de
texto Word, se erramos a palavra ele corrige,
se esquecemos de salvar, ele avisa, antes acontecer o desastre, perder o
que está sendo digitado. Por causa disso algumas atividades o robô está
substituindo o elemento humano.
O que é comum na
maioria das organizações quando ocorre uma falha no sistema, por exemplo,
acidente ou falha de projeto ou falha no atendimento, é procurar um culpado e
não analisar qual foi motivo dessa falha no subsistema. No Brasil é comum
procurar/apontar um culpado do que ir a fundo qual a origem dessa falha. O erro
não está no ato inseguro, mas quem está
interpretando a falha.
“Os fatos não falam, eles precisam ser interpretados por
alguém. Tudo que é observado é modificado pela presença do observador. Os fatos mudam a depender de
quem está interpretando”.(Principio de Incerteza de Heisenberg).
AGÊNCIA DE SAÚDE DA
INGLATERRA ELABOROU UM ESTUDO SOBRE A FALHA HUMANA
A Agência de Saúde da
Inglaterra elaborou um estudo sobre a falha humana, reuniu diversos
especialistas e elaboraram um manual sobre falha humana no ambiente hospitalar,
mas no primeiro capitulo trata a análise
de falha humana de maneira genérica empregando termos de engenharia de
segurança e comportamental. A conclusão que eles chegaram que o erro humano é
inerente ao ser humano. Só através de
criação de barreiras de segurança (projeto, treinamento) poderá reduzir. Não
existe controle absoluto sobre o risco.
Podemos ter percepção que estamos controlando o risco, mas outro riscos
latentes estão aguardando condições para
transformar em acidentes.
Quando analisamos acidentes/incidentes em relação a fatores
humanos procuramos relacionar os procedimentos padrões para determinadas
tarefas e o seu grau de treinamento.
Porém esquecemos de analisar o comportamento mental do
indivíduo. O nosso cérebro cria armadilhas para o ser humano que dificilmente o
eliminamos, apesar de efetuar um treinamento exaustivo. Existe um frase em
espanhol, que diz; Quando tínhamos todas as respostas, mudaram as perguntas. O
cérebro está sempre nessa atividade de retroalimentação de informações. O exemplo mais marcante é o
treinamento de piloto de aeronave, constantemente eles recebem treinamento em
simuladores de vôo, mas nos acidentes
aéreos ainda predominam a falha humana.
Alguns neuro-cientistas
consideram que o cérebro seja um sistema dinâmico não linear sujeito ao
caos imprevisível.
Por exemplo, troquei a minha senha na semana retrasada, eu
me condiciono a não errar a nova senha, mas
por experiência, durante uma semana,
ora uso a senha antiga, ora a
nova senha, meu consciente cria uma armadilha para eu errar (depende também do
ser humano).
Agora mesmo na Alemanha houve um acidente ferroviário, um
trem de suspensão magnética de alta velocidade conhecido como Transrapid
colidiu a 200 km/h contra um veículo de manutenção em Emsland, norte da
Alemanha, matando 23 pessoas. O trem e o
veiculo de manutenção estavam na mesma linha. O veiculo de manutenção estava
parado. Os especialistas indagam, como pode ter acontecido isso? O trem não tem
operador é controlado pela central de
operação. Tira um elemento humano da cabine do trem para evitar erros, mas a
central de operação cometeu a falha. Você pensa
eliminar o risco mas cria outro risco latente ou não que irá provocar a
falha.
Temos ter consciência que a falha humana estará sempre
presente na atividade e ela surgirá quando alguns eventos não previstos e
fatores adversos se convergem num determinado momento para provocar o acidente.
Não devemos esquecer que as normas de segurança são genéricas e estáticas e são
modificadas de acordo com resultados obtidos na prática, enquanto o risco é como
um vírus sempre está em mutação, isto é, se adapta ao ambiente e estará sempre em processo de
transformação.
NÃO EXISTE FALHA HUMANA?.
O ato inseguro se procurarmos o significado do ato no
dicionário, temos; procedimento,
conduta, modo de proceder, etc.
Veja o caso da memória, segundo especialistas
(neurocientistas; quem nunca passou por um lapso de memória, não ficou um certo
tempo tentando encontrar no seu acervo lingüístico pessoal, a palavra adequada
para o contexto desejado, ou simplesmente não esqueceu o que iria dizer ao seu
interlocutor? E quem nunca se esqueceu, em determinado momento, do que iria
fazer logo em seguida? Imagina se não
treinarmos a memória para termos procedimentos para execução de determinada
tarefa , o que seria ? Em atividade de baixo risco tecnológico a falha humana
não é muito perceptível, mas a atividade de alto risco tecnológico a falha
humana é extremamente perceptível (medicina, aviação, usina nuclear,
hidroelétricas, etc). Onde o elemento humano toma decisão/interpretação diante
de informações processadas por máquinas/computadores.
O elemento humano é cheio de vícios, particularidades de
essência de cada pessoa. Têm pessoas
metódicas, outras indisciplinadas,
outras têm dificuldade de assimilação de programas, outras contrárias a modificação de procedimentos, etc. Junta
tudo isso, temos uma empresa com um ativo intelectual disperso, que através de
treinamento, disciplina procuramos homogeneizar
esse pensamento voltada para os objetivos da empresa. Que é extremamente
difícil, pois a cada empresa tem sua cultura/vícios.
Veja o caso de um
bebê está aprendendo a engatinhar, tudo para ele é novidade, é o Indiana
Jones a procura de aventura e perigo. São os pais que vão emitir verbalmente um
Procedimento Seguro (PS) para o bebê, o
que é proibido ou não, utilizar um DPI
(dispositivo de proteção individual) ou um EPC (equipamento de proteção
coletiva para residência) ou delimitar uma área para brincar (zona de risco).
Apesar de todo esse treinamento dado pelos pais, sempre tem algum bebê que
avança o sinal ou quebra o procedimento dado pelos pais, e aí acontece o
acidente.
Na essência o erro humano acompanha o ser humano em todas
atividades. Alguns erros conseguimos corrigir, criamos outros erros latentes, mas
a falha está sempre a favor da natureza.
ATO INSEGURO FAZ PARTE DE UM SISTEMA OU SUBSISTEMA
O ato inseguro faz parte de um sistema ou subsistema de
procedimentos ou componentes inter relacionados
que atuam e interagem com outros sistemas/subsistemas para cumprir uma
tarefa ou função. O ato inseguro é o resultado processado de diversos fatores
que envolvem o elemento humano.
Na análise de acidentes, na entrada, temos diversas dúvidas,
fatores, que são processados (analisados/identificados) e o resultado é o ato
inseguro (que pode ser uma causa humana ou diversos fatores que envolvem o
elemento humano ou um conjunto de falha humana/falha operacional/projeto)
Na Gerência de Risco, temos uma visão mais ampla do que é o
ato inseguro (denominação das falhas relativas ao ser humano) em relação a
todos os riscos que envolvem uma empresa
Existe uma série de acidentes industriais que a causa
principal foi a falha humana. O erro humano faz parte do processo e que devemos
criar barreiras de segurança para dificultar a sua execução. Mas o errar é
inerente ao ser humano.
Houve uma colisão aérea em que morreu 79 passageiros a
maioria crianças, entre um avião passageiro russo e um cargueiro. O avião de
passageiro tinha um detector automático de risco de colisão na cabine, e avisou o piloto que ele estava na rota de colisão com o
cargueiro, ma o piloto do avião que transportava as crianças obedeceu ao
controlador de vôo sobrecarregado que estava em terra. E houve a colisão.
Trecho de análise feita por um jornalista do New York Times:
O piloto, até o ponto em que teve tempo para pensar,
deparou-se com a necessidade de avaliar a confiabilidade do controlador de vôo
em comparação com a dos engenheiros anônimos que construíram o detector
destinado a evitar colisões.
No fim, ele seguiu a recomendação da voz com que ele se
identificava mais. A máquina não tinha chances. Para o bem ou para o mal, isso
é parte do nosso programa. É da natureza dos seres da nossa espécie optar por
cometer seus próprios erros.

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