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quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Vistoria aponta riscos em plataformas de petróleo da Petrobras

A Petrobras precisa melhorar de forma significativa a manutenção das plataformas, para dar condições mais seguras de trabalho aos profissionais embarcados e prevenir tragédias no mar.
É o que mostram relatório do Ministério Público do Trabalho e levantamento sobre incidentes recentes em embarcações, apurados pelo sindicato dos trabalhadores.

O documento do Ministério Público do Trabalho (MPT), lista irregularidades de diversos níveis de gravidade nas cinco plataformas escolhidas para vistoria em 2013, e em outra fiscalizada em 2012.

Principais problemas encontrados:
■descontrole sobre emissões de gases,
■rotas de fugas mal delineadas,
■despejo de dejetos sem tratamento no mar,
■botes salva-vidas incapazes de salvar,
■ferrugem acentuada,
■controle de manutenção deficiente e
 ■jornadas excessivas de profissionais de saúde foram os problemas que chamaram a atenção do MPT.

As vistorias fazem parte do projeto Ouro Negro, criado em 2011 pelo MPT e promovido em parceria com Marinha, ANP (Agência Nacional do Petróleo e Derivados), Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Ibama e Ministério do Trabalho, para fiscalizar estruturas e condições de trabalho nas plataformas.

As vistorias geraram inquéritos na Procuradoria do Trabalho, que estabelecem prazos para regularização. "As empresas vão nos informando o que é feito, e estamos programando visitas dos peritos", diz Coentro.

Das exigências, ao menos uma ainda não foi estendida a todas as embarcações --evitar vazamento de gases.
■Três episódios foram registrados na bacia de Campos desde novembro pelo Sindicato dos Petroleiros no Norte Fluminense. Houve incêndio nas plataformas P-62 e P-20, ambas lançadas inacabadas no mar, e explosão na P-55, no fim de semana passado.
■Desde dezembro, oito incidentes foram contabilizados no mar dessa bacia, responsável por 80% da produção do petróleo brasileiro.

EMPRESA DIZ IMPLEMENTAR MELHORIAS
Questionada, a Petrobras disse que está "implementando melhorias em práticas de inspeção e de manutenção das plataformas".
Sobre os recentes vazamentos de gás, a Petrobras disse que "todas as plataformas estão adequadas às normas" para "equipamentos nos quais haja gás, garantindo a segurança das pessoas e integridade das instalações".

PROBLEMAS ENCONTRADOS NAS PLATAFORMAS VISTORIADAS

Termo de compromisso: Data: novembro/2013
Objetivo: correção de problemas; manter equipamentos eficazes de detecção de vazamento; realizar inspeção e manutenção periódicas
Prevê  multa  de R$ 5.000,00 em caso de descumprimento

BACIA DE SERGIPE
Deepwater NS23 –Abr/2013
Ferrugem em portas de vedação; rota de fuga mal dimensionadas; botes salva-vidas incompletos; excesso de ruído

BACIA DE CAMPOS
Ocean Winner – Ag/2013
Descumprimento de determinações da Comissão de Prevenção de Acidentes feitas anteriormente, portas de incêndio irregulares, camas com problemas e falta de computadores

P-15/Macaé – Mai/2013
Basculantes sem ligação com sensores de fogo e gás. Dejetos despejados no mar, sem tratamento

P-40 – Jun/2013
Falha de sensores de gases, documentos sobre manutenção desatualizados, ar-condicionado inoperante, corrosão, vazamento de óleo no mar, equipamentos de emergência sem lacre. Reincidência levou a empresa  a ser notificada e a ser processada em ação civil pública.

PHC-1 – Jun/2013
Falta de avaliação sobre vapores resultantes de soldagem ( o que põe em risco a segurança da embarcação, segundo MPT); inexistência de rota de fuga; cozinha e refeitório mal dimensionados;corrosão excessiva; guindaste com problemas estruturais; falta de auxiliar de enfermagem

BACIA DE SANTOS
Cidade de Paraty – Out/2013
Aumento na capacidade de profissionais sem adequação dos planos de emergência; apenas um enfermeiro embarcado, trabalhando, na prática, 24 horas por dia; trabalhador com fratura só foi removido seis dias depois. Fonte:Folha de São Paulo - 23 de fevereiro de 2014

Comentário: Em gerenciamento de riscos devemos lembrar das leis de Murphy e uma delas é crucial, principalmente em plataformas; atividade isolada, complexidade de logística em emergência, distante do continente, etc.
Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.
Essas deficiências apontadas nas inspeções vêm ocorrendo desde a década de 90. Estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública – Fundação Oswaldo Cruz, já apontava diversas irregularidades,  em que a Petrobras poderia ter implementado  numa visão mais ampla de gerenciamento de riscos.
Como escreveu o especialista em segurança de petroquímica Trevor Kletz; Os registros de acidentes e análises são fontes importantes para treinamento de pessoal, gerentes, supervisores e operadores, assim eles poderão entender o que acontecerá se não seguirem os procedimentos  recomendados e se não usarem uma boa prática operacional. Mas na prática as lições de acidentes são esquecidas e se repetem após um período de poucos anos.

A Petrobrás tem um histórico de registro de catástrofe na Bacia de Campos;
■ como os acidentes ocorridos na Plataforma de Enchova em 1984 e 1988. O primeiro resultou em 37 óbitos imediatos e o segundo na destruição total do convés e da torre, totalizando um prejuízo de 500 milhões de dólares na época (1997).
■ A P-36 foi a maior plataforma de produção de petróleo no mundo antes de seu afundamento em Março de 2001. A plataforma custou 350 milhões de dólares.
Na madrugada do dia 15 de março de 2001 ocorreram duas explosões em uma das colunas da plataforma, a primeira às 0h22m e a segunda às 0h39m. 175 pessoas estavam no local no momento do acidente das quais 11 morreram, todas integrantes da equipe de emergência da plataforma. Segundo a agência nacional de petróleo (ANP) do Brasil, o acidente foi causado por "não-conformidades quanto a procedimentos operacionais, de manutenção e de projeto.
■ Plataforma P-20 - A produção da plataforma P-20, no campo de Marlim, na Bacia de Campos, da Petrobras, foi interrompida por medida de segurança por causa de um incêndio na unidade, na tarde de quinta-feira, 26 de dezembro de 2013. Segundo a estatal, um dos trabalhadores a bordo na plataforma inalou fumaça e um outro sofreu torção no pé, mas eles passam bem. O trabalhador que sofreu torção no pé foi levado para Macaé. Após o ocorrido, a Petrobras instaurou uma comissão de investigação formada por gerentes, representantes da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e dos empregados. Esta equipe encontra-se a bordo da unidade com o objetivo de apurar as causas do incidente", disse a empresa, em comunicado. Uma otra equipe de engenharia foi deslocada para a P-20 para preparar, no menor tempo possível, um cronograma com todas as ações necessárias para o pleno retorno à operação. Ainda não há previsão para o retorno da produção.
"Todos os sistemas e procedimentos de segurança funcionaram conforme previsto durante a emergência e a habitabilidade da unidade de produção está plenamente preservada", acrescentou a companhia.

A Petrobras possui 130 plataformas (86 fixas e 47 flutuantes) em operação, espalhadas pelos 151mil km² de área exploratória de petróleo. Em média cada plataforma possui de 100 a 200 trabalhadores.

Geralmente os engenheiros responsáveis pelos projetos tecnológicos tendem a subestimar a freqüência dos incidentes que se produzem em situações anormais nos seus cálculos de confiabilidade. Estas situações se distinguem da situação normal apenas por diferenças que podem parecer secundárias, mas que na realidade podem ser fontes bastante graves e frequentes de disfunções. Para estes engenheiros, predomina a visão de que acidentes, principalmente os graves, são eventos raros, gerando a precária inclusão de dispositivos de segurança, tais como redundâncias, critérios específicos para incêndios e layouts que não consideram características de segurança e de emergências que possam contribuir para anular ou mesmo mitigar as conseqüências destes eventos.

Mesmo quando questões de segurança são incluídas no projeto, a sua efetividade dependerá da capacidade real dos equipamentos de resistirem aos diversos cenários potenciais de acidentes. As questões dos dispositivos de segurança já são um problema desde os projetos originais das plataformas, que são instalações bastante complexas e que podem incluir a produção e armazenagem de óleo e gás à alta pressão, a perfuração de poços, e obras de construção e manutenção associado à uma diversidade de atividades tais como;
■partidas de instalações e produção;
■paradas e redução da produção;
■manuseio de equipamentos e materiais perigosos;
■controle manual do processo;
■monitoramento da produção por sistema supervisório;
■manutenções preventivas e corretivas; limpezas de máquinas e equipamentos;
■transporte de materiais; operações manuais e mecânicas de lifting;
■inspeções e testes de equipamentos;
■transporte marítimo e aéreo; cozinha; limpeza; construção e reforma, entre outras.
Isto faz com que nas plataformas de petróleo se concentram de forma única os riscos típicos de muitas atividades de produção e manutenção industriais de refinaria, tratamento e unidades de produção de energia com outros próprios das tarefas relacionadas com a exploração de gás e petróleo, como a perfuração e os poços de produção, associados aos de transporte aéreo (helicópteros) e marítimos, de construção civil nas atividades de reparo, construção e reforma, de mergulhos rasos e, principalmente, profundos. Estas características complexas das plataformas podem intensificar os perigos quando posteriores modificações não previstas desde o início no projeto original ocorrem com vistas à ampliação da capacidade produtiva, ampliando as situações de riscos.

Problemas encontrados na época
■serviços de corte e solda estavam sendo realizados na Plataforma de Enchova, próximos à um local onde havia vazamento de gás
■manutenção corretiva predomina sobre a manutenção preventiva
■falha  em geradores de emergência
As plataformas de petróleo operam com sistemas complexos, com proximidades de conexões, equipamentos, com interações entres eles, resultando em múltiplas e inesperadas interações, gerando novos cenários de riscos de acidentes não previstos no projeto original.

Vídeo
Origem da plataforma de petróleo e seu avanço tecnológico. Vale a pena assistir

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posted by ACCA@10:03 PM