Vistoria aponta riscos em plataformas de petróleo da Petrobras
É o que mostram relatório do Ministério Público do Trabalho
e levantamento sobre incidentes recentes em embarcações, apurados pelo
sindicato dos trabalhadores.
O documento do Ministério Público do Trabalho (MPT), lista
irregularidades de diversos níveis de gravidade nas cinco plataformas
escolhidas para vistoria em 2013, e em outra fiscalizada em 2012.
Principais problemas encontrados:
■descontrole sobre emissões de gases,
■rotas de fugas mal delineadas,
■despejo de dejetos sem tratamento no mar,
■botes salva-vidas incapazes de salvar,
■ferrugem acentuada,
■controle de manutenção deficiente e
■jornadas excessivas
de profissionais de saúde foram os problemas que chamaram a atenção do MPT.
As vistorias fazem parte do projeto Ouro Negro, criado em 2011
pelo MPT e promovido em parceria com Marinha, ANP (Agência Nacional do Petróleo
e Derivados), Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Ibama e
Ministério do Trabalho, para fiscalizar estruturas e condições de trabalho nas
plataformas.
As vistorias geraram inquéritos na Procuradoria do Trabalho,
que estabelecem prazos para regularização. "As empresas vão nos informando
o que é feito, e estamos programando visitas dos peritos", diz Coentro.
Das exigências, ao menos uma ainda não foi estendida a todas
as embarcações --evitar vazamento de gases.
■Três episódios foram registrados na bacia de Campos desde
novembro pelo Sindicato dos Petroleiros no Norte Fluminense. Houve incêndio nas
plataformas P-62 e P-20, ambas lançadas inacabadas no mar, e explosão na P-55,
no fim de semana passado.
■Desde dezembro, oito incidentes foram contabilizados no mar
dessa bacia, responsável por 80% da produção do petróleo brasileiro.
EMPRESA DIZ IMPLEMENTAR MELHORIAS
Questionada, a Petrobras disse que está "implementando
melhorias em práticas de inspeção e de manutenção das plataformas".
Sobre os recentes vazamentos de gás, a Petrobras disse que
"todas as plataformas estão adequadas às normas" para
"equipamentos nos quais haja gás, garantindo a segurança das pessoas e
integridade das instalações".
PROBLEMAS ENCONTRADOS NAS PLATAFORMAS VISTORIADAS
Termo de compromisso: Data: novembro/2013
Objetivo: correção de problemas; manter equipamentos
eficazes de detecção de vazamento; realizar inspeção e manutenção periódicas
Prevê multa de R$ 5.000,00 em caso de descumprimento
BACIA DE SERGIPE
Deepwater NS23 –Abr/2013
Ferrugem em portas de vedação; rota de fuga mal
dimensionadas; botes salva-vidas incompletos; excesso de ruído
BACIA DE CAMPOS
Ocean Winner – Ag/2013
Descumprimento de determinações da Comissão de Prevenção de
Acidentes feitas anteriormente, portas de incêndio irregulares, camas com
problemas e falta de computadores
P-15/Macaé – Mai/2013
Basculantes sem ligação com sensores de fogo e gás. Dejetos
despejados no mar, sem tratamento
P-40 – Jun/2013
Falha de sensores de gases, documentos sobre manutenção
desatualizados, ar-condicionado inoperante, corrosão, vazamento de óleo no mar,
equipamentos de emergência sem lacre. Reincidência levou a empresa a ser notificada e a ser processada em ação
civil pública.
PHC-1 – Jun/2013
Falta de avaliação sobre vapores resultantes de soldagem ( o
que põe em risco a segurança da embarcação, segundo MPT); inexistência de rota
de fuga; cozinha e refeitório mal dimensionados;corrosão excessiva; guindaste
com problemas estruturais; falta de auxiliar de enfermagem
BACIA DE SANTOS
Cidade de Paraty – Out/2013
Aumento na capacidade de profissionais sem adequação dos
planos de emergência; apenas um enfermeiro embarcado, trabalhando, na prática,
24 horas por dia; trabalhador com fratura só foi removido seis dias depois.
Fonte:Folha de São Paulo - 23 de fevereiro de 2014
A Petrobras possui 130 plataformas (86 fixas e 47
flutuantes) em operação, espalhadas pelos 151mil km² de área exploratória de
petróleo. Em média cada plataforma possui de 100 a 200 trabalhadores.
Comentário: Em gerenciamento de riscos devemos lembrar das
leis de Murphy e uma delas é crucial, principalmente em plataformas; atividade
isolada, complexidade de logística em emergência, distante do continente, etc.
Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado
da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.
Essas deficiências apontadas nas inspeções vêm ocorrendo
desde a década de 90. Estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública –
Fundação Oswaldo Cruz, já apontava diversas irregularidades, em que a Petrobras poderia ter implementado numa visão mais ampla de gerenciamento de
riscos.
Como escreveu o especialista em segurança de petroquímica
Trevor Kletz; Os registros de acidentes e análises são fontes importantes para
treinamento de pessoal, gerentes, supervisores e operadores, assim eles poderão
entender o que acontecerá se não seguirem os procedimentos recomendados e se não usarem uma boa prática
operacional. Mas na prática as lições de acidentes são esquecidas e se repetem
após um período de poucos anos.
A Petrobrás tem um histórico de registro de catástrofe na
Bacia de Campos;
■ como os acidentes ocorridos na Plataforma de Enchova em
1984 e 1988. O primeiro resultou em 37 óbitos imediatos e o segundo na
destruição total do convés e da torre, totalizando um prejuízo de 500 milhões
de dólares na época (1997).
■ A P-36 foi a maior plataforma de produção de petróleo no
mundo antes de seu afundamento em Março de 2001. A plataforma custou 350
milhões de dólares.
Na madrugada do dia 15 de março de 2001 ocorreram duas
explosões em uma das colunas da plataforma, a primeira às 0h22m e a segunda às
0h39m. 175 pessoas estavam no local no momento do acidente das quais 11
morreram, todas integrantes da equipe de emergência da plataforma. Segundo a
agência nacional de petróleo (ANP) do Brasil, o acidente foi causado por
"não-conformidades quanto a procedimentos operacionais, de manutenção e de
projeto.
■ Plataforma P-20 - A produção da plataforma P-20, no campo
de Marlim, na Bacia de Campos, da Petrobras, foi interrompida por medida de
segurança por causa de um incêndio na unidade, na tarde de quinta-feira, 26 de
dezembro de 2013. Segundo a estatal, um dos trabalhadores a bordo na plataforma
inalou fumaça e um outro sofreu torção no pé, mas eles passam bem. O
trabalhador que sofreu torção no pé foi levado para Macaé. Após o ocorrido, a Petrobras instaurou
uma comissão de investigação formada por gerentes, representantes da Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e dos empregados. Esta equipe
encontra-se a bordo da unidade com o objetivo de apurar as causas do
incidente", disse a empresa, em comunicado. Uma otra equipe de engenharia
foi deslocada para a P-20 para preparar, no menor tempo possível, um cronograma
com todas as ações necessárias para o pleno retorno à operação. Ainda não há
previsão para o retorno da produção.
"Todos os sistemas e procedimentos de segurança
funcionaram conforme previsto durante a emergência e a habitabilidade da
unidade de produção está plenamente preservada", acrescentou a companhia.
Geralmente os engenheiros responsáveis pelos projetos
tecnológicos tendem a subestimar a freqüência dos incidentes que se produzem em situações
anormais nos seus cálculos de confiabilidade. Estas situações se distinguem da
situação normal apenas por diferenças que podem parecer secundárias, mas que na
realidade podem ser fontes bastante graves e frequentes de disfunções. Para
estes engenheiros, predomina a visão de que acidentes, principalmente os
graves, são eventos raros, gerando a precária inclusão de dispositivos de
segurança, tais como redundâncias, critérios específicos para incêndios e
layouts que não consideram características de segurança e de emergências que
possam contribuir para anular ou mesmo mitigar as conseqüências destes eventos.
Mesmo quando questões de segurança são incluídas no projeto,
a sua efetividade dependerá da capacidade real dos equipamentos de resistirem aos diversos
cenários potenciais de acidentes. As questões dos dispositivos de segurança já
são um problema desde os projetos originais das plataformas, que são
instalações bastante complexas e que podem incluir a produção e armazenagem de
óleo e gás à alta pressão, a perfuração de poços, e obras de construção e
manutenção associado à uma diversidade de atividades tais como;
■partidas de instalações e produção;
■paradas e redução da produção;
■manuseio de equipamentos e materiais perigosos;
■controle manual do processo;
■monitoramento da produção por sistema supervisório;
■manutenções preventivas e corretivas; limpezas de máquinas
e equipamentos;
■transporte de materiais; operações manuais e mecânicas de
lifting;
■inspeções e testes de equipamentos;
■transporte marítimo e aéreo; cozinha; limpeza; construção e
reforma, entre outras.
Isto faz com que nas plataformas de petróleo se concentram de
forma única os riscos típicos de muitas atividades de produção e manutenção
industriais de refinaria, tratamento e unidades de produção de energia com
outros próprios das tarefas relacionadas com a exploração de gás e petróleo,
como a perfuração e os poços de produção, associados aos de transporte aéreo
(helicópteros) e marítimos, de construção civil nas atividades de reparo,
construção e reforma, de mergulhos rasos e, principalmente, profundos. Estas
características complexas das plataformas podem intensificar os perigos quando
posteriores modificações não previstas desde o início no projeto original
ocorrem com vistas à ampliação da capacidade produtiva, ampliando as situações
de riscos.
Problemas encontrados na época
■serviços de corte e solda estavam sendo realizados na
Plataforma de Enchova, próximos à um local onde havia vazamento de gás
■manutenção corretiva predomina sobre a manutenção
preventiva
■falha em geradores
de emergência
As plataformas de petróleo operam com sistemas complexos,
com proximidades de conexões, equipamentos, com interações entres eles,
resultando em múltiplas e inesperadas interações, gerando novos cenários de
riscos de acidentes não previstos no projeto original.
Vídeo
Origem da plataforma de petróleo e seu avanço tecnológico.
Vale a pena assistir
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