Gerenciamento de Crises
Clareza nas informações à população ajuda a recuperar a imagem de companhias com problemas
Prevenir
uma crise na empresa é quase impossível, mas tomar a dianteira da situação e
antecipar-se às críticas com transparência de informações podem ser a diferença
fundamental entre a empresa sair da crise com um grande prejuízo ou com a
imagem fortalecida diante dos consumidores.
Crises
nas organizações são como visitas indesejáveis, que chegam à sua casa
inesperadamente, antes que você tenha tempo de evitar que aconteçam. Todas as
atividades que envolvem pessoas estão sujeitas a crises. Cedo ou tarde elas
ocorrem, mas há maneiras de minimizá-las (eventualmente até evitá-las), através
do gerenciamento de crises. Essa função reside quase totalmente no campo da
comunicação corporativa e deve ser administrada com o apoio de especialistas.
Tal como gripe, pior que crise é crise mal curada e por curandeiros.
Qual a
empresa, em sã consciência, que se pode considerar à prova de acidentes;
■intoxicações,
chantagens, sabotagens, atos criminosos,
■desastres,
incêndios, inundações, fraudes,
■denúncias,
processos judiciais, violações de produtos,
■defeitos
de fabricação operações de "recall",
■impactos
de nova regulamentação ou greves, só para mencionar as situações mais óbvias?
Por
isso, gerenciamento de crises, dadas as graves implicações, deve receber das
empresas que atuam no Brasil o mesmo tratamento prioritário que seus pares no
exterior dedicam ao tema. E um dos diferenciais indispensáveis para que as
organizações brasileiras se equiparem plenamente às internacionais,
principalmente em tempos de globalização. Esta, aliás, é a fórmula inteligente
para garantir o investimento feito em uma marca e sua reputação que, embora
intangíveis, são os principais patrimônios de uma corporação.
PROGRAMA
DE GERENCIAMENTO DE CRISES – CUSTO BARATO
E
muitíssimo mais barato desenvolver um programa de gerenciamento de crises do
que administrar uma situação fora de controle. Num incidente real, tanto a
direção quanto os talentos da empresa têm suas atenções desviadas para a
eliminação do problema e a restauração da normalidade. E, para felicidade da
concorrência, são obrigados a abandonar temporariamente a operação, até o
controle da crise.
Agora, pense
no enorme preço pago pela empresa após um desastre, em termos de prejuízos
financeiros, imagem, recursos, credibilidade, oportunidades. Vale a pena? Claro
que não.
O
gerenciamento de crises classicamente se divide em duas etapas:
■ a
prevenção e
■ a
administração, quando e se vier a ocorrer.
O
processo de prevenção inclui;
■ avaliação
de riscos,
■ revisão
de pontos fracos da operação e
■ identificação
de problemas potenciais e das vulnerabilidades da organização.
As
crises geralmente dão sinais de que vão ocorrer. Por isso, a avaliação e a
correção dos "calcanhares-de-aquiles" corporativos podem até evitar
que aconteçam. As corporações mais bem-sucedidas são as que levam em conta os
piores cenários. Para isso, preparam-se, com tempo e recursos, para
enfrentá-los.
Treinamento
e testes periódicos, com simulações, completam a estratégia. Por exemplo: é
preciso saber identificar que uma crise está ocorrendo e determinar as ações
enquanto ainda há tempo para isso. Diante de um incidente de fato, algumas
organizações preferem varrê-lo para baixo do tapete. Deixam de corrigi-lo
quando ainda está em proporções restritas e administráveis.
No
processo de gerenciamento de crises, talvez o cuidado mais importante seja a
manutenção de canais de comunicação com todos os públicos: empregados,
clientes, autoridades, imprensa. Esse diálogo não pode ser inaugurado em tempos
de crise, pois credibilidade não é uma conquista instantânea. O diálogo deve
ser aberto e constante, pois, quando a organização se vê diante de uma crise,
precisa contar com um amplo programa de relacionamento que garanta o
conhecimento e a compreensão dos pontos de vista da empresa por todos os
públicos.
Além de
divulgar informações confirmadas em tempo hábil, é indispensável manter as
autoridades informadas e coordenar esforços para evitar visões e versões
conflitantes sobre o problema. O ideal é transmitir uma única mensagem, que
tranqüilize o público através da sensação de perfeita integração e harmonia em
relação às ações tomadas. E fazer com que as informações relevantes sobre a
correção dos problemas sejam compartilhadas com todos.
Se ainda
restam dúvidas sobre as claras vantagens de um programa de crise, podemos
enumerar vários problemas que envolvem um produto adulterado ou prejudica a
imagem da empresa, tais como;
1-Qual o
futuro do produto adulterado?
2-Quanto
se gastou e vai perder-se em pesquisa e desenvolvimento, marketing,
posicionamento de marca, reputação e prestígio?
3-Até
que ponto a própria marca/empresa, não irá pagar um preço até injusto pelo
incidente?
Infelizmente,
não é fácil responder a essas questões. Uma coisa é certa: um bom programa de
gerenciamento de crise, se não puder eliminar, consegue minimizar
significativamente o problema. Há inúmeros exemplos, em todos os campos de
negócios, inclusive no Brasil, que provam claramente isso. Fonte: O Estado de
São Paulo e Gazeta Mercantil
CASOS
QUE MAIS CHAMARAM A ATENÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA
JOHNSON
& JOHNSON
TYLENOL
Data:
Março de 1982
Fabricante:
Johnson & Johnson
Causa: A
empresa foi aos jornais americanos e informar que o analgésico.Tylenol havia sido adulterado por estranhos. À
introdução de cianureto nas cápsulas de Tylenol causou a morte de sete pessoas
em Chicago.
Estratégia
adotada pela empresa
O
presidente da empresa nomeou imediatamente um responsável para gerenciar esta
crise. Especialistas foram enviados ao local do acidente (Chicago) para
investigar o caso e recolher informações. Formação de uma equipe para gerenciar
a crise.
Numa
ação rápida, a companhia retirou todo o produto do mercado, o que provocou um
prejuízo de US$100 milhões. .
Posições que foram adotadas pela
empresa Johnson & Johnson, durante o acidente e que fizeram que recuperasse
o produto em dois anos e reconquistando a confiança do consumidor:
1-Funcionamento
eficiente da estrutura de gerenciamento de crise, formado pela alta cúpula da
empresa.
2-As
informações não poderão ser filtradas ou escondidas (da gerência para
executivo).
3-A
responsabilidade da crise foi comandada pelo executivo
4-Evitar
informações errôneas ou boatos ao consumidor e internamente (funcionários).
Administração de informação da crise. Responder prontamente a todo
questionamento, fornecendo a informações ao consumidor. As informações devem
fluir da alta gerência aos níveis mais baixos, sem interrupções. Um centro de
informações foi criado, para receber as informações de hospitais, centros
médicos, etc e utilizaram a mídia para divulgar o andamento do acidente para o
consumidor.
5-Clareza
da responsabilidade empresarial. A Johnson & Johnson assumiu a
responsabilidade da retirada do produto momentaneamente, mesmo sabendo dos
elevados prejuízos que iriam resultar. Porém indiretamente transmitiu ao
consumidor que assumiu a responsabilidade de protegê-lo quanto a novos casos.
Esta atitude transmitiu confiança ao consumidor (fixação da imagem da empresa
através da responsabilidade).
6-Execução
de medidas preventivas para evitar ocorrência de novos acidentes
7-Apesar
do controle, quatro anos mais tarde, a empresa foi envolvida em outro acidente
com o mesmo produto. A partir desse problema, a empresa suspendeu a fabricação
do medicamento em cápsula.
CARNE DE HAMBURGER
Fabricante : Jack in the Box
Data:
Janeiro de 1993
Causa:
Intoxicação
por carne moída, provocando a morte de 02 pessoas e mais de 400 foram
internadas. Foi constatado que a temperatura e o tempo de preparo da carne de
hambúrguer, não estava de acordo com as normas de higiene.
Posições incorretas que foram
adotadas pela empresa Jack in the Box, durante o acidente e que provocou queda
no faturamento e a perda de confiança do consumidor:
1-Caso
foi definido pela empresa como específico de uma determinada área. O acidente
alastrou-se por outros Estados.
2-A
diretoria informou que o produto era produzido de acordo com as normas
sanitárias.
3-A
empresa não suspendeu temporariamente o produto
4-A
empresa perdeu confiança dos consumidores, houve queda de 30% do faturamento da
empresa.
5-A
empresa transferiu a responsabilidade para o fornecedor da carne. Houve troca
de informações (acusações) entre as empresas.
Decisão
incorreta
1-Falta
de um plano estratégico
2-Falta
de controle da crise pela diretoria
3-Falta
de informações aos consumidores
DEPÓSITO
DE PEÇAS DA HONDA
Local: Alemanha
Depósito
que fornecia peças para os carros Honda para toda Europa
Área
construída: 34.000 m2
Prejuízo:
US $ 91.743.119,00
Conteúdo:
10.000.000 peças de 160.000 tipos.
A crise
se iniciou após o incêndio, devido à interrupção de fornecimento de peças para
a produção de automóveis Honda na Europa.
Medidas
adotadas após o incêndio, pelo presidente da empresa.
1-Atendimento
aos clientes (fornecedores)
2-Garantia
de fornecimento de peças (foi alugado um depósito, para atender os fornecedores).
3-Garantia
de empregos aos funcionários
4-Construção
imediata de um novo depósito (o depósito foi construído em 11 meses)
5-Controle
de informações e divulgação, junto à mídia.
6-Atitude
empresarial, honesta diante da crise.
Conselho
do Presidente
1-Não
se deve
economizar despesas para
equipamentos de segurança ( hidrantes, sprinklers e
detetores). E nunca predizer " Na minha empresa nunca ocorrerá tal
acidente".
2-Simplificação
do plano de gerenciamento de crise
Lições
apreendidas após um incêndio
1-Acidentes
ocorrem quando menos se esperam
2-Acidentes
sempre causam prejuízos maiores do que imaginados
3-Não
existe proteção perfeita contra acidentes
4-Importância
do treinamento do dia a dia
5-Custo
para segurança deve englobar ou considerar a conscientização sob a
responsabilidade social da empresa junto à comunidade (empregados, famílias) e
clientes (fornecedores e consumidores).
Lição de
acidentes
A
diretoria deve buscar a verdade do acidente sem punir as pessoas envolvidas
(responsabilidades) para que assim, possa obter sempre informações corretas
(tenha um canal de informação correta e ágil).
MELBRÁS
A
empresa teve prejuízo de US$1 milhão em 1991, quando foi interditada por cinco
dias a produção e comercialização das balas Van MelIe, na época, suspeita de
estar contaminada com cocaína. A população
de Jundiaí (SP) chegou a pedir o fechamento da fábrica. O Centro de Vigilância
Sanitária da Secretária de Estado da Saúde, depois de analisar a matéria-prima
do produto, liberou a fabricação do confeito.
Nestlé
No
início de 92, um chantagista ligou para a companhia suíça ameaçando envenenar
seus produtos, iogurte Chambourcy, achocolatado Nescau e Farinha Láctea , no
Brasil. A empresa denunciou o caso as autoridades e à população e perdeu vendas
em torno de US$30 milhões. O caso foi resolvido, com a prisão do chantagista.
EXXON
Multada
em US$ 5 bilhões por um júri em Anchorage, no Alaska (EUA), em 94, por ter
provocado danos ambientais por causa do vazamento de óleo de um de seus
petroleiros, a Exxon Corp. aqui no
Brasil controla a subsidiária Esso, conseguiu refazer-se logo. Pelas leis
naquele Estado, a multa poderia ter chegado a US$15 bilhões. Após o julgamento,
as ações da empresa voltaram a subir
imediatamente.
UNION
CARBIDE
O
vazamento de 25 toneladas de gás isocianato de metila da fábrica da empresa em
Bhopal, na Índia, em dezembro de 1984, provocou a morte de 2,5 mil pessoas. A tragédia lhe custou US$ 300 milhões em perdas com a desvalorização de
suas ações nas bolsas, além da indenização aos familiares das vítimas. A
companhia contratou especialistas em administração de crises para tentar
explicar por que ocorreu o acidente, ainda hoje lembrado como um dos piores da
indústria química.
GINI
Acusada
de ter palmitos que provocaram botulismo em consumidores, a Gini perdeu US$4
milhões no início do ano passado. Seus produtos foram devolvidos pelas redes de supermercados e outros comerciantes. Nada foi
provado até hoje. A empresa, no entanto, reformulou sua embalagem e retornou ao
mercado.
TAM
Em
outubro de 96, uma aeronave Fokker 100 demorou apenas 65 segundos para manchar
a imagem de vencedora da companhia do comandante Rolim Amaro. Problemas
mecânicos com o avião provocaram um dos maiores acidentes da viação aérea
brasileira, matando 99 pessoas que partiam do Aeroporto de Congonhas (SP) para
o Rio de Janeiro. No ano seguinte, a TAM foi eleita a melhor empresa do ano
pela publicação Melhores e Maiores, da revista Exame, sob protestos dos
parentes das vítimas.
SCHERING
Em Junho
de 1998, o laboratório Schering do Brasil, que produziu pílulas de farinha na
embalagem de anticoncepcionais, é um bom exemplo de como a demora na
comunicação com o público pode ser danosa. Depois da denúncia, a empresa ficou
15 dias com a produção paralisada..
A
empresa teve que desembolsar mais de US$ 1 milhão em poucos dias para colocar
no ar uma campanha de emergência de esclarecimento público, veiculada em todo
País.
Cerca de
200 mulheres em todo o Brasil entraram com ações contra o laboratório por
gravidez indesejada enquanto faziam uso do medicamento. Fonte: O Estado de São
Paulo e Gazeta Mercantil
COMO RECUPERAR A CONFIANÇA DO PÚBLICO
Veja o que os especialistas em gerenciamento de crises
recomendam quando uma empresa enfrenta problemas:
1-FAÇA
Saiba que rapidez é crucial. "Aja rapidamente"
com precisão", diz Rich Biewitt, superintendente da Rowan and Blewitt, divisão de gerenciamento
de crises da Shandwick International. "Se você não tem uma resposta ou
solução para o problema, é melhor afirmar aos consumidores que a empresa está
procurando por uma."
1A-NÃO FAÇA
Não esconda o que você sabe. Estar um passo atrás quando surgem
evidências de falhas não apenas prejudica sua credibilidade como também obstrui
sua capacidade de controlar a crise. "Você tem de jogar limpo", diz
Víctor Kamber, diretor-presidente da The Kamber Group. "Muito
freqüentemente, a equipe de relações públicas e a empresa se escondem debaixo
da mesa e esperam que os problemas desapareçam."
2-FAÇA
Mostre aos consumidores e funcionários que você dá prioridade ao
interesse deles acima de tudo. Uma empresa precisa "parecer que quer
ajudar as vitimas da crise, primeiro, deixando por último os interesses
corporativos", diz Larry Kamer, diretor administrativo da GCI Group,
divisão da Grey Global Group.
2A-NÃO FAÇA
Não envolva-se nos detalhes do dia-a-dia da administração da empresa:
faça da crise a prioridade número 1 da companhia. "Você precisa reunir uma
boa equipe que deixe tudo de lado para cuidar exclusivamente da crise",
diz Mark Braverman, executivo da CMG Associates Inc. "Você precisa de uma central
de guerra."
3-FAÇA
Tenha uma visão de longo prazo. O grande recall do medicamento Tylenol
feito pela Johnson & Johnson é visto com
freqüência como um modelo exemplar de como é possível recuperar a confiança do
consumidor fazendo alguns sacrifícios no curto prazo. "O recall não apenas demonstra responsabilidade como
também remove literalmente o problema se de fato o produto tem defeito ou está
sob suspeita", diz Harold Burson, fundador da Burson-Marsteller.
3A-NÃO FAÇA
Não esqueça que a recuperação da imagem se resume em uma coisa - a
percepção do público. Mesmo que você não tenha feito nada de errado mas os
consumidores acreditam que você tenha, o que importa é a visão deles. "Na
batalha entre a percepção e a realidade, a percepção sempre ganha", diz
Steven Fink, superintendente da Lexicon Communications Group. Não acho que a
Firestone entenda isso.
4-FAÇA
Reúna o máximo de aliados possível, incluindo "especialistas,
cientistas, autoridades do governo, consumidores, líderes comunitários e órgãos
de defesa do consumidor”, afirma Burson. "Aliados ajudam a criar uma
impressão positiva sobre a empresa."
4A-Não faça
Não economize esforços em mostrar que está levando o problema a sério.
Uma empresa deveria fazer o que for necessário para mostrar que ela considera a
crise tão séria que está desembolsando
grandes quantias para resolvê-la", diz Dana L. Clay, da Everett Clay
Associates
Marcadores: gerenciamento de desastre, gestão
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home