Desastre na Baixada Fluminense – Distrito de Xerém
Para entender o que ocorreu na Baixada Fluminense, principalmente no Distrito de Xerém, Duque de Caxias, Rio de Janeiro, devemos conhecer a geografia da região, o processo de ocupação e suas conseqüências.
GEOGRAFIA
DA REGIÃO
Caracterizada
por uma paisagem natural composta por planícies, colinas, morros, manguezais,
serra do Mar ao fundo, matas, rica rede hidrográfica desaguando na Baía de
Guanabara.
A
fisiografia da bacia dos rios da região é caracterizada principalmente por duas
unidades de relevo: a Serra do Mar e a Baixada Fluminense, com um forte
desnível do ponto mais alto da serra até a planície. O clima da bacia é quente
e úmido com estação chuvosa no verão, com temperatura média anual em torno dos
22 °C e precipitação média anual em torno de 1700 mm. Os rios descem as serras
em regime torrencial, com forte poder erosivo, alcançando a planície, onde
perdem velocidade e extravasam de seus leitos em grandes alagados.
A região
onde está inserido o município, desde o período da ocupação européia, teve sua
história estreitamente relacionada à da cidade do Rio de Janeiro. Situando-se
às margens da Baía da Guanabara, teve seu desenvolvimento ligado à extensa rede
hidrográfica que a cortava. Através dos rios, realizava-se o escoamento da
produção local e estabeleciam-se os elos de comunicação entre o interior e o
litoral, favorecendo a ocupação das cercanias da Baía pelo interior serrano.
CICLO DA
MINERAÇÃO E DEVASTAÇÃO DAS MATAS
A região
tornou-se importante ponto de passagem das riquezas vindas do interior: o ouro
das Minas Gerais.
Apesar
da decadência da mineração, a região manteve-se ainda como ponto de descanso,
de abastecimento de tropeiros, de transbordo e de trânsito de mercadorias. Até
o século XIX, o progresso local foi notável. Entretanto, a impiedosa devastação
das matas trouxe, como resultado, a obstrução dos rios e consequente
transbordamento, o que favoreceu a formação de pântanos. Das águas paradas e
poluídas, surgiram mosquitos transmissores de febres.
Muitos
fugiram do local que, praticamente, ficou inabitável. As terras, antes salubres
e férteis, cobriram-se de vegetação própria dos mangues.
OCUPAÇÃO
URBANA
Os dados
estatísticos revelam que em 1910, a população era de 800 pessoas, passando em 1920,
para 2920. O rápido crescimento populacional provocou o fracionamento e loteamento
das antigas propriedades rurais, naquele momento, improdutivas.
Os anos
40 encontraram o distrito com uma população que já atingia a casa dos 30.000 habitantes.
Na
década de 50 a Baixada Fluminense serviu como área de expansão do Rio de
Janeiro, apresentando a proliferação de loteamentos com baixo custo da moradia
e carência de infra-estrutura na sua grande maioria.
População
de Duque de Caxias – 1940 – 2010
1940
|
1950
|
1960
|
1970
|
1980
|
1991
|
2000
|
2010
|
|
Duque
de Caxias
|
29.613
|
92.459
|
243.619
|
431.397
|
575.814
|
667.821
|
775.456
|
855.046
|
DEGRADAÇÃO
AMBIENTAL
O grande
desenvolvimento da região Central de
Duque de Caxias (1º e 2º distritos)
trouxe
junto um acelerado processo de degradação ambiental. Tal desenvolvimento se dá principalmente por causa da rede viária que
proporciona o escoamento rápido da produção e aquisição de insumos para a
indústria e comércio. A instalação de empresas ao redor das rodovias determinou o aterramento
de manguezais, contaminação do ar e
despejo irregular de resíduos industrial em rios e terrenos e ocupação
de áreas de Mata Atlântica.
IMPACTO DAS INUNDAÇÕES EM DECORRÊNCIA DA
EXPANSÃO URBANA
As
inundações na bacia decorrem basicamente do processo de ocupação e uso do solo, inadequado às condições particulares da
Baixada Fluminense. Neste processo são agravantes:
■ falta
de infraestrutura urbana, a deficiência dos serviços de coleta e tratamento de esgoto
■ exploração
descontrolada de jazidas minerais,
■ ocupação
desordenada e ilegal de margens dos rios ou de planícies inundáveis,
■ obstrução
ou estrangulamento do escoamento em decorrência
de estruturas de travessias implantadas
sem a preocupação de não interferir no escoamento (pontes, tanto rodoviárias
quanto ferroviárias, e tubulações de água),
FATORES
QUE ACARRETAM A DEGRADAÇÃO DOS FUNDOS DE VALES NAS CIDADES
Os
fatores que concorreram para o desastre conforme a analise anterior são antigos
e vem desde a época da colonização, agravada pelo crescimento da região
■ Agricultura sem preocupação com a conservação do
solo
■ Desmatamento das florestas existentes deixando o
solo exposto à erosão
■ Desmatamento das matas ciliares que servem de
proteção aos rios
■ Assoreamento dos rios devido à erosão
■ Região com elevado índice pluviométrico
■ Impermeabilização
do solo urbano;
■ Crescimento desordenado das cidades,
■ Topografia excessivamente acidentada, com
numerosos rios, propiciando a formação de tromba d´água ou cabeça d´água. .
Este fenômeno acontece
em rios de montanha na época de muitas chuvas. Consiste em um aumento
momentâneo e violento do nível de água por conta de uma chuva intensa. Pode
ficar ainda mais violento se houver um aumento grande da água de um rio e
romper com uma obstrução natural, formada por árvores caídas, pedras e terra.
Seria uma avalanche de lama. Na enchente normal o rio sobe e transborda em seu
caminho normal. Os americanos consideram esse tipo de enchente com lama, como
flash flood, aparece e move rapidamente através do solo, sem aviso que está
chegando. Tem um poder destruidor imensurável. Pode mover pedras, arrancar
árvores, destruir edifícios e pontes. Pode formar uma parede de água de 3 m a 6
m, com enorme quantidade de detritos.
Os
fatores para o desastre estavam presentes, faltava apenas à chuva excessiva com
elemento desencadeador, para provocar o efeito dominó, resultando numa
avalanche de lama e detritos.
Podemos
considerar esse deslizamento de lama como se fosse uma avalanche de lama quando
uma massa acumulada de água no solo provoca o deslizamento da terra de forma
rápida e violenta e se precipita em direção ao vale. Durante a descida, com
velocidade altíssima, a massa carrega cada vez mais lama, arrastando árvores,
rochas e edificações.
PLUVIOSIDADE
DA REGIÃO
Estudos
de especialistas indicam que a região é de elevada pluviosidade anual,
concentrando-se no período de verão, desde a década de 40. A maior incidência
para o desastre atual é o efeito dominó
provocado pela ocupacional desordenada da região, crescimento populacional e
desmatamento.
Trecho
do artigo: “Quando analisamos o total pluviométrico anual correlacionado
percentualmente a média pluviométrica para o período de 1949 a 1970, estamos
analisando o comportamento dos desvios pluviométricos na área de estudo. Os
dados da Estação Xerém nos revelam uma tendência linear ao acréscimo da
pluviosidade ao longo desses 21 anos.
Com esses dados consegue-se observar
a maior freqüência dos desvios positivos na estação Xerém, indicando
eventos pluviais superiores a média do período analisado, explicável pela sua condição geoecológica, ou
seja, sua posição no sopé da Serra dos Órgãos favorecendo a ocorrência de chuvas orográficas
que ajudam a entender a elevada pluviosidade anual” . (Fonte: Revista Geonorte,
Edição Especial, 2012).
CENÁRIO
DO DESASTRE
Desde a
madrugada de quinta-feira, 03 de Janeiro de 2013, chuva forte atinge a Baixada Fluminense,
Região Serrana, Angra dos Reis e Mangaratiba.
Duque de
Caxias
Os rios
Saracuruna, Inhomirim e Capivari transbordaram, deixando 200 pessoas
desabrigadas e causando a morte de um homem, ainda não identificado, no bairro
de Xerém. A Defesa Civil enviou colchonetes e cobertores para os desalojados.
Região
Serrana,
Os rios
Bingen e Piabanha transbordaram em Petrópolis, causando desabamentos nos
bairros Alto Independência, Siméria e São Sebastião. .
Teresópolis
Houve
transbordamento do rio Paquequer. Cinquenta moradores das comunidades Vale da
Revolta, Perpétuo, Rosário, Caxangá e Pimentel estão desabrigados.
Costa
Verde, Angra dos Reis e Mangaratiba
Foram os
municípios mais atingidos. Em Angra, oito casas foram destruídas, houve alagamentos e duas mil pessoas foram
evacuadas de áreas de risco.
Mangaratiba
Houve
rolamento de pedras na BR -101 e na estrada Junqueira. No bairros Constância,
um muro desabou e uma casa foi destruída, e em Fazenda Ingaíba, houve
deslizamento de terra, mas sem vítimas.
Duque de
Caxias em emergência
O prefeito de Duque de Caxias (Baixada
Fluminense),decretou estado de emergência no distrito de Xerém.
Nas
últimas 24 horas, choveu cerca de 200 milímetros na cidade, o maior volume
observado na estação meteorológica da cidade, que foi inaugurada em outubro de
2002. De acordo com a Defesa Civil, a região ainda tem vários pontos de
alagamento.
DANOS
HUMANOS
Boletim
divulgado pela Defesa Civil do Estado na
sexta-feira (4) aponta que subiu para 4.803 o total de pessoas que
tiveram que sair de casa em todo o Estado por causa das chuvas. Uma pessoa
morreu e outras duas estão desaparecidas: uma em Duque de Caxias e outra em
Nova Iguaçu (ambas na Baixada Fluminense).
Em Angra
dos Reis, na Costa Verde; 320 pessoas ficaram desalojadas, 160 desabrigadas e
3.380 foram evacuadas. Três pessoas ficaram feridas.
Em
Mangaratiba, 90 pessoas ficaram desalojadas. Cinco edificações foram
Em Petrópolis; 30 pessoas estão desalojadas.
Teresópolis,
região serrana, 50 pessoas desalojados
DANOS
MATERIAIS
Em Duque
de Caxias; 45 casas foram destruídas e 200 ficaram danificadas.
Em Angra
dos Reis, na Costa Verde,; Nove casas foram destruídas e 38 danificadas.
Em
Mangaratiba, 5 edificações foram
danificadas e uma, destruída.
Em
Petrópolis, região Serrana, três casas foram destruídas e quatro ficaram
danificadas.
AS
CIDADES ATINGIDAS
Paraty:
alagamentos, falta de luz
Duque de
Caxias: inundações, deslizamentos de encostas, famílias desalojadas,casas
soterradas
um
morador morto
Petrópolis:
famílias desalojadas, transbordamento de
rios, queda de barreiras na serra
Angra
dos Reis: famílias desalojadas, queda de barreiras na Rio-Santos, alagamentos,
falta de luz
Mangaratiba:
deslizamento de pedras na Rio-Santos, falta de luz
Teresópolis:
transbordamento de rio, famílias desalojadas
BALANÇO
PARCIAL,
Segundo
balanço divulgado no domingo, 06 de
janeiro, pelo governo do Estado, o Rio de Janeiro tem
2.465 desalojados e 706 desabrigados devido às chuvas que castigaram a Baixada
Fluminense.
Angra
dos Reis
O número
de desalojados aumentou de 65 para 320. O município tem ainda 160 desabrigados.
Nove casas foram destruídas e 38
danificadas,
Mangaratiba
A quantidade
de desalojados passou de 90 para 500, além de 90 desabrigados. Cinco
edificações danificadas e uma destruída
Duque de
Caxias
O número
de casas destruídas pelo temporal passou de 45 para 200. As residências
danificadas passaram de 200 para 300. Os desabrigados da enchente cresceram de
276 para 478, em Xerém.
Petrópolis
Teve
três casas destruídas e quatro danificadas, deixando 30 pessoas desalojadas.
Teresópolis
registrou
51 desalojados.
A Defesa
Civil considera desabrigados os que perderam suas casas e estão em abrigo
público. Já os desalojados saíram de casa e estão provisoriamente em casas de
parentes e amigos. Apenas em Duque de Caxias, foram montados seis abrigos
públicos.
Vítimas:
03
INFRAESTRUTURA
O sábado
foi dia de faxina para os moradores de Xerém. Eles amanheceram com pás nas mãos
e carrinhos para tentar retirar a lama amontoada nas ruas e nos imóveis
Segundo
a prefeitura, 300 homens atuam na limpeza das ruas e 180 caminhões, carregados
de lama e escombros, já saíram de Xerém. No entanto, o trabalho tem sido
dificultado porque os moradores, ao retornarem para suas casas, estão
depositando mais lixo nas ruas. A energia deve ser restabelecida até domingo, 06 de janeiro. O abastecimento de água não tem previsão para
ser normalizado porque parte de uma adutora da Cedae rompeu.
VISTORIAS
E INDENIZAÇÕES
Os técnicos
da Defesa Civil vistoriaram as construções mais atingidas e danificadas pelas
chuvas, nas regiões de Pedreira e Café Torrado. A inspeção identificou outras
48 casas em risco, que foram interditadas e devem ser demolidas. Além delas,
outros 100 imóveis aguardam um laudo técnico da Defesa Civil. Somente após o
laudo é que poderá ser iniciado o processo de derrubada e indenização das
vítimas. "Ainda estamos fechando o número de casas, que depende da
avaliação da Defesa Civil", informou o prefeito de Duque de Caxias.
FALTA DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Pelas
ruas, a população tentava retomar a normalidade em Xerém. A falta de água é o
maior problema para os moradores, que ainda trabalham na limpeza de suas casas.
Cerca de 12 mil pessoas estão sem acesso à água encanada. A previsão é que o
sistema seja restabelecido até o final da semana, 13 de janeiro. Até lá, caminhões pipa e doações garantem o
consumo mínimo aos moradores. Por toda a cidade, ainda há muita lama e poeira.
PREJUÍZOS
O prefeito de Duque de Caxias, município com a
segunda maior arrecadação do Estado do Rio, estima que os prejuízos causados
pelo temporal que abalou a cidade cheguem a R$ 50 milhões, incluindo apenas os
danos relacionados ao patrimônio público municipal, como pontes e ruas. Fora da
conta estão as mais de 300 casas destruídas, além dos prejuízos causados à
companhia estadual de água e esgoto, a Cedae, cuja adutora se rompeu, e
empresas como a distribuidora de energia elétrica Light.
Fontes: UOL Notícias, O Globo, O Estado de São Paulo, período de 3 a 7 de janeiro de 2013
Comentário: A população tem uma parte da responsabilidade, pois ocupam áreas públicas, margens de rios, encostas, etc, com a desculpa que não há lugar para morar. E ao mesmo tempo o município não fiscaliza esses espaços com propensão a desastres naturais. A natureza necessita de sua zona de proteção natural, a zona de amortecimento. Essa zona de proteção da natureza é invadida ou tomada por construção de moradias irregulares,, avenidas, urbanização, etc.
O ciclo de desastre da natureza não obedece uma lei
ou norma, mas sim é resultante de uma série de eventos não
previstos e da convergência de fatores adversos, aparentemente independentes,
que num determinado momento se somam para provocar essa catástrofe. Excesso de
chuva, topografia da região favorável, desmatamento, urbanização desordenada,
ocupação de espaço da própria natureza, etc. são esses eventos e fatores que se
somam, para que a natureza possa retomar o seu espaço territorial. Esses
desastres da natureza são uma forma aliviar tensão concentrada, confinada, provocando,
inundações, deslizamentos, enxurradas, etc.
O que o
homem faz com a natureza? Empreendimentos preocupados especificamente com o
conforto para a vida do homem, sem se preocupar
com a conservação da natureza. Os fenômenos da natureza obedecem as leis
naturais físicas e suas consequências podem ser destruidoras.
A
relação entre o homem e a natureza não é harmoniosa e sim de disputa de ocupação de espaço territorial.
O homem com sua tecnologia e a natureza com sua força destruidora.
Devemos
compreender os mecanismos que regem a natureza;
■ a
alteração do ecossistema, que cria novos fatores adversos para o homem.
■ o
clima e as propriedades do terreno não podem ser modificados infinitamente pelo
homem,
■ o
desmatamento que deixa a natureza sem proteção
■ a
ocupação de áreas com maior susceptibilidade natural
■ a falta
de planejamento urbano
Vídeo:
Distrito de Xerém

0 Comments:
Postar um comentário
<< Home